[Lysandre] Lady De Circo escrita por La-Fenix


Capítulo 7
Esquecer e perdoar


Notas iniciais do capítulo

Oi lindas!! ♥ Vim postar esse cap já que semana que vem começam as minhas aulas (e as provas, trabalhos, seminários, pesquisas, teatro, futsal...), ou seja não terei tempo de postar como estou fazendo agora, tentarei fazer capítulos semanais mas não prometo nada (ainda mais se os reviews não aparecerem).
Aproveitem a leitura.



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Naquela noite eu sonhei com asas emplumadas saindo de costas musculosas, penas delicadas e macias às compõem. Junto delas me lembro de ver a fina membrana translucida das asas de uma libélula, ela saia junto das plumas como se fosse à continuação das mesmas, não outro par de aladas.

O dono das asas girou até ficar frente a mim. Lembro-me de ver seus cabelos prateados cintilarem como estrelas num céu de verão, e de ver seu sorriso sedutor me convidando a voar com ele. Eu sei quem ele é, mas não me recordo seu nome, de certo modo não importa.

Pego sua mão, confiante como se fosse pular no trapézio. Ele me puxa para seu peito e eu me sinto envolta numa manta quente envolvendo seu pescoço, delicadamente com os braços.

Asas cinzentas de borboleta aparecem detrás de seus ombros. Elas reluzem levemente com uma luz desconhecida, se mexem em sincronia em movimentos suaves, espalham brilho no ambiente.

Giramos no ar como dançarinos noturnos. Ele segura minha cintura enquanto tenho uma mão em seu ombro, tendo finas plumas a me fazer cócegas, e ambos seguramos as mãos um do outro. Sinto-me caindo e voando ao mesmo tempo, não sei mais onde estou, e me sinto feliz, pois estou ao seu lado.

A mão dele envolve quase que por completo a minha mão. Sua testa encosta na minha, sinto minha respiração fazer seu pescoço se retrair.

Aproximamo-nos os rostos e quando estávamos prestes a nos beijar sou sacudida na vida real e abro os olhos de susto.

-Acorda Celina! Trouxe seu café da manhã! – Um bicho indefinido fala entre risadas no meu ouvido e eu me levanto irritada.

Que bosta... É o Wenka, não se sabe se ele é menino ou menina. Quer dizer menino ele é, mas usa um shortinho curto de piriguete branco, uma blusinha curta da mesma cor e um cachecol rosa perolado.

Se ele não for travesti não sei o que é.

-Que foi Wenka...  –Ele colocou uma travessa com pão, geleia, mel, suco de laranja e iogurte caseiro. –Nossa... O Charlie que fez?

Ele deu uma risadinha com sua voz púbere e disse por fim:

-O Charlie ficou se sentindo culpado por ter mandado você ir ao mercadinho. Daí ele fez esse mega café da manhã pra você! –O mais novo fez um coração com as mãos e saiu da minha tenda saltitando.

-Moleque estranho... –Não tenho nada contra travestis, mas ser estranho e forçado é outra história.

Comi todo o manjar dos deuses que me foi servido, e terminei de tomar meu suco quando a Cigana adentrou na minha tenda. Suspirei tristonha, imaginado o que ela viera discutir, já que suas faces não traziam a costumeira mágica.

-O que foi? –A ruiva se jogou na minha cama e fez um beicinho de birra.

-Ele não me ligou! –O alívio tomou conta de mim. Estava achando que seria algo sério. –A propósito o Dimitry me mandou aqui para contar sobre o passado sinistro dele.

Belisco a ponte do meu nariz nervosa e lhe digo tentando ser calma.

-Eu sou tão importante pro Dimitry que ele sequer veio me dar satisfação.

Sabe, é preciso de muita confiança em alguém para se jogar em seus braços a mais de vinte metros de altura. Minha vida esteve nas mãos dele muitas vezes e ele sabia a minha história, eu confiei nele quando ele disse que “Meu passado é fútil, não tem nada que valha a pena contar nele”.

-Sabe Celina... O Dimitry passou por poucas e boas antes de vir pro circo. –A Cigana tirou uma carta de tarô da manga e me mostrou, com um olhar sério.

-É o tolo, você quer dizer que o Dimitry deu fim a antiga vida dele para recomeçar? –A mulher assentiu e começou a contar a história.

“Cerca de dois anos antes de você entrar estávamos viajando pela região sul do país. Na época tínhamos um público pouco exigente e os negócios iam bem. Um dia eu fui até a cidade fazer umas compras quando vi o Dimitry.

Deus... Ele estava péssimo, tinha o cabelo ressecado mais curto do que hoje em dia, e estava tão magro que parecia um esqueleto vivo. Nosso amigo estava fazendo acrobacias simples na praça para ganhar dinheiro, mesmo naquelas condições ele transmitia leveza e austeridade nos movimentos. O público o aplaudia e ficava maravilhado com o show.

Quando a situação se acalmou eu me apresentei a ele e li seu futuro, ali mesmo na calçada.”

-Querida você sabe que para ler o futuro preciso ter uma prévia do passado e compreender o presente. –Concordei com a cabeça e a deixei continuar.

“Pedi que ele me esclarecesse o passado... Ele era filho de Damon Vitruno, o dono do circo Vitruno. Como você sabe esse circo é especializado em performances de risco. Muita gente morreu tentando copiar as façanhas que as pessoas ali faziam.

E o Dimitry fazia o número do trapézio com a namorada Mary.

Pelo que as cartas me falaram era uma relação de extrema confiança mútua e amor, se ela estivesse viva os dois seriam felizes e teriam muitos filhos. Seria algo lindo... Se não fosse pelos adventos do futuro.

O pai de Dimitry o fez ajudá-lo com as finanças do circo por um tempo o afastando de Mary. Na época ela adoeceu gravemente, acho que ficou anêmica ou algo assim.

A grande questão foi o equilibrista e supervisor do Vitruno, Daumer. Mary falou com ele para cancelar o número que ela teria com Dimitry no dia da apresentação, a pobrezinha não se aguentava em pé.”

A interrompi confusa:

-Peraí... Como o Dimitry não notou antes que ela estava doente? Porque ela não falou com ele, sei lá? Os dois não treinavam juntos? –Não fazia sentido alguma coisa assim acontecer, Dimitry era atencioso.

A ruiva balançou as pernas um pouco antes de me responder.

-Os dois não se viam muito. Dimitry trabalhava de dia com o pai e treinava a noite. Mary treinava sozinha, se quisesse faria um espetáculo sozinha era um prodígio na área. –Seu olhar se tornou sombrio. –Além do mais a natureza recatada dela não permitiria atrapalhar a vida do namorado com algo relacionado a uma doença besta.

Baixei os olhos, tristonha, imaginado o sofrimento dela.

“Daumer a proibiu de falar algo assim para Dimitry no dia da apresentação, e o pior aconteceu...”.

-No meio da acrobacia chamada Dança da Morte ela desmaiou e caiu morrendo na hora. Dimitry enlouqueceu e tentou matar o supervisor a pancadas, por sorte o pai dele o impediu. –Um sorriso sarcástico apareceu nos lábios da mais velha. –Se bem que depois ele foi expulso de casa e ficou andando a esmo pelo mundo.

Recostei-me na cabeceira e senti a culpa me inundar.

-Ele passou esse tempo todo... Se culpando pela morte dela?

-Na época ele se culpava, e eu previ que ele morreria logo se continuasse daquele jeito. Ele veio para o nosso circo para tentar mudar o destino e encontrou você. –Ele tirou a bandana verde água que tinha no cabelo e a amarrou no pulso distraída. –Você deu a luz de volta pra ele. Te considera uma irmã, e se sentiria péssimo se te perdesse também.

Esfreguei meu peito sentindo culpa por acusá-lo injustamente. De qualquer jeito ele era meu irmão, meu parceiro e meu melhor amigo, merecia compaixão.

-Onde ele está? –Levantei-me da cama e coloquei um vestido simples verde, de campo em alguns minutos. –Preciso falar com ele.

A Cigana deitou na minha cama entediada e respondeu:

-Pode ir até o inferno se quiser, o homem está pesquisando sobre o antigo circo dele no meu trailer.

Corri pra lá enquanto arrumava o cabelo com os dedos. Meus pés descalços pisavam na grama com familiaridade, fazia tempo que eu não me exercitava e aquilo estava me matando. E falando em matar meu ombro parecia uma massa de chumbo.

-Ei, Dimitry posso entrar? –Bati algumas vezes na porta do velho trailer grafitado da Cigana, o único lugar com computadores em todo o Dame.

A porta tinha a pintura de um portal mágico do Senhor dos Anéis.

“Que ironia... Fale amigo e entre.”

-Entre Celina! Está aberta. –Abri cautelosamente a porta inspirando o terrível cheiro de incenso que impregnava o trailer da proprietária do lugar.

Parecia uma caixa forrada de tecidos de seda, com cores misteriosas e de iluminação fraca avermelhada. No canto havia uma mesinha com uma bola de cristal e dois lugares, Dimitry estava lá com um notebook.

-Dimitry... Ahn, oi! –Chegar naquele ponto e gaguejar era fatal. –Olha eu sei o que aconteceu com você pra você tentar matar aquele cara e... Eu errei em te julgar do jeito que fiz. –Entrei no recinto e fechei a porta. –Eu sei o que aconteceu com a Mary.

Os olhos se Dimitry se arregalaram um pouco de surpresa.

-Esperava que você só viesse mais tarde. –Ele fechou o computador e ficou a minha frente. –Se você sabe da verdade, me perdoa?

Abri um sorriso e lhe dei um abraço de urso, ou um meio abraço de urso já que meu ombro não me permitia levantar o braço.

-Você é o melhor parceiro do mundo! Obrigada por existir! –Ele me abraçou de volta e riu desconcertado.

-Por favor nunca mude.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? (acharam que precisamos mais do Lys?)
Comentem!!



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