Dimitri Belikov havia acabado de sair do quarto de um paciente que sofria de ataques epiléticos. Este por sua vez havia manifestado uma alergia fortíssima contra um dos medicamentos receitados pelo médico e acabara vomitando tudo que tinha no estomago, sendo isso apenas liquido e papa de internos. Com o uniforme completamente sujo de vomito o doutor se retirou da sala deixando as enfermeiras e um médico estagiário com o homem após tratar do mesmo até que este ficasse calmo e voltasse à normalidade. Dimitri não se sentia enojado pelas coisas que lhe acontecia naquele ambiente, afinal fora a vida que ele escolhera para si e tomava isso como uma benção. Toda vez que via um de seus pacientes saindo daquele hospital com um sorriso de satisfação na face, Dimitri se sentia vivo, se sentia completo e isso fazia dele um homem feliz pela escolha de sua carreira. Cada paciente era único para Dimitri, que os tomava como parte de sua missão pessoal. Apesar de ser muito jovem, o médico tinha um entendimento bastante claro daquilo que realmente importava para se ter na vida. Ele era conhecido no hospital como um médico competente e capaz, e muito admirado por todos os colegas por sua dedicação a vida dos seus pacientes. Era o grande orgulho da avó Yeva que sempre que podia paparicava o neto com suas guloseimas e sua atenção, o que muitas vezes deixava o rapaz um pouco sem graça, mas isso também era algo que ele amava.

Dimitri se dirigiu até o vestiário masculino para tomar um banho e trocar aquele uniforme sujo por um limpinho e esterilizado e novamente regressar ao trabalho, já que aquela noite seria longa e seu turno não tinha hora para acabar. Diante de seu armário o rapaz se livrava da parte de cima do uniforme ficando com uma camiseta branca. Este jogou a roupa suja sobre o banco longo que ficava entre os armários e procurou seu próximo uniforme revirando seu armário.

– Você tem uma vida difícil Dimitri! –dizia Rose escorada na porta do armário ao lado. – Eu não sei se teria coragem de trabalhar neste lugar. Na verdade eu passo mal só de ver sangue... Bom, nem tanto... Uma vez minha mãe esteve no hospital. Ela passou por uma cirurgia, coisa simples, mas foi terrível... –ela dizia com a cabeça sobre a porta de ferro olhando para o teto.

Enquanto isso Dimitri retirava o relógio do pulso, assim como a camiseta branca logo em seguida o que chamou atenção da garota. Rose viu Dimitri puxando a camiseta pela gola usando as duas mãos, e seus olhos inevitavelmente percorreram a extensão das costas largas do doutor. Um sorrisinho malicioso brotou nos lábios da garota enquanto ela descia seu olhar na direção da curva das costas do rapaz que fazia uma pequena volta assim que se unia ao traseiro de Dimitri. Debaixo daquelas calças verdes de hospital que sempre estavam cobertas pela parte de cima do uniforme era difícil ver tal “detalhe”, mas naquele momento os olhos curiosos de Rose puderam ver bem que aquele local era muito bem desenhado.

– Oh Rose! –disse ela. – Tá olhando a bunda do homem que mede a sua pressão todos os dias garota! Que coisa feia... –ela riu.

Dimitri respirou fundo enquanto retirava um cordão que sempre usava ao redor do pescoço. Ele beijou o pingente sem que Rose pudesse ver o que era e o depositou dentro do armário com os outros objetos. Depois pegou uma toalha e jogou sobre o ombro fechando a porta do armário.

– Sabe você pode fingir que eu não to aqui e tirar o resto também! –Rose disse assim que viu Dimitri de frente. – Caraca! Você malha? –ela disse mordendo o lábio inferior. – Por que benza a Deus querido! Que corpinho! Em termos médicos você tá muito saudável!

Dimitri ergueu o rosto parando onde estava enquanto seus olhos fitavam o vácuo a sua frente. Os olhos negros do doutor pareciam perdidos em alguma coisa que ele não podia ver, nem tocar, mas de certa forma podia sentir que estava ali. Rose deu um passo a frente se afastando do armário e disse diante do médico:

– O que foi Dimitri? –ela cerrou os olhos. – No que tá pensando?

Dimitri girou os olhos de um lado a outro como se procurasse algo depois fechou os mesmos e seguiu em frente atravessando o corpo espiritual de Rose, o que causou certo desconforto a garota ao sentir o espírito dele por segundos se entrelaçando com o dela. Dimitri seguiu até a parte do vestiário onde ficavam as duchas e então deixou a toalha sobre o cabide logo ligando o chuveiro quente que soltava todo seu vapor pelo lugar. Ele se livrou do restante das roupas e experimentou a água levando uma das mãos abaixo da ducha para verificar se não estava quente demais. Enquanto isso Rosemarie estava do lado de fora escorada nos azulejos azuis com os olhos fechados e com a cabeça inclinada para baixo sendo que seu queixo tocava seu peito.

– Que isso Rose? –dizia ela. – Ele é seu médico, pelo amor de Deus!

Na ducha Dimitri sentia a água quente passando por todo o seu corpo enquanto fechava os olhos e esfregava os mesmos tentando relaxar por uns instantes. Depois os abriu olhando os azulejos a sua frente e em seguida escorando as palmas das mãos contra a parede e baixando a cabeça, deixando que a água tocasse seu pescoço e descesse. Rose por sua vez abriu os olhos, respirou fundo mesmo que isso não fizesse sentido algum e se afastou da parede seguindo rapidamente para fora do vestiário.

– Que ideia maluca... –ela resmungava enquanto vagava pelo corredor. – Desde quando você ficou tão moderninha Rose Hathaway? –ela franziu a testa. – Ficar espiando o cara que é o seu médico enquanto este decide tomar banho? Isso é coisa de gente pervertida Rose...

A garota bufou e andou até o hall de entrada do hospital onde via as pessoas entrando e saindo pela porta principal que se abria pelos sensores de movimento. Rose decidiu tentar algo novo pra variar então se encheu de coragem e tentou atravessar aquelas portas, afinal que mal poderia haver em um espírito sair por aí vagando pelas ruas durante o dia? Assim seus passos se aproximaram bem devagar da entrada do St. Vladimir enquanto esta encarava o ponto a sua frente com certa apreensão, como se temesse se afastar demais do próprio corpo e acabar perdendo a ligação que deveria existir entre sua alma e seu corpo físico. Ao se aproximar da porta esta sequer se moveu, enquanto Rose esperava.

– Oh garota lesada a porta não vai se abrir... –ela revirou os olhos e então deu alguns passos fechando os olhos.

Rose continuou andando sem ter coragem de abrir os olhos ou de parar, até que ouviu uma buzina de carro e parou de andar bruscamente e olhou na direção de onde vinha o barulho. Ela se viu perto do cordão da calçada da saída do hospital vendo um carro parado a alguns metros sendo que o motorista estava com a cabeça e um dos braços pra fora xingando sabe-se lá quem.

– Oh maluco! Isso aqui é entrada de um hospital, não tá vendo não? –dizia o cara indignado logo voltando para dentro do carro e entrando no estacionamento do St. Vladimir.

O carro estacionou logo em seguida e de dentro dele saiu o tal sujeito e uma mulher segurando a barriga de grávida já querendo dar a luz. O homem tentava acalmar a esposa enquanto atravessavam o asfalto em frente ao prédio e logo passavam por Rose que estava estática sem saber se seguia em frente ou se voltava. Assim ela voltou sua face ao exterior a sua frente respirou fundo e resolveu voltar para dentro do hospital e esperar em seu quarto...