Jake havia-me desalgemado, para me levar para algum lugar. Logo em seguida senti uma enorme vontade de bater nele com uma pedra ou uma TV (Quando se precisa nunca tem.) e sair correndo, com uma força que por acaso não tinha. As forças do meu corpo tinham me abandonado. Levantando-me, seus dedos lançaram pequenos choques na minha pele, só não sabia o por quê.

– Por acaso não perguntei... – falei já me escorando nele para andar.

– O quê? – perguntou – Se for mais uma daquelas pergun...

– Que lugar é esse? Onde exatamente estou? – interrompi.

– Em um motel.

– O QUÊ? – Gritei, e o empurrei tocando no seu peitoral para tentar me afastar.

– Qual o problema? – perguntou – não me diga que você está pensando em coisas desse tipo? – falou me lançando um sorrisinho, e me trazendo de volta para perto.

– Olha aqui seu tarado, se você estiver pensando que sou uma frágil mulher que não sabe se defender está enganado.

Ele aproximou o seu rosto e abrindo um sorriso sussurrou no meu ouvido.

– O que você acha que pode fazer nessas condições? – Senti arrepios por todo o corpo, e não soube dizer se foi agradável ou não. – Menina travessa.

Saímos do quarto, e pude dizer com toda a certeza que aquele era o pior lugar do mundo que alguém poderia frequentar. Devia ser umas 12h34min, e mesmo assim o corredor estreito estava extremamente escuro. Luzes fosforescentes da cor vermelha o iluminavam, fazendo parecer uma boate. Enquanto andava, Jake disse:

– Não olhe para ninguém – avisou.

– Como assim?

De repente vi ali mesmo no caminho para a entrada,um homem velho se agarrando numa mulher jovem de cabelos loiros. Ele a beijava loucamente e sua mão deslizava para dentro de sua roupa, enquanto a outra apalpava os seus seios. Jake apenas passou sem olhar, me empurrando. Ao passar pelo corredor se escutava todo o tipo de sons. Desde Gemidos á Gritos de prazer/ dor. Senti que mesmo que gritasse pedindo ajuda, as pessoas apenas falariam:Cala a boca sua puta. Após passar por tudo aquilo, chegamos a portaria, onde uma mulher magra de mais ou menos 39/ 42 anos, de estatura média, estava. Supus que deveria ser a dona do estabelecimento. Sua maquiagem era extremamente extravagante, e um cigarro estava pendendo por entre seus lábios vermelhos.Ela vestia um tomara que caia rosa, e uma super mini saia de oncinha. Seus cabelos eram azuis, com longas mechas loiras. Ela se dirigiu a mim primeiro e tive que falar alguma coisa.

– Você tem um interessante estabelecimento...comercial– comentei.

– Cada qual com a sua forma de viver. O que seria a vida sem seus prazeres, não é mesmo?! - falou ela.

– Espero que tenha se divertido bastante esta noite Jake! - falou, olhando para mim pelo canto do olho. Sua voz era forte, e pelo jeito que falava dava para perceber que era o tipo de pessoa que sempre ganhava uma discussão. Era imponente.

– Depende... o que você considera como diversão Mamma?

– Você sabe muito bem Jaikinho...- disse dando um sorriso malicioso.

Fiz uma cara de como dissesse :Jaikinho?? que droga é essa?Ela se virou para falar com outros clientes, e enquanto isso apenas sussurrei para o Jake.

– Mamma? por acaso ela é sua...

– Não. - respondeu friamente - É só um apelido que todos deram para ela.

– Hmm.. Sei. - Entendi que ele tinha ficado de mal humor de repente, só não sabia o por quê.

Quando a Mamma voltou a atenção para o Jake novamente perguntou:

– Jake o que você anda fazendo em? Faz tempo que não te vejo e quando aparece, leva uma menina machucada para o quarto - dava para ver que estava preocupada. - Não sou exatamente o tipo de pessoa que tem moral para te julgar por qualquer coisa errada que fizer, porém você é meu sobrinho. Me preocupo com você.

– Mamma não precisa se preocupar.- disse - só estou vivendo minha vida.

– Só quero que saiba que sua mãe não iria querer que você fosse atrás dele. É perigoso.

– Você realmente acha que estou atrás dele? - perguntou.

– Não acho. Tenho certeza. Você sempre foi do tipo vingativo.

– Mamma não vamos falar sobre isso agora. - falou olhando para mim, como se a conversa fosse particular e estivesse atrapalhando. Me senti ofendida afinal eu era a vítima da história.

– Sua mãe me pediu para cuidar de você. - disse abaixando a cabeça amargurada, provavelmente lembrando de coisas tristes. - Me deixe cumprir pelo menos uma promessa que fiz a ela.

– Já estou muito bem cuidado. Não se preocupe, Mamma.

– Pelo visto você nunca vai me ouvir. - suspirou - Tome, fique com isso! - E entregou uma foto, que estava dentro de uma gaveta.

– O quê é.. - Se interrompeu quando pegou a foto e á viu.

Como estava perto o suficiente, deu para ver o conteúdo. Na foto duas jovens pessoas que deveriam ser um casal, estavam em pé, de frente para uma Montanha. A mulher era linda. Possuía longos cabelos negros ondulados, e seus olhos eram verdes praticamente da cor de uma esmeralda. Usava um vestido floral, que fazia ela parecer ainda mais linda. O homem era alto e forte, tinha cabelos castanhos claros. Possuía um lindo sorriso capaz de hipnotizar qualquer um. Seus olhos eram cinzas, beirando o preto. Estavam abraçados e em cada dedo anelar tinham uma aliança. Deviam ser os pais do Jake. Atrás da foto lia-se:

"Se não tivesse encontrado você, hoje o meu mundo não existiria.O nosso amor vai durar pela eternidade. E mesmo assim ainda vai ser pouco... pouco para te amar.... pouco para te ter.. e para conter o quanto te amo.

Lisa e Dave"

– Eles eram realmente apaixonados. - disse Mamma, tirando Jake do transe. - Quantas vezes não disse para aquela cabeça dura o quanto estava sendo inconsequente... Foram tantas.

– Mamma.. você tem mais alguma foto deles? - falou. Deu para perceber que estava super abalado.

– Sinto muito Jake, essa é a única - disse - Tinha muitas outras, mas todas elas foram pegas pelo incêndio... você sabe - se interrompeu - Essa foi a última que sobrou. Estava guardando ela, mas acho que você precisa mais do que eu.

– Obrigado. Nem lembrava mais da fisionomia deles.

Quando comecei a achar o clima pesado demais, a Mamma bateu palmas para levantar o ânimo do Jake. Ele enfiou a foto no bolso da jaqueta.

– Muito bem..Adorei a visita Jake! Pena que eu sei que não vai ficar muito tempo. Como já disse, tome cuidado com o que quer que esteja fazendo.

– Thau.. Mamma! - Ele já estava virando para ir embora quando, a Mamma disse:

– Ei espere...Não perguntei o nome da menina.

– Ela se chama Annie.- Jake falou. Fiquei revoltada, poderia eu mesma ter respondido.

– Bom nome.. Significa Doce.- respondeu - Acho que já está bem melhor comparada á ontem á noite. Cuide bem do meu Jaikinho, Ok?! - sorriu.

– Na verdade eu não estou... - ia falar o inconveniente acontecimento que estava acontecendo, quando Jake cobriu a minha boca com sua mão direita, e me puxou com a esquerda.

– Thau Mamma!

– Thau Jake..- riu - Só pense bem antes de fazer qualquer besteira.

Até sairmos completamente do estabelecimento, ele continuou com a mão na minha boca. Fiquei com tanta raiva que mordi a mão dele, e me afastei.

– Quando você vai entender que isso não vai adiantar? - falou irritado, me pegando novamente.

– Já disse para me soltar.

– Mas eu não vou te soltar. - disse colocando os braços envolta de mim.

Fui praticamente arrastada contra minha vontade até um Jipe preto. Ele me colocou lá dentro no banco que ficava do lado do de motorista. E enquanto algemava minha mão direita na lateral de um ferro, seu rosto ficou á poucos centímetros de distância do meu rosto. Senti meu rosto ficando vermelho aos poucos.

– Você vai me prender de novo? - questionei.

– Exatamente.

– Porquê?

– Acho que não gosto de ser mordido - disse fechando a porta.

Olhei para o outro lado e vi o nome do estabelecimento da Mamma, estava escrito em letras vermelhas de Neon:

Motel Mamma Família.

Era um nome bastante sugestivo e irônico.