Darkness to Kill escrita por Quaeso


Capítulo 12
Obscuro


Notas iniciais do capítulo

Nem adianta falar que demorei né?! Eu já sei a realidade... Sei que alguns capítulos atrás disse que postaria toda segunda ou terça, mas esse esquema não funcionou de jeito nenhum como já devem ter percebido. Estou simplesmente a-t-o-l-a-d-a!! Sério acho que agora vou postar mensalmente, apesar de eu já estar fazendo isso kkkkkk. Juro que quando der eu posto mas a verdade é que eu não prometo nada!!! Enfimm... Esse capitulo promete muitas novidades, e espero muita surpresa por parte de meus leitores!!
Boa leitura!!



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Após três longos segundos, e depois de uma bela risada Jake me encarou e seu riso foi diminuindo até ele perceber que eu definitivamente não estava fazendo nem um tipo de piada. Seu olhar expressava pura descrença e mesmo sem ler seus pensamentos sabia que ele acreditava que eu estava blefando. Na realidade pensei numa reação exagerada, e que ele cuspiria a sua bebida assim que me ouvisse, mas com exceção da risada ele apenas continuou com sua xícara na mão e se estava fingindo indiferença não percebi.

— Você não escutou errado Jake, pretendo ficar aqui. — Disse enquanto media as palavras para não soar de maneira presunçosa.

— Jake? — riu — Não era tarado?

— É com isso que se importa? — briguei — com a forma como lhe chamo?

— Na verdade não. Mas é notável uma mudança na seriedade do assunto com você me chamando assim.

— Não adianta mudar de assunto.

— Não estou mudando. — Respondeu com alguma sinceridade nas palavras — só estou... Surpreso.

— Entendo... na sua posição também estaria, mas quero que perceba que não lhe pedi permissão, numa situação dessa não aceito um “não” como resposta.

— E qual é a “situação”? — Falou enquanto pegava uma torrada e passava geléia nos dois lados.

Irritada com a sua indiferença em não me dar atenção, joguei tudo o que estava em cima da mesa no chão, puxando o pano de uma vez. Me surpreendi com minha rapidez e insensatez no momento que os cacos de vidros se estilhaçaram. Jake apenas levantou as mãos em sinal de rendição, e continuou.

— Se quer me fazer aceitar sua “situação” um bom começo seria parar de ser tão imatura e insensata. — Brigou irritado — Fala sério quantos anos tem de verdade?

— Você não consegue entender a gravidade da situação? — grito, ainda mais séria com lágrimas brotando nos meus olhos, mas lutando para não mostrar-las para aquele idiota — A pessoa com idade mental inferior a três anos aqui é você.

Como se me incitasse a continuar ele ficou calado.

— Só porque sequestrei aquele idiota do Johnny parece que tudo começou a dar errado... Como se não fosse o suficiente ser indiciada por tentativa de estupro, descobrir que um imbecil que eu amava estava me usando, e ser obrigada a ver meu pai falando que me colocaria em um sanatório ainda por cima sou sequestrada e quase morta por malucos contratados por meu próprio pai aquele que deveria me amar. E como se não fosse o bastante minha irmã... minha irmã...— Não aguento e as lágrimas começam a rolar pelo meu rosto me impedindo de continuar a falar.

Jake continua calado, mas me observa com atenção. E colocando em palavras tudo aquilo pelo qual eu estava passando me deixou ainda pior, e tornou tudo mais real.

— Entendo...— Respondeu Jake, e me surpreendi pelo pesar e sinceridade na sua voz. — Então é isso... Acho que me enganei...

— O que quer dizer com isso? — disse aos soluços.

— Esqueça... — Respondeu indo em minha direção e me dando o que a muito tempo precisei mas ninguém nem pensou em me dar : Um abraço.— Ficará melhor sem saber a verdade.

Decidi por um ponto nesse assunto e voltar nele mais tarde fazendo questão de não esquecer, para somente aproveitar o momento aconchegada nos braços de Jake. Estava cansada. Simplesmente cansada. De levantar um escudo para tudo e todos, e ser obrigada a ser quem eu não sou, mas quem gostaria de ser. Deixei me levar naquele momento de fraqueza, que não sei quanto tempo durou, mas assim que fiquei mais calma e as lágrimas secaram, e quando Jake começou a se afastar que me dei conta do que tinha acontecido e comecei a corar. Para disfarçar comecei a pegar os cacos de vidro espalhados pelo chão.

— Não precisa fazer isso... Vai acabar se... — Antes que terminasse a frase eu já tinha me cortado. — ...cortando.

Um corte superficial no dedo indicador, que por incrível que parecesse estava doendo. Escorria uma linda coloração vermelha que caía em perfeitas gotas e se espalhava como se este fosse o seu destino. Somente se prolongar. Fiquei por um longo tempo somente encarando meu sangue cair, quase ludibriada pelo seu encanto. Hipnotizada pelo ser fervor. Jake se agachou ao meu lado e pegou meu dedo tirando-me dos meus devaneios, e antes que pudesse protestar ele o colocou na boca. O encarei de leve e pude observá-lo corretamente pela primeira vez. Jake era realmente um cara lindo, um que provavelmente todas as garotas se matariam para ter ao seu lado. Mas... sua beleza era completamente diferente da do Johnny, não pelo fato dele ser loiro e de olhos azuis e Jake ser moreno com olhos assustadoramente cinzas. A beleza de Johnny era superficial, algo que pedia para ser considerado bonito...atraente, era completamente ilusório, mentiroso. Ele era o que os parâmetros da sociedade pediam, era o que agradava a todos. Jake, não. Ele era completamente diferente, sua beleza era natural, quase transcendental, era algo que em vez de pedir para ser considerado bonito, pedia para as pessoas não se aproximarem, para todos não ousarem se apaixonar por ele... como se ele não merecesse ser feliz. Era como um anjo da morte. Mas justamente era aquilo que mais me atraia nele, aquele mistério... aquele aviso escrito na testa dele em negrito de “não se aproxime”. Enquanto mergulhava em seus olhos profundamente tempestuosos desejei poder ultrapassar uma barreira que me impedia de continuar, Jake desviou o olhar, como se eu pudesse descobrir todos os seus segredos só por olhar em seus olhos.

Ceeerto...— prolonguei ansiosa, puxando a minha mão — Já estou melhor.

— Que bom. — Disse enquanto se levantava e se dirigia para o seu quarto. Aquele que ficava em frente ao “meu”.

— Espera! — Falei antes de me impedir. Assim que ele se virou para me encarar balbuciei — Aah... Como exatamente a “situação” ficou agora?

Ele apenas sorriu de leve, e falou como se as palavras lhe causassem extrema dor.

— Caramba...Você se parece muito com ela.

— Ela? — estranhei — Quem?

— Esqueça. — Falou voltando ao seu habitual ser. — Daqui à uma hora nós iremos partir.

— Como assim? — encarei-o perplexa.

— Ouça... Faça o que quiser. Se estiver com muita pressa não irei te impedir de passar pela porta. Só peço que não faça barulho e nem incendeie a casa durante uma hora, está bem? Se sair e demorar mais que isso não vou me importar e irei do mesmo jeito, ouviu?

E falando apenas isso Jake fechou a porta atrás de si. Encarei embaraçada a porta e não consegui conter um suspiro, não sabia se ficava aliviada ou desconfiada. Ele estava realmente me dando a “carta de alforria”? Não me importava de continuar sequestrada desde que ele me ajudasse a recuperar minha irmã. E mesmo que eu saísse por aquela porta de nada adiantaria o que eu deveria fazer? Procurar a policia? Ir até a casa do meu pai? Não. Eram ideias no mínimo idiotas. Assim que a policia descobrisse que eu havia saído dos parâmetros permitidos, eles iriam me dar um mandato de prisão, e mesmo que eu alegasse ter sido sequestrada isso apenas soaria como uma mentira muito falsa. E voltar para a casa do meu pai seria como sair da gaiola para entrar num ninho de cobras, ou seja, estava completamente sem opções. E temia que como no sonho não pudesse fazer nada para salvar Sophia, precisava de Jake assim como dependia das minhas pernas para andar.

Após recolher todos os cacos, e limpar a bagunça que tinha feito, comi algumas torradas e tomei um belo chá de hortelã. Enquanto esperava o tempo passar decidi explorar um pouco a casa e descobrir onde exatamente eu estava. Parei exclusivamente para admirar o belo piano de mogno preto e passar o dedo por toda sua extensão. Ele era assustadoramente belo assim como Jake. Sentei no banco aveludado em um tecido cor de vinho. Levantei a tampa do teclado e saboreei o doce e suave som que as notas me permitiam sentir. Como me lembrava toquei Gymnopédie No.1, e fiquei encantada em perceber que mesmo depois de três longos anos sem tocar em um piano, consegui ouvir aquela maravilhosa harmonia de Erik Satie. Deixei-me levar pelas emoções e mesmo com alguns notáveis erros continuei e só parei quando senti o gosto salgado das lágrimas na minha boca. Só por lembrar o motivo do porque havia parado de tocar me senti oca. Meu passado era ainda mais obscuro do que podia admitir. Quando eu era criança tinha uma empregada pessoal chamada Clarisse, ela era um amor de pessoa, e me tratava como ninguém, no inferno que era aquela casa. Ela começou a me ensinar a tocar piano quando eu tinha apenas cinco anos de idade e isso se perpetuou até eu completar 15 anos. A considerava uma mãe, mas descobri acidentalmente que ela teve um caso com meu pai. Isso obviamente me chocou e me fez pensar se tudo não era apenas uma farsa. Se todo aquele carinho não era apenas a única alternativa para ela continuar no emprego. Sendo eu apenas uma mera ferramenta usada por ela. Quando a questionei sobre o que estava acontecendo ela apenas me ignorou e em vez de tentar mentir dizendo que eu estava louca, que era o que eu realmente gostaria de escutar, ela confessou tudo. Disse que fazer a “filhinha do patrão” gostar dela garantiria seu emprego com muitos acréscimos no fim do mês. Toda aquela rejeição sendo ela a única com quem eu ainda podia contar me fez cair por dentro, como se uma sombra muito obscura tivesse entrado no meu ser me impossibilitando de respirar. Com a raiva que senti naquele momento fui capaz de... apagar Clarisse. Sim, ela desapareceu, foi o que o jornal disse. Parei de tocar assim que o pensamento atravessou minha mente. Aquele era um passado pelo qual não gostaria de me lembrar. Fiz apenas um acordo com meu pai... Ficaria calada e não contaria sobre a traição a Cristine, e ele encobriria tudo... Até mesmo o assassinato.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? manifestem-se kkkkk
Perceberam que eu fiz mais uma homenagem para o Erik Satie?? Simm eu amo muito ele, um grande artista que por sinal esta até tocando na novela das 9!!