Decadência escrita por Wonderlust Queen


Capítulo 1
Decadência


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu fiz essa fic de forma muito aleatória HUEHUEHUE. Eu estava trabalhando de monitura no Simpósio Nacional de História, e estava sentindo um tédio profundo, parada numa sala ouvindo o blablabla de um palestrante, sobre um assunto que não me interessava. Estava tão desesperada que comecei a ler Teoria da História, uma matéria que eu detesto, e me ocorreu a teoria da ascenção-decadência. Como eu tinha assistido How To Train your Dragon dias antes devido ao trailer da sequência, pensei que seria legal usar esse conceito com Berk e....saiu essa BOSTA. (y'

Editado no Wordpad, cheio de erros de ortografia, final tosco porque tá de madrugada e eu to com sono. Mas eu gostei do resultado. É, eu gostei dessa fanfic mesmo. É a primeira que eu escrevo desde...2011? Eu fazia um blog pras antigas, talvez eu poste aqui.

Rateiem essa delícia, meus caros leitores. Espero que não fiquem putos comigo, eu sou nova nesse site. :3

PS: não sei classificar fanfics. Vou por universo alternativo porque né, o 2 ainda não saiu. :P Se algo dessa fic não corresponder a classificação que eu botei, me avise, plox.



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Muitos dizem que a história é cíclica. Toda a linha histórica então tenderia a se repetir, e isso poderia ser visto em vários âmbitos, sendo um deles as próprias civilizações. Tempos atrás, um teórico chamado Toynbee criou um regulamento padrão para se observar diversas sociedades através do tempo e, em seus devaneios, afirmava que estas tenderiam a nascer, alcançar um ápice e, logo após isso, cair em uma ladeira de desgraças, até a sua total decadência. Se formos parar para pensar, esse pensamento em muito se assemelha com o ciclo de vida dos seres vivos, que após certa maturidade vão envelhecendo rapidamente, alcançando a morte.

Atualmente, de nada servem, esses pensamentos. Teorias de padrão e regulamentação da história há muito são consideradas baboseiras obsoletas, sem serventia para a nova era dos estudos de história, vinda dos Annales. Toynbee para os vanguardistas é como um romancista que escreve de forma arrastada e nada diz, apenas balbucia maluquices. Baboseira ou não, o fato é que tal teoria, tal ladeira de desgraça, ocorreu à velha vila de Berk.

–--

Flocos de neve beijavam delicadamente o solo da vila, depois de uma intensa nevasca durante as horas anteriores. Naquela tarde, Hiccup caminhava solitário por aquele cenário de cor branca, e adornava em seu rosto uma expressão provida de total confusão, misturada com um ar depressivo nunca antes experimentado por este. O viking arrastava sua prótese cautelosamente, temeroso de tropeçar na pilha de madeira e membros decepados que eram cobertos gentilmente pela neve. Suspirava repetidamente, tentando entender. Não compreendia como seu povo, tão próspero, havia desaparecido, de forma tão breve quanto o arco-íris que se forma após a chuva.

Com os dragões entre eles, Berk logo entrou em um período próspero nunca antes visto. O auxílio dos répteis nas tarefas cotidianas, como também na matéria prima de utensílios e armas, fez a ascenção daquele vilarejo chegar a um ápice, inclusive conquistando pequenos territórios vizinhos e expandindo a área de cultivo. Vários avanços tecnológicos, muitos deles originados da mente de Hiccup, foram tornando a antes vila cada vez mais civilizada, com direito a sistema hidráulico, saneamento, construção de um mercado de metais preciosos e, claro, acessórios para dragões, que aqueciam o mercado interno. Como o maior conhecedor do estilo de vida dos dragões, Hiccup se tornou o honroso chefe do povo de Berk ao atingir a maioridade. Porém, por não se considerar um viking, deixava a maior parte das decisões para seu velho e sábio pai, a quem considerava deveras digno para o cargo. Era apenas um líder simbólico, e passava a maior parte dos anos treinando técnicas refinadas para seu vôo com dragões. Chegou, inclusive, a criar um par de asas feitas de couro para que pudesse planar durante os passeios, tornando a experiência nos ares muito prazerosa. Berk enriquecia como nunca, e tudo seguia como se Odin estivesse lhes presenteando com as melhores honrarias. Odin certamente amava ao povo de Berk.

Todavia, Berk encontrou seu abismo e suas desgraças. Começou em um determinado ano, onde uma praga passou a utilizar de hóspede a principal fonte de alimento para vikings e dragões: O pescado. Refeição após refeição, os habitantes da cidade iam padecendo ao mal do peixe, trazendo ao cemitário dezenas de lápides. Isso logo foi notado e o conselho passou a proibir o pescado, para garantir a saúde das crianças, idosos e gestantes. O que eles não previram, é que a falta do pescado traria uma escassez de alimentos, devido ao solo pobre que limitava o cultivo em todas as áreas, ao clima gélido que impossibilitava o cultivo de outras variedades de alimentos, e a falta de ovinos, já que estes eram utilizados até então unicamente para a lã. A fome assolara aquela sociedade, e os grupos mais frágeis foram perecendo lentamente, seja pela doença ou por pura desnutrição. Famintos, os dragões debandaram. A densidade demográfica daquela região diminuíra consideravelmente, e a criminalidade aumentou. Pessoas menos abastadas matavam por um pouco de cevada. Não haviam espaços nas prisões para todos, e passaram-se a utilizar até mesmo as antigas jaulas de dragões. Mas logo essas também lotaram, fazendo com que os ferreiros e construtores ganhassem muito bem, construindo gaiolas. Essa classe se tornou símbolo de status, apesar de também sofrerem da fome. Eram considerados ricos por possuírem um pouco de trigo e azeite.

Logo vieram as invasões. Os povos vizinhos, que tiveram suas terras subtraídas, ouviram do boato que Berk passava por uma terrível praga. Vieram para reclamar suas terras e as terras da vila que não mais havia dragões. A enfraquecida Berk agora enfrentava constantes guerras e, uma a uma, perdia. Com seu território reduzido, um dos povos vizinhos prometeu pegar para si o território de Berk para a criação de cabras, que estava dando um lucro considerável na época. Hiccup desejava a negociação, porém os vikings anseavam pela luta, e Stoick apoiou tal suicídio. Falavam de honra, Odin os estava testando, de certo. Bandidos foram então soltos, para servirem de numerário na batalha. Era questão de vida ou morte.

– Somos VIKINGS! Nunca permitiremos que estes filhos de Gronckle tomem o que é nosso por direito! QUE NOSSO SANGUE SEJA COBERTO DE HONRA!!– Gritou de forma rouca Stoick, para as esquálidas tropas. A batalha teve início.

O filho de Stoick só conseguia enxergar morte após àquela derrota sangrenta. As baixas do povo rival foram, na verdade, mínimas. A totalidade dos corpos que jaziam cobertos na neve consistia em cidadãos de Berk. Não mais haviam casas novas naquela velha vila. Eram apenas pilhas de madeira queimada e blocos de pedra que soterravam famílias inteiras. O silêncio e o podridão se apoderavam do local, e a Hiccup só restava a esperança que algum conhecido se salvara. Não teve notícias de nenhum prisioneiro de guerra, e os inimigos, aparentemente, já haviam abandonado o recinto.

Confuso, Hiccup continuou arrastando suas pernas através da destruição, e logo começou a identificar rostos conhecidos. O primeiro que chegou a ver foi Gobber, em verdade somente sua cabeça, com o escalpo cortado. Teve uma intensa ânsia de vômito e correu na direção oposta ao corpo do mentor, porém colidiu com uma das muitas hastes de madeira utilizadas para o empalamento, e caiu. Custou a levantar. Ele mesmo se encontrava bastante debilitado e coberto de ferimentos. Com a praga, encontrava-se ainda mais magro. Sua prótese estava praticamente quebrada, e cicatrizes de guerras anteriores enfeitavam toda a parte exposta de seu corpo, em especial suas mãos. Também tinha em si uma enorme marca de queimadura, que começava na lateral direita do queixo e descia para toda a extensão do ombro e peito. Era uma ferida recente, e sentia muito ardor quando os flocos de neve a encostavam. Como o faziam agora, ao despencar no gelo.

Ao levantar, respirou fundo e prometeu a si mesmo não vomitar ou entrar em pânico. Afinal, não saberia quando encontraria alimento novamente. Continuou sua caminhada, e os corpos conhecidos pareciam emergir da neve. Próximo a uma enorme rocha, seus olhos umideceram-se ao vislumbrar sua noiva, pele cor-de-gelo, com os cabelos loiríssimos tingidos de vermelho-sangue. Ela era a única do grupo de adolescentes que permaneceu viva até a última batalha. Snotloud foi escravizado por uma das primeiras vilas vizinhas. Os gêmeos logo foram assassinados em batalha. Fishleg já havia os deixado logo de início, adoentado pela praga. Conforme lembrava, Hiccup ia tornando-se cada segundo mais mórbido. Fechou os olhos de sua amada e depositou-lhe um beijo em sua gélida bochecha.

Por fim, Hiccup petrificou em um último cadáver. O "Vasto" estava exibido como um troféu, em uma daquelas enormes estacas de madeira, no que seria o centro de Berk. O filho passou alguns minutos observando atentamente seu pai e o que restava ao redor dele. Sentiu o desespero tomar conta de si e de suas expressões, nunca se sentiu tão desonrado e humilhado como viking que não era. A destruição em seu interior era um reflexo fiel da devastação do que já fora sua terra natal, e estaria prestes a gritar em completa demonstração de insanidade, quando sentiu algo tocar-lhe as costas.

Voltou-se para trás e o que viu foi um Fúria da Noite, completamente coberto de cicatrizes e demonstrando sinais de cansaço e fome.

Toothless havia ficado com os de Berk, a despeito dos outros dragões que a abandonaram. Mesmo quando seu amigo o havia oferecido a liberdade através de uma cauda incrementada, este não o quis, e ficou. Ficou e protegeu Hiccup até o final, mesmo naquela manhã, quando este caiu inconsciente nos limites do território.
O réptil então emitiu alguns rugidos, e Hiccup arranhava naquela época o suficiente de dragonês para entender o grosso do que queria dizer:

– Eu sinto muito.

Toothless observou então confuso quando seu melhor amigo despencou em seus ombros, numa espécie de estranho abraço. Hiccup, por sua vez, não derramou uma lágrima. Encontrava-se deveras debilitado para tal feito. Caso o fizesse, com a sede que sentia no momento, era capaz de bebê-las. Porém, demonstrava para o amigo o tamanho de sua desolação, sobretudo gratidão por ele ainda estar ali. Estava exausto, e isso fez com que não levantasse por quase uma hora, olhos levemente cerrados, tentando esquecer o que passou.

– Amigo, esse não é mais o nosso....lar. - A voz de Hiccup saía rouca e mórbida - Temos que sair daqui o quanto antes, ou...temo que morreremos.

Toothless emitiu novamente um rugido, porém Hiccup não conseguiu fazer uma tradução para seu idioma.

– Creio que, se estiver tudo bem pra você...possamos voar para longe desse inferno. - O viking concluiu, e o dragão logo se posicionou para que pudesse ser montado.

Hiccup levantou-se lentamente, ouvindo alguns estalos de sua velha prótese. Precisava urgentemente de reparos. Felizmente, o equipamento de seu amigo continuava intacto, e montou sem dificuldades. Não pode evitar sorrir no canto dos lábios ao sentir que, ao menos ele, tinha uma possibilidade. Tossiu fortemente, e pode observar seu sangue na sela do réptil.

– Vamos. - Afirmou, limpando com a roupa o líquido vermelho em seus lábios e em sua cabeça. Toothless alçou voo, e Hiccup pode notar pequenas queimaduras na ponta da asa esquerda. O dragão não estava alcançando grandes altitudes, mas era alto o bastante para não ser visto, entre as nuvens.

Tanto o viking quanto o dragão encontravam-se esfomeados, enfraquecidos e esquálidos. Pobres vítimas da decadência de uma sociedade, não tinham certeza se conseguiriam sobreviver ao chegar no próximo pedaço de terra. Poderiam haver inimigos, e suas feridas estavam infeccionadas. A morte poderia ser o próximo destino. Todavia Hiccup, vento frio soprando no rosto, olhar sofrido, sentia uma estranha felicidade inundar o terreno devastado de sua alma. Talvez por ser um sobrevivente. Talvez por ter um grande amigo. Seria um presente de Odin?


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Notas finais do capítulo

Alguns esclarecimentos:

1) A teoria de Ascenção e Decadência foi algo proposto por Toynbee e foi utilizado por anos como algo verdadeiro na teoria da História. Eu odeio Toynbee e sua teoria, por isso não sei ao certo se é esse mesmo o nome da teoria dele, talvez não seja. Se quiser saber mais, procure pelo teórico no google. Depois de um certo tempo, com a renovação da historiografia através do movimento dos Annales (google it), tudo isso se tornou obsoleto (menos pro meu maldito professor que me ensinou isso mesmo assim HUE) Eu só achei legar utilizar a teoria aqui. Não sou expert nela. Se você for historiador e achar algum erro nisso, me perdoe :(

2) Botei a Astrid como noiva e não esposa do Hiccup porque...sim. Nem gosto deles como casal mesmo.

3) Chamei ele de viking mesmo ele não se considerando um, só porque eu achei bonito. Até porque, ele é de uma tribo viking, poxa. Na verdade viking não é uma civilização específica, era só um termo para "saqueadores do mar que tocavam o terror". Então na questão literária, vamos deixar que qualquer nórdico é viking. Fica menos complicado

4) A fala do Toothless é negrito-itálico porque é dragonês e eu quis destacar.

5) Outras partes em itálico é só pra destacar. o "Vasto" do Stoick foi só porque ele é o Vasto e eu quis destacar isso.

POIS É GALERINHA, NÃO SE ESQUEÇAM DE COMENTAR E SEJAM GENTIS, ACABEI DE ENTRAR AQUI. (y'