Em uma cidade em que seres super poderosos existiam e usavam seu beneficio para ajudar os outros, uma garota meio-demônio observava o sol nascer. Seu cabelo roxo escuro balançava de acordo com o vento, em uma sintonia. Ravena olhava para o horizonte enquanto o céu era pintado de diferentes cores, anunciando a chegada do sol.

—É bonito né? -Robin surpreendeu-a, fazendo a garota dar um pulo. —Adoro vir aqui para ver o sol nascer.

Ravena concordou com a cabeça. Seu olhar vago denunciava que na verdade ela não estava prestando atenção no céu. Pensava na vida e nas escolhas. Pensava em tudo que a trouxe para aqueles amigos, aquela vida. Em tudo que a tirou da escuridão do seu destino.

—Esta tudo bem Ravena? -O amigo pergunta preocupado.

—Sim. É que geralmente eu venho aqui para pensar, não para conversar com vocês sobre a beleza do dia. -A voz rouca sibilou rispidamente. Ravena logo se arrependeu, mas sabia que os amigos, principalmente Robin, já estavam acostumados com isso.

Ravena também sabia que mesmo ela sendo mal humorada a maior parte do tempo, eles nunca iriam abandona-lá. Então uma lembrança veio em sua cabeça:

"Estava escuro e frio. Não lembrava quem era ou de onde era. Será que pertencia a algum lugar? O que a trouxe a esse emaranhado de rochas infinitas? A criança estava assustada. Se não fosse a capa branca que estava enrolada, iria congelar. Sabia que não ia escapar do perigo que poderia enfrentar, sabia que estava perdida. Todas suas chances de descobrir quem ela era foram dizimadas. Até ela avistar uma sombra de alguém familiar. Um jovem rapaz com cabelos arrepiados e uma mascara cobrindo os olhos, talvez seu fim não fosse tão próximo assim..."

Graças a Robin ela conseguiu escapar da escuridão. Graças aos amigos o planeta foi tirado das garras de Trigon, seu pai. Ravena se lembra de cada momento agonizante que passou escondendo a verdade, temendo que o momento chegasse. Ela afastou essa lembrança da cabeça e entrou para a torre T.

Quando chegou à sala, viu a cena que estava acostumada: Mutano e Cyborg jogando vídeo game, Robin escutando musica alta para "relaxar" e Estelar... A alienígena não estava na sala, mas Ravena não se importou.

Pegou o Bule de chá e despejou uma boa quantidade na xícara. Ravena olhou para baixo e tomou um longo gole, fazendo uma careta por estar quente demais. O dia estava só começando, então pensou em dar uma trégua a Robin. Ele não tinha culpa porque a amiga tem muitos problemas.

Ravena caminhou ate ele envergonhada e disse:

—Hum... Er... Robin desculpe-me por hoje. Eu não tinha a intenção de... -Ela parou de falar quando viu que Robin não estava escutando, a musica estava muito alta. Ela suspirou com raiva e tentou de novo. Nada. -ROBIN!

—Ah, oi Ravena. -Desligou a musica e olhou para os olhos dela. -O que foi?

—Desculpe por ser grossa hoje. Estava mal humorada. –Ravena quase se arrependeu de dizer isso. Ate que ouviu o que o Robin respondeu e se arrependeu completamente.

—Relaxa, estou acostumado com isso.

Ela deu de ombros e foi direto para o quarto. Fechou a porta com força, fazendo um estrondo, para se certificar que ninguém iria incomoda-lá. Deitou na cama para pensar. Ravena não conseguiu relaxar, então resolveu fazer algo que sempre a ajudou: ela iria meditar.

—Azarath Metrion Zinthos. –Sibilou lentamente. Repetiu varias vezes até que foi interrompida por uma batida na porta. –Que é? -Estelar estava diante da porta, sorrindo como sempre.

—Você gostaria de se unir a nós? -A voz doce da amiga fez Ravena ficar com raiva. Como alguém pode ficar tão contente o tempo inteiro?

—Não. -Antes de fechar a porta, um pé foi colocado na frente impedindo-a. -Serio Robin? Você não tem nada melhor para fazer?

Vendo que eles não iriam desistir, Ravena se rendeu. Os cinco amigos se reuniram na sala, viram filmes e riram bastante. Ate que Mutano resolve ensinar para a Estelar como jogar vídeo game. A jovem meio-demônio sai da torre e fica observando a paisagem.

—Oi. Não quer minha companhia de novo? -Robin chega perto dela sorrindo.

—Pode ficar se quiser. -Ela deu de ombros e riu um pouco. Longos minutos se passaram sem eles falarem nada. O silencio estava meio constrangedor, o que ficou mais ainda quando Ravena viu que estava sendo observada. –O que foi? -Ela corou.

—Nada, por quê? -Robin fez uma cereta sem entender a situação.

—Você estava me encarando.

—Se eu falar alguma coisa você fica com raiva, se eu não falar nada você também fica? -Ele perguntou, continuando a não entender nada.

—Não estou com raiva, mas você estava olhando para mim! -Depois que Ravena percebeu o quanto infantil isso soava ela começou a rir.

—É que quando eu estou pensando em algo, não presto atenção para onde estou olhando. Mesmo que eu esteja olhando para o que estava pensando. -Robin se enrolou nas palavras e corou a perceber o que tinha falado. –Ravena... eu quero te falar uma...

—Eu tenho que ir... –Ravena levantou apressada. Ela começou a andar, mas ele a impediu.

—Ravena, espera! -Suspirou e só falou depois que a garota se virou. –Olha, eu preciso que você saiba de uma coisa. Desde o momento que te salvei de Trigon eu não consigo parar de pensar em uma coisa.

—O que? –Disse soltando o braço da mão de Robin.

—O quão desesperado eu fiquei. Eu não podia te perder. Eu não queria te perder.

—Somos amigos, é claro que você se sentiria assim.

—Eu imaginei que... –Ignorou o comentário dela e prosseguiu. –Eu imaginei que não conseguiria ficar sem você, porque se tornou tão especial para mim que eu não entendo. Eu não ia viver mais, nada iria valer à pena se você não estivesse lá. E quando te vi, eu tive esperanças. Mesmo estando daquele estado. Eu não me importaria se você passasse o resto da vida daquele jeito, pelo menos estaria viva.

“Eu também me senti salva.” Ravena pensou, mas não disse nada. Nada precisava ser dito. Porque no fundo, os dois sabiam a verdade. Sabiam que se amavam e nada iria mudar isso. Sabiam que só uma única coisa foi capaz de salvar o mundo:

O amor.