Win or die escrita por AL Nascimento


Capítulo 1
Prefácio




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Vença ou morra.

O sussurro dele me atinge com força. Agora lá é hora de fazer-me raciocinar direito? Concluo que ele provavelmente é louco. Que se eu não desviar dos ataques proferidos a mim, as possibilidades apontam que irei morrer.

– O QUÊ?!

Abaixo-me escapando por um triz da ponta da lança do homem alto e monstruosamente musculoso, cheio de abomináveis cicatrizes que, por algum motivo que eu desconheço - se é que há um motivo -, deseja desesperadamente me matar. Na verdade eu sequer sei onde é aqui ou por que estou aqui. Pelo que noto, parece ser um beco de uma cidade fantasma. Consigo identificar janelas quebradas de grandes prédios por detrás dos muros brancos que me cerca na frente, atrás e do meu lado esquerdo. Já no lado direito há uma Avenida, o beco onde estou é transversal a ela, além dos limites dessa avenida há um mar azul cintilante e nas suas águas escuras o reflexo da lua cheia se prende.

No meio de tudo isso, estamos nós. O meu agressor, um adolescente com uma mascara negra e eu.

– Vença ou morra.– Ele repete enquanto assiste ao meu massacre encostado serenamente na parede branca desbotada do beco escuro e sem saída onde nós três estamos.

– HÃ? - Balbucio tentando não tirar minha atenção do monstruoso agressor. Um golpe dessa lança longa e prateada, que brilha com o reflexo da lua, provavelmente me causaria a morte.

–"Tsc".– O adolescente faz quando a lâmina da lança do agressor raspa em meu braço, acabando com a manga da minha camiseta branca e sujando o resto com o meu sangue rubro.

Levo minha mão ao braço esquerdo lesionado e então, num súbito, sou tomado por uma onda de tontura. Me pego de joelhos no chão e com a visão extremamente turva. Desejei voltar no tempo e permanecer preso nas profundezas de meu quarto, com a estupidez meu castigo, assim que isso começou.

Mal consigo ver o agressor, a maldita lâmpada do poste - o único que vejo-, que está na avenida a três metros de mim, pisca em descontrole. A lua é coberta por nuvens estranhas, o que me resta são feixes de luz turva vindo da iluminação precária do lugar.

Olho para o lado, para o muro desbotado. Vejo três adolescentes idênticos de calças jeans e camiseta branca, pele pálida, cabelos negros e olhos cinza. Ele está segurando uma espada na altura da cintura, porém se mantém parado. A imagem se duplica e tem seis dele tremulando à minha visão então todos se juntam e tornam-se um só. Tudo escurece por um instante, mas ainda assim consigo desviar de outro golpe e me colocar de pé cambaleando. A visão brinca com a realidade que me apresenta.

– O que diabo está acontecendo? - Pergunto para o garoto que inicialmente parecia estar do meu lado.

Guiar-me até aqui apenas para me ver morrer não tem muito sentido. Deve haver algo mais.

Desvio de outro golpe jogando-me para o lado. Meu agressor berra por debaixo de sua espessa barba negra. É um berro grotesco, nem parece humano.

– Veneno.– Sussurra o garoto encostando um pé na parede obtendo uma pose descontraída. – É mortal.

– Veneno? - Indago sem compreender. Depois de tanto tempo falando a mesma coisa sem sentido, ele finalmente usa novas palavras, mas são tão incompreensíveis para mim como as outras. Como assim "vença ou morra" ou "veneno mortal"?

O veneno está na ponta da lança, a mesma lança que perfurou o seu braço.

Tremo diante da explicação. Quem em sã consciência colocaria veneno em uma lança?

Serve para matar.

Desvio, desvio e quase sou acertado novamente.

– Porquê você só fica olhando? Ajude-me, DROGA!

Estou andando em círculos desviando da lança. Tenho sorte de meu agressor ser grande demais, gordo demais a ponto de ser lento demais, porém eu estou cambaleando e com a visão turva graças ao provável veneno que agora circula dentro de mim. Estamos em um impasse.

Estou aqui para lhe ditar as regras. Sou seu companheiro, não o salvador de sua vida.

– Companheiro? Então me diga: O que eu faço?

Jogo-me para trás, a lança a poucos centímetros do meu rosto, minha visão escurece, cambaleio como um bêbado e perco o equilíbrio caindo sentado no chão.

– Vença ou morra.– ele sussurra sua frase preferida. Encaro-o observando a máscara negra e destroçada que cobre boa parte do seu rosto. Espero que tenha uma bela monstruosa cicatriz ali. – Sobreviva.

Não consigo levantar, não tenho mais forças. Vou morrer? Eu não quero morrer. O agressor levanta a lança e mira, ele vai me matar. Não posso morrer, não agora.

– Como eu venço?

Um sorriso escapa por entre os lábios rosados dele.

– Mate.

O agressor ataca, jogo meu corpo para o lado e a lança se crava no chão, perfurando o cimento da calçada. O agressor puxa a lança de volta e eu vou me arrastando no chão, me safando dos inúmeros golpes que são lançados contra meus pés, até que por fim minhas costas esbarram na parede branca desbotada do beco mal iluminado. O adolescente está a dois metros de mim, encostado na mesma parede.

Vença ou morra.– Repete ele com sua voz de veludo com uma pitada de diversão.

A lança está vindo em minha direção. Eu quero viver. Decifro as palavras dele.

Eu tenho escolha.

Venço ou morro?

Vencer.

Eu tenho que vencer.

Matar.

A lança atinge a parede, onde segundos atrás eu estava, porém já me joguei para o lado. Meus pés vão de encontro a ele e então o empurro.

Ignoro minha visão trêmula, coloco-me de pé enquanto meu agressor tomba no chão. É tão rápido. Ele tenta se levantar, mas lhe chuto, puxo a lança que ainda estava cravada no muro e uso o cabo para acerta-lo na cabeça fazendo-o cair novamente no chão, imóvel.

– Vença ou morra.

Ele ainda está vivo, mas só descubro isso quando ele se levanta de vez. As nuvens descobrem a lua e a luz reflete nele. Se a morte tivesse um rosto, seria o dele. Uma parte é humana, a outra é um monstro. Seus dentes são finos como navalhas, a pele ao redor de sua boca, inclusive sua barba, não existe mais, agora é apenas carne viva. Como se algo estivesse saindo de seu corpo.

Tão surreal quanto a fumaça roxa que vem dele.

– Você só pode escolher uma opção.

Bato novamente em sua cabeça com o cabo e lhe aponto a lança, mas de alguma forma ele me derruba, minha cabeça vai de encontro ao chão. Sinto sangue escorrendo pelo meu rosto. Levanto-me junto com ele e noto uma faca em sua mão. Seu ataque é rápido demais.

Arfo. O garoto foi mais rápido. Posso sentir a mão dele sobre as minhas e o cabo gelado da lança.

– Vença.– Ele sussurra e nossas mãos soltam a lâmina. O agressor cai no chão como uma fruta estragada, no meio de sua testa está a lança encravada.

Eu venci. Ou não.

Agora tudo que eu vejo é uma luz turva e sinto-me ir de encontro ao chão, ou estou flutuando? A lua está vermelha.

O veneno...


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