– Trouxe algumas coisas pra a gente comer. - ele se sentou.

– Mas acabamos de jantar.

– Eu sei. Isso aqui é como se fosse uma sobremesa. - ele explicou. - O que na verdade é uma sobremesa.

Dei uma risadinha e me sentei também.

Abrimos a cesta e tiramos de lá- primeiro a toalha e a colocamos na areia.

Depois tiramos de lá dois mistos, duas diet cokes, um pote de Nutella e duas colheres.

– Nutella de colher? Como sabia que eu gostava?

– Na verdade não sabia - ele riu - eu também adoro comer Nutella de colher. Dai eu trouxe.

– Ah! - eu ri.

Colocamos tudo em cima da toalha,

Ele ficou numa ponta e eu na outra.

– E então?- ele me pareceu meio em duvida - Não sei como começar uma conversa. Assim... para nos conhecermos melhor. É pra isso que viemos aqui não é? - ele riu. Pegou um sanduíche e me deu outro - vamos começar pela.. família?

– Tudo bem então - concordei.

– Vamos ver... sua mãe é Atena... e seu pai? - ele falou dando algumas pausas para pensar.

– Bem.. ele se chamava Austin. Morávamos em Nashville, Tennessee.

– Moravam? Não moram mais?

– Aqui no acampamento é a minha casa agora, sabe... há 6 anos atrás o meu pai... - minha voz falhou - ... morreu.

– Ah - ele pareceu meio constrangido - Me desculpe. Eu não deveria ter feito essa pergunta.

– Não, ta tudo bem. - eu tentei anima-lo. mas o meu coração apertou só de ter falado no meu pai - Você não sabia - sorri de lado - Vou te explicar como aconteceu.

E o contei como meu pai tinha morrido. detalhe por detalhe, sem faltar nadinha.

Contei sobre o passeio que iriamos fazer aquele dia, sobre

– 4 anos depois Peter ,o meu sátiro, veio me buscar. Estou nesse acampamento há 2 anos. - eu finalizei com a voz baixa.

– Mas você nunca descobriu quem ou o que matou ele? - Leo ficou curioso.

Balancei a cabeça em negativa.

– Ah... Minha mãe também morreu... Um pouco antes do seu pai. Foi quando eu tinha 8 anos. Ela se chamava Esperanza. - ele abaixou a cabeça. Parecia realmente triste.

– Lindo o nome o dela - ele conseguiu dar um sorriso fraco - Como foi que aconteceu? - o sorriso na cara dele se desmanchou.

Ele respirou fundo e contou.

Contou sobre a mulher de terra que apareceu para Leo, que sem saber, era Gaia. Contou de quando sua mãe ficou trancada dentro da oficina e que sem querer, por causa do medo, ele ateou fogo na oficina com a sua mãe lá dentro, causando a sua morte.

– Eu sempre me acuso pela morte dela. Quer dizer, fui eu quem a matei de uma certa forma.

– Mas você não quis Leo. Foi sem querer. - tentei consola-lo

– Ainda assim... eu matei minha mãe.

– Uma coisa que eu não entendi - mudei de assunto (mais ou menos) - Como você ateou fogo na oficina? Tinha fogo por perto, ou o que?

Ele ficou surpreso com a minha pergunta.

– Você não sabe.

– Do que? - estava confusa.

– Dos meus poderes - ele finalmente sorriu - que ganhei de Hefesto. Sou o único filho de Hefesto que pode fazer isso.

– Fazer o que?

– Olhe. - ele ergueu a mão e depois de alguns segundos criou uma esfera de fogo em cima dela.

Eu gritei e me levantei num pulo.

Ele com a minha reação, então, apagou o fogo.

– O que foi? - ele ficou confuso.

– FOGO! - gritei.

– Eu sei, esses são os meus poderes.

– Fogo! Eu tenho pavor de fogo! Ele é o meu maior medo!

– Ei, porque? Filhos de Atena ter medo de aranhas, tudo bem. Mas de fogo? - ele deu uma risadinha baixa - Ele não vai te machucar, eu sei controla-lo.

– Não é por isso... - eu não sabia o que fazer ou falar.

– Então é porque? O que aconteceu para você ter tanto medo de fogo? Senta, vai, me conta. - ele bateu num espaço ao seu lado sinalizando para que eu me sentasse ali.

Eu dei a volta e sentei.

Fiz exatamente o mesmo que Leo fez antes de conta a história de sua mãe. Respirei fundo, esperei um pouco.

– Foi quando eu tinha 12 anos.- comecei - Eu estava no orfanato ainda... aconteceu uma coisa... - abaixei a cabeça.

– Pode falar. Juro pelo Estige que não contarei pra ninguém.

Eu sorri de lado e levantei a cabeça.

– Eu estava no meu quarto. Sozinha. Eu estava com fome e era uma madrugada. A cozinha estava vazia, então, fui lá fazer algo pra comer. - Era a primeira vez que eu contei essa história para alguém. - Eu acendi o fogão e fui para o banheiro. Depois, fui me distrair vendo Tv, que tinha ao lado do banheiro. O banheiro era do lado da cozinha. Quando eu voltei, eu lembrei de ter esquecido de tirar alguns panos que estavam em cima das panelas. Os panos pegaram fogo e as coisas que estavam perto já tinham pegado fogo também e espalhado o fogo pela cozinha. A cozinha estava toda em chamas. Eu tentei apagar o fogo, mas não deu certo. Já estava cercada pelo fogo quando me dei conta. Eu estava presa lá dentro e conseguia ouvir as crianças gritando ao saírem do prédio. Todos conseguiram sair, pelo o que eu soube depois. Menos eu. Todo o prédio estava em chamas e estava procurando uma saída e pedindo socorro. Destroços caiam por toda parte. Foi ai que eu achei que iria morrer. Mas então, um grupo de bombeiros me encontrou e me tirou de lá a tempo. Depois disso eu não me lembro. Mas foi uma cena traumatizante.

Ele ouvia tudo com atenção.

Depois, quando acabei, ele se virou para mim.

– Nunca passei por algo assim antes. - ele parecia sério - Mas não precisa ter medo de mim - ele voltou a sorrir bobamente de novo - Não precisa ter medo do fogo. Se você tiver cuidado com ele, nada vai acontecer a você. Confia no Valdez aqui, ele sabe das coisas.

Eu consegui rir.

– Eu vou tentar. Vou mesmo.

Eu sorri. Ele sorriu de volta. Nossos olhos se encontraram e ficamos assim por um tempo.

– Vamos terminar de comer? A coca vai esquentar. - disse eu para quebrar o clima.

– Ah claro, vamos - rimos.

Tomamos nossas diets cokes e comemos o resto do sanduíche em silencio. Quando acabamos, pegamos a Nutella. Eu abri primeiro e comi. Nessa hora, Leo fez uma palhaçada e eu ri com a Nutella ainda na minha boca, meus dentes deveriam estar todos sujos, que cena linda.

Ele caiu na areia de tanto rir.

Eu, vermelha, peguei um bocado de Nutella e passei no nariz dele. Ele, pegou mais Nutella e passou na minha bochecha. Eu olhei com raiva para ele e vi que ele iria fazer aquilo novamente.

Então me levantei e corri. Ele, obviamente, veio atrás de mim.

Ambos estávamos nos acabando de rir.

Parei para limpar a minha bochecha. Já estávamos na beira da água quando fiz isso. Ele aproveitou a oportunidade, me jogou no chão e começou a tacar água em mim.

Eu estava rindo muito, igual a ele. Me levantei e dei uma revanche, tacando água nele também.

E ficamos assim, numa guerrinha interminável de água por uns 15 minutos.

Saímos da água encharcados e rindo bastante.

Sentamos na areia. Ficamos encarando a lua cheia, que estava linda aquela noite.

Até que batei um frio gelado e eu me arrepiei toda, já que estava molhada. Ao contrario de mim, Leo não parecia com frio.

– Você não está com frio? - disse batendo os dentes, quase congelando.

– Não. Eu sou quente, esqueceu? - ele riu.

– É, esqueci. - ri junto.

Ele olhou pra mim e depois, para a minha surpresa, passou os braços envolta de mim. Pelos ombros.

Olhei para ele sem muita certeza.

– Permite se eu te esquentasse?

– Se outra pessoa falasse isso para mim, eu acharia estranho. Mas já que é você, então tudo bem.

Realmente a pele dele era quente. Depois do que pareceu 1 minuto, eu estava quentinha.

Encostei minha cabeça no peito de Leo.

E ficamos assim. Abraçados e apreciando a lua.

Depois de mais ou menos 20 minutos eu comecei a ficar com meio de sono.

– Melhor irmos pros nossos chalés, está ficando muito tarde e eu estou com um pouco de sono.

Ele concordou com a cabeça.

– Também estou com sono.

Nos levantamos e guardamos as coisas. No final das contas, não comenos a Nutella.

Fomos para os nossos chalés assim mesmos, encharcados.

Parando no de Atena ele me abraçou.

– Nos vemos amanhã?

– Com certeza.

Ele me soltou e foi para o seu chalé.

Daquele dia em diante, eu vi que seriamos grandes amigos.