Quando eu abri meus olhos eu estava na sala de novo. Linda não estava sentada na minha frente como eu esperava vê-la. Ela estava inconsciente, jogada do outro lado da sala com Antoni segurando sua cabeça. Eu me levantei e fui em sua direção, querendo ajudá-la, mas pelo canto do olho eu percebi que meu ato fez com que os outros se afastassem, como se estivessem com medo de mim. Na minha frente, Antoni havia se levantado e parecia pronto para me atacar se fosse preciso.

– Não, por favor, eu não vou machucá-la. - eu disse, a urgência em minha voz. - Eu só quero ajudá-la. Por favor, por favor, me deixe fazer isso.

Antoni olhou para Elijah, que estava me observando com atenção. O olhar de Eu-posso-ver-através-de-seu-sutiã estava em seu rosto e então ele disse:

– Está tudo bem. A áurea dela está branca de novo.

Antoni voltou seus olhos para mim e eu sorri, tentado fazer com que ele confiasse em mim. Eu dei um passo vacilante a frente e, quando ele não agiu como se fosse me impedir, eu acabei com a distância entre eu e Linda e me ajoelhei ao seu lado. Eu peguei a sua mão, comecei a acariciá-la e tentei me concentrar nela, em quanto eu queria curá-la, pois era a coisa certa a se fazer. Ela havia me ajudado e eu precisava ajudá-la também. Dessa vez não demorou muito a luzinha branca aparecer na ponta de meu dedo. Linda abriu seus olhos quase que imediatamente, piscando algumas vezes até recobrar totalmente a consciência. Antoni logo se ajoelhou ao seu lado, beijando os seus lábios. Ok, é hora de dar tchau.

– O que aconteceu? - eu perguntei me levantando e me afastando para lhes dar privacidade. Para minha surpresa foi Linda quem respondeu.

– Eu não sei bem. Eu não consegui entrar e então você usou sua força mental e me empurrou para longe.

– Eu não fiz isso.

– Hmmmm.. Talvez tenha sido um ato reflexo, a sua mente tentando se proteger. - disse ela se levantando.

– Mas havia alguém lá! Quero dizer, havia uma mulher. Você tem certeza de que não era você?

– Sim. Talvez tenha sido sua imaginação.

– Não. - eu disse interrompendo-a. - Havia alguém lá. Eu sei disso.

– E quem poderia ser essa pessoa? - perguntou Jack.

Eu olhei para ele e meu espírito instantaneamente se encheu com a sua presença. Eu então me lembre da conversa que eu havia tido com a voz, a doçura em seu tom, como ela havia me chamado, ela dizendo que me amava, que não ia conseguir ficar ali por muito tempo pois suas forças estavam acabando, como quando eu usava minha luz....

Foi então então que eu soube.

– Era a minha mãe. Minha mãe anjo, eu quero dizer. Foi ela. Ela me ajudou a espantar a escuridão.

Jack olhou para Elijah.

– É possível. - disse Elijah. - Nós não conhecemos todos os poderes dos anjos, entrar na mente das pessoas pode ser um deles. Muitos de nós conseguem fazer isso, então provavelmente eles também podem. A questão aqui é: quais são seus poderes, Tiffany?

Eu troquei um olhar com Jack. Ele acenou e voltou seus olhos para Elijah.

– Eu não sei bem. Eles só começaram a aparecer essa semana e eu sequer sei como os controlar.

– Sim... Eu posso ver a luz e a escuridão crescendo dentro de você. Além do poder da mente e da cura, o que mais você pode fazer?

– Lançar raios com as mãos.

– Apenas isso?

– Sim.

– Não, você está errada. Você pode fazer muito mais, eu posso ver isso dentro de você. Você apenas precisa descobrir seus poderes e eu acho que eu posso lhe ajudar com isso.

– Como?

– Eu lhe mostrarei, mas não hoje. Acho que todos nós já tivemos o suficiente por hoje. Isaiah, por favor, leve nossos convidados até uma das cabanas desocupadas. E você, Linda, vá descansar também, por favor. Eu vou precisar de você amanhã.

Jack e eu nos despedimos e seguimos Isaiah. Ele nos levou para uma pequena casinha, uma pouco afastada e menor que as outras, mas ainda assim era linda. Ela era azul e havia apenas uma porta e um grande janela. Parecia uma das casinhas de boneca que eu brincava quando criança. Isaiah entregou a chave a Jack e se despediu de nós. Por dentro, a casinha era extremamente humilde. Havia apenas um quarto/sala, um banheiro e uma cozinha. Assim que eu entrei, eu corri em direção a melhor parte de qualquer casa: a cozinha. Heeey leitor, não fique aí achando que eu sou comilona, por que eu SOU comilona. Minha mãe costumava dizer que eu tinha sorte por comer tanto e não engordar. Ainda bem que ela está certa. Sendo que quando eu vasculhei os armários e a geladeira, o máximo que eu consegui encontrar foram alguns ovos, biscoitos e um presunto velho.

– Oh não. - eu disse, minha voz carregada de tristeza. - A má notícia é que nós vamos morrer de fome. Morrer logo de fome! Isso não é legal. O que nós deveríamos fazer com esses ovos? Chocá-los? Nem pão tem aqui...

– Claro que não. Nós podemos fazer omelete.

Quando ele viu minha cara de eu-acho-que-é-mais-fácil-chocar-o-ovo-para-que-o-pinto-nasça-e-vire-um-bom-pinto-assado ele riu.

– Não se preocupe, eu cozinho.

E ele cozinhou. Ou fez milagre, na verdade. Por que eu aposto que nem o Ratinho cozinheiro do Ratatouille ia conseguir fazer o que Jack fez com uns ovos e um presunto velho. Eu devorei tudo em segundos e então fui sentar na mesa/cama/sofá.

– E então, Oh grande Mestre da Cozinha, - eu disse e fiz uma reverência em sua direção -, o que vamos fazer agora?

– Eu não sei. - disse Jack vindo sentar ao meu lado. - Talvez devêssemos sair um pouco mais cedo amanhã de manhã, assim que o sol nascer. Nós não vamos conseguir chegar a tempo na próxima comunidade, então precisamos achar uma casa humana para passar a noite.

– Ou talvez... Só talvez, devêssemos ficar aqui. Por mais um dia, pelo menos. Se realmente houvessem espiões aqui, eu acho que o exército de MIB homens de preto já estaria aqui. Além do que, eu acredito que Elijah possa me ajudar e depois do que aconteceu hoje, qualquer ajuda é bem-vinda.

– Sim, - disse Jack e eu fui surpreendida por seu toque delicado em meu rosto -, você realmente me assustou hoje. E o pior era que eu não sabia o que fazer, não sabia como te ajudar. Impotência é o pior sentimento do mundo. Mas eu não acredito em Elijah, ele apenas disse isso para que fiquemos aqui.

– Ou ele realmente falou serio quando disse que poderia me ajudar. Eu preciso descobrir do que eu sou capaz, Jack. Eu não quero ser uma inútil que passa a vida fugindo e se escondendo. Eu quero virar esse jogo a nosso favor e a única maneira de fazer isso é se eu souber o que eu posso fazer, do contrário, eu vou continuar andando por aí com um alvo na cabeça.

Ele suspirou. Ele sabia que no fundo eu tinha razão. Se eu fosse ser usada como algum tipo de arma secreta nessa guerra, eu preciso saber o que eu estou fazendo.

– Nos vamos conversar mais sobre isso amanhã. Agora, você precisa dormir. Boa Noite. - ele me deu um beijo na bochecha e se levantou. UM BEIJO NA MINHA BOCHECHA DADO POR JACK HOSWOOD! #fuinoparaisoevoltei

– E você não precisa dormir? Quero dizer, - eu disse lembrando das minhas nem tão inocentes espiadinhas pela fresta da janela -, eu sei que você dorme...

– Sim, eu durmo. Mas eu preciso ficar de guarda.

– Jack, você mesmo falou que os MIBs não podem entrar aqui. Aqui nós estamos seguros. E eu tenho a pesada impressão de que você não dormiu nada noite passada. Você precisa dormir. Você não vai ser muito útil se você virar um Zumbi comedor de cérebro.

– Eu sei, mas eu preciso manter a guarda.

– Não precisa. Eu posso manter a guarda enquanto você dorme, depois nós podemos trocar. Eu não estou cansada.

Ele me avaliou por alguns momentos e depois deu de ombros.

– Ok, mas se você estiver cansada ou ouvir QUALQUER barulho estranho, me acorde.

– Ok, capitão.

Ele tomou um dos vidrinhos azuis e no momento em que ele encostou a cabeça no travesseiro, ele dormiu. Eu fiquei presa a sua imagem, eu já o tinha visto dormir outras vezes, mas não tão de perto. Ele estava tão lindo com seu cabelo preto despenteado e com suas feições relaxadas. Ele sim parecia um anjo, não eu. E foi assim que eu permaneci pela maior parte da noite, lhe observando, até que um barulho, ou melhor, vários barulhos chamaram minha atenção.