porque esta noite pertence ao amor. escrita por zênite


Capítulo 1
foi tudo tão belo, foi belo até o final.


Notas iniciais do capítulo

Eu gosto muito desses dois. ♥



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Porque essa noite pertence ao amor.

E foi tão belo até o final.

(eu ainda sou seu menino?)

X


Nevava tanto, tanto, que eu mal sentia meus dedos. Eles estavam arroxeados, nunca havia gostado de frio.



Até aquela tarde.


Ele entrelaçou seus dedos aos meus antes de enfiá-los dentro do bolso da sua blusa de frio, sem dizer uma palavra. Você sempre falava tão pouco.

– Está frio. – Você me olhou e acenou com a cabeça, como uma mãe que acena quando escuta seu filho pequeno diz que o sorvete está gelado.

Éramos tão pequenos.


X




Você sorria, e seu sorriso era doce, você sorria para mim e isso me deixava tão avermelhado. E você via graça na minha timidez.




Minha boca tinha o canto sujo de sorvete, eu havia sujado de propósito. Eu só queria seu toque de volta.


Queria nossos dedos entrelaçados.

E você limpou o canto da minha boca e sorrio, você vem sorrindo muito. Faz quantos dias mesmo? Não me recordo.


X




Eu estava congelando sentado e fazia questão de deixar isso bem claro. Por que tinha que fazer tanto frio?




Você passou os braços ao redor do meu pescoço e puxou-me para perto. ‘Você reclama muito.’ Eu abaixei a cabeça, você já tinha quinze anos, e eu parecia tão pequeno perto de você.



X




‘Eu vou sair daqui, um dia. Nós vamos.’ E eu gostei tanto da maneira como você disse nós.




E estávamos deitados na grama, e fazia frio, mas não nevava. E você me puxou até que minha cabeça estivesse deitada sobre o seu peito. ‘Por você.’ E nossos dedos estavam entrelaçados.



X




Nevava tanto, tanto, que até os seus dedos entre os meus me pareciam brancos, como flocos de neve. Você amava o clima gelado. Amava muito. ‘Seus lábios estão arroxeados. ’




Eu estava quase tendo uma hipotermia, mas sua cabeça estava repousada sobre o meu ombro e eu não queria, não teria coragem, de tirá-la dali. Como você sabia a cor dos meus lábios? E você virou o rosto e repousou os lábios sobre o meu pescoço, minha bochecha, e depois, meus lábios, em um carinho inocente. Sorrimos.


Você já tinha dezenove e estava tão perto de ir embora dessa merda toda.


X




‘Nós iremos juntos.’ Você insistiu tanto, tanto, que meus pais me deixaram terminar meu colégio lá -pra onde quer que nós fossemos, com você. E eles nunca foram bons pais, e você sabia que eles não iriam encher o saco só por isso. Eu acenei com a cabeça, e aqui fazia calor.




Talvez eu sinta falta do frio, do seu toque.



X




Um cigarro repousava sobre seus lábios e o quarto cheirava a uma mistura bizarra de hortelã, cigarro e sexo. E eu chorava a ponto de balançar meu corpo com os soluços. Você sorrio e beijou minha testa.




‘Está tudo bem.’ Mas não estava.



X




Você teve que largar a faculdade por causa da quimioterapia, mas continua a repetir ‘está tudo bem.’ Quando foi que até você deixou de acreditar nisso? E eu sorrio e aceno. ‘Está tudo bem.’ Não está.




E você diz para que eu não sorria com lágrimas nos olhos, e elas caem. E elas não param, então eu deixo de sorrir.



X




E parece que não está fazendo efeito, mas você me esconde isso. E parece que você se esqueceu de que eu não sou mais uma criança, mas você diz que eu continuo sendo seu menino.




E eu sorrio, mas está tudo tão difícil, e você sabe disso, porque me beija, e o quarto volta a cheirar a sexo.



X




E eu vejo seu corpo vestido em um terno preto e elegante, e seus pais não choram. Eu choro. Choro mais que todo mundo, porque eu te amava. E você me amava também, certo? Mas nós nunca dissemos isso. E é tão difícil escutar pela boca de um pastor ou padre qualquer o que você foi.




Eu sei o que você foi, eu realmente sei, eu que estava com você. E eu não aguento tudo isso, e saio correndo. E os múrmuros persistem na minha cabeça. ‘Ele não deveria estar aqui’.



X




E eu não sei mais quantos dias fazem. E eu também larguei a minha faculdade, isso é ruim? Eu continuo sendo o seu menino?





X





Eu voltei a morar com minha mãe, não se sinta mal. É que aquele apartamento cheirava a hortelã e cigarros, porque agora eu fumo. Porque fumar me lembra você. E tudo lá me lembrava tanto você, que eu não estava aguentando mais.




E eu me pergunto qual será a reação da minha mãe ao me encontrar assim. E eu não quero que ela se sinta mal, talvez ela até espere por isso, é só que... Acho que estou mais seguro ao seu lado.


Porque eu sou o seu menino, certo? Seu.


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Notas finais do capítulo



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