Just Two Horror Stories escrita por jadeKagamine


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa é apenas a primeira...



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Lembro-me das histórias que meu pai me contava quando pequeno, e como eu sempre duvidava delas. Não, elas não eram de ficção ou sobre uma pessoa que viveu há uns 200 anos atrás. Eram histórias de quando ele era pequeno, o difícil de acreditar é que ele aprontava e fazia quase todo o tipo de coisas erradas já que meu pai sempre foi um homem muito “certinho”.

E mesmo assim me lembro da mais estranha que ele me contou. Quando eu tinha nove anos pedi para ele me contar mais uma história antes de eu dormir, mas eu queria que fosse uma bem assustadora, afirmando que já tinha idade e que eu iria dormir normalmente depois. Foi uma história sem nexo, uma história que, mesmo depois de toda a minha infância e adolescência, nunca consegui entender:

“Quando eu tinha dezessete anos, eu, sua mãe e mais dois amigos nossos saímos para comemorar o último dia de aula daquele ano. Estávamos tão animados que nem tínhamos ideia de onde passaríamos o resto do dia. Ficamos só imaginando como passaríamos o final de ano juntos. Nós quatro ‘rachamos’ o táxi e fomos até o velho porto, era o nosso local de encontro. Não o porto em si, mas a torre velha e abandonada que tinha lá, todos diziam que aquela torre era mal-assombrada, que um homem havia matado sua esposa e seus dois filhos e em seguida se suicidou lá mesmo. Todos diziam que aquele local foi amaldiçoado pelo espírito do homem, todos diziam para ficarmos o mais longe possível de lá, mas nós nunca demos ouvidos ao que eles disseram. Na verdade, nós quatro sempre gostamos de visitar esses ‘lugares amaldiçoados’ e com ‘espíritos que ainda não partiram’, aquela torre sempre nos trazia lembranças de besteiras que aprontávamos ali. Fazia quanto tempo mesmo? Acho que quase uns cinco anos que nós nos ‘escondíamos’ ali e nunca ouvimos ou vimos nada que pudesse ser chamado de assustador...

Ficamos lá por umas duas ou três horas, sempre que nossos pais perguntavam o porquê da gente demorar tanto pra voltar, dizíamos: ‘estávamos na pizzaria perto da escola, conversamos tanto que nem percebi o tempo passar, desculpa’ ou algo assim, mas não tente fazer isso! Bom, começamos a ouvir uma voz, uma voz de criança eu acho, ela ficava dizendo que estava entediada, que queria ir embora logo, ficamos assustados na hora, não tinha mais ninguém conosco! E então, ouvimos o barulho de algo grande cair, olhamos pela janela, e antes que pergunte; sim, a torre tinha uma janela. Onde eu estava? Ah, lembrei... Quando olhamos pela janela vimos algo que ninguém de nós pôde identificar, corremos pela escadaria o mais rápido possível para vermos o que era... Era o corpo de uma pessoa, deve ter sido a mesma que falou que estava entediada. Depois disso juramos que nunca mais voltaríamos para o porto ou para a torre.”

Depois dessa “historinha” fui dormir com um monte de perguntas na minha cabeça, no dia seguinte quando fui tentar arrancar algumas respostas de meu pai ele sempre desviava do assunto. Na escola quando eu contei isso para meus colegas eles disseram: “aposto que não é nada demais. Vê se esquece isso”

O problema é que eu não conseguia esquecer. De madrugada eu ouvi o barulho da TV ligada, desci para ver o que era, e meu pai estava lá. Pálido, tremendo na poltrona, com os olhos arregalados e fixados na tela, mas não parecia que ele estava assistindo alguma coisa, voltei para cima como se não tivesse visto nada. No dia seguinte ele estava cansado, fraco e parecia ter envelhecido uns 15 anos em uma única noite, e isso começou a acontecer quase todos os dias. Quando eu perguntava para ele se tinha algo faltando na história que ele me contou, sempre respondia: “quando você for mais velho, te contarei tudo” e quando comecei a perguntar para minha mãe ela dizia: “seu pai já disse que te contaria tudo quando fosse mais velho”.

Desde essa época eu tentava, juro que tentava, esquecer essa história, mas por algum motivo que eu não sei, nunca consegui. Na verdade isso só aumentava minha curiosidade.

Com meus 23 anos, me formei em engenharia. Em casa qualquer coisa pode ser motivo para comemorar e um pretexto de podermos ir a um restaurante. Ficamos conversando e comendo por quase uma hora, quando meu pai me puxou para um canto qualquer, sabia que esse momento chegaria.

-Lembra da história que eu te contei, mas nunca completei?

Respondi que sim, estava ansioso na hora.

-Sobre o que você lembra?

-Era você, a mamãe e mais dois amigos, numa torre abandonada e vocês viram alguém cair dela

-Ótimo, ótimo! Filho... Eu menti, não erámos quatro, erámos cinco...

Sentei-me em outra cadeira, me sentindo com nove anos novamente, esperando ansioso mais uma história de meu pai.

-Um dos meus amigos, o nome dele era Charles, tinha uma irmã mais nova que estudava na mesma escola que a gente. Devia ter uns dez anos se me lembro bem, os pais do Charles disseram para leva-la junto com ele para onde quer que ele fosse. Então nós cinco fomos para o velho porto, claro que nós fizemos ela jurar que nunca contaria para ninguém sobre a torre ou sobre o que nós fazíamos lá. Depois de umas duas horas ela começou a reclamar que estava entediada e que queria ir embora ou morreria de tédio ali, eu respondi “Sua garotinha mimada, morre logo então!” e ela disse “Se eu morrer, vou te assombrar pelo resto da tua vida!” então eu fiquei com raiva, decidi empurra-la, só de sacanagem sabe? Eu não esperava que ela estivesse logo de costas para uma janela lacrada com tábuas velhas de madeira. Então ela caiu e o resto você já sabe.

 -Mas e esse tal de Charles, o que aconteceu com ele?

-Meses depois da morte da irmã, ele entrou em depressão e morreu.

Depois de meu pai me contar o resto da história, as coisa que aconteciam com ele só pioraram, sempre que eu ia visita-lo em casa ele estava falando com o nada, se escondia de alguma coisa, gritava e tentava sair de casa. Mesmo depois de idoso continuava com esses surtos. Quem não o conhecia dizia logo que ele era esquizofrênico, mas ele nunca apresentou esse tipo de comportamento até me contar “a história”.

Agora tenho 43 anos, acabei de voltar do funeral dele, meu pai morreu de parada cardíaca. Estou tentando ver como será o resto de minha vida sem ele. Realmente meu pai fará falta em mim e em meus dois filhos. Eles adoravam as histórias que o avô contava tanto quanto eu adorava quando era criança. Minha esposa está tentando acalmar as crianças no carro agora, a única coisa que me pergunto agora é: Quem era aquela garotinha que ficou sentada perto do caixão dele?


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