- Não me olhe com essa cara de medo. Você fica ridículo assim.

A garota encostou-se na parede e suspirou. O revólver em sua mão direita estava apontando diretamente para o rapaz amordaçado e amarrado à sua frente.

- Vamos. Me peça perdão. Suplique por sua vida. – ela riu e atirou para cima. O tiro ecoou no quarto, um barulho ensurdecedor. O garoto encolheu-se e fechou os olhos. Ela caminhou até onde estava e abaixou-se, puxando com a mão livre seus cabelos azuis.

- Kaito...meu doce Kaito... – beijou a testa do garoto e tirou o pano que o impedia de falar – bem, diga-me, então. Por que fez isso comigo?

- G...Gumi...não fa...ça... – Kaito chorava.

- Não fazer? Não fazer o que, meu amor? Refere-se a isso? – Gumi atirou novamente, agora bem perto de onde o rapaz estava, não o acertando por pouco – Você deveria morrer logo, eu até que estou sendo boazinha. Culpa sua ter me trocado pela vadia de cabelo rosa, hnf.

- Se...se nós pudéssemos...come...çar de novo...

- Agora se arrepende? AGORA VOCE SE ARREPENDE? Depois de ter me feito sofrer, chorar, quase MORRER por você...você quer começar de novo? – Gumi levantou-se e sentou no sofá que havia ali. Não sabia onde estavam, apenas trouxera Kaito e queria conversar. Mas a conversa se transformou em uma briga, e agora essa era a situação. Ele, amarrado, machucado, com medo. Ela, também machucada. E com uma arma nas mãos.

- Kaito. Vamos recapitular tudo o que aconteceu e aí você me fala se ainda quer começar de novo, sim? – o tom de voz da garota assustava.

‘Nós nos conhecemos na escola, lembra? Debaixo daquela cerejeira linda e gigante nos fundos. Eu estava ali, chorando, por causa do Yuuma. Eu namorava com ele, só que naquele dia, ele me falou que queria terminar. E então, você apareceu. Me consolou. Conversou comigo até o por-do-sol. Depois disso, viramos melhores amigos. Irmãos, até. Você me chamava de nee-chan, e eu te dei um apelido que você adorava. Ice cream killer. Tudo bem até aí, mas então, chegou a primavera e eu, muito idiota, me apaixonei por você. HAHAHAHA, o grande erro de Gumi Megpoid. E o Kaito-bobão-Shion também se apaixonou pela Gumi. E enfim, começamos a namorar. Juras de amor pra cá, vamos ficar sempre juntos pra lá...lembra? No verão, tivemos momentos especiais juntos. No outono, naquela fatídica noite, eu e você...nos tornamos um só. E agora, no inverno, vamos nos despedir de tudo isso. Sabe por que?

Porque eu lembro que você estava beijando a tal Luka na pracinha perto da sua casa há exatamente uma semana. Sei até qual era a roupa que você tinha usado. É, Kaito. Eu vi. Com os meus próprios olhos. E eu tenho certeza que você não notou nada de diferente em mim no outro dia, quando a gente se viu na mesma maldita praça. Você olhou nos meus olhos, e não notou a tristeza, a angústia, a ira. Não notou nada.  

E agora, eu tenho você aqui comigo. Tenho uma arma. Tenho a ira me consumindo por completo. Já sabe qual o desfecho disso, não é?’

Kaito escutou Gumi atentamente. Lágrimas rolavam de seus olhos azuis, e tinha a absoluta certeza de que ia morrer ali. Olhou para a garota, e para sua surpresa ela também chorava.

- Gumi...

- Não é a primeira vez que eu atiro em alguém, mas pela primeira vez eu vou atirar chorando.

- Nee-chan... – ele tinha uma expressão serena no rosto, apesar das grossas lágrimas.

- NÃO! Não me olhe assim...tão gentilmente! A culpa é minha! Só...minha... – ela soluçava. Já não aguentava mais.

- Não precisa....fazer isso... – Kaito fez menção de se levantar, mas congelou quando Gumi levantou a arma, mirando em sua cabeça.

- Desculpe, Ice cream killer. – O dedo da garota no gatilho tremia.

- S-se pudéssemos começar de novo...eu...eu adoraria ir ao...festival de verão para ver os...fogos de artifício com você outra vez...nee-chan... – O rapaz sorriu, fracamente. Gumi gritou. O som de mais um tiro foi ouvido.

- ‘Iremos nos encontrar de novo em breve’...’Prometa que ficará comigo para sempre’...Lembra, Kaito? Era isso que sempre dizíamos um ao outro...

A garota sorriu, apontando a arma para si. Outro tiro. E tudo acabou.