Aluga-se Um Noivo escrita por Clara de Assis


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos.Espero propiciar a todos ótimos momentos, então...Boa Leitura.



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— Me diz por que estamos fazendo isso, mesmo?

— Por que, meu irmão, vai se casar com a Luiza.

— Tem certeza de que é a melhor alternativa?

— Carol, você não é obrigada a me acompanhar.

— Tá maluca? E perder toda a diversão?

Atravessamos a Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, super apressadas, o sinal já piscava indicando que nosso tempo estava acabando.

Entramos no prédio na rua do Ouvidor, conforme indicado pela agência, quinto andar, respirei fundo e toquei a campainha, arrumei a saia lápis preta e a blusa bege, a porta abriu, meu queixo foi no chão.

Ammm.... Desculpa, toquei por engano.

Saímos do prédio rindo tanto que foi necessário que nos apoiássemos na parede para gargalharmos um pouco mais.

— Meu Deus o que era aquilo, Débora?! Tem certeza de que era o lugar certo?

— Tá aqui no e-mail, olha o endereço. — Carolina deu uma olhada no papel entre uma fungada e uma respirada profunda para se recompor.

— Tem razão, mas tipo, impossível...

Realmente, impossível, o homem que nos atendeu usava uma cueca de elefantinho, com aquela “tromba” pendurada, ele era estranho, com uma cara de sono, barba por fazer... Sem chance.

— Vamos tomar um café antes de voltarmos para o trabalho.

— Desista dessa loucura amiga...

— Nem pensar! Não posso dar esse gostinho ao João! Carolina, eu sou a irmã do noivo!

— E o João seu ex-namorado.

— Correção, meu ex-namorado e padrinho do meu irmão! Não acredito que o Junior fez isso comigo.

— É.... chamar seu ex e a atual pra padrinhos foi mesmo... — Carol fechou os dedos num círculo aberto, sim, foi um cu.

— Vamos naquele café na rua do Carmo.

— Ah não, muito longe. — odeio a preguiça dela — Vamos aqui na livraria que dá no mesmo.

Amo trabalhar no Centro do Rio de Janeiro, existe tanta opção pra tudo! Que... sei lá, amo!

Entramos na gigantesca livraria na rua do Ouvidor, havia uma fila de espera, nada muito grande, umas cinco pessoas na frente, Carol fez o que sempre faz, disfarçou e foi furar fila, parando no balcão, isso me mata de vergonha! Mas não serei hipócrita, finjo que não vejo e aceito os jeitinhos que ela dá pra tudo.

Enquanto ela esperava pelo pedido, e estava na cara que iria demorar um pouco, afinal às 13 horas, num dia nublado, todos os trabalhadores de bom senso estavam em busca de um café, e bom. Fui zanzar um pouco, estava vendo as novidades quando me interessei por um exemplar com um tigre azul na capa, parecia promissor... lembro que pensei em comprar, mas depois... hmmm a fila do caixa estava enorme, coloquei-o de volta na prateleira e dei meia volta, alguém deu meia volta também e nos esbarramos feio.

O cara pediu desculpas, eu pedi desculpas, nos olhamos, ele sorriu, fiquei meio sem graça, caralho que gato! Olhos castanhos, cabelos castanhos, nariz perfeito, eu amo nariz, afinal fica no meio da cara. Olhei para os lábios dele, foi tão rápido, mas ele me deixou ver seu sorriso, lindo. Depois disso se afastou com um livro.

Não sei o que me deu, peguei o primeiro exemplar que minha mão alcançou e o segui, disfarçando. Carol, acenava pra mim e fiz que não com a cabeça. Ele entrou na fila do caixa, que havia diminuído consideravelmente, estiquei os olhos, entortei o rosto, fingi que estava procurando uma revista na prateleira e finalmente ele mudou a posição do livro e pude ver que estava para comprar Grande Sertão Veredas. Primeiro pensamento “hmmm... culto.”

Nada de mais, ele pagou, segui dois caixas adiante e paguei, ele foi embora, eu, voltei para o café.

Carol me olhava com um baita sorriso e uma expressão de deboche que eu conhecia muito bem.

— Deixa eu ver. — ela puxou a sacola e tirou o livro — O quê? "Meu primeiro livro de culinária"? — não se furtou em cair na gargalhada, chamando a atenção de muitos.

Fiquei com a cara no chão.

— Débora, quem é esse homem que te fez gastar...R$39,90 num livro de culinária infantil?

— Não sei. Ah! Carol! Nem sei o que me deu, foi meio que um... — jogava meu corpo pra frente — ... um impulso, louco!

— Você é louca. Gente, devia ser uma coisinha esse homem...

— Gato. Muito.

— E você nem puxou assunto com ele? Uma fila daquelas?

— Ah! Nem lembrei, estava mais interessada em ver o livro que ele pegou.

— Qual foi?

— Grande Sertão Veredas.

— Hmmm.... culto.

— Porra! — minha vez de fazer vergonha falando um palavrão em alto e bom som — Foi isso que eu pensei. Exatamente isso. — praticamente sussurrei.

Bebemos nosso café e fomos embora, ainda havia muitos contratos para serem analisados e eu não tinha patrão, tinha chefe, o cara era um escroto, narcisista filho da puta.

Aquela semana foi louca, procurei em vários anúncios, mas nenhum se enquadrou no meu perfil ideal, começava a achar que eu não tinha um perfil ideal. Fiquei repassando mentalmente a péssima quinta-feira.

Carol estava comigo o tempo todo, e fazia cada careta...

Entrevistamos cinco caras no meu apartamento, o que fez minha melhor amiga ficar super nervosa, mas eu encontraria com eles aonde? Na lanchonete da esquina?

O primeiro era muito mais baixo que eu, até era legal, mas não ia rolar...

O segundo só falava espanhol, então, não.

O terceiro era lindo, charmoso e.... tinha um tique nervoso de ficar passando o dedo na língua, nem pensar!

O quarto tinha pinta de viado.

O quinto ficou mais interessado na Carol que em mim, ele mal me olhou.

Suspirei fundo, isso não estava indo nada bem e o casamento era pra poucos meses. Merda!

Finalmente consegui dormir, mal, um frio da porra no meu apartamento. Acordei de mal humor, o chuveiro demorou pra esquentar, atrasei com o café... Sabe dia que começa estranho? Foi aquela sexta-feira.

Começou e seguiu na estranheza. Meu chefe, dando esporro em todo mundo, falando da porcaria do time de futebol dele, ah! Um inferno! Discussão acalorada com um fornecedor, almoço trocado, Deus, que dia!

Para completar, o desgraçado do Otílio, o chefe escroto, deixou uma pilha do tamanho do Everest, de documentos de seguro de vida atrasados pra minha amiga resolver, então obviamente que dali ela não sairia tão cedo, e se não fosse um cara chamado Seth, com quem marquei pra conhecer, sem dúvida ficaria com ela, ajudando.

Ao menos, Seth, era pontual, e bonitão, com umas entradas no cabelo, mas no geral era legal e educado. Usava um perfume barato, mas sabia falar sobre muita coisa. O nome dele na verdade era Setembrino, não consegui evitar a risada, ele não ligou muito por eu estar rindo, acabamos marcando para o sábado, assim a Carol poderia conhecê-lo e validar.

*

Inacreditável! Sábado quase nove da noite e nada do cara aparecer, ligou dizendo que a mãe dele estava com apendicite.

— E agora, Débora?

— Sei lá, acho que vou procurar na internet.

— Tá louca? Pode aparecer um sequestrador, estuprador, assaltante ou pior, um analista de imposto de renda!

— Relaxa, Carol, vamos olhar... sem compromisso...

— Ainda acho que deveria ligar pra agência de acompanhantes...

Puxei o notebook e digitei no site de busca garoto de programa, ficamos passando umas fotos, até que meu olho bateu numa foto sem rosto, pegando uma parte do queixo, o tronco super bem definido e uma parte de seu membro.

Carol e eu nos olhamos ao mesmo tempo e entortamos a cabeça um tanto para o mesmo lado.

— Debby, olha isso, amiga...

— Tô vendo mas não tô crendo, ah... isso deve ser photoshop.

— Essa coisa tem a espessura de que? Uma lata de Coca-Cola?

— E não adianta nada se tiver o tamanho da lata também... — mostrei a mão fazendo sinal de pequeno.

— E que diferença faz? Você não vai transar com ele.

— O que você acha?

Na mesma hora Carol abriu um sorriso enorme e arregalou os olhos.

— Liga, ué. Aqui — ela me passou o celular dela —, usa o meu que tem identificação bloqueada.

Liguei para o número, não atendeu.

Liguei mais duas vezes, nada.

— Tenta mais uma vez, de repente ele tá em "atendimento". — Carol falou com tamanho deboche que começamos a rir.

— Tá legal, última vez, senão a gente procura outro.

— A gente não, querida, você. Não sou eu quem cismou em alugar um namorado só pra aparecer acompanhada na frente do ex.

— Até parece que você não conhece o João...

— Ah! Liga logo pro gostosão da foto.

Liguei, ele atendeu no segundo toque.

— Alô?

Gaguejei.

— É... oi... é... eu.. é...

— Quer marcar um programa. — ele perguntou ou afirmou?

— É. — minha voz saiu quase que um pedido de desculpas.

— Mulher ou homem?

— Mu-mulher... mulher!

Pude sentir que ele sorria do outro lado da linha, meu Deus que ódio de mim!

— Tá, uma mulher... várias mulheres... só mulher...

— Só, eu.

— São cento e vinte a hora, vaginal, a posição que você escolher, não faço chuva de cor nenhuma, dourada, negra, e não aceito isso também, nada com sangue, crianças, animais ou árvores... — Crianças? Árvores? Ele continuou com as condições e precisei interrompê-lo.

— Moço. Moço! — ele se calou — Sou só, eu, sem vaginal, oral ou anal. — ele ria do outro lado da linha, uma risada gostosa, Carolina segurava a boca, até então não houve nenhuma conversa assim, na agência era diferente, só precisei dizer que queria um acompanhante para um fim de semana prolongado e pronto.

— Isso é trote, moça? Se for, não ligue, não posso ficar ocupando essa linha com besteiras e...

— É sério! Só preciso de um acompanhante.

Ele ficou mudo. Será que estava pensando?

— Certo... aonde podemos nos encontrar?

— Anota o endereço.

Passei meu endereço a ele enquanto Carol ficava gesticulando que era louca, pra não fazer isso. Mas eu fiz. E depois fiquei morrendo de medo.

Foram mais de um século pra ele chegar, na eternidade de quarenta e cinco minutos. Meu coração estava saindo pela boca. Carol, resolveu manter um spray de inseticida à mão, afinal de contas, a gente não tinha spray de pimenta nem gás lacrimogênio.

A campainha tocou, Carol, levantou-se num pulo e olhou pelo olho mágico, virou pra mim com uma cara insana, a boca se abrindo aos poucos até formar um O, estava eufórica, abanava-se com uma das mãos e a outra no peito. Fui até a porta, ele tocou novamente a campainha, olhei pelo olho mágico, mas ele estava apoiado na porta, cabeça baixa, só vi seus cabelos repicados.

Franzi o cenho, Carol foi para o sofá, do lado oposto ao que havia escondido o spray de inseticida.

Respirei fundo e abri a porta.

O cara levantou o rosto e eu congelei, ao mesmo tempo que minhas pernas tremeram.

Ele sorriu, fazendo que não com a cabeça, umedeceu os lábios com a língua e voltou a sorrir de lado.

O cara da livraria.


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Notas finais do capítulo

E tudo está apenas começando para esses dois...