Seasons escrita por Evye


Capítulo 7
Carpe Diem


Notas iniciais do capítulo

Olááá, todos bem e felizes? Gente, antes de mais nada... Me desculpem!! Eu sei que disse que teria um capítulo na quarta mas, como eu tinha dito, comecei a faculdade, tive que trocar meu horario de seriço (estou acordando as 4h x.x!!) e simplesmente não tive tempo (nem pique) para escrever o capitulo! Me desculpem, de verdade! Só consegui escrever algo hoje em plena madrugada de sabado para domingo x.x!!!Maaaas, para compensar, tem um capitulo consideravelmente grande hoje! Hohohohoho!
Peço que ignorem os erros de portugues prometo corrigir logo, afinal, sao 2h da manha e eu ja estou em outra dimensão!!!
Espero que gostem! Boa leitura!!!

Tia Evye



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/395302/chapter/7

A neve caia impiedosamente nas últimas semanas, os noticiários alertavam sobre uma possível nevasca e até mesmo as escolas e grandes empresas fecharam suas portas temporariamente, as pessoas abrigavam-se dentro de seus lares à beira de lareiras enroladas com grossos cobertores e grandes xícaras de café e chocolate quente em mãos, os casais não perdiam a oportunidade para dormirem juntos enquanto os amigos reuniam-se uns nas casas dos outros para passar a semana a base de filmes de terror, pipoca e revelações constrangedoras. O clima no santuário não se diferenciava muito do presente no pequeno vilarejo, poderia-se dizer apenas, que em alguns locais ele se tornara bem mais frio do que deveria. Um desses lugares era a décima segunda casa, o templo jazia no mais completo silencio, o vento que entrava entre as pilastras alojava-se no local, recusando-se sair dali para continuar sua trajetória. Afrodite estava preso em seu quarto há no minimo cinco dias, embolado entre mantas e rodeado de xícaras de chá que o mantia aquecido na maior parte do tempo, a face escondida embaixo das camadas de tecido num sono pesado e longo. "Frio... Muito frio...". Seu estomago revirou-se levemente e o terrível gosto de bile invadiu sua garganta, abriu os olhos vagarosamente encarando a parede e a mala à sua frente, levantou-se espreguiçando, as costas doíam e pernas estavam tão duras que admiraria se não desse um passo e despencasse no chão como uma pedra no mar. Olhou ao redor soltando um suspiro pesado de cansaço, jogou os cobertores para o lado pulando da cama, abraçou-se aos próprios braços caminhando até o banheiro.


–Deuses... Eu estou horrível...



Balançou a cabeça negligenciando a própria feição, mostrou a língua ao reflexo do belo homem, que, apesar de cansado, com o rosto inchado e grandes bolsas embaixo dos límpidos olhos azuis celestes, conseguia a incrível façanha de manter uma beleza digna de Narciso.


Abriu o chuveiro tentando ajustar a temperatura em algo agradável, o vento que corria seu quarto já tinha congelado seus dedos e a sensação era que aos poucos congelava sua alma.


"Como se ela já não estivesse congelada...."



–Afrodite?


–Atena? O que faz aqui?


Enrolou-se rapidamente no roupão de seda que descansava sobre a pia de mármore, estava semi-nu quando ouviu a voz da deusa adentrando seus aposentos. Saiu rapidamente estranhando a inusitada visita da mesma, os olhos violetas o encararam com o que poderia chamar de inveja, até porque, bem sabia dos sacrifícios que a garota fazia para manter a beleza enquanto seu cavaleiro de peixes podia dormir por uma semana seguida, saindo da cama apenas para banhar-se e preparar chá, e continuar com a beleza intocada.



–O que houve? Aconteceu algo?


–Não, apenas vim verificar seu templo. -As palavras saíram ríspidas e sutilmente... Decepcionadas. Seria possível até a mulher que fez questão de ressuscitá-lo querer vê-lo congelar no inferno novamente?! Revirou os olhos irritado com a ideia, a presença da deusa o desagradava mais a cada dia que passava. - Você não apareceu na reunião de ontem, alertei os cavaleiros a respeito do que encontramos naquela cidade.

–Ah sim, sinto muito, eu estava.... Ocupado.

–Sei...- Saori passou os olhos ao redor, fazendo uma careta à bagunça que havia no comodo. "Pelos deuses garota, não retorça a cara assim, você acaba com a própria imagem...!"– Nesse caso, como não consegui contáta-lo pelo cosmo fui obrigada a me locomover de meu templo até o seu para alertá-lo sobre o que enfrentamos.

–Pois bem, o que era?

–Hunf... Espectros.


Os olhos azuis tremeram levemente e seu pé esquerdo recuou instintivamente.



–O-o que?


–Sim. Também estamos preocupados com o que isso pode significar, faz apenas dois nos que saímos de uma guerra santa, não sei se temos condições para enfrentar outra, além disso, houve muitas baixas entre os cavaleiros.

–E o que faremos?! Quer dizer, H-Hades não pode voltar, pode?! O garoto, o tal do Shun, você acha que poderá ser possuído novamente?

–Não... Dessa vez é diferente, não sinto a presença de Hades, mas um pressentimento me diz que devemos ficar atentos a qualquer sinal suspeito.

–Defina suspeito.

–Esse clima, por exemplo. Está sendo o inverno mais rigoroso que a Grécia já enfrentou em anos.


Cruzou os braços visivelmente incomodado com as palavras da deusa, "Tão rigoroso quanto aquele inferno de gelo....", mordeu o lábio inferior pensando o que faria, tinha decidido ir embora mas agora não sabia se era a coisa certa a se fazer, sua intenção estava sendo adiada cada vez mais como se o próprio destino recusasse sua partida e se armasse de todos os métodos possíveis para mantê-lo ali.



"Mas que diabos isso significa?!"



–E então...?


–Você esteve ausente na reunião e portanto terá que simplesmente acatar as decisões tomada sem opinar.

–Tudo bem.

–Vamos começar a treinar novos cavaleiros, todos os cavaleiros dourados, de prata e de bronze, começarão a treinar seus substitutos.


Os olhos de Afrodite brilharam em fúria, como assim substitutos?! Bufou irritado, recusava-se a acreditar que pessoas como Milo, Shura e Máscara da Morte (oh sim.... Máscara da Morte....), iriam aceitar uma coisa dessas, eram orgulhosos demais para serem substituídos em vida, mas de todos, sabia que era o único que não aceitaria essa condição nem sob mandato de sua deusa protetora!



–Me recuso!


–Não tem escolha Afrodite, um dia vocês se aposentarão e novos entrarão em seu lugar, aceite esse fato.

–Mas eu estou vivo! Não vê? Inclusive, em plenas condições de batalhar e...

–Você acha que sou tola?! Percebi suas intenções há tempos! Sei que pretende abandonar o santuário o mais rápido possível, mas não posso permitir que leve consigo a armadura de peixes, portanto se quer nos deixar, que seja, mas a armadura fica!


O pisciano prendeu a respiração momentaneamente, as mãos fechadas com uma pressão forte o suficiente para abrir-lhe feridas na pele delicada.



–Não, eu não vou treinar ninguém. Você quer que lutemos nessa loucura que está para acontecer, okay, luto! Mas me recuso a passar minha armadura a outro, me recuso a ser uma espécie de...Cobaia! Porque ao que me parece, seremos descartados, não?!


–Meça suas palavras ao falar comigo Afrodite de Peixes, o tirei do inferno e posso muito bem mandá-lo de volta.

–Ora, e por que ainda não o fez?! Aposto que todos os seus queridos protetores iriam adorá-la ainda mais! -O sorriso cínico veio acompanhado do olhar de descaso e dos braços cruzados.- Ouça, querida, eu não sirvo a vossa santidade, estou pouco me lixando com esse papo de fidelidade, como já deve ter percebido... Eu sirvo a justiça, apenas a minha justiça.

Os olhos violeta espreitaram-se em direção aos azuis do cavaleiro que mantinha a expressão séria e decidida, era sabido que Afrodite nunca se dera bem com a deusa a quem deveria ser devoto, o pisciano dirigia sua devoção somente a sua deusa de nascimento e a si mesmo, infelizmente sua fé aos poucos morria junto com seu amor próprio e aos poucos o sempre tão arrogante e indiferente Afrodite de Peixes tornava-se um ser fechado e deprimido que tentava a todo custo afastar-se de qualquer coisa que pudesse respirar.


"Minha deusa sabe o quanto estou desesperado por um pouco de paz... Oh deuses, que pecado cometi para sofrer essas provações?"



–Talvez eu tenha me enganado ao revivê-lo, Peixes, sua lealdade é realmente duvidosa. -Um suspiro longo e pesado saiu dos lábios exageradamente rosados da jovem, os braços cruzados embaixo dos fartos seios valorizados com o decote do vestido branco e as pálpebras cerradas dando a face da garota um ar de desprezo e reprovação. -Não gostaria de dizer isso, mas talvez Milo estivesse certo, você não é confiável.



As palavras deveriam ter machucado a alma debilitada do guardião da décima segunda casa, não é que como se elas tivessem sido ignoradas, apenas não queria importar-se com aquilo. Não doía mais, pelo menos, não tanto quanto antes. "Se ela queria me chatear com isso deveria ter vindo antes do Máscara da Morte entrar pelo meu templo naquela tarde."



–Está perdendo seu tempo Atena, minha resposta foi dada, lutarei pela justiça. Se uma nova guerra começar...-Engoliu em seco tentando selecionar as palavras que sairiam a seguir, tinha que ser cuidadoso, não poderia simplesmente dizer a verdade."Muitas coisas aconteceram no inferno, e tenho certeza que essa deusinha de araque não se agradaria de nenhuma delas...."- Farei os sacrifícios que forem necessários em nome do que julgo certo.



Os olhos da deusa cintilaram como se tivessem vencido uma batalha de anos, Afrodite revirou os olhos, achava ridículo a ideia que a moça tinha de domínio sobre si, talvez ela controlasse os 87 cavaleiros a seu serviço, mas ele não... Ah não, era orgulhoso demais para dobrar os joelhos frente a alguém como ela.



–Espero que mantenha suas palavras Peixes, e assim, não desonre esse templo.



~



–Eu juro que serei o último cavaleiro de Peixes que usará a técnica das rosas!


–Ora Afrodite, mas por que toda essa raiva?

–Odiei essa ideia de sermos substituídos Aldebaran! Isso é um absurdo, nós ainda estamos vivo e em condições de lutar, além disso, Hades não pode estar voltando, certo?!


O tourino suspirou olhando para o jardim a sua frente, ainda tentava raciocinar tudo que havia acontecido nas últimas duas horas. O pisciano simplesmente aparecera na porta de seu templo vestido em uma regata esverdeada, uma bermuda jeans (perigosamente curta, em sua humilde opinião...), descalço, com um grande chapéu de palha na cabeça, uma pá e um balde em mãos, além de um sorriso escancarado de orelha à orelha, e agora, ali estava Aldebaran de Touro frente ao maior jardim que já vira em toda sua vida ao lado de um irritado pisciano que reclamava no minimo há quinze minutos sobre as decisões da deusa que serviam.



–Não é uma substituição Afrodite, é apenas precaução .. Entenda, poderemos morrer nessa guerra e como ainda estamos com baixa de muitos cavaleiros não podemos simplesmente nos dar ao luxo de ficarmos desfalcados.


–Pelos deuses! Mas que guerra?!! Foi apenas um ataque de espectros idiotas que não foram avisados do fim da guerra santa! Patéticos!


O brasileiro riu apreciando a face infantilmente emburrada do homem ao seu lado, as peças casuais lhe caiam tão bem quanto a luxuosa armadura."Afrodite é definitivamente a personificação da beleza, como pode existir um ser humano com ares tão celestiais... Creio que próximo a ele, apenas Shaka...".



–Hei, grandão, está me ouvindo?


–O-o que?

–Ah Aldebaran... Você é uma comédia... Eu perguntei se você acha que consegue dar conta desse jardim e... O-oh...

–Algo errado?


O cavaleiro baixou os olhos escondendo o rosto por detrás da franja, as mãos fecharam-se e seu cosmo elevou-se, Aldebaran percebeu que isso significava que alguém aproximava-se da décima segunda casa e pedia permissão para passar, mas havia algo errado...O cosmo era quase tão hostil quanto o de um juiz do inferno e o cheiro de morte que invadiu suas narinas não deixou dúvidas de quem era o "convidado" que chegava.


Afrodite deixou o jardim caminhando até uma das pilastras perto da entrada do templo, encostou-se a ela, braços cruzados e o olhar firme sob o mais novo integrante do inusitado trio que formava-se ali.


–Com licença.


–Pode passar.


As palavras foram exageradamente polidas e sem emoção, havia uma frieza palpável e os olhos não encontraram-se uma única vez, o ar ao redor pesara consideravelmente e Aldebaran sabia que havia algo de errado ali, percebia ao observar o olhar de Câncer e os lábios crispados do guardião do templo, que se pudessem, matariam um ao outro naquele mesmo instante.



–Olá Máscara da Morte, há quanto tempo!



O olhar dirigido a si fora quase tão penetrante e afiado quanto o corte mais poderoso da Excalibur de Shura. Angelo vagueou os olhos de Touro a Afrodite, uma rápida expressão de curiosidade pode ser vista nos olhos azuis e logo um sorriso maldoso dominou os lábios do moreno.



–Brinquedinho novo, Afrodite? Bela aquisição.


–Ah não, querido, jamais usaria alguém como Aldebran, ele é uma pessoa digna de reconhecimento...


Pode notar o desconforto e ódio do italiano crescendo com as palavras do colega que o encarava vitoriosamente, os olhos azuis celestes de Afrodite brilhavam demonstrando desprezo e ódio ao outro, mas havia algo mais... Algo que um pobre mortal como Albedaran de Touro não poderia adivinhar, sentia-se preso a uma guerra muda entre um enviado dos deuses do Olimpo e um enviado dos deuses da morte. "Como se eles estivessem desgastado todo tempo de amizade e suas verdadeiras naturezas aflorassem. Deuses.... O que estou fazendo aqui?"



Os minutos foram longos e pesarosos, o tourino sentia-se extremamente desconfortável, tinha que fazer algo para quebrar o silêncio, precisava retirar-se dali ou ao menos um dos dois do local antes que uma briga longa e interminável inicia-se. "Ah... Milo iriar amar vê-los brigando..."



–Ah... Afrodite, então, quanto ao jardim, e-eu posso tentar aprender a cultivá-lo...



Os olhares azulados que fuzilavam um ao outros desprenderam-se momentaneamente com as palavras do moreno, Afrodite encarou alegremente o colega, em um rápido desvio do olhar do guardião do templo de peixes notou o canceriano vacilar e seus olhos tremerem levemente, um passo foi sutilmente recuado, mas ao notar o brasileiro o observando simplesmente virou-se em direção a estadia do Grande Mestre ignorando (ou pelo menos, aparentando isso) o sorriso e as exclamações de felicidade do pisciano que literalmente pulava de satisfação.



"Sempre me disseram que o Máscara da Morte era bruto a ponto de ignorar coisas óbvias, mas por favor, será que ele é tão tapado a ponto de não reconhecer o que deseja?"



Voltou o olhar ao pisciano que explicava animadamente todo o projeto para seu jardim, um triste sorriso desenhou-se nos lábios do brasileiro, ele adorava a companhia daquele homem e até entendia o por que do canceriano ter um devoção por ele, mas sabia que seria impossível para pessoas como eles se aproximarem.



"Eu percebi isso há tanto tempo que não me lembro mais... Existe um abismo entre nós, estamos do lado esquerdo da história e ele do lado direito e entre nós há um grande precipício. Eu entendo Máscara, ambos sabemos que jamais transpassaremos esse precipício, será que é por isso que você simplesmente resolveu ignorar os próprios sentimentos?"



~



Os dias de inverno eram mais lentos e dolorosos que os demais, Afrodite ansiava pela primavera, seria o ápice da beleza de seu jardim, ambos, tanto o pessoal quanto o que levava ao salão do Grande Mestre. Ele e o cavaleiro de Touro vinham trabalhando nas flores há alguns dias, intimamente treinava o grande homem para que cuidasse de suas flores quando se fosse. Nos últimos tempos mais ataques foram notificados e praticamente todo santuário estava atento a qualquer sinal de anormalidade, os cavaleiros de bronze chegaram do japão e alguns iniciaram o treinamento que lhes dariam a armadura de ouro respectiva a seu signo, na verdade, a maior parte dos dourados já tinham providenciado dois ou três discípulos que achavam dignos de substituí-los, bem... Ele não tinha encontrado ninguém e, sinceramente?! Não estava procurando, nem iria.


O vento tocou sua pele exposta fazendo os pequenos fios loiros arrepiarem-se sutilmente, olhou ao redor vendo os flocos de neve caírem serenamente sobre a escadaria branca que levava até sua casa, um gostoso cheiro de café vinha da casa de seu vizinho, apesar de saber o quanto Camus o odiava e fazia parte do time "Envie Afrodite de Volta ao Inferno", apreciava os odores que vinham da casa do mesmo na hora das refeições, era sempre deliciosos cheiros de pratos da culinária francesa e vinhos da melhor qualidade, perdeu-se por alguns minutos apreciando e recordando-se de todos os cheiros e aromas que já sentira vindo da casa do aquariano mal humorado. Pouco a pouco sua mente foi divagando até uma peculiar imagem formar-se nela, tinha longos cabelos louros, uma pele quase tão pálida quanto a sua, olhos azuis (mesmo que raramente a mostra) e uma personalidade... Exótica.

Suas bochechas coraram quase que imediatamente ao perceber que estava há algum tempo pensando no cavaleiro de virgem, seis casas abaixo da sua.


"Deuses... Como divaguei tanto?!"



Chacoalhou a cabeleira azulada tentando afastar seus pensamentos do belo virginiano, tentativa tola de convencer-se de que era idiotice pensar em alguém que pouco se importava consigo. Mas, talvez...


Os olhos levantaram-se e um bico formou-se na boca perfeitamente moldada, bem... Por que não?!

Iniciou uma descida lenta pelas escadarias rumo ao sexto templo, parte de si dizia que isso era uma completa loucura e que se arrependeria depois, mas, outra parte, bem, ela simplesmente lhe sussurrava sedutoramente: Carpe Diem, Afrodite, Carpe Diem.


–Com licença.


–Boa tarde Afrodite.

–Olá Shaka.

–Fique a vontade para continuar seu caminho.

–Creio que cheguei ao meu destino.

–Imaginei.

–Oh, você lê mentes?


O sarcasmo foi involuntário e tão rápido quanto deixou seus lábios foi seu arrependimento, Shaka voltou a face para o pisciano o "encarando" como se perguntasse algo que não conseguia entender, e isso o deixava muito, muito incomodado.



–Há algo que deseje, Afrodite?


–Não exatamente,apenas... Quis vir... Aqui.


A última palavra foi sussurrada e a bela face avermelhara-se consideravelmente ao imaginar o que o guardião da sexta casa poderia estar pensando de suas palavras, "O que estou fazendo? Isso é ridículo, estou me guiando por meus instintos e da última vez que fiz isso terminei com a cabeça enterrada em um inferno de gelo sob a acusação de trair os deuses! Carpe Diem uma ova, estou mais para me fudendo como se não houvesse amanhã!"



–Não vejo motivos para hostilizar seu cosmo contra mim, Afrodite, fiz algo?



Os olhos azuis arregalaram-se saindo de seu transe pessoal, mal percebera que hostilizara o cosmo, na verdade sequer recordara que estava no templo de Virgem, era um péssimo hábito esse que possuía, de simplesmente perder-se em pensamentos e esquecer até mesmo onde está e com quem está.



–Você realmente gostou daquela Lótus, não?


–Ah sim... Ela possui uma beleza diferenciada.

–Sim...- O sorriso que formou-se tinha um ar de cansado e uma sutil tristeza, como se estivesse desgastado e dolorido de desenhar-se sem propósito. -Ela representa sua religião, não?!

–Sim, a Lótus rosa é a flor que representa o próprio Buda, por assim dizer.

–Ela gostou de você, pude sentir isso.

–Sim, mas não importa o quanto ela se afeiçoe a mim, ela nunca deixará de amá-lo, não percebe?


Afrodite dirigiu o olhar, antes fixado em uma pequena fissura na pilastra ao seu lado, diretamente ao virginiano que proferia suas palavras indiferentemente, a feição de espanto e o coração batendo descompassadamente, mordeu o lábio inferior, queria dizer algo, tinha que dizer algo, mas lhe faltava palavras, sua respiração acelerou e por momentos achou que perderia a consciência. As palavras eram simples e sem segundos significados, mas para Afrodite eram quase como um tapa na cara, a sinceridade de Shaka lhe afetava com uma frequência que preferia não reconhecer, mas cada letra proferida daqueles lábios sutilmente caminhavam até seu coração tomando-o como nova moradia.



–Sou considerado o cavaleiro mais próximo dos deuses e por muito tempo concordei com esse título, mas há tempos percebo que não sou o único merecedor dessa fama.


–Como assim?

–Posso, de fato, ser o cavaleiro mais o próximo dos deuses, mas definitivamente não sou o mais amado. Deveria reconhecer isso Afrodite.


O pisciano passou alguns minutos tentando absorver as palavras do loiro a sua frente, o que ele queria dizer? Não entendia o que significava aquela conversa e sequer conseguia situar-se na situação, afinal, o que ele queria fizer com o "amado dos deuses?"



–Eu acho que não enten-...



Afrodite calou-se rapidamente ao ver o companheiro de batalhas levantar-se de sua tão habitual posição, seus passos eram lentos e calmos, como se andasse sobre nuvens, os olhos permaneciam fechados, a brisa que entrava no templo adquiria o forte aroma de chá de ervas que o local naturalmente possuía, os cabelos dourados esvoaçavam e cada detalhe, absolutamente cada detalhe daquela cena gravara-se na mente e alma de Peixes.



–Você, Afrodite. É o amado dos deuses, entende?



Riu, não conseguia acreditar nas palavras do outro. Amado dos deuses? Só podia ser brincadeira! Poderia ser o favorito de sua deusa protetora, mas tinha certeza que qualquer outro o odiava.



–Shaka, isso é uma piada, certo? Quer dizer, me desculpe por interromper sua meditação e simplesmente invadir sua casa, mas, por favor, não seja tão cruel com suas palavras.


–Não estou sendo irônico, sarcástico e muito menos cruel, apenas sincero.

–Isso é impossível. -Elevou a voz sem ao menos perceber o que fazia, irritara-se com o comentário do outro, o que ele sabia sobre si para dizer tais coisas?!- Como alguém como eu poderia ser amado pelos deuses? Você não sabe nada sobre mim Shaka, não conhece minha vida nem meu passado, se os deuses lembrassem de minha existência eu nunca teria vivido um terço do que vivi, não diga coisas levianamente Virgem!


O loiro retornou ao seu lugar sentando-se novamente em silêncio, Afrodite bufava de raiva, sabia que não deveria ter deixado sua casa, fora um tolo! Sempre que encontrava-se com o cavaleiro de virgem arrependia-se amargamente depois, hora por sentir-se bem próximo a ele, hora por sentir-se ofendido.



–Sabe, Afrodite, os últimos dias analisei muitas situações que captei pelos sentimentos dos cosmos exalados pelo santuário. Me concentrei em minha meditação de modo que pudesse compreender o que os céus transmitiam a terra. E sim, os deuses o amam.


–Tsc... Então... Oh, grande Shaka de Virgem, o cavaleiro mais próximo dos deuses capaz de responder todas as questões do universo! Como eu poderia ser o mais amado dos deuses?


A pergunta foi lançada em tom de desafio, os olhos azuis celestes encaravam o colega com um ar de superioridade e sarcasmo a espera do silêncio que confirmaria sua vitória, porém, este silêncio nunca veio.



–As pessoas que mais sofrem na terra são as mais amadas nos céus. É simples.



Arregalou os olhos sentindo o coração pular uma batida, não bastasse as palavras excessivamente sinceras do virginiano tivera que enfrentar também as orbes de um azul quase tão claro quanto as suas, um olhar que penetrava seu corpo, sua alma e seu coração, deixando-o nu. Sentindo-se como se todos seus pensamentos e emoções estivessem escritas em letras bonitas gravadas na própria pele, como um livro infantil nas mãos de um adulto, de pleno e fácil entendimento.



"Ele me lê com a mesma facilidade com que mexe com meus sentimentos."



Shaka voltou a fechar os olhos permanecendo em silêncio. O protetor da casa de Peixes tentava a todo custo voltar a si, seu coração palpitava como se cada molécula de oxigênio fosse a última que filtraria, suas mãos tremiam sutilmente e suas pernas vez ou outra ameaçavam vacilar... Permaneceu nesse terrível estado de choque por alguns momento tentando fixar as palavras que ouvira.


Um sorriso, diferente dos últimos que dera, surgiu, vagueou a língua pelos lábios como uma amante luxuriosa. Desencostando-se da parede caminhou silenciosamente até onde o guardião de Virgem permanecia no mais profundo transe, ignorando completamente sua presença. Baixou-se até estar rente a face do indiano que continuava imóvel mesmo com a aproximação.


Sorriu.



"Amado pelo deuses, é?!"



Alargou um pouco mais o sorriso que brincava em sua face, os olhos brilhavam, não de raiva, não de ódio, não de rancor. Havia uma pitada de esperança e um balsamo de gratidão. Inclinou a cabeça sutilmente, "Obrigado, Shaka.".


Aproximou os lábios da face do colega, pouco a pouco, centímetro a centímetro intimamente pedindo que ele não o notasse e em um movimento calmo e gentil, depositou um casto beijo na testa do jovem virginiano. Recuou, sorrindo ainda mais.


–Carpe Diem, Shaka, Carpe Diem.



E naquela tarde, o sol brilhou e no jardim da décima segunda casa uma pequena flor rosada abria-se cada vez mais.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso ai pessoal! Mais um capitulo na nossa vida!
Peço desculpas novamente pela demora e pelos erros gramaticais (essa coisa de madrugada, eu fico meio lerda x,x), espero que tenham gostado e não deixem de comentar, amo ler a opinião de vocês!! Quanto ao próximo capitulo, nao vou dar uma data definida dessa vez, mas ele vem! Nao temam!!
Obrigada por lerem, agradeço a todos, de coração!!

Tia Evye.