Parte 4 – Final.

Espere. O que ele sabe?

Não, não pode ser. Como ele sabe? Como ele descobriu?

Meus batimentos cardíacos aceleram. A mesma sensação de nervosismo de antes toma conta de mim e, eu imediatamente desvio o olhar do seu, sentindo minhas bochechas esquentarem, torcendo – frustradamente – para que a sensação de vergonha não seja demonstrada na parte externa do meu rosto.

“Acalme-se, Bouvier.” Penso, ainda que seja mais fácil na teoria do que na prática. “Acalme-se, acalme-se, acalme-se...” Permaneço repetindo como um mantra, ainda evitando encarar David. Engulo em seco, decidindo que a melhor coisa a fazer, é agir normalmente, e me fazer de desentendido.

- Hm, o que quer dizer? – passo a encarar o chão, juntando as mãos atrás do corpo e fazendo um movimento circular com o pé no chão. David solta uma breve risada, o que me faz voltar a encará-lo, não podendo evitar rir junto, já que sua risada é contagiante.

- Eu sei. – ele encolhe os ombros, levando a mão até as minhas e desentrelaçando-as, para que possa entrelaçar a sua na minha. Meu coração falha uma batida. Nossas mãos juntas e os olhares tímidos sendo trocados. Ele sorri com o canto dos lábios, voltando a falar. – Eu sei que me observa há algum tempo... E sei que tem uma queda por mim.

- Er, creio que seja bem mais do que uma simples queda. – revelo, arregalando os olhos após ter falado, por sequer saber que teria coragem de falar tal coisa. Encaro nossas mãos juntas por alguns segundos, adorando o fato de que elas se encaixam perfeitamente, como se houvessem sido moldadas uma para a outra. – Espere, como soube?

- Eu sei, porque te vi me observando. E hm, seu amigo... – faz uma pausa, provavelmente tentando lembrar o nome. – Jeff! Seu amigo Jeff veio falar comigo.

- Eu vou matá-lo. – falo mais alto do que deveria, sentindo uma raiva me invadir. Ai, aquele...

- Por quê? – David interrompe meu pensamento, arqueando uma única sobrancelha – um gesto adorável, na minha opinião – e desentrelaçando nossas mãos. – Foi uma coisa boa, não foi? Do contrário, eu nunca teria certeza.

- Olhando por esse lado... – não posso evitar que um sorriso bobo desponte em meus lábios, e eu sinto uma vontade enorme de beijar o menor. Uma vontade até maior do que das outras vezes. – Espera. Certeza do quê, exatamente? - pergunto, franzindo o cenho levemente em confusão.

- De que eu também sinto algo “mais do que uma simples queda” por você. – faz aspas com as mãos, repetindo o que eu disse mais cedo. O olho incrédulo, visivelmente surpreso. David? Uma queda por mim? Como isso é possível? Oh, eu devo estar sonhando. É a única explicação plausível pra isso. – Eu também venho te observando há algum tempo, Bouvier, apesar de você tornar isso bem difícil, por mal sair de casa.

Ah, já sei. Isso tudo só pode ser uma pegadinha, porque, vamos ser realistas aqui. David Desrosiers me observando? Não. Nunca. Eu só posso estar imaginando coisas.

- Certo, esse silêncio está me deixando meio nervoso.- ele diz, me tirando de meu devaneio. Levo os olhos imediatamente aos seus, e ao fazê-lo, sinto um breve arrepio percorrer minha espinha, o que já estou até me acostumando, pois acontece sempre que o encaro ou que temos algum contato. David sorri, como se estivesse esperando uma resposta, e tudo o que eu faço é me aproximar consideravelmente de si, e em seguida, junto nossos lábios.

Oh, meu Deus, meu Deus, meu Deus. Ainda que tenha seja um selinho apenas, me sinto como se estivesse flutuando. Os lábios macios dele entraram em contato com os meus, e imediatamente, o mesmo arrepio de antes se faz presente. Semicerreo os olhos e ele faz o mesmo, enquanto eu prendo meus dedos em sua cintura, realmente nervoso (visto que nem eu sabia que era capaz de tamanha ousadia). David é definitivamente a pessoa que beija melhor (e aqui, podemos ignorar o fato de eu nunca ter beijado ninguém).

Ao que se afasta, David encolhe os ombros, um sorriso sorrateiro nos lábios e a expressão calma. – Uh, então... Não vai me convidar pra entrar? – ele aperta levemente a minha mão, e um sorriso involuntário toma conta dos meus lábios.

Não pense que houve algum tipo de malícia naquela pergunta, pois não houve. Nós entramos, conversamos... Bem, na maioria do tempo ele falou e eu escutei, visto que não tenho uma facilidade tão grande como a dele para falar coisas sobre mim ou... Sobre qualquer outro assunto. Nos beijamos mais um pouco e eu posso dizer que foi um ótimo começo. Quem sabe o que virá agora? Espero que o cara lá de cima seja generoso comigo e dê uma forcinha pro David gostar de mim... Ugh, David gostando de mim, Pierre-nerd-e-idiota-Bouvier. O quão estranho isso soa? Bem estranho, mas eu consigo conviver com isso. Yeah, definitivamente consigo.

FIM