Eu tinha acabado de acordar do sonho mais perfeito que já poderia ter tido com Lance, e pela primeira vez não sentia aquele peso na consciência, pelo contrário. Me sentia nas nuvens ainda.

Aquele sonho foi tão diferente dos outros... foi mais humano. Havia tantas coisas boas no Lance, ele estava tão diferente mundo real, era como se uma barreira entre nós tivesse sido quebrada.

Lembro-me do seu jeito carinhoso comigo, dos beijos apaixonados, da sua delicadeza. Não havia arrogância, orgulho, ironia ou sarcasmo. Fiquei tão feliz quando ele por fim me envolveu em seus braços, pegou em minha mão e cruzou nossos dedos.

– Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui para te salvar...

Não sabia exatamente o motivo de ter sonhado com ele daquela forma. Talvez fosse por ele ter salvo minha vida ou por estar no quarto ao lado dormindo.

Apesar de já ter acordado, ainda não tinha aberto os olhos.

Eu não quero voltar para a realidade e me comportar como se nada tivesse acontecido.

Não sabia por quanto tempo ainda conseguiria esconder meus sentimentos por ele.

Será que ele é tão bom de cama assim? Hê Hê Hê

Naquele sonho ele estava muito melhor que Proton.

Meu único desejo era que aquele Lance de fato existisse... e não fosse apenas fruto da minha imaginação.

Me espreguicei e suspirei bem alto, meu corpo estava dolorido, mas depois de tudo que passei era obvio meu corpo reagir assim. Mas de repente toda a minha tranquilidade foi embora, senti alguém acariciando minha cabeça. O pânico tomou conta de mim.

Não estava sozinha?

Virei rapidamente e lá estava ele.

– Bom dia...

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH – imediatamente me joguei para trás, caindo da cama. Só então percebi que estava nua e puxei a coberta da cama para mim e me enrolei.

A-aquilo não foi um sonho?

Como não percebi que aquilo era verdade?

Era tudo perfeito demais para ser ilusão!

E agora, o que vou fazer?

Ele começou a rir.

– Não acredito que você já se esqueceu da noite que tivemos. – imediatamente comecei a lembrar dos detalhes.

Como fui achar que aquilo era um sonho?

Que ódio de mim.

Mais uma vez caindo nas garras do Lance.

– Você se aproveitou se mim e da minha fragilidade por ter quase morrido! Seu pervertido! – gritei sentindo lágrimas nos meus olhos.

Como olharia para Proton depois de ter feito aquele tipo de coisa com outro homem sem ser ele?

– Foi você quem começou a me beijar, eu só continuei e você não me parou. – ele começou a se levantar.

– FICA LONGE DE MIM! NÃO SE ATREVA A SE LEVANTAR – gritei tampando meus olhos.

– Não tem nada aqui que você não tenha visto na noite passada. – miserável, ele só queria se divertir comigo – Essa foi a noite mais especial que já tive, sério. – não posso dar ouvidos a ele, esse canalha deve falar isso para todas. – Sabe, ainda está um pouco cedo, podemos fazer de novo. – o que? Ele acha que eu vou cometer a mesma burrada outra vez?

– Isso nunca devia ter acontecido e não vai acontecer de novo! – continuei gritando e então pude notar que as lágrimas caiam. – Eu te odeio Lance, nunca mais chegue perto de mim. A nossa trégua está acabada!

Essas foram as minhas ultimas palavras. Corri até o banheiro onde havia estendido minhas roupas. Não sabia se já tinham secado, só queria sair daquele lugar o mais rápido possível.

Como pude ser tão tola?

E agora? Com que cara vou olhar para minha avó?

E como vai ser quando reencontrar Proton?

Eu fiz amor com o meu rival... isso é inaceitável.

– Small Lady, vamos conversar. – ele começou a bater na porta do banheiro.

– Nós não temos nada para conversar.

Odeio usar meu teletransporte, até porque nem sempre funciona, mas eu precisava sair daquele lugar. E fui para minha casa em Lavender, mais precisamente para meu quarto.

Eu me sentia a mesma menina de 13 anos que tivera seu primeiro beijo roubado. As lágrimas não paravam de cair. Meu corpo tinha o cheiro do perfume dele.

Agora ele com certeza sairia contando para os amigos que “pegou” a rival.

“Agatha, você ainda não entendeu? Eu vou te explicar, a sua neta foi só um brinquedo nas mãos do meu.”

Eu sou só o brinquedo sexual dele.

O único premio que se ganha em se apaixonar pelo rival, é ter um coração partido...

Mas a grande verdade era que... desde os meus 13 anos eu tento me convencer que superaria tudo o que sentia por ele. Não importava quanto tempo demorasse, eu superaria.

Mas não importa o que aconteça ou o quanto eu tente, eu não consigo...

Fui até o banheiro e comecei a me lavar, mas sabia que não importava o tempo que ficasse ali, não lavaria a minha honra. Eu tinha prometido para mim mesma que essas coisas eu só faria com Proton porque íamos nos casar.

Sentia tanta falta de Proton desde que nos vimos no aeroporto pela ultima vez.

Eu corria pelas dependências intermináveis do Aeroporto Hoenn, sabia que estava atrasada. Enquanto corria, me culpava por não ter enfrentado o Will para sair mais cedo do laboratório da faculdade.

Eu precisava me despedir de Proton, ficaríamos muito tempo sem nos ver... e por mais que desejasse que ele ficasse comigo, sabia que aquela bolsa de estudos era muito importante para ele.

– Atenção passageiros do vôo para Unova. Dirijam-se a sala de embarque. – a aeromoça avisava, mas para minha sorte consegui encontrar Proton concentrado no telão.

– Proton! – gritei e ele se virou com um lindo sorriso.

Era tão triste vê-lo partir, talvez eu previsse que ficaríamos separados por anos, não sei.

– Oi querida – ele andou ao me encontro – pensei que não viria por causa da faculdade...

– Eu vou te esperar! – o interrompi bruscamente. Ele já estava quase partindo, precisava dar meu recado – Eu sempre estarei te esperando... – meus olhos começaram a se encher de lágrimas, por mais tivesse prometido que me despediria dele com um enorme sorriso.

– Provavelmente eu estarei muito ocupado por isso não te escreverei com frequência. – eu podia ver que ele também estava bastante triste.

– Não tem problema, eu vou escrever para você uma carta por dia. – ele sorriu. – Por isso... – as lágrimas começaram a escorrer livremente pelo meu rosto – Droga... eu queria tanto me despedir de você com um sorriso.

Durante um ano, eu escrevi uma carta por dia para o endereço que ele me passou, mas infelizmente não tive resposta. Depois de um ano eu passei a escrever menos, mas nunca deixei de escrever e sempre com a mesma mensagem de espera.

– A Small... – ele novamente sorriu e colocou a mão no bolso da calça e retirou uma pequena caixa – Abra, é pra você.

Sem ter ideia do que poderia ser, peguei a caixinha e a abri. Nela havia um anel com um diamante em forma de coração.

Comecei a corar enquanto olhava para o anel, aquilo era um anel de compromisso e mesmo que estivéssemos longe um do outro, ainda estaríamos juntos.

– Proton – falei surpresa, jamais esperava que Proton me desse um presente tão bonito e com um significado tão importante.

Levantei os olhos e ele sorria para mim. Era um sorriso tão doce e tão gentil.

– Permita-me. – ele retirou o anel da caixinha e o colocou no meu dedo – Eu te amo, Agatha. – a minha única reação foi abraçá-lo.

– Eu também te amo Proton. – sem duvidas ele me fazia a mulher mais feliz do mundo.

Nos beijamos pela ultima vez e logo ele partiu para o seu vôo.

Desde então, nunca mais tive noticias dele.

Eu nunca conheci um homem tão gentil e carinhoso como Proton. Acho que meu único erro foi não ter seguido o seu conselho de retornar a Kanto para acabar com Lance.

Eu estava no apartamento de Proton e assistia a final da Liga dos Campeões das Elites 4 do Mundo. A batalha do século estava prestes a começar e seria entre o Steven e o imbecil do Lance.

Fazia tempo que não ficava tão nervosa e ansiosa para uma batalha, só de vê-lo pela TV meu ódio aumentava. Steven tinha que derrotá-lo, ele merecia levar uma surra.

Depois de várias horas naquela adrenalina, o ultimo pokemon de Lance finalmente foi derrotado e Steven sagrou-se o campeão do mundo.

– Amor, o Steven ganhou, o Steven ganhou! – pulei eufórica no colo de Proton.

– Fico feliz pelo seu amigo. – ele sorriu. Como a maioria dos estudantes da Universidade de Hoenn, Proton não se importava muito com campeonatos pokémons.

– O Steven é um máximo. – voltei a olhar para a televisão e a câmera focalizou o rosto decepcionado de Lance – Babaca! Você não merece estar no lugar que seria meu. – mostrei a língua para a TV.

– Sabe o que eu acho? – Proton começou a falar e eu voltei a olhar para ele. – Você deveria voltar a Kanto e tirar tudo que é dele... Esse cara é um incompetente, você sim tem condições de governar Kanto e Johto.

– Proton... – pisquei surpresa com suas palavras. Ele por um momento me pareceu diferente do Proton que eu conhecia.

– Um dia você vai voltar para Kanto e tirar tudo dele... você vai acabar com a vida dele. E não se preocupe, eu te ajudarei a fazer isso. – ele sorriu malignamente para mim e eu retribui da mesma maneira.

Nunca achei que a vingança fosse a solução de problemas, mas tirar a vida de rei que Lance tinha me pareceu algo bastante tentador, afinal, ele merecia perder tudo.

Mas nunca foi possível colocar esse plano em prática, pois logo Proton teve que ir embora.

Terminei de tomar banho e voltei para o meu quarto. Curiosamente me deparei com uma foto sobre a cabeceira da cama. Era uma foto minha com meu pai, ele me abraçava e sorria comigo em seu colo.

Aquela imagem, por mais que fosse um pedaço de papel, me fez pensar nas coisas que ele dizia. Papai sempre fora uma pessoa muito alegre e sempre ficou do meu lado. Era a minha luz da esperança.

– Papai um dia serei como a vovó? – perguntei sentada em seu colo enquanto assistia uma batalha dela pela TV. Eu tinha três anos.

– Você será muito melhor que a vovó, filha! Um dia você vai brilhar tanto, mas tanto que será como as estrelas do céu. – ele me levou a janela e apontou para o céu escuro de Lavender. Por ser primavera, as estrelas brilhavam intensamente.

– Estrelas? Como as estrelas? – falei enquanto olhava o céu pela janela.

– Você vai brilhar tanto que eu sempre vou poder te ver e te ajudar não importa onde esteja!

– Me ajudar a ser como as estrelas? – perguntei confusa, não entendia onde ele queria chegar.

– A vida é muito complicada filha... os caminhos que tomamos são muitas vezes complicados. Por isso, nunca desista dos seus sonhos... Haverá dias em que você tropeçará e cairá... mas isso não significa que seja uma derrota. Por isso, minha Small Lady... – ele encostou minha cabeça em seu peito – Quando for fazer algo... e der errado no final... aprenda com seus erros e levante-se, porque sempre há um novo dia! E você sempre pode recomeçar... – ele beijou gentilmente minha testa e, pouco a pouco, comecei a sentir sono chegar.

Novamente pude sentir minhas lagrimas caírem.

Que saudades do meu pai...

Que saudades de Proton.

Eles significam tanta coisa para mim.

Eu me sinto tão sozinha sem eles.