– Oi. - April disse sorrindo quando entrou na cozinha e viu o Peter. Parecia que tinha encontrado o pote de ouro. Revirei os olhos. As outras quatro meninas se acomodaram em volta do balcão. - Essas são Katherine, - A doida. Pensei comigo. - Jade, Rachel e Mary. - Ela apontou pra cada uma das meninas. - Andrew e Peter. - Dei um sorrisinho sem graça. Já o Peter... Beijou a mão de cada uma.

– Oferecido. - Disse baixo e ele me mandou o dedo.

– A gente tá pensando em ir no cinema. Vão querer ir junto?

– Bom, o Andrew tá amarrado. Já eu estou completamente disponível.

– Eu não to amarrado, Peter. - Respondi.

– Tá namorando.

– Que seja... - Peguei um pedaço de bolo.

– Apesar que a ultima sessão é meio tarde. Seu pai mataria nós cinco. - Uma das meninas disse.

– Eu voto por pipoca, chocolate e coca. - Ouvi outra voz.

– E por fotos dos meninos do ultimo ano no facebook também! - Olhei pro balcão e vi April revirar os olhos.

– April, tu tem de me mostrar sua coleção ainda. - De que?

– Tá lá em cima dentro da caixa ainda. - Ela respondeu.

– Ah! E eu preciso de uma blusa emprestada! - Elas nunca iam parar de falar?

– E ainda tem o episódio da semana da nossa série pra ver. Semana que vem vai ser na casa de quem?

– Meus pais vão viajar. Pode ser lá. - Eu não sabia quem falava. Não decorei nome de ninguém. Só da doida, que não parava de mexer no celular.

– Acho que algo épico vai acontecer. - Ela disse. Todas pararam de falar e se amontoaram em volta dela.

– Não! Não responde isso! - Uma disse.

– Vai soar como uma vadia. - April disse fazendo careta.

– Fala que talvez. É sempre uma boa saída.

– Não! Fala que você acha que tem alguma coisa marcada. Isso sempre funciona comigo.

– Mas eu tenho que mostrar que to disponível.

– Não tem nenhum boato de que você tá pegando alguém, Katy. Ele sabe que você tá disponível. - April falou. Meu celular começou a tocar e Peter foi mais rápido, atendendo sorrindo.

– Oi, Alice! - Sinto que ele vai fazer merda. - Ele tá aqui por perto rodeado por cinco garotas.

– Peter! Não fode... - Elas riram. Mas é claro! Não é com vocês né!

– Ah, relaxa. Uma delas é a April.

– Cala a boca e me passa meu celular. - Ele jogou pra mim.

– Quem tá aí, Andrew?

– Oi pra você também. E são só umas amigas da April.

– São gostosas?

– Alice...

– É uma pergunta normal. - Super!

– Ahn... Um pouco.

– Hm... Pelo menos você é sincero.

– Por isso você me ama. - Pelo o que eu ouvi, ela afastou o celular do rosto e deu uma risadinha. Arrastei a cadeira pra voltar pro meu quarto. Ou ir pra qualquer lugar menos barulhento.

– Posso ir aí amanhã?

– Você sabe que pode.

– Tá. A gente vai no cinema.

– Obrigado por perguntar. Claro que eu quero.

– E... Acho que vamos precisar do carro.

– Já disse que você nunca vai dirigir meu carro.

– Então vamos ter que pegar carona com alguém. Sabe... Eu queria que fossemos só nós dois, mas pelo jeito o Peter vai ter que ir de vela, já que eu não posso dirigir. E aí, não vamos poder se beijar tanto, e ele vai ficar falando no nosso ouvido sobre a menina que ele tá pegando, ou que pegou, e até confundindo o nome da coitada. Sem contar que ele vai fazer perguntas constrangedoras pra você só pra te envergonhar na minha frente. E...

– Tá! Tá, tá! Você dirige. Pronto.

– E eu te devo uma barca. - Ela disse baixo. Eu quase não ouvi. Ri.

– O que? Repete.

– A barca, Andy.

– Barca?

– É! A barca de comida japonesa porra! - Ri.

– "Ela não vai falar comigo". - Imitei a voz dela.

– Muito engraçado.

– Já é a segunda vez que eu ganho uma aposta com você.

– Ninguém perguntou.

– Eu vou querer a maior barca que tiver. - Podia vê-la revirando os olhos.

– Tá. Saco!

– Eu te pago um temaki.

– Um temaki não é nem 15 dólares*, Andrew!

– E daí?

– E daí que eu vou gastar horrores só com a sua comida.

– Você que foi burra por ter apostado comigo.

– Burro é você! - Ri baixo. Ficamos em silêncio por um tempo.

– Me diz. O que você e a Emily conversaram?

– Ela me pediu desculpas. Disse que sentia minha falta. Que a vida dela mudou completamente depois que a gente parou de se falar... Essas coisas.

– E você?

– Preciso falar?

– Eu to curioso, ué.

– Eu disse que também sentia falta dela. Ela me chamou pra passar o fim de semana lá. - Começou...

– E você vai?

– Teria que ser no próximo. - Ela suspirou. - Eu não sei. Acho que vou pedir pra ela vim pra cá.

– Mas e os seus outros amigos de lá?

– Eu nem falo mais com eles.

– Só reveja, então.

– Hm... Vou pensar.

– Apesar que eu nem vou estar junto e lá tem muitos meninos.

– Para de graça, Andrew.

– Hm...

– Minha mãe tá me chamando pra jantar. Depois eu te ligo.

– Tá. - Desligamos.

(...)

– Acho que ela vai morrer. - Jade, acho que é esse o nome, disse. Estávamos assistindo filme. Olhei no relógio. Quase uma hora da manhã. Era um filme de terror onde, obviamente, os principais eram tão ignorantes a ponto de irem de encontro com a morte.

– Espero que seja de uma forma bem dolorosa, porque ela é chata pra porra. - Katherine disse. Olhei pro lado. Peter estava com o braço em cima dos ombros da April.

– Espero que o cara morra também. Não suporto o ator e a personagem dele é um saco. - Rachel disse revirando os olhos. Ouvi um estalo. Olhamos pro Peter. Ele roubou um selinho da April. Mesmo no escuro, eu via o quanto ela estava vermelha. Bufei. Ela empurrou o Peter pro lado. Ele riu. Voltei a minha atenção pro filme. Jorrou sangue na tela.

– Isso é nojento. - Falei. Elas concordaram comigo.

– Uma comédia agora seria bom. - Peter disse.

– Tenho medo das suas ideias. - April disse.

– Tu tem medo até do meu beijo. - Ele disse rindo.

– Mentira! Eu só não sou afim de você. - Gargalhei.

– Pelo jeito, é melhor desistir, Peter. - Disse e ele me mandou o dedo.

– Isso é um absurdo! - O inconformado falou.

– Foi seu primeiro "não"? - April perguntou.

– Vão tomar nos seus respectivos cus. - Ele disse irritado.

– Não, April. Não foi. - Respondi por ele.

– Pelo amor de Deus, Peter. Isso é normal. - Rachel falou.

– O problema é que esse é o terceiro fora que ele leva em dois dias. - Falei rindo.

– A situação tá crítica pra você, então. - Katherine falou.

– Tadinho, Katy! - April disse.

– Eu não falei nenhuma mentira. - Katherine respondeu. Rachel media o Peter com o canto do olho enquanto as outras duas riam da cara dele, assim como eu.

– Acho que eu vou embora daqui. - Ele sussurrou pra mim.

– Rachel tá olhando pra você. Pelo menos uma das cinco, Peter. - Sussurrei de volta. Ele olhou pra ela disfarçadamente e depois voltou a olhar pra mim.

– Ela é a mais bonitinha das quatro amigas.

– Também acho. E, mudando de assunto, acho que a Alice vai ver a sua ex-. Ex- entre aspas, mas tudo bem.

– Ela vai vim pra cá?!

– Não. Alice vai pra lá. O que não é muito bom, mas... Fazer o que?

– Por que não seria?

– Ela vai ver os amigos dela de Toronto.

– Alice gosta de você, Andrew. Isso é visível.

– Mas não que nem eu gosto dela. - Peter não falou nada. Olhei pra televisão e vi que tinha começado um outro filme. Vi April vindo da cozinha com outros dois potes de pipoca e a Mary vindo com outro refrigerante. Me aconcheguei no sofá e arrumei o travesseiro em que minha perna estava. April, prevenida, sentou do meu outro lado. Fiquei entre ela e o Peter.

– Peter é muito insistente. - Ela disse baixo assim que sentou.

– Novidade... Tá interessada em alguém? - Perguntei porque ela poderia ter ficado com ele, mas não quis.

– Hm... Talvez. - Peter olhou pra nós dois e arqueou uma sobrancelha.

– O que foi? - Perguntei pra ele.

– Nada não. - Dei de ombros. Meu celular apitou avisando que tinha notificação.

"Depois eu falo".

Era do Peter. Olhei pra ele, que se manteve indiferente. Decidi fazer o mesmo. Concordo com a April. Tenho medo das ideias do Peter.

*Moeda do Canadá é dólar canadense. Lembrando que eles não moram nos EUA, ok?! Ok.