Eu estava na cozinha com Brandom esculpindo abóboras. Ele tinha agilidade em fazer isso, diferente de mim. Eu era melhor com as maquiagens de Halloween. Ele ria de algumas formas estranhas que eu esculpira.

-Você não é muito boa nisso. - ele falou.

-Jura? - levantei a sobrancelha irônica. 

-Como conseguiu tanta coisa para uma festa de Halloween no dia do Halloween? 

-Tem alguns artigos de decoração para datas e feriados no porão, e o resto comprei em lojinhas que tinha sobrando. - sorri - Vou ver se os outros já estão terminando o serviço deles.

-Ok. - ele sorriu e me mandou um beijo que eu retribuí. 

Me dirigi até a sala onde Greg e Ian arrumavam a iluminação e o som. Ao que parecia, Ian seria o DJ da noite, mesmo porque não tínhamos dinheiro para outro. Mas ele era ótimo como DJ. Era o que Elli dizia. 

Me agachei ao lado de Gregory que mexia em um canhão de luz. Ele olhou para mim e sorriu, eu fiz o mesmo. Ele era um bom amigo. 

-Como está indo? - perguntei.

-Quase terminando. - ele respondeu - Só falta esse canhão de luz. Ele vai dar o efeito macabro nas maquiagens e fantasias. 

-Ótimo. - sorri - Viu a Elli?

-Lá em cima, acho que foi se fantasiar ou algo do tipo. 

-Ah. - me levantei - Quando terminarem, podem ir se arrumar também, os convidados chegam em uma hora eu acho. 

Subi as escadas a procura da Elli. Quando me aproximava do meu quarto, ouvi sua voz falando ao telefone com alguém. 

-É sério, você precisa vir. Ainda dá tempo de pegar metade da festa. - ela dizia - Por favor! Preciso que venha. 

Entrei no quarto dando duas batidinhas de leve na porta, o que a assustou e fez com que ela desligasse o telefone rápido.

-Quem era? - falei e acho que a deixei nervosa com a pergunta.

-Ninguém. - ela disse rapidamente - Estou aqui me fantasiando. 

Ela vestia um vestido de noiva comprido e em cima da cama estavam algumas coisas para fazermos nossa maquiagem de Halloween. 

-Vestido legal. - falei - Onde arrumou?

-Era da minha mãe. Sabe, meus pais se odeiam agora então ela ia jogar fora, mas eu peguei para rasgar e passar algo que se pareça com sangue. Serei a noiva que foi morta pelo a amante logo antes do casamento. E o Ian vai ser meu noivo, que se matou quando me achou. 

-Uau. - sorri - Criativo.

-Você vai ser quem? - ele indagou enquanto fazia alguns furos no vestido com a tesoura.

-Não sei ainda. Nem tenho roupa alguma. 

-Tem uma velha roupa de Bailarina no quarto da sua mãe certo? 

-Tem, mas Elli, ela guarda aquilo para se lembrar das minhas danças.

-Ela não está mais aqui. - ela falou, mesmo tendo sido dura, estava certa - E você pode ser a bailarina que seria astro do Lago dos Cisnes e não aguentou a pressão, ficou louca e cortou os pulsos.

-Uau. Você está muito criativa para estas histórias mesmo, mas acho que seri apenas uma zumbi.

-Assim não tem graça! Agora vá buscar a roupa. - ela falou em tom de ordem.

-Quero ser um zumbi! 

-Terão milhares de zumbis! Mas não haverá nenhuma bailarina suicida. 

Pensei um pouco e bufei. Ela estava certa, e eu sabia que não adiantaria nada retrucar então me virei e fui em direção à porta mas parei.

-Posso ser uma bailarina zumbi? - perguntei.

-Tá legal. - ela revirou os olhos e voltou a se arrumar. 

Fui andando até o fim do corredor onde a porta branca estava fechada. Era o quarto dos meus pais. Percebi que nunca mais estrara ali desde o ocorrido. Respirei fundo e abri a porta lentamente, um cheiro fraco de mofo invadira minhas narinas e me dera coceira no nariz. Dei um espirro mas continuei. 

Em cima da cama, ainda haviam algumas roupas deles espalhadas, me lembrei que minha mãe pedira pra eu guardar para ela antes de ir na viagem. 

-Desculpe mãe. - falei baixinho - Não deu tempo de guardar nada. Algumas coisas loucas ocorreram sabe?

Me sentei na cama deles. Eu sei que era loucura mas eu tinha que falar com eles, nem que fosse só para falar sozinha mesmo. Tomei uma certa coragem.

-Desde que tudo ocorreu, minha vida tem sido uma loucura. - falei e lágrimas vieram aos meus olhos - Sem vocês eu não sei mesmo o que fazer. Vocês são minha base, minha vida, sem uma base os prédios caem sabia? Não quero cair mas sem os dois, sinto como se fosse cair a todo momento. Tenho tentado ser forte, juro, mas não sei mesmo como. 

Suspirei e deixei que algumas lágrimas caíssem. Imaginei o que minha mãe diria nesse momento. Ela se sentaria ao meu lado na cama e colocaria as mãos no meu rosto me forçando a olhá-la nos olhos, ela sempre fazia isso. Depois diria : "Sabe querida, as rochas nem sempre conseguem se sustentar por longos períodos, então caem no mar, mas quando caem sempre encontram outra maneira de se sustentar. Você é forte, e por mais que caia, sei que vai encontrar um jeito de ser forte de novo."

Sorri com a imagem que essa cena formou na minha cabeça, quase pude sentir suas mãos quentes no meu rosto. 

Abri os olhos e me levantei indo em direção ao guarda-roupas. O abri com cautela e peguei a roupa de bailarina que estava pendurada. 

**

Depois de meia hora arrumando uma maquiagem na minha cara, eu finalmente estava pronta. Olhei no espelho e gostei do que vi. Não tive coragem de rasgar minha roupa mas fiz alguns machucados e anexei no meu tórax, ficou parecendo que estava rasgada. 

-Legal. - Elli falou - Como fez essa maquiagem?

-Usando esmaltes, algodão mas pode ser guardanapo também, maquiagem preta e roxa e tinta vermelha.

-Me ensina?

-Claro! - puxei a cadeira para ela - Senta aí. Primeiro você passa passa base de esmalte no rosto e cola o algodão por cima, aí passa tinha vermelha e depois passa base de novo pra ficar brilhando, aí você dá um toque com a maquiagem preta e roxa pra parecer hematomas. 

-Só? - ela franziu a testa.

-Só. - eu ri - Mas enquanto eu vou calçando a sapatilha, deixa sua cara branca pra parecer um cadáver, sei lá , talvez verde ou azul. Se vira. 

-Ok. - ela riu.

Me sentei na cama calçando as sapatilhas de ponta, percebi o quanto sentira falta de dançar balé. As sapatilhas ainda serviam perfeitamente. Balancei a cabeça, as lembranças as vezes doíam um pouco. 

-Então.  - Elli falou - Me ajuda a terminar aqui? Daqui a pouco a festa começa e nada.