Saí da casa de Blame e fui andando em direção a minha. Ele me ofereceu carona, mas eu queria ir andando sob o céu estrelado, queria sentir o vento da noite bater em meu rosto. Queria pensar sobre tudo, sobre o fato de gostar de um cara autista. Sei que não podia simplesmente deixá-lo, claro que não é um problema fácil, mas não queria ser covarde como o pai dele fora.

Senti meu celular vibrar no bolso da saia e o peguei. Para o meu espanto era Hemmy.

-Oi. - falei ao atender.

-Minha mãe quer saber onde você está. - ela disse.

-Indo para casa.

-Então você poderia só vir mais rápido, queremos que nos ajude a achar o Brandom.

-Como assim? Cadê ele?

Ela bufou e desligou o telefone. Peguei um táxi para chegar em casa mais rápido. Ao chegar, desci do carro e paguei o taxista. Entrei depressa em casa e encontrei meus tios sentados no sofá e Hemmy em pé, escorada na parede da sala.

-O que aconteceu? - perguntei.

-Ele não vem pra casa desde ontem a noite, achamos que você soubesse de algo. - Hemmy falou meio seca.

-Eu não sei, e se procurássemos algo no quarto dele? Não sei.

-Ótima ideia Page. - minha tia disse se levantando e subindo as escadas correndo.

Fomos atrás dela e começamos a procurar no meio do bagunçado quarto do Brandom. 

Ao mexer nas cobertas dele, encontrei um folheto que dizia "Rave do Jass" eu ri, e parte era engraçado, pois era um nome ridículo para se dar a uma rave. 

-Achei isto. - levantei o folheto e meus tios pegaram. 

-Aquele idiota. - Hemmy falou ao ler o folheto. 

-Hemmy, eu e você podemos ir atrás dele. - falei e ela concordou. 

-Mãe, você podia nos emprestar o carro, não é? 

-Ta, mas vão logo.

Tia Becky me entregou as chaves do carro e nós fomos para o endereço indicado no panfleto.

Paramos em frente a uma casa que estava com todas as luzes apagadas e alguns neons acesos lá dentro. As janelas estavam quase cuspindo pessoas para fora de tão cheia. Apesar de ser uma casa enorme, acho que já tinha esgotado a lotação. 

-Será que os vizinhos não reclamam? -falei.

-Jass mora num bairro universitário. 

-Entendi. 

Nós descemos do carro e entramos na casa. Um casa sem camisa e com o corpo pintado com tintas que brilham no escuro se aproximou.

-Boa noite moças, sou o porteiro da festa. - abafei o riso  - Estendam o braço. - nós o fizemos e ele carimbou nossos pulsos, no carimbo havia uma carinha feliz, mas quando você o mirava numa luz neon, a carinha ficava estranha, como se estivesse...doida ou drogada - Vocês tem que entrar com isso também. - ele colocou colares de chupetas que brilham quando se aperta um botãozinho, típico de raves - Bem vindas. Ah, e peguem balas no bar. - ele piscou para mim e eu entendi o que quis dizer.

-Balas? - Hemmy sussurrou enquanto estrávamos mais.

-Quer dizer êxtase, LSD, essas drogas de festas. 

-Ah. - ela parecia pouco familiarizada com tudo isso.

-Vamos procurar o Brandom. - falei e ela assentiu.

Eu nunca havia entrado em uma rave antes, mas tudo o que via eram adolescentes sofrendo efeitos de duas noites e uma tarde seguidas de bebidas e drogas. Talvez não tivesse sido uma boa ideia levar a Hemmy comigo, ela só tinha quinze anos e começava a se assustar. 

Avistei Jass e Vini num canto da casa, eles estavam bebendo e tentando beijar duas pobres coitadas. 

-Jass. - gritei por causa da música.

-Oi! Sabia que viria. - ele tentou me abraçar mas eu o empurrei.

-Onde está o Bran?

-Não sei, acho que está vomitando no jardim. 

Revirei os olhos e puxei Hemmy pela mão. Fomos para o jardim atrás da casa e lá estava Brandom, numa espreguiçadeira na beira da piscina. Fui até ele.

-Seus pais estão preocupados. - falei.

-O que a Hemmy faz aqui? - ele se levantou assustado. 

-Viemos atrás de você seu irresponsável. Podia ter avisado. 

-Foi mal. - ele passou a mão nos cabelos - Tem duas horas que eu estou passando mal, e que não bebo também. 

-Ótimo, então vamos embora. - falei fazendo com que se levantasse.

-Legal, mas não fala pra minha mãe que tinha drogas aqui, ok?

-Ta bom, vamos logo idiota. - sorri para ele o deixando menos tenso.