O telefone tocava desesperadamente fazendo-me perder a concentração no filme que eu estava vendo. Me levantei com dificuldade e desci as escadas devagar, não tinha muita pressa para atender. Era trabalho da minha mãe atender o telefone fixo, mas meus pais estavam viajando. 

-Alô. - falei meio desanimada ao atender - Sim, é a Page Watson. Polícia? Olha, não sei o que querem mas realmente deve ser engano. Meus pais? Tudo bem estou indo para a delegacia. 

Meu coração estava disparado. Peguei minha bolsa azul e tranquei a casa correndo, voei para o meu carro e toquei em direção à delegacia. 

**

Muitas pessoas se encontravam na porta. Eu não entendia, mas mesmo assim entrei.

-Querida! - me assustei quando a tia Becky me abraçou em prantos.

-Tia, o que aconteceu? - perguntei temendo a resposta.

-Os policiais te contarão tudo. - ela falou.

Me sentei no banco ao lado de Hemy, minha prima, filha da tia Becky. Ela estava meio cabisbaixa. O que estava acontecendo? Por quê não me falavam logo? Que droga.

-Page Watson. - ouvi um cara atraente e forte, parecia ser um policial, chamar. Fui até ele.

-Sim? - falei e ele fez sinal para que eu o acompanhasse.

Entramos em uma sala marrom onde havia uma mesa. Tinha um homem velho e pensativo sentado. Na frente dele eu vi uma plaquinha que dizia "Delegado Moore".

-Sente-se Page. - ele falou.

-O que está acontecendo? - falei - Sério, alguém tem que me explicar, primeiro me ligam e dizem que é sobre meus pais e ninguém diz nada. Eles foram presos ou alguma coisa assim?

-Senhorita Watson, - o delegado começou - houve um acidente, seus pais estão mortos. 

Precisei de um tempo para digerir o comunicado. Não era verdade, sei que não. 

-É brincadeira, certo? - falei.

-Não se brinca com uma coisa dessas senhorita Watson. - ele se ajeitou na cadeira de couro - Eles estavam em uma viajem de trabalho, nas ilhas galápagos certo? - eu assenti - Ambos são geólogos e estava fazendo pesquisas lá. Estavam se dirigindo a uma das ilhas quando naufragaram. Dez outros pesquisadores morreram também. 

Eu não disse nada, apenas me levantei e ia sair da sala mas o delegado disse que ainda não havia terminado, mas não me sentei de novo, apenas fiquei parada na porta olhando para ele.

-Você terá que morar com seus tios, Becky e Nick. Sinto muito por sua perda querida. 

Assim que ele terminou, virei as costas e saí da sala. Eu ainda não havia engolido aquilo, meus pais mortos. Parecia um daqueles sonhos, pesadelos na verdade, em que você está caindo de um abismo ou não consegue gritar ou pedir por ajuda. 

Avistei minha tia Becky e meu tio Nick, ambos vieram na minha direção e eu rapidamente abracei minha tia. Aquilo não podia estar acontecendo. Morar com os meus tios? Seria estranho, e ruim. Eu precisava dos meus pais de volta.

Meus tios moravam em outra cidade, o que significava largar Elli, minha melhor amiga, largar a escola e largar todos os meu lugares preferidos. Largar minha casa. 

Eu não podia me mudar assim, de uma hora para outra. Eu ainda me envolvia em um abraço forte com a tia Becky quando ela apertou meus ombros.

-Não precisa ir hoje com a gente, - ela falou - pode ficar aqui mais uma semana, depois a gente te busca. 

Eu não disse nada, apenas assenti e disse que queria ir para casa. Precisava me deitar e não sair da cama tipo, nunca mais.