Desejo Atendido escrita por gabelost


Capítulo 1
Capítulo Único




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 "Eu cair fora daqui. Rolando se for preciso"

Ino estava na paranóia com seu peso desde de que seu vestido de baile de primavera não fechou o zíper. E ela pode ser totalmente irritante quando coloca uma coisa na cabeça. O que ela queria? Qualquer milímetro a mais impediria um zíper de se fechar naquele vestido apertado. E quando eu digo apertado, eu digo como tecido molhado costurado diretamente no corpo. Mas essa é a minha amiga Ino, linda e insatisfeita. Bom, pelo menos ela tinha a certeza com quem ela ia ao baile.

  

Eu bufei. Eu tinha um plano e um vestido idiota não ia me fazer desistir. Essa era a razão para estarmos aqui. O baile estava chegando e eu não ia ser a que vai ficar em casa choramingando sozinha. Não mais a frágil testuda chorona. Principalmente porque o meu garoto só precisava de um pouco de coragem para me convidar. Bem, mais que um pouco talvez. Isso vai ser problemático.

 

 
"Foi idéia nossa idéia isso, Ino." Com muita enfase no 'nossa'.

  

"Não, Testuda, a idéia foi sua,” ela disse em voz alta demais. "Eu vou com o Sai mesmo que eu esmague ele até a morte. É você que está esperando um milagre."

 

"Ino!" Eu gritei. Shikamaru ficou vermelho. Eu tenho vontade de matar essa porquinha as vezes.

  

 "Ai!" ela gritou de volta porque eu tinha batido com força nela. As vezes eu não tenho noção da minha força. Não é difícil perder a noção com a Ino.

  

 "Você quer que ele te convide, não quer?" Ela disse passando a mão no braço.

  

 "Isso é problemático" Shikamaru disse. Ele estava fazendo aquela cara adorável que ele faz quando está nervoso. Isso fazia ele parecer tão vulnerável.

  

Shikamaru era o cara por quem eu comecei a suspirar sem saber. De repente eu me peguei pensando nele, reagindo a ele. Eu não queria dar um nome ao meu sentimento mas eu podia dizer que ele era o meu garoto. Como ele mesmo costuma dizer, isso era problemático. Seu estilo inabalável e preguiçoso me irritava profundamente. Eu era só a ninja médica nas missões que fazíamos juntos. E eu era a amiga fora delas. Amiga. Mas eu sentia que existia alguma coisa. Ilusão? Talvez. Mas algo na falta de jeito dele comigo me fazia ter esperanças.

  

Ele era famoso por sua análises perfeitas em situações inóspitas. Mas será que o Sr. Eu-sei-de-tudo-Nara não conseguia ver que eu já era dele? Não. É claro que não. O trabalho era todo meu.

  

 Ele quase me convidou um dia desses. Eu tinha certeza. Ou quase. Nós estávamos no Ichiraku com Kakashi-sensei que estava contando eloquentemente – ah os milagres do saquê - sobre uma romance que acabara de ler. Totalmente alheio a realidade eu e Shikamaru estávamos tecnicamente sozinhos.

  

 "Sakura?" Shikamaru tinha dito. Claramente nervoso. "Posso te perguntar uma coisa?"

  

 Qualquer idiota saberia o que ia acontecer. Toda a felicidade estava apenas esperando palavras serem ditas.

  

Mas eu me chamo Sakura Haruno. E as coisas não são fáceis pra mim. Como um espasmo alérgico ao nervosismo dele, eu não deixei as coisas acontecerem e abri minha pragmática boca grande.

  

 "Isso sim!" eu disse, concordando com Kakashi.

  

 Este, evidentemente bêbado, estava gesticulando teatralmente a cena romântica de seu livro indecente. Segundo ele, o herói da história ignorava seus dolorosos ferimentos para salvar a sua amada do perigo. Quando ele a tomou em seus braços, sorriu e fez piada de sua situação numa tentativa inútil de despreocupar sua donzela. Típico.

  

 Eu simplesmente amo grandes atos de amor."

  

 Shikamaru fez uma careta. Virou-se pra Kakashi como um coelhinho assustado, pensando, eu imaginei, que ele nunca poderia se fazer uma coisa dessas. Não ele, o cara que gosta de olhar as nuvens.

  

 Sim. Eu tinha sabotado a meu baile com minha própria burrice emocional. É obvio que não ligava para grandes gestos de amor, eu só ligava pro Shikamaru. Na verdade mesmo, eu era uma covarde maior do que ele. Alguem me jogue um pedra.

  

Toda essa situação era o porquê nós estarmos ali na Sra. Harumi. Madame Harumi como ela gostava de se chamar. Ela era conhecida por ler o futuro e sempre montava um espécie de tenta nos festivais de primavera. Não estávamos num festival e sim em seu consultório, se é que posso chamar assim.

  

 Ela nos contaria o nosso futuro, e a não ser que ela fosse uma completa golpista, ela iria dizer o óbvio: Shikamaru e eu íamos ao baile. Ouvir isso ser dito de uma desconhecida iria dar a Shikamaru, eu supus, a coragem para me convidar novamente. E dessa vez eu seria inteligente o suficiente para ficar quieta e apenas concordar. Mesmo que eu estivesse explodindo por dentro.

  

 A porta se abriu e vimos Madame Harumi na entrada do escritório.

  

 "Vocês vão entrar ou não?" ela perguntou para nós três.

 

 Eu puxei Ino comigo. Shikamaru nos seguiu. Madame Harumi nos conduziu até o escritório e sentamos desconfortavelmente em um sofá esquisito.

 

 "Qual é o negócio de vocês?" Sra. Harumi disse, se sentando atrás de uma mesa. Ela deu uma baforada em seu cigarro.

 

 Eu e minha boca somos uma boa dupla. "Bem, você é uma vidente, certo?"

 

 Madame Harumi exalou uma nuvem de fumaça. "Bingo, Sherlock!"

 

 Ela tinha um problema com aberturas de conversa? De qualquer jeito, se ela fosse mesmo uma vidente, ela já não deveria saber porque eu estava ali?

 

 "Desembucha." Ela resmungou.

 

 Eu respirei fundo. "Bem...eu estava me perguntando se uma certa pessoa ia me fazer me convidar pra um dia especial."

 

 Madame Harumi colocou dois dedos em sua testa e deixou seus olhos ficarem vagos.


"Hmn, é confuso. Há paixão, sim. Mas tem algo... Como eu posso dizer? Fatores complicantes."

 

 Que perspicaz, eu pensei ironicamente.

 

 "Mas ele... Quero dizer, a pessoa vai ser motivada por sua paixão?" Eu era irritante, admito, apesar do embrulho no estômago.

 

 "Agir ou não agir...essa é a questão?" Madame Harumi disse.

 

 "Sim, essa é a questão."

 

 Ah. Essa é sempre a questão."

 

 Seus olhos fixaram-se em Shikamaru, e ela empalideceu.

 

 "O quê?" eu exigi, percebendo sua expressão.

 

 "Nada."

 

 A performance dela não estava me enganando. Na verdade a ira estava tomando conta de mim. Com um longo e sacolejante trago no cigarro ela virou com um olhar morto para mim.

 

 "É isso aí. É pegar ou largar mocinha. E você, o que quer saber?”

 

 Shikamaru alegou que não tinha uma pergunta específica, mas Madame Harumi estava insistente em transmitir uma mensagem para ele de qualquer maneira. Ela o alertou com severidade sobre alturas. O que foi mais curioso foi a reação de Shikamaru. Primeiro as sobrancelhas dele subiram, e então uma indiferença característica tomou conta, como quem esta tentando esconder algo. Ele olhou para mim e corou.

 

 "O que foi?" eu perguntei.

 

 "O que foi o que?" ele disse.

 

 "O que você não está me contando, Shikamaru Nara?"

 

 "Nada. Não seja complicada"

 

"Não seja estúpido, garoto!" Madame Harumi bateu na mesa. "Escute o que eu estou dizendo."


"É a vez da Ino," Shikamaru mudou habilmente de assunto "Vai lá, Ino."

 

 Madame Harumi bufou. "Você será tão bonita o quanto se permitir ser" ela disse. Essas eram as pérolas de sabedoria dela. Até o Naruto se sairia melhor. Nesse instante eu notei algumas coisas estranhas nas prateleiras dela.

 

 O que é isso?" eu apontei para uma moita de alguma coisa seca na prateleira mais alta.

 

 
Madame Harumi seguiu meu olhar e abriu a boca quando viu meu objeto de interesse.

 

 "Isso não é nada" ela disse firmemente, apesar de eu ter notado que ela estava tendo dificuldade em tirar seus olhos daquilo. "Acabamos?"

 

 "Me diga o que é, por favor." Eu juntei minhas mãos como numa oração, suplicando.

 

 


"Você não quer saber," ela disse.

 

 "Eu quero," eu disse.

 

 "Eu não quero," Ino disse.

 "Sim, ela quer," eu disse. "E Shikamaru também. Certo, Shikamaru? Por favor?" eu implorei.

Ela resmungou num sussurro algo sobre adolescentes idiotas. Então ela se levantou, tocando na prateleira do topo. Ela retirou a moita e a colocou na nossa frente.

 "Flores secas?" Botões de rosa delicados, as pontas marrom e lembrando papel. Raminhos acinzentados e ressecados Uma fraca fita vermelha segurava tudo junto.


"Uma camponesa na no País da Areia colocou um feitiço nele," Madame Harumi disse como se ela estivesse sendo forçada a falar as palavras, mesmo que ela não quisesse.

 

 

 "Ela queria mostrar que o amor verdadeiro é guiado pelo destino, e que qualquer um que tentar interferir o faz correndo riscos." Ela se moveu para devolver o ramo de flores.

 "Espera!" eu gritei. "Como isso funciona? O que ele faz?"

 "Esqueça" ela disse teimosamente.

"Quantos anos você tem, quatro?" eu já estava cansada desse lugar.

 "Sakura!" Ino disse.

 "Você é como todas as garotas, não é?" Madame Harumi disse para mim. "Disposta a fazer de tudo por um namorado? Desesperada por um romance de parar o coração, não importando o preço?"

 Eu senti meu rosto queimar. Eu ia socar aquela charlatona. Mas aqui estava, jogado na mesa. Namorados. Romance.

 "Conte logo a ela," Ino disse, "ou nós nunca poderemos ir embora."

 Madame Harumi acenou a cabeça negativamente.

 "Ela inventou tudo," eu disse. Meus punhos estavam fechados, os ossos quase rasgando a pele das juntas.

 Eu tinha provocado ela, o que não era legal, mas sua expressão de severidade me disse que o que ela não tinha inventado. Mas eu realmente queria saber e não ia desistir. Eu aprendi com o melhor a nunca desistir.


"Três pessoas, três pedidos" Madame Harumi declarou. "Isso é magia."

 Ino, Shikamaru, e eu olhamos um para o outro, e então explodimos em risadas. Era ridículo. O jeito que Madame Harumi nos encarado fez as nossas risadas dispararem. O jeito com ela encarava Shikamaru, especialmente.

 "Então por que você não usa?" Shikamaru perguntou.

 "Eu usei," ela disse. A cara dela era péssima.

 "E os seus três pedidos foram concedidos?" eu perguntei.

 "Até o último deles," ela disse categoricamente. Nenhum de nós sabia o que dizer daquilo.

 "Mais alguém usou ele?" Ino perguntou.

 "Uma mulher. Eu não sei quais foram os dois primeiros pedidos dela, mas o último foi o de morrer. Foi assim que ele chegou à mim." Ela disse se referindo as flores. Nós ficamos sentados lá, silenciados pela tolice.

"Problemático" Shikamaru disse.

 "Bem... e por que você guarda ele?" eu perguntei. "Se você já gastou os seus três desejos?"


"Ótima pergunta," Madame Harumi encarou o ramo de flores por alguns segundos intensos. Ela puxou um isqueiro turquesa de seu bolso e acendeu o fogo. Ela pegou o ramo de flores com determinação, como se sua ação estivesse longamente atrasada.

"Não," eu gritei, apanhando ele da mão dela. "Eu vou ficar com ele!"


"Não. Não vai. Ele deve ser queimado. Você está cometendo um erro" Madame Harumi alertou. Ela se esticou para pega-lo, e então desistiu, abaixando sua mão. Seu rosto era sério, como uma mãe quando alerta um filho. Eu senti como se o ramo de flores tivesse um poder real sobre mim. O que era ridículo, é claro.

 "Não é tarde demais para mudar o seu destino," ela balbuciou.

 "Que destino seria esse?" eu disse.

 "Você é uma criança rude e desrespeitosa. Fique com ele, a decisão é sua. Eu não me responsabilizo pelo que acontecer." Ela se reclinou em sua cadeira rotatória.

 "Como se usa ele?" eu perguntei. Ela olhou pra mim incrédula.

 "Se você não me contar, eu vou fazer tudo errado. Eu vou provavelmente destruir o negócio todo." eu ameacei, mas na verdade eu estava implorando de novo.

 "Sakura, deixa pra lá," Shikamaru disse muito sério. Por um segundo eu me perdi no seu rosto. Eu balancei a cabeça. Eu não podia.

 "Você segura com a mão direita e fala o seu pedido em voz alta," ela disse. "Mas eu estou te dizendo, nada bom virá disso."

 A respiração de Madame Harumi era irregular. Ela podia ter decidido não se envolver comigo, mas o medo dela, quando eu levantei os botões de rosa secos, não tinha sido planejado.
Eu coloquei o ramo de flores na minha bolsa. E quando eu puxei a minha carteira, eu paguei à Madame Harumi o dobro da quantia que ela tinha especificado. Na verdade eu só joguei as notas na mesa dela.

 Nós fomos para a minha casa para comer, porque esse era o nosso ritual das noites de sexta, quando não estávamos em missão. Nós preferíamos a nossa própria companhia, com as ocasionais aparições de Sai, o namorado da Ino. Sai, porém, achava que eu e Shikamaru éramos estranhos. Quem diria, Sai o Sr. Não-tenho-emoção me achando estranha.

 Eu estava feliz de chegar em casa. Eu fui acendendo todas as luzes enquanto Ino procurava algo na geladeira.


"Garotas entregues. Vou indo. Eu tenho uma missão." Shikamaru disse.

 "Você está partindo pra uma missão? Sozinho?" Ino disse.

 "Tem uma coisa que eu preciso fazer," ele disse.

 Meu coração apertou. Ele tinha que fica, só por mais um pouco. Em um movimento rápido eu voltei para a cozinha e puxei o ramo de flores da bolsa.

 "Pelo menos espere até eu ter feito o meu pedido," eu disse.

 Ele parecia entretido. "Tudo bem, faça o pedido."

 Eu hesitei. A sala era quente e aconchegante, e eu tinha os dois melhores amigos do mundo. O que mais eu sinceramente queria?

 O baile, é claro. Eu queria que Shikamaru me convidasse pro baile. Talvez fosse egoísmo ter tanto e ainda querer mais, mas eu empurrei aquela linha de raciocínio pra longe.

Porque olhe para ele, eu pensei. Aqueles bondosos olhos castanhos, aquele sorriso torto.

Eu não dessa vez. Ninguém vai embora dessa vez. Eu já tinha aprendido a minha lição.

Eu levantei o ramo de flores.

"Eu desejo que o garoto que eu gosto me leve ao baile," eu disse.

 "E que garoto não gostaria de levar a espetacular Sakura ao baile? Agora nós só temos que esperar e ver, não é? Se o desejo dela irá se realizar ou -" Shikamaru gritou. Ele estava eufórico demais.

 Ino cortou ele. "Sakura? Você está bem?"

 "Se moveu," eu disse, me encolhendo de medo do ramo de flores, o qual eu tinha arremessado no chão. "Eu juro que se moveu quando eu fiz o pedido. E esse cheiro! Você está sentindo?"

"Nãoooo," ela disse. "Que cheiro?"

 "Você está sentindo isso, Shikamaru. Não está?"

 Ele deu risada, ainda ligado em qualquer barato que ele estava desde que a Madame Harumi o havia alertado dos perigos das alturas. O barulho na janela havia denunciado uma chuva forte começando.

 "Agora você vai botar a culpa da tempestade nas fadas más do desejo, não vai?" ele disse. "Ou, não! Você vai ir dormir hoje, e amanhã você vai nos contar que encontrou uma criatura à espreita na sua manta, sorrindo um sorriso deformado"

 "Flores podres," eu disse. "Você não está mesmo sentindo? Você não está brincando comigo?"

 "Sakura?" Shikamaru abriu a porta de casa.

 "O quê?" Outro barulho da tempestade sacudiu a casa.

 "Não perca a esperança," ele disse por cima dos ombros. "Boas coisas acontecem com aqueles que esperam."


 Eu assisti pela janela enquanto ele ia embora. A chuva estava caindo pelo terreno. Então eu me virei para Ino.

 "Você ouviu o que ele disse?" eu agarrei as mãos dela. "Você acha que isso significa o que eu acho que significa?"

 "O que mais poderia ser testuda?" Ino revirou os olhos. "Ele vai te convidar pro baile! Ele só está...eu não sei. Tentando fazer uma grande surpresa! Eu acho..."

 "O que você acha que ele vai fazer?"

 "Não sei! Contratar alguém pra escrever uma mensagem no céu?”

 Eu gritei. Ela gritou. Nós pulamos em um frenesi. Depois de tantas missões perigosas, tantas vezes a vida posta em perigo, agíamos como fangirls retardadas.

 "Tenho que te dar os parabéns, o negócio do pedido foi brilhante," ela disse. Ela deu um peteleco com o dedo para indicar ter dado o empurrão que o Shikamaru precisava. "E as flores apodrecidas? Bem dramático. Você é uma ótima atriz"

"Eu realmente senti o cheiro" eu disse.

 "Há há."

 "Eu senti."

 Ela olhou pra mim , divertida. Eu não tinha achado a graça. Então ela olhou pra mim de novo.

 "Deve ter sido a sua imaginação," ela disse.

 "Acho que sim," eu disse.

 Eu peguei o ramo de flores do chão e levei e o joguei atrás na estante perto de uma fileira de livros, feliz de te-lo fora de vista.


Na manhã seguinte eu cambaleei para a cozinha, esperando encontrar alguma coisa. Meu nome pintado no rosto dos Hokages? Flores por toda a parte?

Ao invés disso, eu achei um pássaro morto. Estava deitado no tapete da entrada, como se ele tivesse voado pra porta e batido sua cabeça durante a tempestade. Talvez minha enorme testa seja um imã de problemas.

Eu o estudei com chakra mas não havia nada a ser feito. O levantei para um jardim do lado de fora.

"Eu sinto muito, passarinho, tão lindo e doce," eu disse. "Voe para o céu." Eu enterrei o cadáver e a porta de casa bateu num estrondo.

Eu retornei para dentro e assim que eu fechei a porta atrás de mim, ouvi a Ino me chamar. Tão cedo? Provavelmente querendo uma fofoca.

 "Oi porquinha," eu disse, . "Nenhuma notícia ainda, desculpa."

 "Sakura..." Ino disse.

 "Eu estive pensando na Madame Harumi. Toda a bobagem dela de 'não mexa com o destino.'"

 "Sakura.”

 "Por que como o Shikamaru me convidar ao baile pode ser ruim?" eu caminhei até a geladeira e peguei a caixa de leite. "O beijo dele vai me enlouquecer? Ele vai me trazer flores, e uma abelha vai disparar para fora e me picar?"

 "Sakura, para. Você não recebeu a mensagem?"

 "Acho que não."

 Ino fez um som como que engolindo em seco.

 "Ino, você está chorando?"

 "Noite passada...Shikamaru escalou a torre de água" ela disse.

 "O quê?!" A torre de água tinha facilmente mais que 90 metros, com uma placa na parte inferior que proibia qualquer um de subir.

 "E a grade devia estar molhada...ou talvez tenha sido o relâmpago, eles não sabem ainda..."

 "Ino. O que aconteceu?"

 "Ele estava pichando alguma coisa na torre, o idiota estúpido, e -"

 "Pichando? O Shikamaru?"

 "Sakura, dá pra você calar a boca? Ele caiu! Ele caiu da torre de água!"

 Eu agarrei os ombros dela. “Ele está bem?"

 Ino não conseguia falar por causa do choro. Que eu entendia, claro. Shikamaru era amigo dela, também. Mas eu precisava que ela se acalmasse.

 "Ele está no hospital? Ino!"

 Apesar de eu ter ido até a geladeira, Ino ainda estava na porta de casa e a porta ainda estava aberta. Entre os soluços de Ino, o pai da Ino entrou na minha casa. A Sr. Yamanaka assumiu o controle ao passar pela minha porta.

 "Shikamaru morreu, Sakura," ela disse. "O jeito como ele caiu... Ele não sobreviveu."

 "O quê?"

 Você vai ficar em casa, certo? Pelo tempo quiser."

 "Não," eu disse. A caixa de leite caiu da minha mão. "Shikamaru não morreu. Shikamaru não poderia ter morrido."

 "Sakura," ele disse, sua voz estava infinitamente triste.

 "Por favor não diga isso," eu disse. "Por favor não pareça tão..." Eu não entendia como fazer a minha mente funcionar.

 "Eu sei que você o amava. Todos nós amávamos."

 "Espera" eu disse. "Pichar? Shikamaru não picha. Isso é algo que algum baderneiro faria, não o Shikamaru."


"Vamos levar você pra casa. Nós conversaremos então."

 "Mas o que ele estava pichando? Eu não entendo!"

 Inouchi não respondeu.

 "Deixe eu falar com a Ino Sr. Yamanaka" eu implorei.

 "Eu vou te dizer," ela disse. "Mas você não quer saber." Ino disse entre os soluços se afastando do afago do pai.

 Um pressentimento gelado se espalhou sobre mim, e de repente, eu não queria saber.

"Ele estava pichando uma mensagem. Era isso que ele estava fazendo lá em cima." Ela hesitou. "Dizia, 'Sakura, você quer ir ao baile comigo'?"

 Eu afundei no chão, perto do leite derramado. Por que tinha leite no chão da cozinha?

 "Sakura?" Ino disse. "Sakura, você está aí?"

 


Entorpecida, os dias se passaram. Eu assisti a cerimonia do funeral, que tinha apenas um retrato em cima de uma pedra. Eu queria dizer adeus, mas como se diz adeus para uma pedra? O horror parecia distante e irreal. Ino apertou a minha mão. Eu não apertei de volta.

Choveu naquela noite, um chuva gentil de primavera.

Eu fiquei com Ino por quase duas semanas. Kakashi também ficou de olho em mim. Que bem isso faria? A presença de Kakashi não traria Shikamaru de volta.

 Em Konoha, nos primeiros dias, todos falavam abafados e me encaravam quando eu passava. Alguns pensavam que era romântico, o que ele tinha feito. Outros achavam que era estúpido. 'Uma tragédia' era a frase mais usada.

 Quanto a mim, eu assombrava a vila como uma alma perdida. Mas meu sofrimento era só meu, ecoando pra sempre dentro de mim. Cenas se repetiam na minha mente, primeiro Sasuke, eternamente foragido. Depois Naruto eternamente em busca do impossível. Mais um pessoa ia embora da minha vida levando um pedaço de mim. Não sobrou nada. Só a dor. Quando a dor é forte demais pra suportar, não temos mais medo, pois não temos mais nada a perder.

 Uma semana depois da morte do Shikamaru, e exatamente uma semana antes do baile, os chuninnis começaram a falar menos sobre ele e mais sobre vestidos...

 

Duas horas antes da hora de Sai buscar Ino para o baile, eu joguei as minhas coisas na minha mochila e disse a ela que eu estava indo pra casa.

"O quê?" ela disse. "Não!"

A maquiagem dela descansava à sua frente na penteadeira e o vestido dela estava pendurado no gancho da porta aberta do banheiro. Era lilás, com um decote coração. Era maravilhoso.

"Está na hora," eu disse. "Obrigada por ter me deixado ficar por tanto tempo... Mas está na hora."

A boca dela se virou pra baixo. Ela queria discutir, mas ela sabia que era verdade. Eu não estava feliz aqui. Esse não era o ponto já que eu não iria ser feliz em lugar algum, mas ficar me movendo lentamente e sem propósito pela casa dos Yamanaka estava me fazendo sentir aprisionada e fazendo a Ino se sentir impotente e culpada.

"Mas é o baile," Ino disse. "Não vai ser estranho, ficar sozinha na sua casa?" Ela veio até mim. "Fique até amanhã. Eu prometo não ficar falando sem parar sobre...você sabe. O pós-festa e quem ficou com quem e quem."

"Você deveria falar sem parar sobre essas coisas," eu disse. "Você deveria ficar fora até quando quiser e voltar fazendo o barulho que quiser e ser eufórica e sem noção."

Inesperadamente, meus olhos se encheram de água. "Você deveria, Ino."

Ela tocou o meu braço. Eu me afastei.

"Você também deveria, Sakura," ela disse.

Eu arremessei a minha mochila nos meus ombros.

"E se você mudar de idéia, se você decidir que quer ficar -"

"Obrigada."

"Ou até se você decidir ir ao baile! Todos nós queremos você lá - você sabe disso, certo? Não importa se você não tem um par."

Eu recuei. Ela não quis dizer aquilo como soou, mas certamente importava que eu não tinha um par, porque esse par seria o Shikamaru. E eu não o tinha não porque ele gostava de outra garota ou porque estava sofrendo de um caso terrível de gripe, mas porque ele estava morto. Por minha causa.

"Sakura..."

Eu rejeitei ela. Eu não queria mais nenhum toque. Eu estava cansada daquilo. "Está tudo bem."

"Eu sinto a falta dele, também, sabe," ela disse. Eu concordei. Então eu fui embora.
Eu retornei para a minha casa vazia para descobrir que não tinha energia elétrica. Perfeito. “Os fantasmas vieram para estragar o seu leite," Shikamaru diria em uma voz fantasmagórica

Shikamaru.

Minha garganta apertou.

Eu tentei não pensar nele, mas era impossível, então eu o deixei existir comigo na minha mente. Eu fiz um sanduíche para mim mesma, mas não comi. Eu fui pra o quarto e deitei na minha cama sem tirar as cobertas.

No escuro, meus pensamentos foram à lugares que não deveriam. Madame Harumi. 'Desesperada por um romance de parar o coração?'

Foi aquele mesmo desespero que deu luz ao meu plano estúpido e meu ainda mais estúpido pedido. Foi o que incitou o Shikamaru a agir. Se ao menos eu nunca tivesse pego aquele maldito ramo de flores!

O ramo de flores.

Foi quando eu pensei num estalo. Eu posso traze-lo de volta. Tudo vai ser bom novamente. Nós podemos até mesmo ir para o baile!

Eu cheguei a sala e me aproximei da estante de livros aonde eu tinha deixado o ramo de flores.

Eu ia fazer meu segundo pedido. Eu arranquei o ramo de flores de detrás dos livros. Uma voz dentro de mim gritou. Ele caiu de mais de 90 metros! Ele está morto a treze dias!

Se a Ino estivesse no meu lugar, honestamente, ela estaríamos mesmo tendo essa dúvida?

Eu atrai as flores para o meu rosto, tocando levemente as pétalas com os meus lábios, depois ergui o ramo de flores para cima.

"Eu desejo que Shikamaru esteja vivo novamente!" eu gritei de forma exultante.

 O fedor de desintegração engrossou o ar. O ramo de flores se enrolou, como se as pétalas estivessem se encolhendo malignamente. Eu o arremessei pra longe. Mas que seja. O ramo de flores não era importante. O que era importante era o Shikamaru. Aonde ele estava?


Eu olhei ao redor, esperando ridiculamente que ele estivesse sentado no sofá, olhando pra mim tipo 'Problemático'

O sofá estava vazio. Eu me lancei à janela e esperei. Nada. Somente o vento, sacudindo as folhas nas árvores.

"Shikamaru?" eu disse.

De novo nada. Um poço enorme de decepção se abriu dentro de mim, e eu me afundei no sofá.

Sakura estúpida. Estúpida, idiota, patética. O tempo passou. As cigarras gorjeavam.
Cigarras estúpidas.

E então, tão fraco, um baque. E então outro. Eu endireitei as minhas costas.

Cascalhos estalaram na rua ou talvez mais perto. Os baques ficaram mais próximos. Eles eram forçados e com a estranha excentricidade de um manco, ou de algo sendo arrastado.

Eu me estiquei para escutar. Agora era tarde demais. O que eu havia feito?

Eu pulei do sofá e escapei para o hall da sala, salva dos olhos de qualquer um, ou qualquer coisa, que escolhesse espreitar pelas amplas janelas da frente. O que, exatamente, eu tinha trazido de volta à vida?

Uma batida ecoou pela casa. Eu choraminguei, e então rapidamente lancei minha mão sobre a minha boca.

 "Sakura?" uma voz chamou. "Eu estou, uh...ai. Eu estou uma bagunça." Ele riu usando sua risada auto-depreciativa. "Mas eu estou aqui. Isso que importa. Eu estou aqui pra te levar ao baile!"

 "Nós não temos que ir ao baile," eu disse. Essa era eu soando tão estridente? "Quem precisa de baile? Quer dizer, falando sério!"

 "É, claro, isso da garota que mataria pela noite romântica perfeita." A maçaneta se agitou.

 "Você não vai me deixar entrar?"

 Eu hiperventilei. Houve uma seqüência de algo caindo, como morangos maduros demais sendo jogados no lixo, e então, "Ah, cara. Isso não foi bom."

 "Shikamaru?" eu sussurrei.

 "Isso não é nada legal...mas você tem algum removedor de manchas?"

 Puta merda. Puta, puta, puta merda.

 "Você não está nervosa, está?" Shikamaru perguntou. Ele parecia preocupado. "Eu vim o mais rápido que pude. Mas foi tão estranho, Sakura..."

 Minha mente foi parar em caixões sem ar, enterrados no chão. Por favor, não, eu pensei.
"Esquece. Foi estranho - vamos colocar dessa maneira." Ele tentou deixar as coisas mais animadas. "Agora, você vai me deixar entrar não vai?"

 Eu pressionei o meu corpo contra a parede do hall. Meus joelhos entortaram, eu não estava me saindo muito bem no controle de músculos, mas eu me lembrei de que estava a salvo atrás da sólida porta da frente. O que quer que ele fosse, Shikamaru ainda era de carne e osso. Bem, parcialmente. Mas ainda não um fantasma que pudesse se mover através de paredes.

"Shikamaru, você tem que ir," eu disse. "Eu cometi um erro, está bem?"

"Um erro? O que você quer dizer?" A confusão dele partiu o meu coração.

 Eu comecei a chorar. "Nós não somos mais certos um para o outro. Você entende?"

 "Não, eu não entendo. Você queria que eu te convidasse pro baile, então eu te convidei pro baile. E agora sem razão nenhuma...Oh! Entendi!"

 "Entendeu?"

 


Eu deveria continuar com isso? Eu deveria dizer sim para que ele fosse embora?

 

 

"Sakura. Você não tem nada do que se preocupar." Ele riu. “Primeiro: Você é linda; e segundo: comparada a mim, não tem jeito de você não se parecer com... Eu não sei, um anjo caído do céu."

 Ele soava aliviado, como se ele tivesse um sentimento trivial de que algo estava errado, mas não conseguisse dizer o que. Mas agora ele sabia: era a Sakura tendo problemas de auto-estima, só isso!

Eu escutei um arrastamento de pés, e então o bum de uma pequena tampa feita de madeira. Meu corpo ficou tenso, porque eu conhecia aquele bum.
O vaso, droga. Ele se lembrou da chave em baixo do vaso.

 "Eu estou entrando," ele chamou, com uma imensa queda na porta da frente. "Está bem, Sakura? Porque de repente eu estou, tipo, morrendo de vontade de te ver!"

Ele riu, com sua própria ironia. Desde quando ele era um piadista?

 "Isso é problemático"

 Eu escapei para a sala, aonde eu fiquei de quatro e freneticamente dei tapas no chão. Se ao menos não estivesse tão escuro!

A fechadura ficou presa, e Shikamaru balançou a chave. A respiração dele estava coagulada. "Estou chegando, Sakura!" ele chamou. "Eu estou chegando o mais rápido que posso!"

 Meu medo aumentou tanto que eu fui jogada em um alterado estado de realidade. Eu estava arfando e chorando, eu podia me ouvir, e minhas mãos eram antenas cegas, tocando e batendo enquanto eu engatinhava. Com um estrondo, a fechadura se abriu.

 "Isso" Shikamaru vociferou.

 A porta assobiou em cima do gasto tapete no exato instante em que meus dedos se fecharam no ramo de flores em desintegração.

 "Sakura? Por que está tão escuro? E por que você não está -"

 Eu fechei meus olhos e pronunciei meu pedido final.

Todos os sons pararam, salvo pelo farfalhar do vento nas folhas. A porta, continuando sua lenta trajetória, bateu com força contra a ombreira da porta. Eu permaneci aonde eu estava no chão. Eu chorei, porque meu coração estava partindo de novo.

Após vários instantes, as cigarras novamente retomaram seu coro nostálgico. Eu me levantei, tropecei pela sala, e fiquei, tremendo, na entrada aberta.

A chuva continuava suave. Tremendo de medo eu fui cambaleante até a porta.

Nada.

Ninguém.

Será que realmente não havia ninguém? Meu coração se apertou ainda mais quando o cheiro de flores podres de dissipou. Meu ultimo desejo se dissolveu na chuva junto com a minha razão.

Lá fora, na estrada, um raio pálido da luz do luar brilhou, iluminando um pássaro desaparecendo na noite vazia.

 

 


"Você não quer que eu te veja! É isso, não é? Você está nervosa sobre a sua aparência!"

 


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