Me Ensine A Amar De Novo? escrita por Jojo


Capítulo 2
Fantasma!


Notas iniciais do capítulo

boa leitura... ;A;



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Fantasmas são espíritos de pessoas que, na hora da morte, se recusaram a ir com o ceifeiro por algum motivo. O ceifeiro precisa da permissão do espírito para agir, e a resistência é uma ocorrência relativamente incomum.

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Ludwig observava o irmão, paralisado por uma mistura confusa de emoções. Antes de tudo, o medo. Sim, Ludwig sentia um medo gigantesco que foi capaz de pará-lo no seu caminhar e sua mente começou a trabalhar rapidamente.

O medo era, não de exatamente estar presenciando uma aparição de seu irmão mais velho, o qual tinha certeza absoluta que tinha morrido à meses atrás, mas sim de algo muito pior. Um acaso frequente em cidadãos à mercê dos problemas das grandes cidades, e de tantas frustrações e estresses que seriam considerados banais para um homem com sua aparência, ainda mais vestido um terno empresarial.

Sim, não seria muita surpresa se eu, depois de tudo o que passei... pensou o alemão, e sua boca se abria ao que o medo aumentava. Os olhos fixos na figura à sua frente, que simplesmente não desaparecia! Permanecia vívido um pouco à frente de sua estante de livros, uma das poucas coisas que Ludwig trouxe da antiga casa.

Gilbert esperava ansiosamente alguma reação de Ludwig. Estava com uma aparência cansada, de ter andado muito, com a exceção de que sua respiração continuava leve, quase inexistente. Os cabelos, antigamente brancos, estavam acinzentados assim como sua pele. O olhar vermelho já não captava mais a atenção como antes, estava escuro. Gilbert vestia uma camisa social branca que estava um pouco suja, e uma calça preta. Eram as roupas de quando foi enterrado!

O espectro já estava ficando impaciente com a demora de Ludwig, mas sabia que não se agisse antes do loiro iria se arrepender mais tarde. Queria saber que tipo de reação ele teria. Precisava saber, ou não se perdoaria.

Enquanto isso Ludwig estava no mais completo pavor. De súbito desviou o olhar e a cabeça, olhando para o lado, respirando cada vez mais rápido. Talvez se não olhasse, a imagem desapareceria mais rápido. O pânico lhe assombrava como nunca antes, enquanto revia seus últimos dias. Se estava mesmo esquizofrênico, então qualquer tipo de conversa ou situação poderia ter sido fruto de sua imaginação, não é? Ludwig não sabia muito sobre a doença, então não sabia dizer até que ponto uma situação poderia ter sido inventada.

Tratou de andar até o sofá e se sentar, soltando um murmúrio de “ah...” que saiu num tom de voz um tanto fino. Bastante, na verdade. Ficou lá por um tempo, as mãos dadas e os cotovelos sobre os joelhos, olhando para baixo com um olhar fixo enquanto tentava pensar no próximo passo. Então era isso, tinha ficado louco. Seria internado. Perderia o emprego. Se é que já não tinha perdido? Ele não podia mais confiar em suas lembranças!

Observando o pânico silencioso do irmão e imaginando todo o exagero que ele deveria estar fazendo dentro de sua mente, e também por um outro detalhe, Gilbert não conseguiu se controlar e começou a rir baixinho. Achou que conseguiria parar logo, mas ao ver Ludwig levar um enorme susto e levantar a cabeça rapidamente para encará-lo, não pôde impedir as gargalhadas:

– HAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAH – Ludwig observou por um tempo enquanto Gilbert ria, até que soltou outro suspiro (também nem um pouco másculo) e abaixou a cabeça de novo, desta vez segurando-a com as mãos, o olhar fixo de pânico.

Gilbert percebeu que essa seria a reação de seu irmãozinho: entrar em pânico consigo mesmo. Achar que tinha ficado louco.

É... bem menos problemática que a de certo aristocrata...

Ao lembrar de Roderich, não pôde evitar se sentir ainda mais triste, o que acabou com toda espécie de risada. Era melhor só parar de tirar uma com a cara de Ludwig e simplesmente contar toda a verdade.

– Hey, Lud. – chamou o irmão, cauteloso, não querendo que o mesmo começasse a gritar. Ele pareceu ignorá-lo, mas Gilbert mesmo assim continuou. – Você não está maluco. Eu queria ter como te provar... mas com só você e eu aqui vai ser complicado. – deu uma pausa para analisar o estado de seu irmãozinho, e vendo o conflito que aparentava ter em sua mente, disse. – Por que você não olha pra mim? Eu posso ficar invisível, se você quiser, mas... Talvez fique mais assustador, haha. – riu brevemente pra quebrar a tensão, mas Ludwig ainda persistia em não acreditar na possibilidade mais simples e óbvia.

– Por que a gente não faz um trato, ein? – disse com uma voz animada, que costumava usar quando eram menores e Lud ficava com medo de algo. – Você fala comigo por enquanto, e assim que nós estivermos em público, eu faço algo com uma pessoa pra te provar que eu existo mesmo? Você pode sempre confiar em mim, West. – Ludwig, hesitante, olhou para o fantasma e disse receoso.

– Se você não for real, pode por favor nunca mais voltar? – era um pedido estranho, mas Gilbert não questionou.

– Claro! Confie em mim, Lud! Eu tenho uma ótima história pra te contar! – se jogou animadamente na poltrona verde-musgo que ficava de frente para Ludwig. – Quer saber como cheguei aqui? kesesese Eu sou tão incrível que consegui enganar a própria morte!! Duvida?~

– Er, acho que não. – disse depois de um instante de silêncio, ao ver que Gilbert ainda esperava pela resposta. Ainda estava indeciso em confiar ou não naquela figura.

– É claro que não duvida!! Kesesesese!~ Bem, acho que vou começar no dia em que eu morri...

3 de outubro

Há quase duas semanas, Gilbert estava internado em um hospital particular tendo um quarto só para si. Tinha ido parar naquela situação de um jeito nada incrível, ah... Desmaiou no meio de uma conversa, com a casa cheia de gente. Aquele dia foi louco...

Foi levado às pressas para os médicos e internado imediatamente, por diversos motivos que não se preocupou em gravar. Provavelmente eram os de sempre, que poderiam ser resumidos à problemas de pele. Só que dessa vez estava preocupado com Roderich, que além de ter visto toda a cena na mesa de jantar, ainda estava passando as férias com os irmãos Beilschmidt. Uma das coisas que Gilbert detestava era ver seu namorado tão preocupado consigo.

Durante as duas semanas que esteve no hospital Gilbert não conseguiu acordar, talvez estivesse em um semi-coma, mas sempre sonhava com a voz do Rod chorando compulsivamente ao seu lado.

Quando finalmente conseguiu acordar, Gilbert se viu cercado de médicos, uma grande correria no seu quarto. Mas pra quê tanta preocupação?! Eles não viam que ele estava bem, tinha até se sentado na beira da cama! Bem, ele não estava entendendo muito bem o que se passava, mas por via das dúvidas resolveu sair dali e deixar ele fazerem o trabalho deles, já que estavam tão desesperados.

Sorriu radiante ao ver que tinha se recuperado por completo e estava até andando sem problemas. Experimentou dar uma corrida pelos corredores do hospital, como nos velhos tempos, pra ter o prazer em fazer bagunça e ainda se divertir. Conseguiu correr muito rápido e até escorregava pelo chão como se estivesse de pantufas, mas no final não foi tão divertido assim já que nenhum enfermeiro pareceu notar. Estranho, isso.

Foi quando tentou usar o elevador que a coisa ficou preocupante. Por mais que fizesse força, ele não conseguia apertar o botão de chamar o elevador. Não se sentia fraco, mas aparentemente estava. Sorte que uma mulher chamou o elevador por ele, e ela apertou justo o botão do térreo.

Mal pisou na recepção e foi puxado pela gola da camisa do hospital por um homem de terno que nunca tinha visto na vida.

– Por onde você esteve? Tive que rodar o hospital todo te procurando, custava ficar no seu quarto e esperar?! – dizia irritado enquanto o arrastava para um canto mais vazio do grande salão. Gilbert olhava ao redor notando que ninguém parecia ligar de um cara sair arrastando um paciente tão obviamente com câncer.

– Quem é vo-

– Quatro horas. Quatro. Horas!!! – seguia inconformado. O jeito de agir do desconhecido o lembrava alguém, mas não conseguia... lembrar... O cabelo preto penteado para trás mas com um comportamento rebelde, o terno tão arrumado, os óculos, a expressão de aristocrata... Aristocrata! O Roderich!

– Hey, você está me ouvindo?! – o jovem de terno deu um tapa na testa de Gilbert, que rapidamente acordou. –Preste atenção, nós não temos muito tempo agora que você resolveu ficar brincando de esconde-esconde comigo. Vou ter que apressar as coisas antes que você saia da validade.

– Sair da validade? – ia perguntar mais, mas foi interrompido novamente.

– Você morreu. Sinto muito. – apesar de alegar sentir, em seus olhos e tom de voz notava-se que aquela frase era comum ao desconhecido.

– Do que você está falando!! Mas é claro que não! Eu me sinto vi... vivo? – parou as exclamações na última frase. Na verdade, não. Ele não se sentia exatamente vivo...

– Pois é, você não se sente vivo, não é? É porque você está morto. – tossiu, e recomeçou – Quero dizer, está dado como morto no mundo dos vivos, mas ainda é só um espírito sem corpo. Na verdade, não está morto, está só fora do seu corpo. Às vezes os humanos fazem isso quando dormem, e não morrem.

– ...- Gilbert encarava o desconhecido com as sobrancelhas muito franzidas, escutando a narração que no fundo fazia sentido, apesar de nunca ter sido alguém supersticioso.

– O ponto, - prosseguiu sem se abalar pelo olhar de estranhamento do outro – é que agora que seu corpo não é mais capaz de te manter lá dentro, você precisa morrer. – e então parou dramaticamente e encarou Gilbert, que precisou de alguns segundos para sair de seu estado de torpor e perguntar uma das perguntas mais idiotas que os espíritos podiam fazer, na opinião do pobre ceifeiro com pressa.

– Então... Eu estou sem o meu corpo? – examinava os próprios braços. Eles pareciam normais. Um pouco mais acinzentados, talvez.

O ceifeiro resistiu à imensa vontade de bater a mão na testa e desistir daquele trabalho maldito, e ao invés disso atravessou uma das mãos pelo braço do quase-fantasma àquela altura do campeonato. Gilbert deu um pulo de susto, e o jovem passou a mão mais uma vez só para deixar claro na mente do albino, e prosseguiu.

– Agora que as devidas explicações foram dadas, eu vou te fazer uma pergunta e você vai me responder sim-

– EU ESTOU MORTO!! – berrou, finalmente compreendendo. Tentou pensar na sua família e amigos, mas a única pessoa que conseguiu lembrar foi a que já tinha passado pela sua memória desde que acordara. O Rod, aquele pianista mimado que em todos aqueles anos se recusara a sair da Áustria para morar com ele, que fazia a melhor sachertorte do mundo, que...

– Sim, senhor, você está morto. – disse em um tom extremamente cansado o ceifeiro, que estava de olhos fechados e contava até dez para se segurar de berrar umas tantas blasfêmias de volta ao quase-completo-fantasma se ele não se apressasse.

– Mas e o Roderich!!! Eu não posso abandonar o Rod!! – e aquelas palavras fizeram o jovem ceifeiro abrir os olhos em surpresa e logo depois entrando em pânico. Nunca havia presenciado uma situação daquelas, só sabia a teoria, e em seus antigos livros de escola estava bem claro que a partir do momento em que o espírito consegue se lembrar de algum detalhe, ou alguma pessoa importante em sua vida, em questão de minutos ele teria se transformado em um fantasma de verdade.

“ok, você pode cuidar disso. Mantenha a calma, mantenha a calma” começou a repetir em sua mente, mas a visão do espírito de Gilbert entrando em desespero não estava lhe ajudando muito.

– O... Roderich, ele vai superar... – começou a dizer cautelosamente, mas as palavras só aumentaram a preocupação de Gilbert.

– Não! Ah, não! Ele não vai superar! E fazem duas semanas que a gente não se fala!

– Por favor me escute, nós não temos muito tempo! Você tem que deixar eu te matar! Essa é a sua única chance! – mas Gilbert já tinha se virado e estava andando em passos firmes para a saída. – Se você virar um fantasma isso só vai causar problemas para as pessoas que você gostava! Isso vai me causar problemas!! - seguia atrás dele, tentando alcançá-lo - Você vai ser caçado como um monstro e vai parar no purgatório! Acredite, não é um lugar que você queira estar! – Gilbert finalmente parou no meio do caminho, escutando atentamente as tentativas do ceifeiro. Ainda de costas, sem deixar o jovem de óculos ver seu rosto, Gilbert perguntou em uma voz sóbria.

– Se eu quiser vê-lo mais uma vez, você não vai poder me levar pro céu?

– Você vai ficar preso aqui até que algum outro humano te descubra e te mate de um jeito bem doloroso. – respondeu honestamente, já prevendo que tinha perdido sua primeira alma. – Mas pense bem na sua escolha, Gilbert, ela será permanente. Viver como fantasma não é como ser um humano vivo, você vai ficar confuso e cada vez mais impulsivo, chegando ao ponto de matar pessoas inocentes.

– Eu nunca faria isso! – exclamou indignado.

– Você não vai ser capaz de controlar suas emoções-

– Já chega! Eu não me importo, eu só sei que preciso ver o Roderich uma última vez! – e atravessou a porta determinado a ir até a casa dele na Áustria, desaparecendo da vista do seu ceifeiro.

.~.~.~.~.~.~.~.

– Isso mesmo, eu me concentrei tanto naquele aristocrata, que... – começou a hesitar, e subitamente mudou o que estava dizendo – que acabei me teletransportando! Para o meio da rua!

– ...sei – Ludwig continuava ouvindo a “história” com as sobrancelhas franzidas. Por um momento se deixou esquecer de que o irmão estava morto para ter a mesma reação que tinha quando Gilbert voltava pra casa contando sua aventuras bizarras.

– E aí eu fiquei andando pela rua...

Na verdade não foi para a rua que Gilbert foi, naquela hora. Ele se concentrou tanto em Roderich que acabou indo parar na casa do austríaco à quilômetros de distância de onde estava.

~.~.~.~.~.~.~.~.~.

Gilbert apareceu na porta do quarto de Roderich, que estava escuro pela noite, e antes que pudesse notar algo a mais do que a figura esguia de seu amante todo enrolado na cama com vários lençóis, sentiu-se subitamente cansado. O esforço de viajar tal distância em apenas segundos foi demais para o recém-fantasma, que no mesmo instante desapareceu em um sono sem sonhos.


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Notas finais do capítulo

E senhoras e senhores, a parte do capítulo que eu fiquei mais tempo reescrevendo foi o maldito final! ... +.+ eu nunca estou satisfeita com meus finais, realmente acho que não consigo fazer eles direito...

Bem, eu vou tentar não demorar com o próximo, mas já dá pra ter uma idéia de que ele vai ser bem PruAus e que vai se passar na casa do Rod. :3 mas caaalma, que o gerita já volta também, hehe

E bem, já que aparentemente nenhuma das pessoas que leram o capítulo anterior estavam familiarizadas com o ramo dos fantasmas, eu vou deixar um trechinho desses explicando as coisas mais cruciais ^^

obrigada por ler até aqui, e olha, eu adoraria uns comentários :)
beijos e até mais!~



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