Ashley apareceu, depois do jogo, na porta to meu chalé. Ela me arrumou toda, alegando que deveria estar bonita para fogueira, não entendi, porque afinal, o que iria ter de diferente? 

Ordenou que eu usasse saias pregadas e uma blusa justa com decote "V" num tom de rosa-claro. Amarrou meus cabelos em um rabo de cavalo e então nós fomos lá. 

A fogueira era animada pelos filhos de Apolo, todos cantavam e sorriam. Ashley sentou-se com seus irmãos que logo levantaram para dançar, atraindo os olhares de todos

-Ei, vem dançar! - ela disse. Pegando meu braço. Concordei tímida devido aos olhares, mas concordei.

Em pouco tempo, todos estavam de pé, conversando alto, rindo, cantando, dançando. Uma verdadeira festa. 

Quando a maioria cansou. Sentamos e começamos a devorar nossos marshmallows aquecidos na fogueira.

Observei que o garoto, Nico, não se levantara nenhuma vez, não sorria, nem nada. Estava apenas com o rosto apoiado sobre as mãos. Seu olhar era triste, eu quase podia imaginar uma lágrima escorrendo por seu rosto. Olhei para Ashley ao meu lado que conversava animadamente com as irmãs. 

-Eu já volto - sussurrei, tocando seu ombro, mas não pude ter certeza de se ela ouviu. Me levantei e fui em direção a Nico. Me sentei o lado dele e suspirei. 

Que diabos eu estava fazendo? 

Nico olhou para mim e depois voltou o olhar para a fogueira. Suspirei novamente e dessa vez ele me acompanhou.

-Não vai falar nada? - ele ainda não me olhava. 

-A-a-hn... Oi - gaguejei. 

-Oi - ele respondeu. Estava me incomodando que ele não me olhava. Mas o que eu iria falar? Então apenas fiquei olhando para a fogueira também, tentando entender porque eu estava ali, ri internamente com isso. Então Ashley levantou em comando de todos e gritou:

-É o seguinte, uma gincana. - ela me olhou maliciosamente. - Vocês devem abraçar a pessoa que está ao seu lado, os últimos se abraçarem irão pagar um mico. 

-Mico? - todos pediram, curiosos. 

-É, vocês deverão dançar com o par ali no meio da roda, a música que eu escolher. 

Todos concordaram aos risos. Ela levantou um dedo, ordenando que parassem. 

-É o seguinte, vocês devem circular o lugar, meninos para a direita meninas para a esquerda. 

Com isso, todos se levantaram, até mesmo Nico, e eu. Meninos se posicionaram para a direita e as meninas para o lado ao contrário. 

-Filhos de Apolo, a música é com vocês. Ao meu sinal vocês param a música e eles deverão abraçar a pessoa que tiver na frente. 

Eles assentiram e puxaram os violões, uma das meninas de cachos negros pigarreou, lembrei-me de ter visto-a cantando, e que voz ela tinha. Deveria ter no máximo 14 anos.  

A música começou animada e dançante, todos seguindo conforme o ritmo, muitos risos descontraídos, era bom ver as pessoas parecerem com as mandíbulas doloridas de tanto sorrir. E eu estava quase me sentindo assim. 

No momento que estava passando por Nico, vi Ashley dar uma risada musical e dizer: "Para, para, imediatamente" Então a música parou e todos se abraçaram, de repente tudo passou em câmera lenta, como se estivesse confuso, então joguei meus braços na cintura de Nico e ele fez igualmente. Então caímos na risada quando todos apontaram para nós alegando: "Mico, Mico" 

Fomos para o meio da roda e ambos prendiam o riso. 

-Valsa - Ashley disse quase aos gritos de tanto rir. 

-Valsa? - murmurei para Nico e depois olhei para ela formando "louca, idiota" com a boca, sem emitir som. Nico apenas a olhou e revirou os olhos. Então as crianças de Apolo começaram uma melodia, não era exatamente uma valsa, como se criassem ali. Nico colocou suas mãos em minha cintura e em pouco tempo estávamos entrelaçados. Sorri fraco para ele. E então começamos a dançar, não como se fosse um mico que estávamos pagando, mas como se aquilo fosse realmente com sentimento.

Que sentimento? me perguntei. Eu mal havia falado com Nico, mas eu o sentia como um verdadeiro amigo. Sabe aquela sensação de não ver um amigo seu a muito tempo e depois desse longo tempo vocês se reencontram. Não é tão bom? 

Fechei meus olhos e me concentrei na dança, mas imaginava as mãos de Nico envolvendo a minha cintura e pensei o que estava se passando na cabeça de Ashley ao ver isso. Também pude imagina-lá mordendo os lábios para não cair na risada. Sorri de leve com a ideia. 

E quando eu menos esperava - Ou quando menos queria - a dança havia terminado e eu sentia a respiração pesada de Nico perto da minha, era como se nossos corações se encostassem e isso era bom. Me separei dele e agradeci flexionando os joelhos ele balançou a cabeça, daquela mesma forma da primeira vez que eu o tinha visto, seus cabelos acompanhando o movimento. Olhamos para a nossa plateia ao redor e a maioria caiu em aplausos, alguns apenas nos olhavam sem emoção e alguns poucos - Como Ashley - prendiam o riso. 

No final da noite, quando todos foram se deitar, eu estava caminhando na praia, desfrutando a brisa fria dela, e ouvindo as ondas do mar quebrarem. Virei-me ao ouvir a voz de Nico. 

-Ei - ele disse.

-Oi? 

Ele se aproximou de mim e levantou um objeto. A fita que estava por cima da minha borrachinha no rabo de cavalo. 

-Isso é seu, não é? - Ele abriu a minha mão e colocou o objeto. 

-É sim, obrigada. - disse fechando a mão. Ele sorriu:

-Acho que é isso... boa noite. 

-Espere - ele se virou e eu segui em sua direção, apenas uns quatro passos. - Eu hã... Não sei, quer me acompanhar até meu chalé? Depois você vai.... Eu gosto de conversar com você

Ele deu de ombros. Caminhamos quase silenciosamente pelo acampamento tão vazio a noite, a maioria já estava dormindo, apenas Jackson passou por nós, e depois entrou no chalé de Poseidon. Então uma menina de Afrodite, seus cachos loiros caiam até a cintura e ela era mais ou menos da altura de Chloe, passou por nós. Piscou os olhos castanho-escuro e sorriu para Nico

-Nico - cumprimentou-o. Ele apenas assentiu com a cabeça então ela passou. 

Nico me deixou na porta de meu chalé me deu boa noite e estava indo em bora quando o chamei: 

-Nico? - sussurrei, soltando o meu cabelo.

-Sim? 

-Você é um cara legal. 

-Você é uma garota legal. - E eu vi que ele era uma das primeiras pessoas a dizer isso com verdadeira sinceridade. Sorri para ele joguei meu cabelo pro lado e acenei enquanto sua silhueta sumia conforme ia se distanciando. 

E naquela noite, pela primeira vez, minhas mandíbulas doíam, pois não conseguiam se desfazer do mais verdadeiro sorriso.