A Bela e o Caçador escrita por Machene


Capítulo 5
Vingança Mortal




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Cap. 5

Vingança Mortal

É uma bela manhã para o Festival da Primavera, onde o desfile de simples tripés enfeitados e vestidos bordados com flores são o centro das atenções. Korapaika está apressado, quase pulando de três em três os ladrilhos brancos da calçada na praça da cidade para passar pela multidão que a menos de meia hora já se acumulou e chegar até a floricultura de Katrina. Por sinal, sua loja está fervilhando de pessoas, em especial mulheres interessadas nas delicadas rosas decoradas de rubis.

Quando, afinal, o loiro surge na porta do estabelecimento, dando aviso de entrada pelo som do sininho pendurado no topo, grande parte das moças contorce o pescoço e se cala ao vê-lo, mas o rapaz ignora e se dirige rapidamente ao balcão. Habilmente, a bela florista entrega as encomendas dos clientes embalando as flores em papéis enfeitados e amarrando a fitas coloridas. Sua atenção e sorriso se voltam ao recém-chegado quando se aproxima com olhar desconfiado.

– Korapaika, como vai? Achei que não viria mais me ver aqui na loja. Onde estão os outros?


– Estão guardando lugar na frente da rua até começar a parada. – ele se curva para frente e abaixa a voz, franzindo a sobrancelha – Por que saiu de casa sozinha?

– Eu estou acostumada a acordar cedo e precisava abrir a loja antes das oito.

– Mas poderia ter me chamado para que eu a acompanhasse. – ela ruboriza e põe uma mecha do cabelo atrás da orelha esquerda, gesto percebido pelo jovem – Quer dizer... – o loiro encabula – A sua segurança é a nossa prioridade. Você sabe. – Katrina rapidamente fecha a expressão.

– Eu agradeço, mas agora não é o momento de falar sobre isso. – ele entende o recado ao ver o público, os observando casualmente – Se está tão preocupado com minha segurança, porque não fica e me ajuda? Seria muito bom ter um auxiliar nesta hora.

– Tudo bem. – Korapaika dá a volta no balcão marrom-claro e empurra devagar a portinhola para não bater na parede ao voltar com a força da mola – O que devo fazer?

Um tanto sem jeito, o rapaz começa a revezar seu trabalho entre o caixa e a coleta das flores para os buquês solicitados. As clientes, constantemente, suspiram de alegria ao serem atendidas e o mesmo ocorre com os homens quando Katrina sorri na entrega dos pedidos. Em pouco tempo os foliões se vão e um silêncio confortável se instala no ambiente até a loira entregar um copo d’água ao ajudante cansado sobre a cadeira de plástico. O loiro aceita e olha com zelo o estabelecimento.

– O que achou da minha loja? É bonita? – ele sorri e confirma com a cabeça, fazendo-a rir.


– Passa por isso sempre? Quer dizer, não pude passar muito tempo aqui antes quando vim visita-la na semana passada, depois do seu aniversário dia seis...

– A confusão só está grande devido o festival. Felizmente clientes antigos tem bom senso e o número de encomendas é maior em relação aos pedidos de última hora. Isso facilita o trabalho.

– Mas por que você prepara a mão flores de papel machê com bijuterias de pedras preciosas e vende junto com as flores verdadeiras? E por que elas são apenas para as crianças?

– Na verdade, isso faz parte do ritual de amadurecimento da tribo Karita. – ela se acomoda a centímetros de distância dele em outra cadeira, segurando um copo de água também – Não é à toa o nome da Ilha Rosa Cercante. As rosas de lá são abundantes e valiosas. Elas têm propriedades de grande poder e diversidade; podem curar e até paralisar um ser vivo. Sendo assim é natural que a tribo se mantenha alerta para saber como usá-las sem se ferir com seus espinhos. Quando chega o mês de junho, no dia doze, não importa para onde se olhe a lua estará sempre cheia e vermelha, e é nessa época que ocorre o rito de passagem dos Karita.

– Ah sim, Liana me falou dele. As mulheres fazem um teste de velocidade e coletam rosas.

– Uma rosa apenas para cada moça. Ela também deve ter dito que eu sou a virgem do ritual. – ele timidamente confirma com um aceno e ela ri – Acontece que um dia, enquanto eu terminava de me aprontar para dançar, observei algumas crianças reclamando por não poderem chegar perto da cordilheira das flores, fora dos limites da reserva, onde tem a maior concentração de rosas. Isso se assemelha a um jardim reservado dos olhos do exterior. Quando vi a tristeza dos pequenos, me adiantei para fazer flores iguaizinhas a essas que vendo na loja. Elas serviram para acalmá-los, ao menos um pouco. Alguns até brincaram de fazer o próprio ritual.

– Isso foi muito gentil da sua parte. – ele sorri docemente surpreso – Então decidiu trazer as tradições dos Karita para o povo dessa cidade?!

– Apenas a ideia das flores me ocorreu. – ela sorri triste – Não posso ou devo compartilhar a minha vida com ninguém. Mais nada além do que já foi dito pode ser mencionado a qualquer um.

– Então... Eu não sou qualquer um? – a moça olha vagamente o loiro e depois desvia o olhar.

– Sei que posso confiar em você. O que ganharia mentindo para mim? – Korapaika suspira e abaixa a cabeça por um momento até vê-la se espreguiçar – Se alguém soubesse minha localização tudo seria perdido. Mesmo assim, você sabe que não precisa me proteger. Eu estou refugiada em um condomínio muito longe de casa. Isso já devia ser suficiente. O senhor Netero e os outros não deviam ter te pedido para ajuda-los nisso.

– Tudo bem, eu não me importo. – os dois sorriem, mas ela logo suspira.

– Estou me sentindo inútil. Tenho de fazer valer a pena minha vida.

– Quando você me disse antes que não comemora o seu aniversário porque sua “existência é desgraçada” e “atrai muitos problemas para as pessoas na roda de amizades”, estava se referindo ao fato de ser a virgem do ritual? Porque não pode mais purificar os ritos de passagem com o seu poder? – Katrina procura um ponto cego onde fixar o olhar e contorce os lábios um no outro – Os seus pais fizeram algo pelo qual deva se sentir responsável para compensar a tribo?

– Nada disso! Eu só... – ela abraça o próprio corpo – Penso todos os dias que se não tivesse adoecido naquele dia, meus pais e tios não precisariam ter saído da reserva para buscar o médico e os assassinos jamais teriam nos encontrado. Nada daquilo teria acontecido. – Katrina reprime um soluço, mas não consegue evitar as lágrimas – Ninguém teria sofrido e eles estariam vivos, meus pais e meu avô! Dançar nos rituais não é uma compensação, porque faz parte da tradição da tribo que a descendente da primeira família seja a virgem do rito de passagem. Agora eles me mantêm a quilômetros de distância, refugiada com os amigos para minha própria segurança. Deviam estar preocupados consigo mesmos e não comigo! Por que fazem isso?

Compadecido, Korapaika se aproxima com cautela da moça e toca sua mão direita, descendo o forte aperto que ela dá em si mesma até conseguir juntar as duas mãos e convencê-la no toque a encará-lo. Katrina já não consegue mais reter os soluços insistentes e vergonhosos, mas o loiro os ignora por completo, como nota pelo sorriso gentil em seu rosto. Os olhos escuros transmitem as maiores compreensão e cumplicidade de tristeza já vistas antes por suas íris azuis.

– Eles se importam com você porque te amam, assim como suas amigas. Todos sabem que as coisas do seu passado não foram sua culpa, e até mesmo uma terceira pessoa alheia a isso, como os moradores do Beija-flor, seria capaz de entender isso. – os dedos dele se comprimem sobre os dela – Acredite, sei o que está sentindo. Eu também perdi meus entes queridos e amigos, todos de uma vez. Felizmente, você ainda tem os seus. – ele procura sorrir, mas a jovem enxerga apenas dor e a profunda melancolia marcada nas pessoas inconformadas com as surpresas da vida.


– O que houve com eles? – ela se atreve a perguntar e o rapaz recua as mãos.

– Foram assassinados também. – os orbes da loira se arregalam enquanto firma o olhar com as duas poças profundas e vibrantes de Korapaika – Mas, no meu caso, toda a minha tribo se foi.

– Eu sinto muito. – a voz dela sai arrastada e tão compadecida quanto à dele antes.

– Sabe, acabo de perceber que não disse meu sobrenome para você. – ele dá um meio sorriso – Sou o Korapaika, Korapaika Kuruta. E... Assim como você, os meus olhos – o loiro leva as mãos ao rosto e retira cuidadosamente uma lente do lado esquerdo, voltando a observar sua companhia – são de grande valor no mercado negro.

Korapaika não se surpreende diante o choque de Katrina. O olho esquerdo vibra a vermelho-sangue e o direito se ilumina como um holofote na penumbra da noite. Diante de tal visão, dentre as possibilidades as pessoas só teriam duas reações: questionar as habilidades do último membro do orgulhoso clã Kuruta como um Caçador e guarda-costas do líder de uma das famílias mafiosas mais poderosas do mundo, tarefas inclusas em seu currículo, por mera curiosidade ou comprar os seus serviços, caso não fosse ameaçado de morte justamente pelo valor de seus olhos.

Porém, Katrina o surpreende com uma reação totalmente contrária a qualquer suposição. A jovem toca seu rosto com a mão esquerda e aproxima o polegar de seus cílios. Em seguida repete o gesto do outro lado e começa a traçar linhas invisíveis debaixo dos olhos dele até Korapaika ficar o mais relaxado possível. Isso traz a cor de vermelho para azul-piscina e desperta um sorriso nela.

– Gostei mais dessa cor. – ela confessa, mas a vergonha no rosto do rapaz só a faz sorrir leve – Você parece tão infeliz agora. Não sei a história da tribo Kuruta, é a primeira vez que ouço falar sobre eles, mas em relação a minha perda a sua foi mais dolorosa. Viver vagando tanto tempo sem nenhum carinho familiar... Seus amigos foram sua única salvação, e ainda assim sinto muita dor e amargura vindas de você. – Katrina recua as mãos e desmancha o sorriso – Embora sinta falta e lamente a morte dos meus pais e dos meus avós, jamais pensei em vinga-los. É esse o seu desejo?


– Aqueles miseráveis deveriam estar apodrecendo no inferno, Katrina! – o rosto antes calmo se enfurece e ele se levanta – Eles fizeram muitas coisas ruins com pessoas inocentes. Meu amigo Squalla foi uma vítima, e ele foi assassinado mesmo não representando nenhuma ameaça! Aquela empregada que você vê constantemente com Neon, a Eliza, era noiva dele! – o semblante da loira se contorce a cada palavra dita em tom mais alto – Eu sou o único que pode vinga-lo.

– E após acumular tantos sentimentos de ódio e vinga-los, o que fará?

– Vou recuperar os olhos vermelhos da tribo Kuruta. Não descansarei até encontrar todos!

– E depois? – Korapaika fica quieto um instante, e então Katrina suspira – Estou tentando te mostrar justamente isso: você não tem objetivos Korapaika. Sua vingança, seu senso de justiça, a sua compaixão pelos sofredores são as únicas coisas que te movem para frente. Quando estiver à beira do precipício e o ciclo de ódio tiver se rompido, o que te restará? – o cenho do rapaz se franze e os punhos se fecham em falta de resposta imediata, dando a ela oportunidade de levantar e olhá-lo frente a frente – Matá-los não fará de você uma pessoa melhor.

– Eu não me importo. Tudo bem se me transformar na pior pessoa do mundo.

– Mas Korapaika... – ela suspira a ponto de chorar novamente – Isso também não trará seus familiares e amigos de volta a vida. Essa dor sem fim jamais cessará enquanto continuar vivendo no passado, perseguindo assassinos até findar sua existência do mundo. Não cabe a você julgá-los.

– E cabe a quem? Ninguém mais consegue detê-los, excerto, talvez, a família do Killua!

– Por quê? Eles também são assassinos? – o loiro confirma em aceno.

– Killua é da família Zaoldyeck. Todos são assassinos profissionais, e isso o inclui.

– Oh, bem, não me surpreende muito pela Kelly. Os Nikoro são uma família de caçadores de recompensas. É quase a mesma coisa, mas eles não têm como principal objetivo matar alguém.

– Disso eu não sabia. – a conversa cessa por alguns segundos – Mas de qualquer forma, não se pode vencer o Genei Ryodan apenas com caçadores de recompensas!

– Você subestima a força deles e da Kelly. E esse é o nome do grupo do qual está atrás?

– É. E são eles também que estão atrás de você. – por impulso, a informação voa da boca dele.

– Como sabe? – Korapaika demora a responder por ficar momentaneamente surdo pelo grito estridente de Mench na escuta em seu ouvido, repreendendo sua falta de cuidado.

– Ouvi isso ontem no jornal, pelo rádio. Como costuma faltar energia em dia de chuva e não é possível ligar a televisão, eu carrego o meu celular sempre comigo. – ele o retira do bolso apenas para mostrar e logo guarda novamente – Você não é acostumada a usar o computador, então não deve ter visto a notícia. Dois membros do grupo foram vistos rondando a cidade vizinha e alguns Caçadores testemunharam sem dar o seu nome de que eles estão atrás de você.

– Então já devem saber sobre a tribo Karita e muitas pessoas podem estar me procurando.

– É bem capaz que não sejam apenas Caçadores. Pode ser qualquer um com algum poder e a intenção de vendê-la no mercado negro pela maior oferta. – um tremor atravessa o corpo da moça e o rapaz não consegue deixar de sentir-se culpado – Desculpe, não pretendia te assustar.

– Tarde demais. – ela tenta rir e abraça o próprio corpo outra vez – É possível eles saberem que você está morando comigo? Eles podem atacar as pessoas do condomínio?

– Não sei. Mas se isso acontecer, eu vou me manter firme. Só preciso prendê-los e então...

– Mesmo já estando meio assustada, eu vou me manter firme também. – ela o interrompe, se soltando do próprio abraço com um olhar seguro e o semblante sério – Entre mim e você, para eles seria mais vantajoso vir atrás de mim. – Korapaika deixa o queixo pender sem perceber.

– O que quer dizer? Pretende agir como isca? Você não pode fazer isso!

– Por que não? Você pode se sacrificar pelas pessoas que ama, mas eu não posso?

– É uma questão diferente! Você ainda tem uma família!

– E você também! – ela eleva a voz e o deixa mudo – Embora não tenham o seu sangue, seus amigos são sua família! Leório, Gon, Killua e Senritsu, todos se importam com sua segurança! Se morrer, deixará todos muito tristes! – a loira cora – E a mim também.

Um curto e vergonhoso silêncio se instala. Korapaika olha para o rosto de Katrina buscando um sinal de piada ou ao menos raiva, algo com o qual pudesse lidar, mas nada além de vergonha e timidez repassam em suas bochechas. Suspirando profundamente, ele recoloca a lente de contato e demora a encará-la. Quando a moça balança a cabeça, chama a atenção do rapaz.

– Ah, desculpe. Esqueça o que eu disse. Estava apenas tentando ajudar, mas você pode fazer o que quiser, não é da minha conta. Mesmo assim, por favor, pense nisso. Se, realmente, entende como me sinto, vai compreender o meu receio em colocar minhas amigas e os outros em perigo. O meu pescoço, se necessário, pode ser sacrificado. Posso perder minha liberdade, não importa. Mas, se você insiste em vingar sua tribo e os demais mortos por esse grupo de assassinos, não pode me impedir de lutar contra isso. Se decidir continuar nem conseguirá deter seus inimigos, porque os especialistas em assassinato gostam de atacar as pessoas mais desesperadas!


– Não estou desesperado e sim furioso! – Katrina se aborrece novamente.

– A única coisa que você vai encontrar nesse caminho é a morte!

– Não temo a morte. O meu maior medo é que todo o meu ódio desapareça.

– E se seus amigos morrerem? Não tem medo de arriscar a vida deles?

– Eles estarão longe daqui. O Genei Ryodan não poderá atingi-los.

– Se eles sabem sobre mim e eu fiquei escondida aqui por tanto tempo sem conhecimento das outras pessoas, como espera que eles não achem Leório e os outros?!

– Eles não têm motivos para caçá-los. De qualquer forma, os três irão embora com Senritsu no fim da primavera e eu vou retornar à York Shin para entrar no leilão.

– Para você é fácil afastar os outros, não é?! – ela questiona retoricamente e senta de novo – O que quer em York Shin, naquele leilão... São os olhos vermelhos?

– Sim. Eu já disse, vou recuperar todos eles. É uma questão de honra, você não entende.

– Isso não é apenas honra, é orgulho e mágoa. Se tivesse te restado alguém da sua família ao seu lado, nunca tentaria correr atrás de uma vingança. Seu senso de proteção seria maior.

– Mas eu nunca tive ninguém para proteger. É claro que zelo muito meus amigos, contudo, eles sabem se defender e não têm laços de sangue comigo. Isso não os faz menos importantes; suas vidas são, para mim, mais valiosas do que a de qualquer outra pessoa. Se necessário, eu iria atrás deles sem pestanejar, mesmo correndo risco de morrer. Felizmente, sem um elo de sangue os três podem ficar afastados de mim. É assim que eu pretendo protege-los. – a moça levanta da cadeira.

– E como ainda consegue dizer por mim se entendo ou não? Entendo você muito bem!

– Nós nos conhecemos há apenas dez dias! Como pode achar que sabe tanto sobre mim?

– Não foi o único a fazer algumas pesquisas. Eu perguntei coisas sobre você ao Leório e até o Gon e o Killua te elogiaram. Pelo que eles me disseram, antes a sua personalidade era diferente.

– Quando comecei o Exame para Caçador eu era muito inexperiente.

– Não quis dizer diferente dessa forma. Segundo eles, você se preocupava muito em fazer as coisas do jeito certo, se importava com as pessoas e defendia a natureza. Sua prioridade era salvar os outros de gente má, mas jamais deixava seu senso de dever ir acima dos seus sentimentos. Seu amor pelos animais era engraçado de ver, foi o que Leório me disse sobre um macaquinho que um dos Caçadores no exame do qual participaram tinha, e você libertou. E nunca matava em vão. Por que justo agora vai fazer isso e fugir dos seus ideais? Vai valer a pena mudar todo o seu ser, todas as suas crenças e apagar as coisas boas que já fez apenas por uma vingança contra pessoas que já se condenaram? – as pupilas de Korapaika, uma vez mais, se dilatam.

– Como assim? – Katrina suspira cansada e volta a se sentar.

– Eles estão mortos há muito tempo Korapaika, assim como os assassinos da minha família. – ela pausa e sorri fracamente – Que tipo de vida alguém igual pode ter? Ou melhor, como algum deles estaria vivendo? Na verdade, todos estão SOBREVIVENDO. Conseguir luxo e conforto na perda de outros e arrancar sua felicidade em nome da própria... Não posso dizer que culpo aqueles que vivem de um jeito tão miserável, afinal, eu sou uma afortunada. Nós dois somos. Temos mais do que muita gente no mundo e esses assassinos e ladrões bem devem ter mendigado carinho com as mãos estendidas ao céu todos os dias. Ninguém se apiedou e todos decidiram tirar dos demais o que nenhum deles poderia ter. Isso acontece. É claro, nenhum motivo justifica suas ações, porém... Depois de me recuperar do choque de perder os meus familiares, eu pensei bem e só consegui ter pena. – o loiro ouve tudo atentamente e seu queixo pende a cada palavra – Sedie Havre ou Genei Ryodan. Nenhuma alma caridosa os acolheu. Se eu intercedo por você, é porque quero te fazer ver o que eles não conseguiram: ainda existe esperança. Ainda existem pessoas boas, e mesmo tendo a distorção do justo, enquanto não se abater há uma chance de mudar sua vida. Persegui-los apenas te trará dor e lembranças tristes. Se não quer que aquilo aconteça novamente, refaça a sua vida e proteja quem é importante para você. Dessa forma sua mágoa sumirá. – ela sorri.

– As feridas não se fecham assim, tão fácil. – ele diz cansado e se senta – Pode prometer que essa angústia vai sumir? Essa lamentação e frustração? Essa corrente de ódio?

– Não posso prometer isso. Sua saudade vai perdurar... – Katrina acolhe as mãos dele entre as suas e o faz olhá-la – Mas vai diminuir. E com o tempo, vai descobrir o quanto pode ser bela e generosa a vida para aqueles que não desistem dela e da felicidade. Encontrará uma pessoa que te fará agradecer por ter nascido e sobrevivido até agora. Seu sofrimento vai ter valido a pena, e bem pode ter passado por tudo isso para um dia poder conhecer seus amigos e esse alguém especial. Eu tenho certeza que a corrente de ódio vai se quebrar e sua ferida cicatrizará... – ela levanta e sorri mais abertamente – E aí ela não se abrirá nunca mais. – Korapaika permanece quieto, absorvendo toda a conversa, mas sem tirar os olhos dela, o que acaba a constrangendo e a faz pôr uma mecha solta do cabelo preso atrás da orelha e soltar suas mãos – Então... Está tarde. Vamos fechar a loja.

Sem dizer mais nada, o rapaz a ajuda a arrumar algumas coisas fora do lugar e ambos saem. Eles permanecem calados até se encontrarem com os amigos na calçada e, após o desfile, andam a meio metro de distância um do outro em direção aos carros de Leório e Liana, parados próximos à praça. Chegando ao lar, Kelly e Gene são as primeiras a se dispersar. Leório leva Killua até a casa alugada enquanto Gon vai ver TV. Liana chama Katrina para conversar e Korapaika espreita.

– Katrina, o que aconteceu? – acuada, a jovem senta em uma cadeira da cozinha e suspira.


– Como sabe sempre quando estou com algum problema?

– Fácil: seu sorriso contagiante murcha e essa sua aura de alegria evapora. Além disso, você estava andando cabisbaixa pela rua e bem longe do Korapaika. – cruza os braços – Tem a ver com ele? Ele te fez alguma coisa, porque se fez é melhor me dizer agora?!

– Não! Quer dizer, não exatamente. Eu... Ah Liana!... Acho que estou apaixonada.

– HEIM? – ela exclama extasiada e reflete – Apaixonada? Deveria ficar feliz ou nervosa?

– Devia me trancar no quarto a pão e água, ou jogar um balde de água fria na minha cabeça!

– Credo mulher! Por quê? Amar não é crime. Quer dizer, por quem está apaixonada?

– No meu caso é um crime! Eu me proibi sentir isso! E ainda mais se for pelo... Korapaika.

Continua...



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