Conhecendo Tia Afrodite.

Imagine uma mulher:

-Alta

- Grife

-Rosa

-Grife

- E MAIS ROSA! 

Bom, essa era a mulher que estava na minha frente acompanhada a Piper. Naturalmente bonita e com expressões mais jovens que eu, ela tinha tanto perfume que talvez tivesse entupido o meu nariz. Sim, aquela era a tia Afrodite, olhando para mim do portal da sala.

- Ahh Annebelle! – Ela disse jogando uma bolsa Louis Vuitton no hall de entrada da minha casa e vindo de encontro a mim que estava no sofá oferecendo seus braços como se eu fosse abraça-la.

- É Annabeth, mãe!- Disse Piper levando a mão na nuca e deixando o grosso casaco que ela usava no cabideiro perto da porta. Claramente Tia Afrodite não era lá a melhor pessoa para me criar (principalmente quando ela não sabia meu nome) mas era isso ou viver num internato, porque visivelmente Matt não dá mais a mínima para mim, sobrando  somente tia Afrodite. A que mais se “comunicava” com a minha mãe, do flagelo de família que me restara.

- Bom te ver, tia – Disse não fazendo muita questão de abraça-la, deixando-a de pé, com os braços estendidos para o nada.

Eu basicamente não queria magoa-la, mas ultimamente ando tão rebelde e chata que mal me aguento, e não faço a mínima ideia de como Luke e Piper conseguem fazer esse esforço quando eu mesma não conseguia.

- Muito ruim o que aconteceu com o seu pai – Ela disse quase demonstrando profundidade em sua voz – Frederick era um bom homem.

- É, eu sei – Disse pegando o controle e passando por vários canais. Ela provavelmente teria o mesmo papo de todos, de como é ruim perder alguém que se ama e blablabla. Era o que todos falavam, mas eles nunca entendiam, diziam sempre que ficaria bem, mas a verdade é que não fica. Nunca fica.

- Onde está seu irmão, Annabeth? – Perguntou a dama de rosa sentando-se no outro sofá junto a Piper enquanto eu tentava ignora-las assistindo um programa qualquer na TV, onde dois caras se matavam a base de socos.

- Talvez se drogando no quarto, ele deveria ter voltado para a faculdade ontem – Falei quando o cara de calção preto nocauteou o de calção vermelho.

- E quando ele vai voltar? – Ela perguntou. Fiz questão de dar meu melhor olhar com o significado de “ Ele vai voltar?”

- Matt está passando por uma fase difícil mãe, ele e Frederick eram muito amigos, e bom, ele está inconsolável – Disse Piper o mais diplomaticamente.

- É ele está quase se afogando nas próprias lágrimas faz alguns dias –  Praguejei, depois vi somente Piper vindo em minha direção e ficando exatamente na minha frente atrapalhando minha apreciação da luta na TV.

- Annabeth você está sendo uma idiota agora, ok? – Ela puxou rapidamente o controle de minhas mãos quanto eu estava para muda de canal e me fez olhar para seus olhos sem nem um pouco de maquiagem mas que eram naturalmente perfeitos – Eu entendo que você está triste e tudo mais, porém nós queremos ajudar e  você fica aí com essa bunda magra no sofá que nem uma pedra de gelo que não ajuda em nada. Seu irmão está jogando fora a vida dele e você não irá fazer nada? – Ela disse mais exaltada que o normal, talvez o limite de paciência dela com a minha eu rebelde tinha acabado, ou ela estava de TPM -espero que ela esteja de TPM- mas eu continuei olhando para ela com cara de tédio, mas a verdade é que eu não tinha nada para falar, tudo que eu queria era afundar no sofá e viver como um lindo e perigoso ácaro.  Talvez minha falta de resposta a fez pensar que eu era um tipo de monstro que engoliu a velha Annabeth.

- O que você fez com Annabeth Chase? – Ela disse agarrando-se a uma bolsa e indo embora.

- Piper? – Disse Afrodite com seu forte sotaque nova-iorquino atrás da filha que agora passava pisando firme para abrir a porta.

- Eu cansei, mãe! Ela só fica assim! Eu quero ajudar, mas como posso fazer isso se ela não quer se ajudada – Ela falou de longe, mas deu para ouvir pelo o auto tom que ela usava em sua voz, enfim deixando o território que minha casa englobava.

Queria Ligar para o Luke e ir de trem até Londres para fazer besteira pela rua, ou falar com o tal Cabeça de Algas da internet sobre qualquer coisa engraçada, mas tudo que eu fiz foi ir até a porta de entra da minha casa e falar bem alto para Piper:

- Eu não preciso da sua ajuda – E fechei a porta sem dar chances de nem mãe ou filha entrarem.

Fui até meu tablet para consultar minhas atualizações em redes sociais e novos emais, e um email em especial chamou minha atenção “ ...Translado do corpo....”

É, talvez eu realmente precisava da ajuda das duas.

III

Eu fui fraca, porque aqui estou eu, na porta do apartamento de Piper para tocar a campainha porque simplesmente não consegui abrir a merda daquele email por mim mesma. Eu simplesmente não conseguia pensar em fazer isso sem depois passar por minha cabeça a ideia de por um revolver contra o meu crânio e disparar, não que pensasse nisso direto, mas todo dia essa vontade existia, mas já há alguns dias essa ideia estava sendo sufocada pela promessa que fiz a Athena, somente isso me impedia.

Toquei a campainha algumas vezes, mas talvez Piper não quisesse atender ou simplesmente ainda não estava em casa, então enfiei minha mão em meus casacos e caminhei de volta para a linda e deprimente casa.

Coloquei a chave na maçaneta e entrei, eram 20h, subi para o meu quarto passando o mais rápido possível pelo quarto do meu depressivo irmão. Pensava que agora, com ele por perto seria mais fácil a dor de perder o pai, mas na verdade Mattew preferia se trancar no quarto e ficar sabe-se lá o que fazendo. Mas dessa vez eu passei por lá eu senti que tudo estava quieto demais.

A curiosidade sempre mata o gato, nesse caso, ela salvou um rato.

Um quarto bagunçado, um cara jogado no chão e muitos comprimidos na cabeceira. Comprimidos que de imediato reconheci sendo meus na época da minha recuperação do acidente de carro, junto com outros vários comprimidos com uma escura tarja no final da caixa. Eu não acreditava que ele tinha feito isso.  Agachai-me rapidamente até perto do seu punho e lá tentei sentir alguns sinais de vida.

- Seu idiota, você não vai fazer isso comigo também – Eu disse deixando algumas lagrimas caírem pelo meu rosto – Não, não, seu irritante, você não vai fazer isso comigo – falei virando  ele de barriga para cima buscando batimentos em seu coração e graças a deus sentindo alguma pulsação. 

O que eu faria numa situação dessas? Só sei que saí correndo pela casa e peguei o telefone da sala. 999, meus dedos digitaram rapidamente.

15 minutos depois, meu irmão estava sendo levado por paramédicos, e eu estava ligando para Luke da ambulância na discagem rápida do meu celular.

III

Eu queria poder bater em Mattew Chase e depois abraça-lo até ele pedir pra parar.

Agora meu irmão estava num quarto branco de hospital com vários aparelhos ligados e com uma pequena bolsa suspensa por um tipo de cabide  –que provavelmente não é o nome certo -  removendo todos os medicamentos que ele tomou para se suicidar, para a minha sorte ele não foi burro ou inteligente o suficiente para beber mais que 6 comprimidos, e não tinha feito isso a muito tempo antes deu chegar. Ele não corria risco de vida – talvez de vários socos depois desse susto- mas não de vida.

Luke como um bom amigo estava comigo bebericando um café quase dormindo no sofá-cama de visitas.

E eu também quase dormia encostada nele quando de tanto observar o meu amado irmão suicida percebo que a pupila dele se move e ele abre os olhos. Levanto-me e vou para perto dele, Luke parece não perceber, e transparece mais sono do que nunca, talvez por ser quase 3rhs da manhã e eu ter atrapalhado o seu sono com o glorioso caso do irmão suicida, porque fora ele eu não tinha mais ninguém para chamar, principalmente porque Piper e eu brigamos.

- Você me pregou um susto – Disse passando a mão em seus olhos tão cinzentos quanto o meu que há horas atrás pensei que jamais veria novamente.

- Eu não aguento mais, você tinha que ter me deixado ir – Ele disse olhando para o teto e deixando lagrimas rolarem – Como você conseguiu lidar com isso? Eu me sinto tão sozinho...tão incompleto...

- Matt, você não está sozinho, eu também não sei lidar com isso. – “Não sei se você percebeu mais eu quero fazer a mesma coisa que você todo dia, não sou boa para esse tipo de conselhos” eu pensei mais não respondi – Mas eu tento, pela mamãe e pelo papai.

- Eles não estão mais aqui Annabeth, eles não ligam para isso você não entende? – Matt dizia raivosamente – Eles morreram.

- Não, Matt. Eles sempre vão continuar no seu coração – Eu disse apontando para seu peito.

- Quem te disse essa baboseira? – Realmente aqui era muuuito cliché, mas? E ae? Foi basicamente isso que Atena me disse...

- Atena....- Parei para pensar e no fim eu disse – Eu também acho que é um baboseira.

- Sinto falta deles – Ela falou por fim – Da baboseira deles – Ele disse me arrancando um sorriso natural.

- Você tem que tocar a sua vida – Conclui tocando a mão grossa e grande de Matt que na ponta do dedo tinha um fio com um aparelhinho – Volte para faculdade e se livre de Bristol e toda essa porcaria.

Ele franziu a sobrancelha e eu continuei.

- É o que eu vou fazer, vou para os Estados Unidos com tia Afrodite, reescrever a história da minha vida, tentar não ser mais a Annabeth órfã- Um breve silencio foi instaurado.  

- E ele? – Matt perguntou apontando para o loiro jogado no sofá-cama.

- Como assim e ele? – Perguntei.

- Ele gosta de você Annabeth, até uma toupeira consegue enxergar, vai abandona-lo também? – Matt tinha razão, nenhum garoto em sã consciência ainda estaria aqui comigo aguentando toda essa barra às 3hrs simplesmente por amizade...- Como ele fica?

- Eu não sei – Disse por fim tirando o olhar no angelical Luke que dormia para observar meu irmão que me olhava de certo jeito curioso.

Olhando para Matt eu percebia que quanto mais tempo gastava ainda na Inglaterra, maior seria minha a probabilidade do mesmo destino de Matt. Porém construir uma nova vida, vinha com a perda da antiga...com a perda de Luke.