À minha frente, as nuvens encobrem todo o céu, fazendo o dia parecer noite. O balanço ao lado do qual eu estou sentada se mexe sozinho com o vento forte que denuncia uma tempestade. O velho parque, que antigamente exalava a felicidade explosiva das crianças do bairro, agora somente range sozinho e abandonado. Coloquei a mala que eu carregava no chão ao meu lado e me permeti balançar e deixei que a mesma sensação de liberdade que eu amo desde de pequena me controlasse.

 Eu ia cada vez mais alto e mais rápido, minhas roupas balançavam e meus cabelos encobriam meus olhos que eu mantinha fechados. O vento gelado em meu rosto me relaxava e a sensação de voar afastava todos os meus temores. Então senti que meu grande brinco de pena se soltou de minha orelha indo parar na caixa de areia logo a frente. Parei o balanço bruscamente e me ajoelhei no chão engatinhando e tateando no meio da suja areia pelo meio brinco preferio, e foi então que lembrei da primeira vez que eu o vi, o dono de meu sofrimento.

" Minhas pequenas mãos tremiam enquanto eu procurava frenéticamente pelo brinco que eu tinha perdido. Já tinha revirado a caixa de areia inteira em busca do brinco de pérolas que minha madrinha tinha acabado de me dar. Ao redor de mim, todas as outras crianças brincavam no parquinho do bairro como se nem notassem a imensidão da catástrofe que tinha acontecido. Se eu voltasse para casa sem meu brinco eu nem conseguiria imaginar o que minha mãe faria comigo!

 - Procura por isso? - Perguntou um garoto ao meu lado.

 Me virei repentinamente para ele com a esperança brilhando em meus olhos. Era a primeira vez que eu via aquele garoto por lá, ele era alto mas devia ser um ano mais velho que eu apenas. Sete ou oito anos. Seus cabelos eram mel e seus olhos negros e misteriosos. Nas suas mãos ele segurava o par do meu precioso brinco com cara de superioridade e um sorriso bobo.

- M... Meu brinco... - Gaguegei estendendo minha mão para pegá-lo. Mas então o garoto puxou-o para mais alto longe da minha área de alcance e com a outra mão sinalizou que não.

- Na-na-naa. O que se diz? - Perguntou ele se divertindo com o meu desespero

 - Me dá logo! - Choraminguei socando seu peito com meu frágeis pulsos.

 - Então repete: " Muito obrigada, Matheus. Por favor me entregue. " - Disse ele como se comandasse a situação. E depois de mais alguns minutos socando sem efeito seu peito percebi que ele estava certo, ele controlá-va a situação!

 - Muito obrigado, Matheus. Por favor, pode me entregar? - Disse de má vontade. Ele sorriu satisfeito e me entregou meu brinco. Coloquei serenamente na minha orelha e sorri para ele maliciosamente,  me levantando. Segurei seus dois ombros e ele virou sua bochecha para mim esperando um agradecimento um pouco maior. Então, com toda a minha pequena força de menininha lhe meti o joelho por entre as pernas. - E dá próxima vez, espero que me devolva de primeira! - Falei com uma voz cruel e uma cara de poderosa.

Logo depois, fui para minha casa ainda rindo da expressão de idiota que ele fez  logo depois de colocar a mão entre as pernas para tentar amenizar a dor. "