Dexies escrita por Audrey R


Capítulo 3
3. O primeiro ensaio




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O baterista loiro levantou do banco e foi em direção a eles na porta.

— Oi Leon, essa é a Maddie. Ela canta muito bem.

Maddie se sentiu vermelha e meio tímida, mas sorriu.

— Oi querida. — ele falou de um jeito engraçado. Devia ter um pouco mais de vinte anos, mas tinha uma carinha angelical. — Que bom que veio fazer o teste, você já tinha visto um show da banda antiga? Quero dizer, quando o Ben ainda estava...

— Na verdade ela nem conhece a banda, é uma amiga eu que eu convidei. Não tínhamos em planos uma vocalista, mas ela é ótima. — Zac falou.

— Ah... — o loiro riu. — Bom, é difícil acreditar no Zachary já que ele elogia todo mundo, mas vou confiar nesse papo.

Maddie olhou para Zac que revirava os olhos. Só conseguiu rir e foram em direção ao resto da banda.

— Não sei se ele já te falou, mas sempre fomos a cinco. Eu na bateria, Matthew é baixista, Julia é guitarrista assim como o Noah que está no meu quarto lá em cima, depois você o conhece. Tínhamos um vocalista, mas ele era um completo babaca e saiu. E bom, o Zac nos ajuda com tudo, afinal, é para o esquema da universidade mesmo.

Maddie cumprimentou a todos e conversou com eles. Logo depois Noah desceu. Ele era um dos mais velhos, usava uma jaqueta xadrez e tinha um cabelo preto jogado no rosto. Ele falava muito pouco, por isso ela gostou mais do baterista. Matthew era primo do Zac, e tinha dezoito, e apesar de ser bonitinho era muito imaturo — ela percebeu isso em dez minutos de conversa. Julia usava uma camisa dos Sex Pistols e tinha mais sombra preta nos olhos do que Maddie teve a vida inteira, mas aquilo era legal porque ressaltava os olhos azuis intensos, mais bonitos que os de Zac até. Mas ela não tinha sorrido nem um pouco, só quando Noah olhou para Maddie e falou alguma coisa seu ouvido. Mas não era um sorriso amigável.

Zac estava conversando com Matthew quando perguntou do teste.

— Vieram dois caras hoje mais cedo, mas só fizeram cagada. — ele respondeu rindo. — Cantaram juntos e soou muito gay.

— Foi estranho. Eles estavam com pressa para ir embora. — Leon disse.

— Deviam estar apressadinhos para chegar à cama. Ainda bem que cantaram mal de qualquer jeito. — Matthew tentou ser engraçado, mas ninguém riu.

— Bom, a gente não precisa de mais gente para o teste. — Zac sentou no sofá. — Maddie é incrível.

Ele ficava muito fofo dizendo aquilo e ela não conseguia segurar o corado do rosto e Matthew e Leon riram disso. Mas Noah e Julia continuavam com um olhar blasé que deixava Maddie desconfortável. E isso era um saco, pois a vergonha de cantar na frente deles só aumentava.

— Ok Maddie, com os meninos íamos tocar alguma coisa para ajudar no teste mas eles preferiram cantar apenas. O que você acha?

— Ah... — ela estava realmente tímida. — Não sei. Na verdade nem sabia que ia ser um teste. Zac só me chamou.

— Ah que ótimo. — finalmente Julia abriu a boca.

— Qual é Maddie, escolhe qualquer música. Esses caras sabem tocar de tudo.

Ela ficou um pouco pensativa.

— Qual é sua banda preferida? Isso se você tiver uma. — Noah disse com um tom de sarcasmo. Maddie estava começando a se convencer de que não passava uma imagem musical.

— Não sei. Gosto de muitas bandas, nenhuma em especial. Mas ultimamente ando escutando bastante Comfortably Numb no walkman.

A garota olhou para Noah com um sorrisinho cínico. Mas ele parecia impressionado.

— Pink Floyd? — ele disse. — Uau, é a minha banda preferida.

— Uau mesmo. Não sabia que as patricinhas de hoje curtiam música progressiva. — Julia aumentou seu tom sarcástico.

Maddie ficou irritada. Sentia-se inferior quando usavam estereótipos, e isso não exalava o que ela realmente era, o que realmente curtia e muito menos sua fama. Nada em sua aparência revelava o seu amor por literatura, o vicío por rock e a apreciação de Mozart nos momentos que se sentia vazia. Mas o que viam apenas o cabelo loiro e comprido arrumado, gloss cor de rosa e o corpo tão magro que parecia quebrável.

— Agora sabe, Julia — Leon quebrou o silêncio chato do ar com uma risadinha. — Bom, vamos lá Maddie, podemos tocar Comfortably Numb então e você canta, ok?

Ela assentiu um pouco envergonhada. Julia ainda sorria de forma cínica, mas foi tocar como se estivesse sendo obrigada. Maddie estava realmente apreensiva mas Zac mandou um sinal de “joinha” com as mãos e ela se sentiu melhor. Cada minuto que passava se sentia mais próxima daquele amigo tão gente boa.

Então eles começaram a tocar — não era o som perfeito, mas para uma banda de dois meses era ótima — e ela cantou rapidamente. Começou com a voz trêmula, mas logo sua voz doce e calma se adaptou perfeitamente. Em nenhum momento abriu os olhos até o rifle de guitarra chegar e ela perceber quem o tocava tão bem. Ficou surpresa a notar que era Noah, afinal, já que Julia esbanjava seu ego musical deveria ser excelente, pelo menos.

E ao terminar a música ficou surpresa. Eles realmente tocavam muito! E todos pareciam surpresos também. Ela realmente cantava muito!

— Isso... foi... perfeito! — Zac gaguejava no sofá. — Acho que era assim que Andy Warhol se sentia em relação ao Velvet Underground.

— Realmente, você tem uma voz linda. Digna de uma Nico. — Leon brincou com o nome da vocalista da banda.

— Só não se esqueçam que a Nico levava mais crédito do que a banda em si. — Julia falou e o clima chato voltou novamente.

— Não tem nem o que dizer, você tá dentro. — Leon falou.

Ela sorriu e se sentiu aliviada. Depois disso mostrou suas composições para Leon — que agora descobrira ser o “líder” da banda e realmente adorou. Todos conversaram bastante e ela finalmente entendeu todo o lance do projeto que era o seguinte: Zachary era primo de Matthew, que era vizinho de Leon, um baterista freelancer. Zac precisava bolar um projeto para ser aceito no curso de Fotografia da Academia de Artes, por isso tinha de organizar algo criativo e altamente artístico. Um dia conversando com Leon, perguntou se podia fotografar um dos seus trabalhos musicais e ai ele comentou algo como “Por que não fotografa algo mais novo?” E ai a ideia surgiu. Ele queria relatar a história de uma banda e expressar tudo que passaria dali em diante em fotos.
Maddie também entendeu o nome da banda que era uma espécie de apelido para uma droga chamada dextroanfetamina (sim, isso a assustou também, mas ela já tinha suas dúvidas em relação ao Noah).

Todos pareciam gostar dela e estavam muito empolgados. Durante a tarde inteira criaram mil ideias para músicas. Mas o que a intrigava de fato era compreender qual a implicâncias de Julia que continuava tratando tudo como se fosse obrigada.
No fim daquele dia, Zac a levou andando para casa.

— É eu amei o som deles, de verdade.

— Falei que ia dar certo. — ele falou. — Eles ficaram tão impressionados com a sua voz. Eles geralmente criticam tudo.

— É, aquela Julia se manteve então.

Zac sussurrou um “pois é” baixinho, como se sentisse muito por ela.

— Eu não entendi qual é o problema dela comigo, de verdade.

— Ela não deve ter ido muito com a sua cara, acontece.

— Não foi mesmo, até me chamou de patricinha. — Maddie falou brava mas depois riu. — Até ficou constrangida por tocar.

— Ela ficou com cara murcha porque você arrasou.

— Zac para de puxar meu saco, na real.

— É inevitável Maddie, é inevitável. — eles riram no meio da noite daquelas ruas escuras, mas logo chegaram a casa dela e encontraram Elvis em cima do carro com a boca vermelha. — Ei olha só quem cometeu um grande crime ao um pobre ratinho.

— Ratinho? — Maddie o pegou no colo. — Se eu fosse você suspeitaria que qualquer ser pode ser uma vitima desse psicopata. Elvis é um ser obscuro.

Uma coisa que os dois tinham em comum: um humor engraçado em relação a animais.

— É, acho melhor eu correr então. — ele brincou e deu um beijo na bochecha dela e fez um carinho na cara de tédio do gato.

Maddie entrou em casa e estava sozinha, para variar. Seu pai trabalha o dia inteiro, e só chegava depois das dez da noite.
Sentou no sofá, com aquele sentimento oposto do vazio, que geralmente sentia. Sorriu para a televisão que vivia sempre desligada, e logo em seguida ligou o aparelho de som e sem checar qual era a fita, se deparou com Velvet Undergound no volume máximo. Coincidência ou não, passou os vinte minutos seguintes dançando com o gato até seu pai aparecer com cara de sono na sala e soltar um "O que está rolando?".

— Ah pai. Acho que você tem uma filha incrível. — ela disse e foi para seu quarto.







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