Pequenos Extremos escrita por Bru_na


Capítulo 1
Pequenos extremos




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Ela pegou um papel dobrado, quase rasgado pelo tempo: o roteiro que escreveu quando tinha nove anos de idade. A renúncia às canetas coloridas garantiam um ar de seriedade ao quase documento... o título? Ela nem lembrava de quando escrevera, embora trouxesse uma imensidão que nem podia ser compreendida pelo ontem: “Minha vida”.

Ela deveria estar brincando, pulando corda ou amarelinha com as meninas de sua idade, mas era reclusa... justificava a solidão como forma de concentração. Estava sempre ocupada planejando quem seria, toda vez que a pediam companhia.

Tinha o péssimo hábito de querer crescer, quase uma síndrome de Peter Pan às avessas, virar apressadamente as folhas da infância.

A letra ainda estava mal formada, a alfabetização já não era recente, porém trazia pequenos erros de ortografia e o mundo dela era pequeno... poderia caber nas palmas de suas mãos. Era exatamente isso que queria... controlá-lo, protegê-lo ao mesmo tempo que aprendia a amarrar os cadarços.

Quisera se jogadora de vôlei para conhecer cada parte daquele pequeno grande mundo, modelo, para desfilar em passarelas importantes e assim que a entrevistassem pediria que salvassem a natureza... já tinha o discurso pronto, e por fim seria advogada, para “exterminar” a injustiça. O hoje riu daquela palavra.. e riscou a última frase. Diziam a ela “como é decidida, se mantiver a cabeça no lugar vai longe”. Ela agradecia estufando o peito e aumentando as responsabilidades.

Talvez fossem só rabiscos num papel amassado, o abandonou. Ela não fazia idéia do ponto em que se perdera nesses 10 anos que ligavam o ontem e o hoje, pouco reconhecia-se : “Iria mudar o mundo, agora assiste à tudo em cima do muro”, já dizia um grande poeta.

Atualmente a maior parte do seu tempo é dominada por aqueles dias que ela tem vontade de fazer teatro, para interpretar as mil faces que podia ter.. para parar de chorar um tempo passado.

Retomou o papel em sua mão por um breve instante imaginando o tamanho das mãos que o seguraram outrora. Se ela encontrasse a garotinha que era aos nove anos sentiria vergonha por demonstrar-se metade do que a menina escrevera... talvez fizesse promessas políticas e esconder-se-ia atrás de desvios no percurso, derramaria lágrimas de decepção... Mas talvez aquela garotinha a abraçasse e dissesse:

“ Eu ainda acredito em você”

O final dessa história só depende dela viver, caneta e papel em mãos...



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