Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 23
Acordo


Notas iniciais do capítulo

Obs: Mudei um pouquinho a capa. Gostaram?



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Em um segundo ele já está fazendo massagem cardíaca, com movimentos tão rápidos e firmes que todos ficamos com os olhos sem piscar observando o corpo do meu avô balançar sob a maca. Meu pai analisa cada segundo de suas ações – para ter certeza de que ele está tentando salvá-lo e não o contrário – enquanto Raul resmunga algo ininteligível antes de começar a respiração boca-a-boca.

Aquilo precisava dar certo. Pelo menos até a ambulância chegar, aquilo precisava realmente dar certo.

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Cap. 23

E tudo termina em apenas um minuto. Um minuto que abriga a decisão correta de Raul, como os primeiros socorros que ele se dispôs a fazer com rapidez e precisão. Um minuto até a ambulância chegar e levar meu avô direto pro hospital.

Foi tudo tão rápido que mal pude me despedir direito de Raul; nem de agradecê-lo como deveria. Eu apenas olhei em seus olhos com tanto amor até que ele assentiu, então virei-me e entrei no carro – Pedro dirigindo mais rápido do que nunca. Mas eu teria muito tempo para lhe agradecer. Deus queira que eu tivesse. Tudo aquilo ia ter um fim. Um final feliz.

O médico chega para nos dar a sentença – morte ou vida – eu esperava sinceramente pela segunda. Apesar de tudo que ele fez, de tudo mesmo, eu amava o meu avô. Sempre o amei. Nós nunca, jamais tivemos desavenças até essas últimas descobertas, mas a ideia de pagar uma vida com outra nunca me agradou. Se ele tivesse que pagar seria nesse mundo – não no outro.

– E então doutor? Como ele está? Está vivo? Diga logo! - meu pai saltou da cadeira da sala de espera quase pulando no pescoço do médico, os olhos vermelhos, os ânimos exaltados.

– Não se preocupe, sr. Arthur, seu pai já está consciente. O que ele teve foi uma parada cardiorrespiratória. Agora ficará em repouso absoluto até melhorar completamente. - disse o médico com uma expressão otimista.

– Oh, Deus, obrigado... - meu pai se jogou novamente na cadeira, e um alto suspiro de alívio vindo de todos nós ecoou a sala.

– Sr. Arthur, a propósito... - o doutor para e vira-se antes de ir embora - …aquele rapaz que encontraram dando os primeiros socorros, bem... acho que deveria agradecê-lo. Se ele não tivesse agido, com certeza nós não teríamos conseguido chegar ao seu pai a tempo. - ele sorri e se retira.

Então é isso. Raul realmente salvou meu avô. Não havia sido apenas uma ajuda – pelo contrário – aquilo foi crucial para a vida dele. Meus lábios se abriram num largo sorriso. Eu sabia que aquilo havia valido a pena.

Olho para o meu pai; seu rosto enrijecido e os olhos cerrados após ouvir aquela afirmação de alguém que não mentiria para tentar proteger um bandido. Alguém que não fosse eu.

Estava pronta para começar novamente o meu discurso, mas quando o vejo acenar para mim – para me juntar ao montinho que ele, minha mãe e meu irmão formavam com um abraço – calei meus lábios antes mesmo que se abrissem. Corri pro seu abraço, deleitando-me com o calor da minha família depois de tanto tempo, de tantas discussões e consequências trágicas. Nós estávamos juntos nessa, como sempre estivemos. Essa história com Raul teria de ser mais uma a ser superada.

Meia hora depois, o médico permite apenas uma visita ao quarto do meu avô. Ficamos na sala – eu, minha mãe e meu irmão – enquanto vejo meu pai desaparecer corredor a dentro. Cinco minutos depois ele volta sorrindo, dizendo que pelo menos ao que parece está tudo bem com o velho Heitor; e que devemos esperar o horário de visita de amanhã para visitá-lo.

Chegamos em casa, todos saturados por aquele dia incrivelmente cheio, então acho melhor não tocar no assunto “Raul” por enquanto. Joguei-me sobre o sofá, pensando como abordar esse assunto amanhã, quando ouço meu pai dizer:

– O médico estava certo. Talvez eu esteja devendo um pouco ao garoto. - diz, com um certo desânimo na fala, que torna a minha completamente animada quando digo:

– Sério, pai? Vai ajudar Raul? - pergunto, a esperança ardendo novamente em meus olhos.

– Eu ainda não sei, não sei o que devo fazer... o que é certo, ou o que é justo.

– Mas você deve fazer algo! - minha mãe interrompe. - Ouça, Arthur, sei que esse garoto não passa de um marginal para você. Sei que ele sequestrou a nossa filha para vingar-se de nós. Tenho consciência de todo o desespero que passamos quando ele a mantinha em cativeiro. Mas... - ela faz uma pausa para respirar fundo e chegar mais perto dele. - Mesmo depois de tudo o que Heitor fez, esse garoto desistiu por Lexi. Depois o salvou! Isso é mais do que qualquer um de nós esperaríamos de alguém que sofreu tanto por culpa do seu pai!

– Eu não sei, eu não sei... - ele balança a cabeça e anda de um lado pro outro; grave sinal de absoluta indecisão; então ainda há uma chance de vencer essa.

– Por favor, pai. Ele merece essa chance! Nunca teve ninguém ao seu lado para o aconselhar, para tirar essa ideia louca de “vingança com as próprias mãos”. Ele só precisa de uma chance, eu vou ajudá-lo...

– O quê? Você vai o quê? - ele exagera no tom de voz debochado. - Quantas vezes eu já te disse, Lexi?! Fique longe dele! Não é bom para você!

– Pai, eu já vou fazer dezoito anos. Ambos sabemos que dezoito anos não são dezoito dias. Então eu sei o que estou fazendo, sei com quem estou lidando!

– Você não o conhece, filha...

– Pai, eu o amo. - e antes de perceber eu já falei. Vejo seu rosto se apavorar por um momento, e longo depois ficar sério. Resolvo continuar. - E não adianta vir com aquele papo de psiquiatra de novo, porque não vai dar certo. Isso não é loucura... isso é amor. Ou pelo menos a maior parte. - digo e vejo um quase esboço de sorriso em seus lábios, que logo é trocado por uma expressão de ideia.

– Certo, deixa ver se eu entendi. - ele para, se senta ao meu lado e continua – você quer que eu o ajude, e eu quero que você se afaste dele. É isso, não é?

– Exatamente. - confirmo.

– Tenho uma proposta a lhe fazer. - ele levanta o dedo, esperançoso.

– Vai ser igual a primeira? - digo, lembrando-me de quando ele quis que eu escolhesse entre ir embora ou ser internada numa clínica psiquiátrica.

– Não. - ele responde rápido – Me desculpe por aquilo, filha, é que... bem... eu estava tão desesperado que perdi a noção... - ele balança a cabeça, tentando afastar o pensamento, depois volta a olhar para mim, determinado – Isso está mais para um acordo. Ambos vamos ter o que queremos. Eu prometo.

– Então você vai querer que eu me afaste dele a troco de... - paro esperando uma resposta, analisando seu olhar.

– A troco de eu conseguir reduzir a pena dele. E então... você aceita?


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