Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 12
Expulsa




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Nosso beijo foi bruscamente interrompido com um susto. O barulho dos copos e pratos caindo no chão fez nossos corpos se separarem rapidamente.

– Cortez! O que significa isso que eu acabei de ouvir?! – Joel estava furioso. Tinha deixado todo o nosso café da manhã cair no chão e parecia nem se importar.

Acho que ele ouviu a parte final da nossa conversa. Mas... ele não ia desacatar Raul, ia?

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Cap 12

– Ei cara, qual foi? Você derrubou tudo no chão! – Raul ainda estava levando na brincadeira a atitude de Joel.

– Eu quero falar com você, agora! Lá fora! – agora Joel gritava.

Raul me olhou com uma cara confusa, como quem pensou “porque ele tá assim?”. Levantou-se e os dois saíram para o corredor, trancando a porta. Eu, claro, corri e encostei meu ouvido na frestinha para tentar ouvir alguma coisa. E nem precisou. Joel falava tão alto que se eu estivesse na cama o escutaria com a mesma precisão.

– O que você acabou de dizer para aquela garota, cara?! Você tá louco?! Tá apaixonado por ela? – Joel gritava.

– Ei, calma, calma. O que você queria que eu tivesse dito? Que ia a deixar morrer se tivesse piorado? É claro que a levaríamos num hospital!

– Eu não tô falando disso, Cortez! O problema é que você tá apaixonado por essa garota, e isso pode afetar os nossos planos!!! Se a gente tiver de fazer alguma coisa com ela pra conseguir o que queremos, como você vai fazer? Ela tá amolecendo o seu coração, daqui a pouco vai desistir de tudo!!

– Nunca, Joel. Eu nunca vou desistir. Eu prometi isso ao meu pai.

– E então? O que nós vamos fazer com ela? Não dá mais, cara!

E o silêncio ecoou todo o lugar. Como assim ‘o que fazer comigo’? Raul não havia respondido. A única coisa que eu ouvi foram os passos deles ao se afastarem, talvez tenham percebido que dava pra eu escutar tudo. Droga! Logo agora que estávamos tão bem, Joel estraga tudo! Bem, mas acho que não há nada a me preocupar. Raul gosta de mim, e eu tô cada vez mais apaixonada por ele. Eles vão se resolver e vai ficar tudo bem.

Esperei o resto do dia Raul voltar, mas foi em vão. Joel mandou outro garoto ir levar comida pra mim e limpar a bagunça que ele tinha feito. As horas se arrastavam, e eu já estava agoniada com aquela situação.

Às 8h da noite, a porta se abriu. Era Raul.

– Ah, finalmente você voltou! Passei a tarde toda só! – me levantei da cama e puxei seu rosto pra beijá-lo. Mas, estranhamente, ele virou o rosto. – O que foi? Aconteceu alguma coisa?

– Eu preciso falar com você. – sua expressão era de seriedade.

– O que houve? Você brigou com o Joel?

– Não.

– E então?

Raul respirou fundo. Parecia não querer ter que falar o que iria.

– Eu quero que você coloque a roupa que chegou aqui e pegue sua mochila.

– O quê? Pra quê você quer que eu vista a farda do colégio?

– Porque... você vai pra casa.

Aquilo saiu arranhando a garganta dele e calando a minha. Eu não estava acreditando no que ele havia dito.

– Mas, por...que? – eu gaguejava.

– Eu não preciso mais de você aqui. Seu pai já mandou o dinheiro do resgate, então...

– Então, o quê? Você tá falando como se não sentisse nada por mim, como se nós nunca tivéssemos tido nada!!! – gritei, embora suas palavras nada me parecerem convincentes.

– E nós tivemos alguma coisa?

Aquilo foi um baque pra mim. Como ele podia estar falando assim? Caí sentada na cama, olhando pra ele. Ele desviava o olhar.

– A gente... a gente... – minhas lágrimas começaram a rolar e um nó criou-se em minha garganta.

– A gente o quê? A gente nada! Eu só fiz tudo o que fiz pra você ter confiança em mim e não dar trabalho. Sabe? Pra eu não ter que te matar.

– O quê? Pra não ter que me matar? – o sangue começou a subir – Então, já que você tanto quis desde o início... me mate! – gritei em seu rosto.

Raul ficou imóvel. Sua expressão misturava raiva e angústia. Ele olhou pro lado e chamou Joel, que me carregou pelo braço até fora do galpão. Pela primeira vez eu estava vendo por fora o lugar que eu passara meus últimos dias. Estava escuro, mas lembrei de já ter estado aqui com o meu motorista, atrás de algo que não me lembro.

Eu entrei no carro, ainda assustada. Raul, na calçada, não tirava um segundo os olhos de mim. Ele parecia triste.

– Desapega! – gritou Joel, empurrando Raul pra dentro do galpão, enquanto Fabrício me vendava.

Deus! Eu ia pra casa! Não era isso que eu sempre quis desde que cheguei aqui? Então porque eu sinto como se eu ainda tivesse um pedaço de mim naquele galpão? Como eu me sentiria completa sem ele?

Minutos depois o carro parou. Desci ainda com a venda nos meus olhos e fui instruída a ficar assim até que o barulho do motor do carro desaparecece. Assim fiz. Quando a retirei dos olhos, me vi numa rua escura. Só então percebi que minha casa ficava a uma quadra dali. Comecei a caminhar rapidamente, meus passos rápidos faziam daquilo uma corrida. As lágrimas caíam como cachoeiras, ainda lembrando dos olhos de Raul pra mim.

Quando percebi já estava na porta de casa.

– Mãe!!! Pai!!!! – gritei alto, batendo no portão. Minha voz falhava.

– Lexi!!! – o coro da minha família foi incrível.

Todos, assim como eu, estavam chorando. Mas, em parte, não pelo mesmo motivo.


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