Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 10
Efeito colateral




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/393476/chapter/10

Nossos gritos eram tão altos que os outros vieram correndo e nos separaram. Eu estava com tanto ódio que queria rasgar a cara de Raul todinha com as minhas unhas.

Enquanto eles tiravam Raul do quarto, não pude deixar de soltar essa:

– Eu prefiro morrer a olhar na tua cara mais uma vez!!!!!!!

Raul bateu a porta do quarto com força.

A mim, só restou chorar, além de fazer da cama um saco de box o resto do dia.

–--------------------------------------------------x--------------------------------------------------

Cap. 10

Às 8h da noite, Joel veio trazer o meu jantar. Sua expressão era de completa dúvida. Ele pensava que eu iria perguntar algo do Raul. Mas eu não iria. Estava com raiva demais. E com muita dor de cabeça.

– Tem algum analgésico? Minha cabeça está explodindo! – perguntei.

– Uhm... acho que só na maleta do Raul tinha, mas ele levou embora com ele. – claro, ele tinha que tocar no assunto “Raul” – Mas eu vou rapidinho em uma farmácia e compro pra você.

– Que milagre. Tá sendo bonzinho. – falei, brincando.

– Rá, é que a briga foi feia, garota. Não sei como ele não te deu uns tabefes.

– Ele nem é louco de encostar a mão em mim!

– Olha só o que você tá falando... Depois de hoje acho bom você ficar pianinho com ele, ouviu?!

Dei de ombros. Não queria mais saber daquela conversa. Joel saiu e eu já estava rezando pra que ele voltasse logo com os meus analgésicos. Deitei-me na cama. Minha cabeça parecia que ia explodir.

– Alexia, Alexia!!!

Abri meus olhos com dificuldade, parecia que tinha um elefante marchando na minha cabeça. O relógio marcava 9h. Era Joel, provavelmente com meu remédio.

– Alexia, você tá legal? – disse ele, tentando retirar a coberta que eu enrolara o corpo todo.

– Uhm... eu acho... que não... – respondi, meio fraca.

– Caraca, você tá queimando em febre!

– O quê?

– Alexia, eu vou ter que chamar o Raul! – disse ele, já se levantando.

– Nã... não. – minha voz denunciava meu estado.

Não adiantou. Joel saiu correndo do quarto pra chamar Raul. Que ódio. Além de estar doente, vou ter que ver aquele imbecil de novo...

Apesar de Raul não ter batido em mim, meu corpo doía como se ele tivesse me enchido de bofetadas. Minha cabeça parecia um coco vazio, e ao mesmo tempo um saco de chumbo.

9h 30min. Acho que eles não vêm mais. Provavelmente, Raul disse que iria me deixar morrer, fazendo jus ao que eu lhe tinha dito: “Eu prefiro morrer a olhar na tua cara mais uma vez!”. Então, só me restava tentar fugir. Quem sabe, se na correria, Joel não esqueceu a porta destrancada?!

Tentei me levantar devagar, e fui caminhando até a porta. Minha cabeça latejava, meus passos cambaleavam em zigue-zague. Quando estiquei a mão para tentar abrir a porta, minha visão escureceu e não consegui me segurar nas pernas. Em uma fração de segundo, vi a porta se abrindo, dois pares de pernas correndo pra me acudir e a voz de Raul ecoando no quarto, gritando meu nome. Eu desmaiei.

– Alexia! – Raul falava baixinho tentando me acordar. – Ei, Alexia, você tá legal?

– Hum... aham. - meus olhos começaram a se abrir.

Só então me dei conta da situação. Eu estava deitada na cama, Raul sentado de um lado, Joel do outro e os outros meninos aos pés da cama. Pareciam velar um morto! Todos com os olhos arregalados, como se eu fosse importante pra eles.

– Você tem que tomar esse remédio aqui. Sua febre tá muito alta. – falou Raul, sério.

– Eu não preciso de você. Eu mesma posso me cuidar. – retruquei.

– Aham, se não fosse eu você estaria até agora desmaiada no chão. Toma logo isso, Alexia.

Virei meu rosto para não ter de olhar nos olhos dele. Seu rosto estava tão próximo ao meu que eu podia sentir sua respiração pesada, provavelmente já com muita raiva de mim.

– Tá legal pessoal. Deixem-me as sós com ela. – falou Raul.

Todos saíram sem dar uma palavra. As ordens dele pareciam ser acatadas sempre sem nenhuma objeção. Afastou-se um pouco mais de mim, e segurou meu rosto para que eu o olhasse.

– Eu não tô brincando, Alexia. Apesar do que você me disse hoje, eu estou aqui. E sinceramente, não queria estar. Você tá com 40 graus de febre e precisa tomar esse remédio, ou você vai morrer.

A bronca que ele estava me dando parecia direcionada a uma criança de 5 anos. Mas eu ainda resistia.

– Se não queria vir, não vinha. Se fosse só pra me dar o remédio, Joel me dava. Eu não preciso da sua misericórdia!

– Mas eu não posso deixar você morrer! – ele quase gritou ao dizer isso. Percebendo sua exaltação, virou o rosto, tentando disfarçar.

– O quê? Tá preocupado comigo?

– Já te disse, você vale mais viva do que morta.

– Eu valho mais viva do que morta... Pra quem, Raul? Pra minha família ou pra você?

Fui direta. Aquela discussão estava me dando nos nervos. Tudo o que dizíamos um pro outro me dava nos nervos. Eu não entendia o que sentia, não entendia o que ele sentia.

Raul por um momento hesitou. Olhou-me com os olhos arregalados, como uma criança que estava fazendo “arte” e que acabara de ser descoberta pela mãe. Depois sorriu de canto e fez sinal negativo com a cabeça.

– Digamos que... pra sociedade. Agora toma esse remédio!

Ele me empurrou o comprimido e o copo d’água e ficou olhando pra minha cara o tempo todo, “checando” se eu realmente tinha tomado o remédio. Eu estava com muito frio por causa da febre, peguei as colchas e me enrolei como se fosse um casulo. Raul me olhou com cara feia.

– Nananina não, mocinha! Não se embrulhe tanto!

– Mas eu tô com frio!!

– Mas não pode!

– Mas eu preciso de calor!! – falei, manhosa.

– Calor? Você quer calor?

Se eu pudesse voltar no tempo e apagar minha última frase, teria o feito. Assim, Raul não teria feito o que fez. Ele tirou a blusa e sentou-se junto a mim. Puxou-me para que eu deitasse em seu peito. Não pude me conter, eu estava muito mal.

– Porque você é tão teimosa? Porque me irrita tanto? Porque não pode ser uma vítima normal como todas as outras? – questionou Raul.

Eu mal conseguia abrir a boca pra falar. Além da febre, dor de cabeça e cansaço, a pele quente de Raul era como um convite pra um sono pesado. Eu queria que ele ficasse ali pra sempre.

– É que eu... eu acho que... eu gosto de você.

Nem eu mesma acreditei no que havia dito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sete Chaves" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.