O Mistério de Winter escrita por Marykelly


Capítulo 15
Uma estranha no ninho


Notas iniciais do capítulo

Oi, povo! Finalmente lenha na fogueira.
Gente, vejo tantas leituras, mas nenhum comentário :(.
Deem uma forcinha comentando. Comentem Oi só para que eu saiba que estão lendo!
Abraços. Boa leitura



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— Ronin não era lá muito dedicado a lutar pelos ideais que meu pai e o seu acreditavam. – Alex continuou falando do irmão. – Não podíamos obrigá-lo a se importar.

— Eu sinto muito. – Digo com sinceridade. Ela tinha um semblante cansado, parecido com de Tate e muito provavelmente com o meu também.  Eu só podia imaginar que ela também já tinha sua cota de dor. Alexandra Dashner era uns bons 5 centímetros mais alta que eu, chegava quase a altura de Tate, era loira e tinha os olhos verdes. Apesar de termos a mesma idade, ela parecia bem mais confiante e segura do que estava acontecendo, não parecia perdida e desesperada como eu devia estar.

Fazia tantos anos que não nos víamos, que nem a sombra da menina que me lembro existe mais. Alex se tornou uma mulher, uma combatente. Ela nos contou sobre como seus pais se dedicaram a dar a ela e a irmão a melhor educação para que pudessem cuidar de si próprios. Mesmo com a opção de ir embora, ela decidiu continuar com eles. Ronin partiu.

— Ele nem ao menos se importou se nossos pais podiam morrer ou não. – Ela continou. – Nos deu as costas sem pensar duas vezes. Não tinha notícia de Ronin há anos. Não até alguns dias atrás, quando o vi ao lado de Emilia. Ele simplesmente me jogou aqui embaixo, sem nenhuma resposta.

— Ele pode ter sido submetido a algum soro. – Tate responde. – Já passei por isso. Você não consegue falar, os movimentos são limitados, a consciência é o que te permitem.  

— Eu sei. Mas eu sentia que era ele. De verdade. – Ela respirou fundo. – Ele não tinha nenhum dos sintomas na pele nem nos olhos, nenhuma falha. Então, a não ser que tenham avançado bastante nos testes. Ronin está ao lado deles simplesmente porque quer.

— Sintomas? Falhas? – Pergunto, perdida no que estavam conversando e pareciam saber bem. – O que isso significa? Os experimentos ainda têm falhas?

Alex se volta para mim com um olhar cético. – Achei que tinha dito que ela recuperou as lembranças, Tate.

— Ela recuperou. – Tate afirma, olhando para Alex e depois para mim. Ele afaga meu ombro e sorri como se tivesse tentando me dizer que estava tudo bem.

— Nós sempre encontrávamos vocês nas reuniões, menos você, Samantha. – Alex falou. – Nas primeiras vezes eu sempre perguntava o motivo de você não estar presente. Queria reencontrá-la. Notei o incomodo do seu pai sempre que perguntava, então entendi que ele não a queria por lá.

— Ele queria protege-la. – Tate disse, olhando diretamente para mim. Ele sabia que isso iria me atingir, saber que eles estavam se reunindo sem mim por tanto tempo, me mantendo de fora.

Meu pai era um homem incrível, fugiu conosco quando eu ainda era muito nova, para salvar nossas vidas do que ele viu que estavam fazendo com as pessoas nos laboratórios financiados pelo governo. Construiu um refúgio para nós e para todos que ele conseguia recrutar. Só isso seria considerado um feito enorme, mas ele foi além. Foi em busca de aliados que pudessem ajudá-lo a impedir que as pessoas fossem condenadas a viver sendo mortas, torturadas e tantas outras coisas horríveis vindas de um governo autoritário. Ele ajudou a construir uma revolta que estava explodindo e iria mudar nossas vidas para sempre. Eu o admirava tanto, o amava mais que tudo. E por isso sempre me recriminei quando se quer por um momento pensei se ele me negligenciava. Eu não tinha uma vida normal e aprendi isso. Só não estava preparada para as perdas, e isso me afetou terrivelmente. Me afastar da vida que eles tinham, foi a maneira que ele encontrou de tentar salvar o que restava de mim.  

— Eu sei. – Respondo a ele.

— Acho que não temos muito tempo, então vou tentar te atualizar o máximo que puder. – Tate se apressou.  – Os testes ainda não estão 100%. Ainda há falhas e sintomas em muitas pessoas que são submetidas aos testes. Muitas baixas para que haja o mínimo de eficiência. O que quer dizer que ainda não conseguem controlar nossas mentes sem danos.

— E uma população morta ou invalida não serviria de nada.  – Alexandra completa.

— Quer dizer que é como se ainda estivessem atirando no escuro? – Pergunto. – Meu Deus. E você sobreviveu a isso. – Aperto a mão de Tate.

— Nós dois sobrevivemos. – Tate diz.

— O teste dela foi de alto custo financeiro, mas de baixo risco. – Alex diz, se referindo a mim. – Ler uma mente e induzir sonhos é mais fácil do que controlar totalmente. Movimentos, pensamentos, as variáveis são muitas. Controlar nossas decisões e ainda nos deixar pensar que temos livre arbítrio, isso que eles querem. Mas ainda não conseguem. Vamos torcer para que continuem assim por bastante tempo, se conseguirem o que estão procurando, não vamos ter qualquer chance.

— Isso não faz sentido. Há maneiras de manipulação sem que precise sequer tocar em nós. – Digo.

—  Não é suficiente para eles. – Tate diz, ele começa a olhar ao redor. Noto uma certa inquietação nele, mais que o normal. – Temos que pensar em um plano para sair daqui, não dá mais para esperar. Não há janelas nem tubos de ventilação, só dá para sair pela porta.

— Eu não sei. – Observo Tate se concentrar e penso um pouco a respeito sobre a ideia dele de que só queriam fazer os testes para ter controle.  – Quando Emilia falou parecia que para ela se tratava de algo mais... pessoal.

— Você esteve com ela? – Tate questionou. – O que ela fez?

— Nada, acho que ela só estava me testando. Mas ela disse... Quando se trata da família, nós não medimos consequências. – Repeti a mesma frase. – Na hora, parecia que ela queria me dizer algo. Eu acabei me exaltando e ela mandou que me tirassem da sala.  

— O que ela disse exatamente? – Alexandra quis saber. Contei rapidamente o que tinha acontecido na sala, o que ela falou sobre meu pai ter sido capturado e morto, sobre querer saber minhas motivações para lutar contra ela. Olhei para Tate enquanto falava, ocultei a parte que ela afirmou que eu não poderia estar ali por ele, que não tinha a mesma devoção que ele tinha por mim. Ela estava enganada. Eu o amava, era um sentimento incontrolável e tão forte que reconheci até durante a simulação, quando tudo foi apagado de mim.

— Isso é muito estranho. Se Lucas estivesse morto, com certeza já saberíamos. Iriam fazer um enorme acontecimento em cima disso.

Ela tinha razão.

Minha cabeça latejava terrivelmente.

— Rápido, eu ouço passos. – Alex alerta, ela tinha se aproximado da porta para escutar qualquer movimentação. – Se preparem. Se eu achar que conseguiremos fugir, vou atacar.

— Não temos um plano. – Tate responde.

Nesse momento, a porta é aberta bruscamente e cerca de 10 seguranças invadem a sala, eles entram em movimentos rápidos e precisos. Sem falar qualquer coisa, eles nos empurram contra a parede. Meu coração dispara, imaginando que talvez Emilia tenha falado a verdade, que meu pai esteja morto, que tudo está acabado. Não temos mais nenhuma serventia.

— O que está acontecendo? – Pergunto ao guarda que me mantem junto a parede, sei que é inútil e que não terei resposta, sinto minha visão ficar turva e decido falar mesmo assim, para que não acabe desmaiando.

— Ronin. O que está fazendo? – Alexandra fala. Viro meu rosto que estava colado a parede, tentando olhar para o homem que entrou na sala.

— Não quero estragar mais material. – O homem que deve ser Ronin fala. – Façam isso do jeito tradicional.  

Não tenho muito tempo para pensar no que isso significa, imediatamente o guarda tira uma arma que tinha na cintura, aponta na minha direção e atira. O choque é tão grande que não consigo raciocinar o porquê de não estar vendo sangue, minha visão embaça até que nós três caímos completamente inconsciente.

 

...

 

— Você... nos... traiu... Você... nos... traiu....

Consigo capitar alguém falando ininterruptamente. Minha mente gira. Estou deitada. Algo se move.

Estamos em movimento.

Volto a apagar.

 

...

 

— Samantha, filha...

Ouço uma voz familiar me chamando, uma que tenho sonhado há muito tempo em ouvir. Tenho medo de ser apenas mais um sonho e que quando eu abrir os olhos estarei amarrada na cela novamente, com um carrasco ao meu lado prestes a digitar algo na tela do computador que me fara sentir um terrível dor.

— Samantha...  

— Pai. – Minha voz é quase inexistente, mantenho meus olhos fechados. – Eu sinto muito.

— Filha, abra os olhos. Eu estou aqui. – Ele toca meu braço – Você está segura, está em casa agora.

A voz dele se torna mais firme, um porto seguro que me diz que não precisarei mais sentir medo ou dor, que estarei protegida de tudo.

Abro os olhos.

O que vejo quando finalmente meus olhos se ajustam a luz, é um rosto familiar que esteve comigo a vida toda, um que há muito tempo não via. Ele está com semblante franzido, talvez de preocupação por eu estar ali. Olhando mais atentamente, percebo que são as rugas que moldam seu rosto, ele está grisalho, já perto dos seus 50 anos. Solto o que parece ser um grunhido que não consigo segurar, transbordando minha emoção ao vê-lo.

— Você está aqui. – Consigo finalmente falar algo. Sorrio largamente e ele me abraça ainda deitada. Não consigo evitar as lagrimas que começam a correr aos montes pelo meu rosto. O aperto mais em meus braços. – Pai, você está aqui.

— Estou, minha menininha. Estou aqui. – Abro um sorriso pelo apelido antigo. – Eu senti sua falta. Demais.

— Achei que nunca mais o veria de novo. – Desabafo, com o rosto ainda enterrado no abraço. Aos poucos ele vai abrindo mais espaço e me ajuda a levantar lentamente. Sinto uma dor aguda no pescoço e atrás da cabeça, provavelmente onde eu bati durante a queda.  Em um susto, recordo de tudo que aconteceu antes de eu parar lá. – O que aconteceu? Onde estamos?

— Calma, tudo há seu tempo. Primeiro você precisa descansar. Está tudo bem.  – Ele tranquiliza, me impedindo de levantar. – Está em casa.

— Em casa? – Suspiro, incrédula.

— Sim. Não na nossa casa, mas está em casa. – Ele afaga meu rosto e minha cabeça se inclina involuntariamente em direção a sua mão.  Eu estava tão tensa todos esses dias que não conseguia notar o quanto eu estava esgotada. Eu precisava tanto de seu apoio. Queria pedir desculpa por tê-lo deixado, por ter estragado tudo.

— Tome, engula isso. – Ele pega um copo na mesa de cabeceira e me entrega o que acho ser um comprimido. – Você está muito machucada. Isso a fará dormir e se recuperar mais rápido.

— Não quero voltar a dormir.

— Não se preocupe. Quando acordar ainda estarei aqui. – Promete.

Reluto mas acabo pegando o comprimido e o copo com água. O liquido desce aplacando a sede e bebo até o fim. Após alguns minutos de ter ingerido, volto a deitar na cama.

— Durma. Teremos muito para conversar, mas antes se recupere. – Ele se aproxima e deposita um beijo em minha testa. Nesse momento já sinto o cansaço novamente e meus olhos voltam a se fechar.

 

. . .

 

Parecia ser noite quando retomo a consciência, a luz que vem da janela é fraca e ilumina apenas o suficiente para que eu enxergue a decoração simples do quarto que só tem a cama e uma mesa com cadeira. Noto uma grande melhora nas dores e me permito usar um pouco mais de força para me mover, uma leve tontura ainda persiste e levo um tempo para me por sentada completamente. Mentalmente tento refazer os detalhes do que aconteceu. Lembro dos guardas entrando na sala, de Alex falando com alguém que deveria ser Ronin. Depois ele ordenando que nos apagassem.

Levanto sem fazer muito esforço, caminho até a porta e tento ouvir o que está acontecendo do lado de fora. Ouço uma conversa baixa. Quando abro a porta, dois rostos se voltam para mim.

Encaro os dois homens que estavam fazendo a segurança na minha porta. Sei que estão nesse momento sem saber se fazem alguma piada para aliviar a tensão ou me abraçam forte. Tive o enorme prazer de crescer junto com eles, conheço cada detalhe de cada um. Não consigo evitar o enorme sorriso que se abre no meu rosto. Me jogo nos braços dos dois ao mesmo tempo, num abraço meio desajeitado, mas não tinha coisa melhor. A sensação de estar de volta era impossível de pôr em palavras.

— Puta merda.

— Você não acordava nunca.

Fiquei sem responder nada, apenas absorvi o abraço dos dois o máximo que pude. Diego e Juan eram o que se poderia chamar de melhores amigos de Tate, e, por consequência, acabaram por se tornar meus amigos também. Os dois tinham alturas bem próximas, o que me deixava batendo em seus ombros. Diego era só um pouco mais baixo, tinha o cabelo de um loiro quase ruivo que ele deixava crescer só um pouco em cima e raspava dos lados, tinha os dentes da frente meio tortos e maiores do que o normal, o que lhe rendeu alguns apelidos. Juan tinha um porte maior e uma aparência mais intimidadora, com exceção do cabelo castanho que ele mantinha sempre muito bem penteado.  

— Vocês estão vivos! –  Me afasto um pouco para olhar melhor para os dois. Era uma alivio vê-los bem após ver tanta gente sendo morta e torturada. – Estão a salvo.

— Caramba, nem sei o que dizer, Samanta. Nós sentimos sua falta. – Juan fala.

— Que loucura. Se queria se matar era só ter nos avisado, e não fugir para ir atrás do seu namoradinho. – Diego me segurou pelos ombros. – O que estava pensando?

— Eu sei. Sinto muito, sinto tanto! Sei que o mundo virou de cabeça para baixo por minha causa. – Digo com sinceridade. – Mas agradeço só de poder vê-los novamente.

— Vem, vamos te entregar umas roupas para você se trocar.

Caminho com os dois pelo que parece ser um corredor de uma construção industrial. O teto é bastante alto e as paredes raramente tem alguma janela, que dão para os outros quartos. Paramos em frente a um armário. Juan o abre e pega um par de roupas para mim, caminhamos até o que parece ser um banheiro que eles me indicam. Os deixo lá fora, sabendo que muito provavelmente quando sair eles ainda estarão lá. Ter minha própria segurança quer dizer que não querem me perder de vista. Uma pequena fagulha de preocupação me atinge, incerteza se irei querer saber até que ponto precisarei ser vigiada.



— Então, não fizeram nenhuma bobagem enquanto eu estava fora não, é? – Digo após já ter me limpado e trocado as roupas. Andamos até uma área ampla com grandes mesas e cadeiras de metal. Cruzamos com poucas pessoas pelo caminho, algumas me olhavam como se eu fosse um fantasma outros nos ignoravam completamente.

— Você nem faz ideia, sente-se em uma dessas mesas que vou pegar nosso jantar. – Diego fala.

Eu e Juan nos sentamos e ele fica inquieto quando ficamos a sós.

— Juan, tá tudo bem? – Pergunto, notando seu incômodo.

— Eu que devia te fazer essa pergunta. – Ele responde e sorri brevemente.

— Você parece estranho... Mas eu estou muito feliz em ver você de novo. – Seguro em seu braço. – Sabe, eu nem acreditei quando acordei aqui. Pensei que fosse morrer, mas quando acordei vi meu pai e... puxa. Onde eles estão?

Eu estava a ponto de explodir de ansiedade, queria rever meu pai e todos os outros o mais rápido possível. Ele me disse que teríamos muito para conversar. Eu só pensava nisso, no que ele diria, se estaria bravo ou decepcionado. Não seria surpresa se ele estivesse, mas ainda sim não via a hora de encontra-lo.

Olho ao redor. O lugar que estávamos não era o lugar que cresci, mas era semelhante a muitos outros que conhecíamos. Deveria ser um lugar abaixo de um prédio antigo, longe da tecnologia que poderia no rastrear, mas ainda sim perto o suficiente para reagirmos se necessário. A construção se assemelhava muito a um acampamento militar, tudo era muito restrito apenas ao necessário e eram raras as coisas supérfluas. Nesse momento um grupo de pessoas vestidas de preto passa pela mesa e se senta em outra mais distante, conversando sobre algo.

A familiaridade era reconfortante.

— Não se preocupe, para te fazerem mal agora terão que passar por nós. – Juan responde, me tirando dos pensamentos. – Os outros estão ocupados

— Ocupados? – Lembro imediatamente do que Alexandra havia falado. Que estiveram me mantendo de fora das reuniões sem que eu soubesse.

Eu devia parecer uma criança mimada, não tendo permissão para fazer o que queria e fazia mesmo assim, o que acabava fazendo-a ficar de castigo. Mas para mim era tão lógico, eu deveria saber o que estava acontecendo e me preparar para lutar junto com eles, ou pelo menos me manter longe de perigo. Era mais que questão de sobrevivência, era questão de segurança. Ignorante sobre tudo, eu era um alvo fácil. Pior que isso, arrisquei todo plano deles quando fui atrás de Tate. Isso não podia acontecer novamente.

Alguns anos antes, meus pais estavam quase aceitando meu treinamento para me tornar um deles. Fazia aulas de tiro e de defesa pessoal e me saia bem. Eu seria uma combatente assim que me fosse permitido um treinamento mais intenso. Isso mudou quando perceberam como fiquei arrasada e paranoica quando uma das minhas amigas foi assassinada na minha frente. Foi brutal e cruel demais, fiquei destruída e isso só piorou quando assassinaram minha mãe também. Ele estava tentando me proteger, eu sabia. Mas eu tinha que mostrar a ele que já tinha lidado com sofrimento suficiente e podia lidar com o que quer que fosse.

Juan não respondeu e eu sabia que ele não tinha autorização para falar. Nesse momento Diego chega com nossos pratos.

Decido mais uma vez agir por conta própria. Levanto e começo a andar em direção à entrada para os corredores.

— Ei, aonde você vai? – Juan pergunta enquanto Diego ainda se ocupava de colocar os pratos na mesa.

— Vou até eles. – Respondo e apresso o passo.

— Como assim? Você nem comeu ainda! – Diego protesta. – Pode acabar desmaiando.

— Eu volto já! – Digo.

— O que a gente faz? – Diego pergunta para Juan.

— Vamos atrás dela. – Responde.

Ando livremente pelos corredores, buscando alguma sala que indique ser maior do que a maioria, ou uma janela que mostre que há pessoas no interior.

— Samantha, pode esperar pelo menos que termine o jantar? – Diego tenta me convencer a voltar. – Não comemos nada o dia inteiro.

— Ele mandou que vocês me vigiassem, não foi? – Questiono, andando e procurando sala por sala.

— Você acabou de voltar depois de meses nas mãos do inimigo. – Juan protesta. – Espere um pouco até as coisas se acalmarem. – Sigo para um corredor mais amplo que se conecta com o que eu estou, eles seguem atrás de mim. – Deus, você continua com o mesmo temperamento.

Vejo uma movimentação através de uma das janelas e não penso duas vezes, me aproximo da porta e giro a maçaneta. Minha entrada abrupta causa um impacto inesperado, meu pai e Tate estavam discutindo seriamente, os dois pareciam discordar de algo e estavam bastante compenetrados no diálogo. Seja lá o que estivessem debatendo, pararam assim que me viram. A sala era bastante ampla, havia uma mesa larga de metal e cadeiras ao redor onde pude reconhecer alguns rostos familiares, líderes e agentes importantes. Alexandra estava entre eles. Um pouco mais afastado, noto o homem que entrou na sala junto com os seguranças e nos apagou.

— Ronin. – Chamo. Ele sorri para mim. – Foi você. Nos trouxe de volta.  – Afirmo. Ele acena com a cabeça e sorri novamente. Sorrio de volta, verdadeiramente grata.

— É bom ter você de volta, Samantha.

— Minha filha está de volta. E a salvo. – Meu pai comemora. – Amanhã teremos um grande jantar para celebrar seu retorno, querida. E a iminente queda do inimigo.

— Eu agradeço. Agradeço por tudo que fizeram. – Seguro sua mão quando ele se aproxima. – Mas acho que agora precisamos nos dedicar ao que aconteceu. Eu e Tate vimos tantas coisas enquanto estivemos presos, pai. Eu posso... posso contar o que aconteceu...

— Tate já está fazendo isso. – Ele comenta, seu sorriso agora deu lugar para uma expressão de curiosidade. – Ele estava nos deixando a par de tudo enquanto você se recupera. Coisa que você deveria estar fazendo agora mesmo.

Respiro fundo e tomo coragem para o que sei que será uma guerra. Tate me olha seriamente, provavelmente já ciente do que direi. Decido começar de uma vez. –  Teremos que falar disso uma hora, o que aconteceu comigo e com Tate foi minha culpa. Sei que passarei o resto da vida me sentindo culpada. Sei das consequências que isso trouxe para todos e também sei que é hora de lutar, precisaremos de todo pessoal que pudermos. Eu posso ajudar. Se pudesse... se...

— Ela quer se juntar a nós. – Alexandra afirma, com um tom de orgulho na voz.

Um murmuro começa a se formar entre os demais presentes na sala, meu pai me olha sem esboçar o mínimo de reação.

— Ela é uma menina. – Um senhor que aparenta ser um pouco mais velho que meu pai, fala. – Só irá nos pôr em risco, como já fez.

— Eu acho que ela aprendeu a lição, pai. E alias nós temos a mesma idade.

— É diferente. Você recebeu treinamento desde criança. – Ele contesta.

— Se ela quer lutar, deixe-a. – Ronin parte em minha defesa. – Acho que já basta de segredos entre nós. – Essa última frase ele diz olhando para Alexandra, sua irmã.

— Desculpe ter-lhe chamado de traidor. – Alex diz. Ronin pisca para ela, divertido.

— Pai. – O chamo. – Se me deixar retomar o treinamento...

— Não. – Ele interrompe, friamente. Seus olhos agora são dois círculos de gelo desprovido de qualquer emoção. – Acabei de tê-la de volta, não sairá da minha vista. Não quero mais que nos interrompa quando estivermos em reunião. Diego e Juan estarão com você 24h...

— Pai... – Sussurro, chocada com sua rigidez.

— ... Você não comerá, nem dará um passo sem que eu saiba. Até que entenda a gravidade do que fez, e o que isso significa.

— Se me deixar entender... – Tento argumentar, mas já é tarde e Tate está andando comigo em direção a porta.   

— Argh! – Protesto quando já estamos do lado de fora, no corredor. – Ele nem ao menos me deixa falar.

— Fique calma, ele está sob muita pressão. – Tate fala, sua voz suave e tranquilizadora só me deixam ainda mais irritada. – Está mostrando aos outros que tem você sob controle, que não é uma ameaça aqui.

— Eu? Ameaça? – Digo, quase arrancando os fios da cabeça – Tudo que tenho feito todos esses anos foi para tentar ajudar, ou pelo menos não atrapalhar. Sei que fiz besteira quando sai de casa e fui atrás de você sem ter nenhum preparo, sei disso. Fiquei com medo de perder você. Não consegui evitar. Fui estupida, mas sei que se eu participar das reuniões e receber treinamento avançado como vocês não precisarão mais agir como seu eu fosse um vírus perigoso e.. – Nesse momento Tate se move rapidamente e cessa meu falatório com os lábios, não me deixando chance de reagir ao beijo intenso. Sinto nossa respiração ofegante enquanto ele massageia sua língua na minha, me tirando a noção de tudo. 

— Hrum Hrum – Juan interrompe.

— Então o casal está mesmo de volta. – Dessa vez foi Diego.

Tate os ignorou e continuo depositando beijos nos meus lábios enquanto acariciava meu rosto.

— Isso não é justo. – Protesto.

— Espere só mais um pouco. As coisas vão se acalmar. – Ele diz. – Você já jantou?

Faço que não com a cabeça e ele olha irritado para os dois que estavam ao nosso lado.

— Não olhe para nós. Ela saiu correndo! – Juan me entrega.

— Coma alguma coisa. Descanse. – Tate pede.  

Faço que sim com a cabeça, concordando.

— Sam – Tate me chama. – Você não foi estupida. – Ele se aproxima de mim e sussurra. – Foi impressionantemente forte, e me deu uma enorme e maravilhosa prova do que sente por mim. 

Os pelos da minha nuca se arrepiam e eu tento me concentrar no que estava acontecendo no interior da sala. – Vai, você precisa voltar. – Digo.

— A noite eu irei te encontrar no seu quarto. – Ele se afasta e fala.

Observo enquanto ele entra na sala novamente e fecha a porta atrás de si. Aceito que fui totalmente derrotada dessa vez, mas descobri que tenho dois aliados valiosos. Alexandra e Ronin Dashner poderiam me ajudar. Estou de volta para as pessoas que me importo, não vou pô-las em risco novamente.








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Notas finais do capítulo

Ufa! E aí, gostaram? Comentem!



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