Carlisle

Eu havia chegado em casa tarde e nem jantei, só fui direto para a cama. Mas durante a noite, justamente quando achei que teria sossego, ela estava lá. Esme tinha aparecido no meu quarto, estonteante, falando dengosa.

Eu nem estava tentando lutar contra seus charmes! E então, ela já estava em meus braços e eu a beijava cheio de saudade. Nos amamos sem culpa naquela noite. E quando iria responder mais uma de suas insinuações carinhosas, acordei.

Estava um pouco suado e ofegante, claro. Mas tinha acordado com saudade. A verdade é que eu queria tornar aquele sonho real. Queria ter Esme. Mas os fatos atrapalhavam. Só que agora, já não eram tão importantes para negar a minha vontade.

Saí apressado de casa. Cheguei no hospital um pouco mais cedo do que deveria, mas não fazia diferença. Abri a porta do quarto de Edward e já a procurei com o olhar. Achei Esme tremendo enquanto dormia. Fui até ela e a toquei preocupado. Ela fervia de febre.

(...)

Quando Esme juntou nossas línguas, me senti completamente feliz. Eu precisava daquilo. Infelizmente, precisamos respirar e nos afastamos.

— Eu não consigo mais ficar longe de você. — falei encarando-a. — é estranho e não combina com a minha postura, mas tenho saudade de você.

— Mas, você se afastou e quando me afastei parece que gostou...

— Não! Essa noite sonhei com nós dois e percebi que eu queria sim estar com você. Tá, houve a traição com o Charles, mas não dá para me afastar mais.

— Eu não estava esperando por isso, Carlisle... — os olhos dela se encheram. — dói quase que fisicamente ficar longe de você. — e transbordou.

Limpei com o polegar a lágrima em sua bochecha.

— Seja sincera. — ela assentiu. — se sempre me amou, por que me trair?

— Você já sabe... Eu achava que você não me amava. Uma vez até achei que tinha outra. Então na hora, nem parecia que a traição seria tão forte. E eu acho que ainda era imatura e acabei te machucando assim... — ela começou a soluçar. — eu não sei como consegui magoar tanto você. Sinto tanta vergonha por isso. — ela escondeu o rosto com as mãos, realmente envergonhada.

Nem pensei em hesitar quando a abracei. Ela apoiou as mãos em meu peito e recostou a cabeça em meu ombro.

— Você já chorou demais. — afaguei seu cabelo. — e acho que eu te fiz se sentir pior todo esse tempo que te culpei tanto.

— Eu mereci. — levantei seu rosto vermelho pelo choro e a beijei.

Ouvi um estrondo no céu, mas não me movi, nem ela. Senti os pingos da chuva nos molhar, mas como ela não reagiu, também não reagi. Deslizei minha boca para sua bochecha e depois para seu pescoço. Podia ouvi-la rir e me sentia feliz por fazê-la se sentir amada.

— Eu te amo. — ela falou afagando meu cabelo.

Apesar do clima, eu não consegui responder do mesmo jeito. Me senti mal por isso, mas Esme nem percebeu. A abracei e colei nossas testas.

— Se der certo, promete que não vai embora de novo? — perguntei parecendo, contra minha vontade, um garotinho carente.

— Não, não, não. — ela segurou meu rosto. Fechei os olhos com o toque daquelas mãos delicadas. — eu tentei me convencer de que não te amava, mas... Carlisle, você é o homem da minha vida. — abri os olhos e ela me encarava firmemente.

Não consegui responder de novo, mas dessa vez era diferente. Ela me olhava com tanta verdade e de um jeito tão profundo que eu tinha certeza de suas palavras e não tinha mais nada a dizer, já estava tudo esclarecido.

— E agora? — Esme perguntou, de novo sem se importar com meu silêncio.

— Acho que voltamos a ser namorados. — segurei seu rosto. — senti muito sua falta. — desci as mãos para sua cintura.

Ela sorriu e ficou na ponta dos pés para beijar a ponta do meu nariz.

(...)

Emmett abriu a porta e entrei. Olhei para ele desconfiado. Era meu melhor amigo, mas não parava de pensar que estava no apartamento da minha irmã caçula.

— A Rose está na cozinha. — ela sussurrou. Assenti e quando me virei na direção do cômodo, ele segurou meu ombro. Olhei para ele. — seja o que for fazer, pegue leve com ela. Aquele tapa a deixou arrasada e ela está ainda muito triste.

— Vou pedir desculpas a ela. Mas o que ela falou...

— E você a agrediu na frente de mim e Esme e a expulsou de sua casa. — suspirei. — acho que todos tem sua parcela de culpa, não é? — olhei de novo para a cozinha e ele me soltou.

Respirei fundo antes de entrar. Rosalie estava lavando a louça e parou quando me viu. Fechou a torneira e se virou para mim.

— Eu queria te pedir desculpas pelo o que fiz. — ela se preparou para responder, mas continuei: — também foi muito difícil ouvir aquelas coisas de você, mas passei dos limites. Agradeço toda a sua preocupação comigo Rose, mas eu sei me cuidar. Não preciso que fique inimiga da Esme por minha causa nem que guarde tanto rancor. — desabafei. — eu só preciso que seja minha irmã. — sussurrei. Ela andou até mim.

— É realmente complicado Carlisle. Eu só queria te proteger, posso ter exagerado, mas eu sei que talvez eu tenha merecido aquele tapa. Pelas minhas atitudes, pelas minhas palavras... Mas eu só queria que você entendesse que tudo o que estou fazendo é por você e parece ser o único que não enxerga isso. — ela suspirou. — eu resolvi não atrapalhar mais. Se alguma coisa acontecer, não se preocupe, eu não vou mais me intrometer na sua vida. Satisfeito?

— Não dá para ter uma trégua com você não é? — disparei, me irritando também. — eu só quero ficar de bem, mas tudo é complicado com você.

— Sinto muito se me senti magoada por ter sido expulsa da sua casa na frente da sua namoradinha e do Emmett. Sinto muito por ser sua irmã.

— É disso que estou falando, você não consegue ceder nunca! — exclamei sem me importar com a presença de Emmett na casa.

— Eu já cedi muito com você, se quer saber! Eu também me canso! — ela gritou de volta.

Já estávamos brigados e eu realmente não estava a fim de piorar aquilo. Fui até a porta e me virei para ela:

— Não vou piorar isso. E só para você saber, eu voltei com a Esme. — ela franziu as sobrancelhas. — e nada do que faça vai mudar isso. — saí a passos largos.

Emmett não estava na sala e também não me importei. Só queria sair dali o mais rápido possível.

Esme

— Eu sabia! — Alice bateu palmas e segurou minhas mãos. — vocês merecem ficar juntos.

— Ainda estou com medo de estar sonhando. — confessei sorrindo.

— Mas você não está! — ela segurou meus braços e comecei a rir. — ele próprio deixou claro que te ama! — ela praticamente gritou no meio do restaurante.

— Fala baixo! — eu tentava não sorrir, mas era impossível. Algumas pessoas nos olhavam curiosas. — ele não falou nada sobre nos assumir, mas eu prefiro deixar em segredo até ele resolver contar para todo mundo. — ela assentiu com um sorriso enorme. — eu o amo muito Alice, não quero estragar tudo de novo.

— Você não vai estragar tudo, eu sei disso.

— Depois de tudo eu quero ter certeza disso também.

— Mas então, como foi? — ela se inclinou na mesa. — Vocês foram pra cama alguma coisa assim?

— Não! — ela revirou os olhos. — e mesmo se acontecesse, eu não sei se consigo. — olhei para minhas mãos.

— Esme... Vocês já foram casados... Você confia nele, né?

— Confio com certeza. — a encarei. — mas Charles conseguiu me machucar de todas as formas possíveis. Eu nunca me esqueci de como o Carlisle é carinhoso, mas... Também não esqueci do que eu passei.

— Eu aposto que o Carlisle vai fazer você esquecer tudo isso.

Suspirei. Eu queria acreditar que toda compaixão dele realmente poderia me fazer esquecer que um dia Charles existiu. Mas tinha medo de decepcioná-lo com minha insegurança e magoa-lo de novo.

Respirei fundo, tentando afastar esses pensamentos, lembrando a mim mesma que Carlisle tinha dito que sentiu minha falta e que agora eu seria dele de novo. Estava tudo como deveria ser e o resto, com sorte, se ajeitaria.