Esme

Carlisle abriu a porta e entrei devagar. Fiquei encarando o chão por um tempo.

— Eu só vim por que... Precisava saber como você estava. — falei quando ele fechou a porta. — eu queria ter vindo bem antes, mas não tive tempo...

— Estou bem. — respondeu ele, rápido.

— Que bom... Foi queda de pressão não é?

— Foi sim.

— Você sempre teve a pressão normal...

— Deve ter sido o stress, só isso. — ele começou a caminhar em direção a sala e timidamente o segui.

— Eu sinto muito por não ter contado a verdade, mas na hora me pareceu um pouco inadequado...

— E era, eu acho.

E quando ele estava de frente para mim, estranhamente comecei a sentir vontade de estar perto de seu corpo. Observei seus olhos ficarem mais próximos e então percebi que eu estava indo em sua direção. Percebi também que ele estava deixando minhas pernas trêmulas e dormentes só com o olhar, como antigamente.

Segurei seus ombros quando estávamos perto o bastante. Mas o que eu estava fazendo?

— Esme... — ele tentou falar e senti sua respiração rápida muito próxima do meu rosto.

— Não fala mais... — fechei os olhos e tudo o que nos impedia sumiu.

No início ele não correspondeu, mas também não me afastou. Então timidamente seus lábios corresponderam à mim. Segurei seu rosto. E no meio do beijo, senti aquela tranquilidade que só Carlisle me dava. Naquele momento, todas as minhas dúvidas sobre meus sentimentos se foram.

— Esme! — exclamou ele quando nos separamos. Foi então que tomei consciência da gravidade de mais uma das minhas burradas.

— Me desculpa, eu...

— Você nada! — ele gritou e comecei a chorar.

— Eu sinto muito...

— Não minta! Era isso que você queria não é? Me seduzir de novo?

— Não era minha intenção, aconteceu. Foi involuntário...

— E se eu caísse nessa sua conversa como seria? Você ia me trair de novo, não é? — ele veio até mim e segurou meus braços.

— Não! Eu já disse que me arrependi.

— Você... Você foi a pessoa que mais me magoou na vida, Esme. Eu te amava tanto... — meus soluços aumentaram e seus olhos ficaram marejados. — e você não faz ideia do que eu senti quando...

— Eu sei que você se machucou. Eu paguei bem caro pelo que fiz.

— O pior de tudo foi que você nem se importou... Você foi embora... Você me deixou aqui. — suas lágrimas finalmente saíram e as minhas se multiplicaram. Ele me soltou me senti desprotegida.

— Eu sinto muito do fundo do meu coração. E acho que... Sinto sua falta. Eu sinto algo por você! Eu não consigo esquecer tudo o que tivemos, não dá. Eu sempre lembro tudo aquilo quando eu olho para você. — as palavras rolaram para fora sem que eu pudesse controlá-las.

Ele estreitou o olhar para mim e respondeu:

— Sabe do que eu me lembro quando eu olho para você, Esme? — ele deu um passo na minha direção. — de chegar em casa e lhe encontrar no colo daquele homem, rindo com ele e me olhando assustada, como se realmente achasse que esconderia isso por muito tempo. Você jogou fora todas as lembranças boas que eu posso ter tido com você. Se você ao menos viesse conversar comigo... Mas para quê, não é? — limpei algumas lágrimas, mas não adiantou, já que muitas outras viram em seguida. — se você tinha quem te satisfizesse e quem te bancasse?

— Você me afastava o tempo inteiro! — respondi. — eu tentei de tudo para que você se sentisse atraído por mim, mas você se cansou de mim. Eu sei que não há justificativa bastante para o que eu fiz. Mas não foi totalmente em vão nem foi porque eu era imatura. Você não me amava mais.

— Eu te amava sim! Eu estava exausto, o trabalho estava difícil e eu não conseguia pensar em nada! Mas eu queria você, só que... Depois que tudo isso passasse. Mas você se apaixonou por outro!

— E esse outro foi quem me espancou, me abusou todas as noites e me humilhou, ok? Você consegue pensar o que é ser espancada até ficar inconsciente?! — Carlisle se calou. Me aproximei dele para continuar: — você imagina como é trair o homem com quem você perdeu a virgindade e descobrir que seu amante é um monstro? Eu acho que nunca mais vou conseguir ser tocada por um homem.

— Olha Esme, eu sei que você se machucou muito. Mas acontece que nenhum desses acontecimentos podem justificar o que aconteceu, isso porque só aconteceram porque você me traiu, entende?

— Eu entendo, mas... — segurei a mão dele e senti-o se enrijecer um pouco. — eu só não consegui deixar te amar. — mordi meu lábio inferior, as lágrimas secando em meu rosto. — eu sei que não serei correspondida, nem posso, na verdade.

— Eu namoro a Bella, você sabe disso.

— Sei sim. Por isso mesmo que não espero que corresponda. — soltei a mão dele. Fui em direção à porta e a abri, saindo da casa sem olha-lo.

Peguei um táxi e cheguei em casa rápido. Olhei uma mensagem no meu celular em que Edward avisava que chegaria tarde mais uma vez. Fui para o meu quarto e desisti do jantar.

Tomei banho e assim que me deitei e estava pronta para dormir, comecei a chorar. Depois de ter admitido o que eu sentia esse tempo todo, as coisas pareceram piorar. Eu sentia falta dele e as lembranças não eram suficientes. Eu nunca poderia tê-lo de novo. Chorei mais quando, sem motivo, me imaginei deitando ao lado dele e rindo com suas carícias.

Levantei e me surpreendi com o horário: 20:30 da noite. Peguei meu celular e liguei para Alice.

— Lice? — chamei fanha.

— Oi Es! Eu tenho uma novidade maravilhosa para te contar.

— Ah é? — perguntei sem qualquer curiosidade.

— O que foi? Você tá chorando?

— Eu preciso conversar, Lice. Por favor, nem que seja por telefone.

— Olha, eu estou em um restaurante próximo da sua casa, quando eu sair peço para o Jazz me deixar aí, ok?

— Ok. — ela deligou e só depois de alguns minutos fiquei curiosa com “ O Jazz me deixa aí”, mas me sentei, esperando.

(…)

— Oh Esme! — falou Alice quando eu abri a porta. Comecei a chorar mais uma vez e a abracei, como uma adolescente. — o que aconteceu? — ela entrou e fechei a porta, guiando-a para o meu quarto. Sentamos na cama.

— Eu falei tudo para ele, Alice.

— Ele é o Carlisle, certo?

— É. Eu desabafei, falei que ainda sentia alguma coisa por ele até roubei um beijo dele!

— Não acredito. Finalmente não é?

— Finalmente o quê, Alice? Ele também desabafou, disse basicamente, que eu não tenho chance.

— Claro que ele não falou isso! Você entendeu errado, eu sei que todo mundo percebe vocês dois, Emmett não me fala nada, mas eu sei que o Carlisle está balançado.

— Ele não tá. — solucei, assentindo negativamente. — ele até me lembrou que ainda namora a Bella. Ele nunca vai me perdoar... — deitei a cabeça no colo dela que começou a afagar meu cabelo.

— Amiga, não fica assim, ele vai te perdoar. Olhe o Jasper e eu. Estamos namorando e alguns meses atrás eu estava consolando ele depois da decepção com a Maria e também achei que ele nunca me daria uma chance, mas eu me enganei.

— Mas você não o traiu. Ele nunca mais vai me querer, ele ama a Bella. Eu ainda amo ele, Alice.

— Eu acho que ele sente algo, Esme. Vocês se amaram tanto...

— Eu estraguei tudo. — escondi meu rosto com as mãos quando o choro aumentou.

— Shhh... Pode chorar, amiga.