- Como assim meu pai te proibiu de ver a Sakura-san?! – Hinata gritava em casa, andando de um lado para o outro da sala enquanto gesticulava com as mãos. Começo a pensar que não foi lá uma boa ideia contar isso para ela...

- Quer parar de andar de um lado para o outro? Estou ficando tonto... – tentei, mas você acha mesmo que ela me ouviu? Acha mesmo isso? Claro que não! Parou de andar e me fuzilou com o olhar, parando a centímetros de meu rosto e batendo o dedo no meu peito.

- Você, Neji Hyuuga, é um baita de um covarde! – berrou na minha cara, me fazendo recuar. – Se continuar com essa atitude, sabe quando vai ficar com a Haruno-san? Nunca, nunca vai consegui-la!

- E quem falou que eu a quero? - sua expressão mudou por um segundo para atordoada, mas depois parou no estado irônico.

- Talvez a sua falta de sanidade quando está ao lado dela, o fato de ter batido no Kankurou por ele ter tentado alguma coisa com ela, ter comprado um colar caro para ela com as suas economias... – ela enumerava com os dedos. Revirei os olhos. – Quer que eu continue a lista?

- Não fiz tudo isso porque gosto dela, fiz porque queria que ela ficasse mais feliz e menos chateada por causa do maldito Uchiha que resolveu voltar de uma hora para outra... Falando nele, onde anda? Desde quando começaram as fofocas sobre ele ter voltado, não o vi – desconversei.

- Ele estava arrumando o distrito Uchiha ontem, enquanto você estava dando uma de covarde na frente do meu pai – ela deu um sorriso sádico. Essa garota me assusta.

- Eu não “dei uma de covarde”, apenas sou um Hyuuga e ele é autoridade no clã, se disse que eu devo ficar longe da rosada... Significa que eu vou ficar longe dela, porque é a coisa certa a fazer. É o melhor para o clã.

- E o que é o melhor para você? – suspirei.

- Que uma certa irmã pare de me chamar de covarde e aceite minhas escolhas – me levantei, caminhando até o meu quarto lentamente.

- Quando você parar de agir como um covarde, eu paro de te chamar assim. Vá ver Sakura-san! – segurou meu pulso e começou a me puxar para fora de casa, mas me segurei na primeira coisa que vi. Droga, um casaco. – Nossa, está mesmo querendo sair, não? – brincou.

- Cala a boca e me deixa em paz, Hina! – puxei meu braço de volta e coloquei o casaco, estava começando a esfriar.

A campainha tocou no mesmo instante, nos deixando estáticos por alguns segundos. Ela suspirou admitindo a derrota e abriu a porta. Ali estava o motivo de nossa briga: o pai dela.

- Hiashi-sama? – perguntei, mas na verdade soou mais como um “o que está fazendo aqui?”.

- Sei que vai fraquejar com o que conversamos, então estou aqui para ter certeza de que não vai chegar perto de Haruno Sakura – só então percebi a cabeleira rosa entrando no portão da casa. Ela parou no meio do caminho assim que ouviu o que ele disse. Engoliu em seco.

- M-mas... O que eu fiz? – ela perguntou, a voz falha. O patriarca deu um sorriso maldoso antes de se virar para ela, a encarando assustadoramente.

- Não é o que você fez querida, mas quem você é – ele disse, a fazendo estremecer. Sua voz estava dando medo até a mim.

- Qual o problema com quem eu sou? – não consegui saber se ela era mesmo tão inocente ou estava assim por causa do medo. É, é bem mais provável que seja pelo medo.

- Aparentemente nenhum, mas quando a comparamos com um Hyuuga, você perde todas as qualidades de que tanto se orgulha. Suas habilidades médicas combinadas à sua quantidade de chakra impressionante são uma boa combinação, mas quando você não se fere em uma luta, isso tudo se torna inútil. Considerando que essas são suas únicas qualidades, você é basicamente inútil.

- Inútil? Você faz ideias de quantas pessoas eu salvei durante aquela merda de guerra? – ela berrou, já deixando as lágrimas caírem. Eu não podia fazer nada a não ser continuar em silencio, assistindo tudo em silencio.

- É a única coisa que você consegue fazer direito e ainda se vangloria disso? – ele dá uma risada que faz com que mais lágrimas desçam. – Vou entrar no seu joguinho um pouco... Você faz ideia de quantas lágrimas derramou durante suas lutas? – os olhos dela se arregalaram e ele aumentou seu sorriso. – As pessoas normais passam 1/3 (um terço) da vida dormindo, você passa chorando! Sinceramente? Eu nunca vi uma garota tão fraca, chorona e inútil ao mesmo tempo, que se vangloria por nada e ainda exige respeito. Você é uma vergonha para o seu clã.

Ela não fazia ideia de como estava doendo em mim ouvir aquelas palavras, ele estava jogando em rosto os erros do passado dela, de todas as vezes que ela chorou por Sasuke ou em uma luta por alguém ter morrido... Não, para mim ela não era fraca, aguentou a fuga de sua primeira paixão e matou seu medo, se tornando extremamente forte e uma ótima médica.

Mas eu não podia dizer nada do que pensava, tenho medo das consequências se contraria-lo, ele é mau, um homem sem escrúpulos e sem medo nenhum de magoar as pessoas, ele poderia me expulsar facilmente do clã. Não, se em uma coisa de que eu posso me orgulhar, é de fazer parte desse clã, não vou jogar isso tudo fora por causa dela... Deveria? Não, é claro que não, não sinto nada demais por ela, é apenas uma atração física, não vai acontecer nada entre nós, logo isso passa...

- Você... – Sakura começou, tentando engolir as lágrimas e secando os olhos. – Você não vai dizer nada, Neji-kun?

Não, por que você teve que me colocar no meio dessa história toda? O que eu faço, o que eu faço, o que eu faço...?

- É melhor você ir embora, Haruno-san – eu disse, seco, me virando de costas para a porta e entrando em casa. Pude ver com o Byakugan quando ela não conseguiu novamente segurar as lágrimas e deixou que elas descessem por seu rosto, murmurando sem som algum as palavras “eu te odeio”. Aquilo doeu mais em mim do que eu pensava que doeria... Eu tinha feito a coisa errada ao escolher o meu clã antes de defendê-la?