Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 32
Capítulo 32 -Porta dos fundos


Notas iniciais do capítulo

Capítulo quentinho!

Beijos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/392712/chapter/32

‘Entre sorrisos doce e palavras gentis, agarrei-me a um fiozinho falso de esperança.’

Como se tivesse entrando em um campo minado, de mansinho e prestativa fechei a porta. O apartamento estava entregue ao silêncio absoluto. Nada que denunciasse passos perambulando na cozinha e corredor. Tranquilamente joguei a bolsa no sofá, olhei as horas, cocei a cabeça, olhei em volta – com tédio –, e suspirei indo ao quarto.

–BUUU!

–Megan!

A Scott ria prazerosamente, enquanto eu alisava o peito, tamanho susto.

–Você parecia um soldado em terras desconhecidas. – zombou ela se atirando no sofá, na companhia de uma panela cheia de brigadeiro. –Não se preocupe. Ethan saiu não faz muito tempo.

–Isso explica o cheiro de perfume por todo canto.

Um cheiro muito bom e novo. Quase viciante.

–Fiz brigadeiro. Você quer?

–Eu aceito. – sentei-me ao lado dela. –Está bom?

–É minha melhor especialidade. – gabou-se. –Melhor dizendo, é tudo o que sei fazer com perfeição.

E ela estava certa. Megan sabia fazer um delicioso brigadeiro caseiro.

–Nicholas já provou isso?

–Já e gostou. Mas por ele ser chato comigo, evito fazer brigadeiro para ele.

Pensando bem, Megan evitava fazer qualquer coisa para Nicholas. Agiam sempre como inimigos.

–Pensei que você fosse ficar mais tempo com Ryan.

–Ah! – respirei fundo. –Aconteceu uma série de coisas estranhas hoje, no mesmo lugar, na mesma hora.

–O que deu em você? Atravessou o caminho de um gato preto? – riu. –O que aconteceu?

–Bem, para começar meu azar do dia, Ryan teve um comportamento digamos que... intolerável.

–O mesmo Ryan certinho e gentil?

–É. Você acredita que ele perguntou como estava minha convivência com Ethan? E não foi em um tom de uma simples curiosidade, ele estava enciumado.

–O que você disse? – perguntou boquiaberta.

–Eu respondi que não tive contato com Ethan desde o dia que brigamos. Então, Ryan reparou que eu estava tensa, e assimilou meu estado de nervos aos meus sentimentos. Como se eu estivesse doida varrida de amor.

Megan riu. –Desculpa, é que... Pelo que você diz do seu namorado, ele é o cara mais pacífico do mundo. Como de um dia para o outro ele se transforma em um homem chato e enciumado?

–E obsessivo. Ele confessou isso. – o sorriso de Megan desapareceu e seu semblante pensativo surgiu do nada. –Fiquei um pouco incomodada. Sei lá. Eu olhava o Ryan e não conseguia enxergar o homem doce e gentil que conheci.

–Isso não é nada bom. – a seriedade dela já confirmava suas palavras. –Talvez ele esteja com muito ciúme por que você ainda mora aqui ou pode ser que ele seja mesmo desses caras que gostam de marcar território. Tipo, você está comigo e eu sou seu único homem.

–Isso é ridículo! Ele deveria confiar mais em mim. Estamos a dois dias juntos e já existe uma grande opressão entre nós. Além do mais, Ryan está me pressionando a ir morar com ele.

–E o que você vai fazer?

–Vou avaliar o Ryan mais um pouco, e se não conseguirmos chegar a um bom resultado, vou terminar com ele.

Aquele era meu acordo comigo mesma.

–E tem mais. Dei de cara com Sarah no restaurante e ela é muito amiga do meu namorado.

Megan não poderia ter disfarçado o espanto. Sarah não era mais um peso na vida da Scott, mas era um mal que, vez ou outra, aparecia do nada.

–Amiga do Ryan?

–Ele a defendeu com unhas e dentes, tudo por que a queridinha Williams relatou ao amigo o que fizemos com ela. Claro, éramos duas vacas na visão do Ryan, e Ethan era um sedutor cafajeste que enganou Sarah.

–Aquela piranha maldita! – enraivecida Megan apertou os punhos.

–Cruzei caminho com ela no banheiro. Ouvi um monte de coisas debochadas, um terço maravilhoso da nova vida dela, e quase fiquei cega ao ver a pedra preciosa do anel caro.

–Não acredito que eu não estava lá.

–Mas aprecie a seguinte narração: Acabei surtando no banheiro e coloquei a Williams contra a parede, segurando seu braço fortemente. Furiosa, arranquei o anel do dedo dela, joguei-o no vaso sanitário, e dei descarga em seguida.

–A Claire que eu conheço não faria isso.

–Nem mesmo eu acreditei no meu ato de maldade pura, mas não pude me segurar. Sarah destruiu a droga do meu caderno de inspiração e sorriu com prazer ao jogar isso na minha cara.

–Isso é típico dela. – ignorando o estresse, Megan sorriu radiante. –Estou muito feliz agora.

–Foi o que pensei quando vi a cara arrasada de Sarah.

Rimos juntas.

–Seu dia não foi de todo azar. – observou com um risinho satisfatório. –Vamos abrir um champanhe?

–E temos champanhe em casa? – indaguei desconfiada.

–Nicholas trouxe uma garrafa ontem. Está na geladeira.

Eufórica, a loira apressou-se a pegar a bebida.

–Oh! Megan ele vai te matar!

–Não vai não. – sorriu balançando a garrafa acima da cabeça. –Ele chegou muito bêbado em casa. Duvido que vá se lembrar dessa garrafa.

–Se você diz. – dei de ombros unindo-se a ela.

&&&&*&&&&

O vestido vermelho estava em cima da cama e, de roupão, eu me decidia se iria ou não a uma festa com Ryan.

–Indecisa ainda? – surpresa a me ver desarrumada, Megan segurou o vestido. –Você tem uma hora para estar dentro dessa belezinha.

–Não estou com vontade de ir a uma festa.

–Ryan está vindo te buscar. Você não acha que demorou demais para dizer a ele que não queria ir?

–Eu não queria desanimá-lo. – suspirei pegando o vestido. –Todos os amigos dele estarão lá, parece que alguns deles estão morando no exterior há muitos anos, e Ryan quer unir todos, como nos velhos tempos.

–Oh! Será um festão! – sorriu empolgada. –Jason também vai chegar logo, mas vamos ficar por aqui mesmo. Vamos alugar uns filmes, pedir pizzas, e dormir tarde.

–Que inveja.

Outra em meu lugar estaria feliz por usar um vestido vermelho caríssimo, ir a uma festa badalada pela alta sociedade de New York, e desfrutar a companhia de Ryan Carter. Mas naquela noite de domingo, a palavra ânimo era totalmente desconhecida para mim.
Uma semana tinha passado e, consequentemente, meu prazo de avaliações estava se esgotando. Não deixei de ver Ryan um dia sequer e, a cada momento que passávamos juntos, eu me convencia de que nunca poderia dizer sim a ele, e fazer parte de sua vida.

–Se eu for a essa festa terei que abrir o jogo com Ryan e eu ainda não estou pronta.

–Então, finalmente se decidiu?

–Levei uma semana para tomar essa decisão. – e, depois de ficar horas olhando o mesmo vestido, levei dez minutos até tomar a decisão de usá-lo. –Ele continua me pressionando de várias formas. – confessei recordando-me de certo episódio. –Um dia desses fui conhecer o apartamento dele e, quando achei que íamos bem com diálogos, Ryan achou que tudo ficaria melhor se transássemos.

–Pelo jeito ele é muito apressado.

–Pois é. Às vezes eu acabo comparando Ethan e Ryan. – curiosa Megan olhou-me prestativa. –Ethan é um pouco grosso em alguns assuntos, mas nunca tinha me pressionado a transar com ele, mesmo eu deitada ao seu lado.

–Você ainda não o esqueceu.

–Como vou fazer isso se às vezes eu faço essas comparações ridículas? – e dificilmente dava para evita-las.

–Isso é normal. - disse confiante. –Você e Ethan já se falaram?

–Não. – falei um tanto decepcionada, pois eu nem tinha o visto ainda. –Ele está evitando nosso encontro.

–E você não?

Sim. Eu havia passado aquela semana inteira evitando esbarrar em Ethan e fora espantoso como nenhum de nós nos demos um flagra. Naqueles dias meus hábitos haviam mudado. Em vez de acordar cedo, eu acordava tarde. Evitava ir à cozinha, por isso me habituei a almoçar fora. Mas meus esforços, segundo Megan, não eram tão válidos, pois Ethan saía de casa bem cedo e voltava muito tarde. Eu estava convencida de que nunca mais voltaríamos a nos falar e seria um grande milagre se conseguíssemos nos ver no dia a dia. Tudo parecia está devidamente definido entre nós, até que algo aconteceu.

&&&&*&&&&

E lá estava Claire Lewis, claramente se destacando num belo vestido vermelho, e com todos os olhares voltados para si. Claro. A garota de olhos verdes vivos, e sorriso impecável, era levada de um lado a outro por seu namorado, que possessivo fazia questão de exibi-la para todos.

Entre os minutos que, lentamente pareciam passar, meu desespero aumentava para sair dali.

–Você precisa sorrir. Não vai querer que a imprensa comente que nosso namoro ande mal, não é?

Ao fazer a pergunta, ele sorriu abraçando-me pela cintura, e posou para a lente de um fotógrafo.

–Desculpa, mas estou me sentindo um peixe fora d’água. Não conheço ninguém aqui a não ser você, e não posso pedir sua atenção total. Então, se você não se importar, eu gostaria de ir embora.

–Claro que me importo. Fiz uma grande propaganda sobre você. E quer saber? Todos acham que tirei a sorte grande.

Disse inclinando-se para me beijar, mas naturalmente virei o rosto. Visivelmente incomodado, Ryan segurou meu braço, e arrastou-me para um canto.

–Está agindo como se não soubesse da importância dessa festa para mim. – disse ele entre dentes.

–Eu sei o quanto esse momento é importante para você, mas entenda que eu não estou confortável aqui.

–E onde você poderia está mais confortável? Na casa que seu ex-namorado está agora?

Respirei fundo, sentindo a cabeça doer, e por saber que Ryan não mudaria suas atitudes.

–Precisamos conversar, Ryan.

–Terá que ser amanhã, minha querida.

Quando ele pensou que meia dúzia de palavras iria me ignorar, barrei sua saída segurando-o pela manga do paletó.

–Não está dando certo. – encorajada, acabei dizendo o que estava me sufocando há dias. –Você...

Fui arrastada até a porta dos fundos daquele lugar, onde Ryan acreditava que ninguém poderia nos ouvir, muito menos nos testemunhar.

–Está terminando comigo? É isso?

Senti um arrepio envolver minha espinha.

–Ryan... – respirei profundamente, tentando me entupir de coragem. –, você...

–Tentei te levar para meu apartamento diversas vezes e você sempre me disse não. Tentei arrastá-la para minha cama e você sempre me disse não. Agora que se cansou definitivamente de mim, está me descartando.

–Não estou te descartando. Estou tentando ter uma conversa franca com você.

–Por quê? Seu ex-namorado pediu outra chance?

–Isso não tem nada a ver com ele! – enfurecida, acabei me alterando. –Deus é testemunha de como eu queria que isso desse certo.

–É uma pena que ele não possa afirmar essas palavras. – debochou segurando meu braço. –Não vou implorar por sua companhia, afinal não tenho problema para encontrar uma substituta a sua altura ou, melhor que você, entretanto vou exigir que você aguente mais um pouco e fique na festa.

–Como é?

–Não quero ser manchete negativa em plena segunda-feira.

–Desculpe, mas não poderei atender seu capricho.

–Claire... – disse em tom brando, mas sua mão apertava-me firmemente. –, estou mandando você ficar.

–E eu já disse que não quero!

Ao final da minha contradição, senti uma forte pancada contra o rosto, tão forte que me fez cair.

–Foi você que quis terminar comigo.

Trêmula e confusa, eu o olhei, e senti nojo ao vê-lo tão calmo.

–Agora você pode ir.

O vento soprou forte contra meu rosto, como se quisesse me fazer crer que havia uma agressão nele. A custo de muito esforço, por que minha cabeça girava em volta de uma cena recente, levantei olhando para todos os lados. E, sem olhar para trás, saí da vida de Ryan pela porta dos fundos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!