Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 10
Capítulo 10 -A noite de Claire -Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Postei o último capítulo dessa semana. O próximo sairá semana que vem!Grande beijo!



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Sorrir, dançar, e cantar... Talvez sozinha ou acompanhada... Essas coisas de nomes tão simples tornam-se os ingredientes perfeitos para esquecer as amarguras de um dia, um ano, ou de toda uma vida. Não precisamos ser escravos de decepções e lamúrias, precisamos viver e acreditar nos bons momentos da vida.

Irritada e nem um pouco preocupada a esconder a cara de brava, Megan me levou a área Vip. Enquanto andávamos até chegar aos dois lances da escada, concentrei-me nas pessoas que dançavam pelo salão. As mulheres eram abraçadas por trás pelos homens e rebolavam provocativas. Era sexy, excitante, e em alguns casos vulgar. Todas elas, sem exceção, rebolavam seus traseiros divertindo a plateia masculina, e ouviam gritos e assovios que a incentivavam a se remexer ainda mais. A maioria delas usavam roupas decotadas, shortinhos, minissaia, e vestido curto. Eram bem poucas aquelas que se vestiram casualmente e, com toda a certeza, elas seriam as últimas a causarem alvoroço nos homens.

–Oi, Gregory!

Paramos ao chegarmos à escada, pois um segurança enorme bloqueava a passagem.

–Oi, Megan. Está linda hoje!

–Obrigada. – sorriu para o homem que, apesar de ter quase dois metros, era simpático. –Essa é Claire.

–Como vai?

–Bem, obrigado. Já te vi por aqui? – perguntou ele.

–Não. É minha primeira noite na boate. – respondi animada e ele sorriu.

–Então vou te dar um conselho. Fique longe dos atletas, eles sempre causam confusão. – e piscou.

–Vou me lembrar disso. – satisfeito, Gregory tomou postura.

–Tem mesa para nós duas? – perguntou Megan.

–Ao lado dos pilotos e apostadores.

–Deles de novo? – indagou Megan, visivelmente insatisfeita. –Não tem outro lugar, Gregory?

–Eu sinto muito, mas todas as mesas já foram compradas.

Megan suspirou alto e, desanimada, subiu os lances da escada.

–Qual é o problema? – perguntei sem entender sua frustração.

–Ethan vai ser nosso vizinho de mesa e, evidentemente, a Sarah também.

Fora engraçado como o mau humor de Megan me contagiou. Fiquei tão pensativa que mal dei importância à área Vip e as pessoas que estavam nela.

–Não vamos estragar nossa noite por causa de uma pessoa. Certo?

Megan lançou-me um olhar compreensivo e sorriu recuperando o ânimo.

–Você tem razão, Claire! – Megan tomou postura, ajeitou o cabelo, e respirou fundo. –Não vou nem lembrar que há uma cobra na boate.

Ri alto do seu comentário e aquela foi a dosagem perfeita de humor para nos sentirmos descontraídas.

–Nossa mesa é aquela!

Olhei na direção que Megan rapidamente apontou. O que mais chamava atenção era o sofá circular de cor vermelha. Cabiam umas seis pessoas nele e dava até para tirar um cochilo. A mesa, no centro deste, era baixa e em cima desta tinha uma espécie de cartão escrito ‘bem-vindo à M.O.C Nightclub’. A temperatura era agradável, mas o cheiro de charuto cubano tornava o lugar um pouco sufocante.

–O que você faz quando o Jason está no palco?

Sentamo-nos.

–Eu fico no palco, atrás das cortinas, ou o espero no camarim. – Megan levantou o braço e fez sinal para o garçom. –Para falar a verdade, estou aqui em cima hoje, por que você está comigo.

–Boa noite. O que desejam beber? – perguntou o garçom.

–Por favor, trás pra gente duas garrafinhas de água, dois refrigerantes light, e uma porção de nachos.

Assim que o garçom saiu, lancei um olhar surpreso à Megan.

–Pensei que você fosse pedir dois drinks para nós. – Megan sorriu ao vê meu desespero. –Eu sempre tive curiosidade de experimentar um, especialmente aqueles bem coloridos. Parecem mais gostosos.

–Não se preocupe, daqui a pouco vamos saborear bons drinks. Eu gosto de pegar leve no começo e, além do mais, não sou muito boa com bebidas alcóolica. – ela praticamente cochichou.

–Quanto tempo, Megan!

–Ah! – Megan se levantou apressada e abraçou fortemente uma mulher na faixa de trinta anos. –Vivian! Onde você estava, garota?

–Passei minhas férias no México e agora estou perdidona com a rotina turbulenta de New York.

–E as crianças?

–Com os avós. Tenho que me divertir de vez em quando, não é?

–Apoiadíssima! – Megan abraçou-a pelo ombro, como costumava fazer com quase todo mundo. –Essa é Claire. Ela está morando na minha casa.

–Como vai, Claire?

–Bem, obrigada. Adorei seu cabelo.

Comentei achando um máximo todas aquelas tranças finas, cuidadosamente presas em um penteado bem feito.

–Oh! Fico feliz que você tenha gostado. Minha irmã que faz, ela tem um salão. Se você quiser eu posso te levar lá um dia.

–Quero sim. – fiz sinal positivo para ela.

Vivian se debruçou na mesa, olhando-me fixamente nos meus olhos.

–Você já conheceu o Ethan? – balancei a cabeça, sem entender sua curiosidade. –Dá uma olhada no bumbum dele por mim, e me diz como ele é.

Não sei se fiquei vermelha pelo pedido indecente ou se por que eu imaginei como seria Ethan sem roupas. Por fim, acabei deixando o riso escapar, mas não tive coragem de lhe prometer nada.

–Eu vou dançar, gatas! Vejo vocês na pista!

–Arrebenta, garota! – gritou Megan, achando graça da personalidade marcante de Vivian.

O garçom voltou com os pedidos e os arrumou na mesa.

–Obrigada. – dissemos juntas.

–Vivian é advogada e tem três filhos pré-adolescentes. Ela se separou do marido há três anos e nunca mais quis se envolver pra valer.

–Conheceu-a aqui?

–Não. Em um almoço de domingo, organizado por Jason. Ela é a prima-irmã dele.

Pelo jeito Megan tinha uma boa relação com a família do seu namorado.

–Claire, acho que os garotos da mesa cinco gostaram de você. – cochichou Megan. –Não vai dá oi?

Olhei-os discretamente.

–Não tenho coragem.

–É só acenar e sorrir. – instruiu confiante.

Voltei a olhá-los, todos eles sorriram, mas eu, entretanto, apenas retribuí o sorriso.

–Não tirou um pedaço. Viu só como é simples?

Concordei com Megan, mas achando que, quando uma garota corresponde uma paquera, ela está gostando da atenção que está recebendo. E, quando um homem nota isso, sua decisão é de se aproximar. Considerei aquela hipótese com o máximo de certeza e torci para alguém não vir falar comigo. A noite estava apenas começando e eu não estava me sentindo confiante ainda.

–Eu vou ao banheiro.

Depois de sentir um friozinho passear na minha barriga, decidi sair dali e amenizar as coisas. Uns segundos sozinha sempre me caiam bem.

&&&&*&&&&



Voltei à mesa e, antes de chegar nela, esbarrei no meio do caminho. Não pude ignorar a mesa vizinha e o fato de Ethan está nela. Diferente de quando chegamos, havia muitas pessoas ocupando-a, e outras de pé, ao redor.
Ethan discutia algo que, aparentemente, parecia ser um acordo muito bem sucedido, o que explicava seu meio sorriso. Tive total certeza disso quando ele estendeu a mão para três homens e, em seguida, um deles lhe deu um maço de dinheiros. Assisti à cena surpreendida pelo flagra, sem saber que tipo de trato acontecia a poucos metros de mim. Mas logo me lembrei das palavras de Gregory, quanto ao fato de nos sentarmos perto dos pilotos e apostadores, então entendi o porquê de eles estarem negociando. Embora as corridas de rachas não fossem tão mau vistas, os acordos por trás da adrenalina eram sempre perigosos, e não saiam da mira da polícia.
Decidida, comecei a andar, e desejei sorte a Ethan se aquela fosse mais uma noite de aposta. Ao pensar que inúmeros jovens se acidentavam na pista, meu coração estremeceu forte, por que Ethan corria o mesmo risco.

–Os garotos da mesa cinco são os atletas que Gregory mencionou. – disse Megan. –Eles são bonitinhos, mas muito mulherengos.

–Então devemos nos afastar deles. – tomei um bom gole d’água. –O Gregory disse que eles sempre causam problemas.

–Está arrependida de ter dado bola? – indagou Megan, divertida.

–Não. Eu precisava mesmo quebrar a insegurança e me sentir confiante.

–Fez muito bem. – Megan se levantou. –Vamos pedir nossos drinks?

–Que ótima ideia!

Sentamos em dois bancos altos e nos deixamos hipnotizar pelo malabarismo do barman com os copos. As pessoas gritavam sempre no ato de uma manobra e o aplaudiam ao fim da apresentação. Ao terminar de servir outros clientes, o homem de estatura média, cabelo claro, e olhos castanhos se virou para nós.

–Oi, Joe!

–Oi, Megan. O que vai ser hoje?

–Minha amiga está ansiosa para experimentar um drink bem colorido. Fica a seu critério uma boa recomendação para Claire.

–Uh. – olhou-me avaliativo e sorriu. –Gosta de bebidas fortes, Claire?

–Suaves. – respondi como se eu tivesse intimidade com bebidas alcóolatras.

O tempo passou naquele balcão e já não sabíamos ao certo quantos drinks suaves já tínhamos tomado. Joe era um especialista em agradar seus clientes e não poupava imaginação na hora de elaborar uma bebida.

–O Jason vai entrar no palco! – gritou Megan se levantando cheia de alvoroço. –Vamos, Claire!

–Para onde?

–Dançar lá embaixo!

Megan agarrou minha mão e me puxou até chegarmos ao salão. As cortinas se abriram e Jason foi ovacionado por uma multidão de gente. Depois de algumas palavras que mexeram com a plateia, os dedos de Jason deslizaram nos seus instrumentos, e dois homens surgiram no palco cantando. As pessoas voltaram a dançar e Megan, mesmo com um vestido justo, fez o mesmo. Ela mexia a cintura e levantava os braços, chamando a atenção dos rapazes ao nosso redor.

–Dança, Claire!

–Eu não vou conseguir! – quase gritei em desespero.

–É só fechar os olhos e se entregar a música.

Respirei fundo e fiz o que Megan pediu, mas não dava para rebolar no meio de tanta gente. Além do que, eu mal cheguei a mexer a cintura.

–Eu vou voltar pra mesa.

–Eu vou com você.

–Não. Pode ficar e aproveitar a festa. Eu só vou me sentar um pouco.

–Tem certeza?

–Tenho. – sorri para ela antes de sair.

Votei à mesa e fiquei observando as pessoas dançarem. Eu já estava acostumada com aquele tipo de frustração em eventos da escola e festas de aniversário, mas não pensei que o mesmo aconteceria em uma festa tão badalada. Engraçado eu ter pensado que, era o lugar e as pessoas que me deixavam travada, mas acabei descobrindo que eu era o único problema.

–Não sei se eu tenho pena de você ou se acho graça.

Assustei-me com a voz de Ethan.

–Por que não rir logo da minha cara? – perguntei bebendo todo o líquido colorido do copo.

–Você tem cara de ser uma garota bem chorona e eu não suporto ouvir pessoas chorando. – se sentou sem ser convidado e pouco se importava com o fato.

–Você não tem cara de alguém que ampara outro em meio ao choro. – falei achando graça das próprias palavras. –Megan me disse que você deu instruções a Nicholas de como me conquistar. Isso é cem por cento verdade?

Megan tinha razão. Eu me sentia confiante e desinibida ao falar com Ethan.

–Eu só fiquei com pena do Nicholas correr o risco de levar outra bofetada.

Ri da sua confissão, sentindo minhas bochechas esquentar.

–Ainda assim... Não tem lógica entender uma garota fora de série como eu.

–Talvez por que seja mais complicado compreender as pessoas legais.

Olhei-o fixamente e, surpreendentemente, Ethan não direcionou o olhar para outro ponto que não fosse meus olhos.

–Vem comigo. – se levantou estendendo-me a mão.

–Para onde? – perguntei extremamente confusa.

–Dançar.

–Não. – recusei apavorada. –Eu tenho muita vergonha!

–O que você é? Uma garotinha de sete anos?

Ethan arrastou-me até o salão e, quando chegamos ao meio deste, travei como se todas as peças do meu corpo estivessem enferrujadas.

–Do que você tem medo? – perguntou colocando suas mãos quentes na minha cintura. –Contato físico? – indagou arrastando-me contra o seu corpo, de maneira que eu sentisse cada detalhe por trás de sua camiseta. –Está ouvindo a música? Consegue senti-la? – balancei a cabeça, deixando os lábios entreabertos, sem me dá conta de que nossos olhares estavam presos um no outro.

Ao dar o primeiro passo rítmico, descobri que não era a música que me dava confiança, mas Ethan. Bastaram dez segundos para uma nova Claire nascer ali, diante de tantos desconhecidos, e sensualizar como nunca tinha feito antes. Era sensual, livre, sexy, e a sensação era incomum. Levava-me ao mundo onde o prazer ditava suas ordens sórdidas e revelava os mais atrativos dos instintos.
Sedutoramente, como eu nunca pensei que conseguiria ser, deslizei as mãos no rosto suado de Ethan, encarando sua boca como uma chama sedutora e magnífica. Meu coração batia forte há cada longo segundo, fazendo-me sentir o desejo desenfreado de beijá-lo. Mas eu não tinha coragem de beijá-lo, então me contentei com o simples fato de poder tocá-lo.

–Agora entendo o porquê de Nicholas ter tentado roubar um beijo seu.

Ethan acariciou minha nuca lentamente, olhando-me com desejo e, quando pensei que não avançaríamos, ele me surpreendeu tocando meus lábios de leve. Entorpecida, confusa, impulsionada, correspondi o beijo, e nada mais me importou naquele momento. E aquele foi o minuto mais longo e prazeroso da minha vida.

–Ethan?

Quase que, com muita dificuldade, consegui ouvir a voz feminina a poucos passos de nós.


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