Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 1
Capítulo 1 -Existe esperança onde menos se espera?


Notas iniciais do capítulo

Essa fic é original, pessoas. Sei que vocês não curtem muito o gênero aqui no Nyah!, mas, caso tenham interesse em se aprofundar nessa fic, comentem, por favor.



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Há momentos na vida da gente que passa muito rápido... Outros passam devagar, deixando marcas profundas e lembranças insubstituíveis...

Por tanto tempo, quase durante toda a minha trajetória de vida, eu pensei na vida perfeita. Ela existia na minha cabeça, nos meus sonhos convictos, nas belas paisagens onde quer que eu fosse e, especialmente, em um futuro que eu acreditava estar muito próximo.

Mas tudo era irreal naquela época. Meus sonhos não passavam de uma fraude gigantesca, ainda assim, eu mergulhei neles intensamente. Eu me culpei depois de muito tempo, ao sair de um sonho fantástico, mas logo voltei atrás e retirei todas as coisas que eu disse em silêncio. Não era errado sonhar... Errado era acreditar nos sonhos cegamente e viver de ilusões que logo iriam se desvair com o passar do tempo.

–Deixe-me vê se eu entendi certo. – com as pernas trêmulas fiquei de pé e seriamente encarei o homem de paletó marrom sentado a minha frente. –A hipoteca dessa casa está vencida, assim como todas as terras que eram do meu pai, e agora que ele morreu o banco decidiu revogar o contrato em que diz que pagando metade da dívida estaríamos livres?

–Exatamente. Mas há uma pequena cláusula no contrato que, imagino que a senhorita não tenha lido. – pegou o papel, apontando para o último parágrafo. –Aqui diz que a dívida será anulada, completamente, se a metade do valor for pago, e se todos os terrenos não forem vendidos. Mas seu pai vendeu dois terrenos e nem mesmo nos comunicou.

–E o que tem isso?

Ele respirou fundo, olhando-me com os olhos tortos enquanto pegava outro papel na maleta preta.

–Ele assinou outro contrato, permitindo que o banco fosse o único proprietário das suas terras assim que ele falecesse.

–Mas eu sou a única herdeira dele! Vocês não podem tirar o que é meu por direito!

–Lamento se você está decepcionada, mas não podemos fazer nada por você. – ele guardou os papéis, cheio de pressa. –Você tem vinte e quatro horas para sair daqui. Se quiser contrate um advogado, mas não acho que ele vá fazer muita coisa.

Sentei, acariciando a testa.

–Eu posso, pelo menos, ficar com os móveis?

–Infelizmente, não.

–Lamento... Infelizmente... Eu não preciso da sua compaixão! – atirei os papeis restante nele. –Vocês não se importam com as pessoas, mas com os bens que terão logo!

–Eu sou apenas um funcionário do banco. Estou cumprindo ordem como qualquer outro trabalhador cumpriria. – olhei-o de esguelha. –Se eu não despejá-la, perderei meu emprego, e minha família vai morar na rua. – pegou o chapéu e maleta. –Boa sorte.

Seus passos agudos atormentaram minha mente até o fechar da porta. Olhei vagamente para a sala mobilhada de móveis antigos. Respirei pesadamente recuando velhas lembranças e forçosamente senti repulsa das lágrimas que teimavam a cair.

Subi rapidamente pela escada, como se alguém estivesse à minha espera, e parei de frente ao quarto dos meus pais. Entrei olhando tudo detalhadamente. Era um quarto tão antigo, poderia até senti o cheiro de madeira velha, mas era meu lugar favorito quando criança.

Meus olhos embargaram, as lágrimas pelejavam a cair, mas eu as freei a qualquer custo. Sei que engolir a dor só me deixaria mais triste, mas se eu a soltasse, não haveria objetivos para iniciar minha jornada.

&&&&*&&&&

Começava a escurecer naquele lugar infernal. As noites ali se tornavam cada vez mais difícil, mais sufocadoras... mais fúnebre. Seu silêncio era assustador e sua escuridão atraía a loucura. Era como se eu estivesse no centro de uma guerra, pronta para ser atacada, mas não sabia, apesar da vasta visão, de onde viria o ataque.

Apressadamente enfiei na mochila as últimas peças de roupas e sentia-me pronta para enfrentar o mundo lá fora. Meus pais falaram tantas vezes de que o mundo têm trilhões de defeitos e eu sempre acreditei neles. Mas eu começaria a perturbar suas almas, pois o primeiro passo foi dado, e meu destino só Deus saberia.

Enquanto descia agarrada ao corrimão da velha escada, disse adeus silenciosamente à velha casa que em breve seria uma lembrança. Eu a amava porque foi ali que cresci e fui feliz, mas também a odiava por eu viver dias infelizes nela. Então corri à porta, segurando a maçaneta fortemente, com o rosto virado para trás, registrando os últimos momentos até dizer adeus.

Ao abrir a porta, me deparei com os últimos raios de sol, desaparecendo segundos por segundos, como se quisessem me proteger da escuridão da noite. Bati a porta fortemente e deixei a chave cair no chão. Sem olhar para trás cruzei o pequeno portão de madeira. Meus passos começavam a acelerar enquanto olhei o relógio e me espantei por ter perdido vinte minutos do meu tempo. Precisei correr, sem ter que encarar aquilo como uma fuga, e eu não queria ficar por tanto tempo naquela cidade.

&&&&*&&&&

Sentei-me no último banco disponível, ao lado de uma mulher que mantinha os olhos vidrados na avenida, e ao lado dela, um grupo de adolescentes jogava conversa fora. Vê-los me deixou com saudade dos meus amigos, que preferi não me despedir, e talvez eu nunca mais tenha a oportunidade de fazer tal coisa.

–Oi.

Um deles esticou o pescoço e acenou para mim.

–Oi. – cumprimentei, mas não o levei a sério.

–Você vai pegar o ônibus das oito?

–Das sete. – respondi tentando enxergar a pessoa.

–Nós também. – disse se levantando e eu pude enxergá-la. –Meu nome é Megan.

Apressadamente ela correu para estender a mão e, relutante, eu a cumprimentei. Ela tinha um carisma invejável, além da autoconfiança, e era muito bonita. Exibia um sorriso gentil, tinha a delicadeza de uma dançarina de balé, mas as roupas gasta e o tênis sujo denigriram a beleza natural que havia nela.

–Eu sou Claire.

–Muito prazer Claire. – balançou minha mão novamente. –Aquele de boné é Nicholas.

–Como vai?

Apenas fiz um gesto com a cabeça, se é que ele considerou como uma resposta.

–E aquele ao lado do Nicholas é Ethan.

Olhei para o garoto que ela apontava, decidida, pelo menos dessa vez, a cumprimentar alguém com mais simpatia, mas ele mal prestou atenção que a amiga estava apresentando-o a mim.

–Ethan é um pouco rude, mas ele tem um lado bem legal quando se torna íntimo das pessoas.

–Uh. – murmurei voltando os olhos para o garoto que cobriu o rosto com o boné e se inclinou no banco. –Achei que eu era esquisita, mas já vi que ele me supera.

–O Ethan supera quase todo mundo quando o assunto é esquisitice. Particularmente eu o acho bem legal às vezes.

–Você e ele...

–Ah, não! Somos irmãos.

–Desculpe, é que você... Eu achei que... É por isso que eu vivo dando mancadas.

–Está tudo bem.

Como se seu comportamento fosse absolutamente normal, ela se sentou no chão, com as pernas cruzadas, de frente para mim.

–Para onde você vai?

–A verdade? Nem eu sei. – suspirei fundo. –Acho que vou sair por aí e me perder no mundo.

–Quantos anos você tem?

–Vinte, acabei de fazer na última sexta-feira. E você?

–Dezenove, mas o Ethan e o Nicholas tem sua idade.

–Vocês estão indo para algum lugar muito distante de Houston?

–Não somos daqui. Somos de Nova York. Viemos a essa cidade buscar o Nicholas, ele é nosso primo distante. Minha mãe está hospitalizada e meu padrasto... Bem, ele é um inútil. O que houve com sua família?

–Estou sozinha no mundo. – respondi firmemente, deixando Megan surpresa. –Minha mãe faleceu há um ano, e faz pouco tempo que o mesmo aconteceu com meu pai. Tudo começou com um acidente de carro... Estávamos voltando da festa de casamento da filha do senhor Adams. Não chovia no dia, mas o freio do carro não respondeu a fazer a curva. – lembrava-me do momento como se tivesse acontecido há poucos dias. –O carro capotou várias vezes e a última coisa que me lembro foi de ouvir minha mãe pedindo socorro. Meu pai adquiriu problemas de saúde devido o acidente, e em pouco tempo ele já estava condenado.

Normalmente eu não falava da minha vida para qualquer pessoa, ainda mais desconhecida, mas Megan transmitia confiança; era como se ela estivesse disponível para ouvir qualquer desabafo.

–Eu sinto muito. – a olhei. –Você não tem mais ninguém?

–Alguns parentes em Los Angeles, mas eu nunca os vi, nem por fotografia. Minha família sempre foi desunida.

–Que chato. – logo depois ela sorriu. –Vem com a gente para Nova York!

–O quê?

–A casa é pequena e não temos muitos quartos, mas você pode dormir comigo. Podemos arrumar um emprego juntas e futuramente vamos alugar um apartamento. O que você acha?

–Acho que é loucura.

–Você não pode viver por aí sozinha. Além do mais, eu estou te convidando.

–O ônibus está vindo, Megan.

Anunciou Nicholas jogando a mochila nas costas enquanto Ethan pegou a mala.

–Vamos, Claire!

–Mas... – seus grandes olhos castanhos brilharam como os de um cachorrinho pidão. –Isso é loucura. Não posso ir com vocês.

–Não nos encontramos por acaso. Eu sinto isso.

Megan era dramática demais, sensível e tinha um lado tão espontâneo que dava até medo. Mas, estranhamente, eu sentia como se a conhecesse há muito tempo, e isso não era ruim.

–Tudo bem se você dividir seu quarto com uma garota pé frio como eu? – perguntei fazendo-a rir.

–Só se você não se importar com a bagunça que faço diariamente.

Eu me perguntei: o que é certo nessas horas quando você está perdido em uma vasta solidão? Talvez nada seja certo, nem mesmo real, mas eu precisava tomar a decisão correta. Se pelo menos eu tivesse mais de uma opção, seria menos difícil. Porém, isso era tudo o que tinha no momento, minha única válvula de escape, minha última esperança.

–Sim. Eu vou com vocês.

Megan sorriu ajudando-me com a mochila, enquanto Nicholas e Ethan observavam à cena um tanto incrédulos.

–Pessoal, a Claire é nossa nova hóspede!

–Você é louca, Megan?

–Por que, Ethan? – indagou aborrecida. –Ela vai e ponto final. Deixe que eu me entenda com a mamãe.

Fiquei observando-os enquanto eles discutiam. Não me senti acuada ali, apenas ansiosa, mas eu não sabia exatamente do que.































































































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