Quando vi pela janela o Ed estacionando o carro, corri pra fora de casa. Assim que Tay abriu a porta do esportivo lhe dei um abraço forte.

- E aí? Como foi a viagem? – perguntei.

- Foi ótima. O lugar é lindo. Algum dia podemos ir nós três. – Tay disse, animada.

- Acho uma ótima ideia. – Ed sorriu se juntando a ela, mas o sorriso logo se desfez quando ele olhou pra minha varanda. – Quem é aquele cara?

- Ah – corei – Meu namorado.

Não consegui distinguir quem ficou mais surpreso. Taylor arregalou os olhos, Edward arqueou as sobrancelhas e ambos ficaram boquiabertos.

- Por favor, sejam gentis. Eu explico depois. – e chamei o Red.

- Oi. – Red disse amigavelmente quando se posicionou ao meu lado e segurou minha mão.

- Ed, Tay... esse é o Red.

- A Pam me falou muito de vocês.

- Imagino que sim. – Ed sorriu secamente – De onde vocês se conhecem?

Red estava pronto pra responder, mas eu o interrompi.

- Essa é uma história muito engraçada e eu tenho certeza que nós poderíamos ouvir mais tarde. Vocês querem vir jantar na minha casa?

- Eu vou fazer o jantar, então vai estar uma delícia. – Red se gabou.

Antes que Ed pudesse rejeitar o convite, Taylor disse que eles iriam com todo o prazer. Red disse que iria pra casa e logo voltaria pra começarmos a fazer o jantar. Então nos despedimos e cada um foi pra sua respectiva casa.

Meia hora depois, meu celular tocou.

- Alô?

- Que merda é essa, Pam?

- Oi, Ed. Também estava com saudades.

- É desse jeito que você está apaixonada por mim? Aceitando pedidos de namoro e de casamento de qualquer cara?

- David não era qualquer cara. Tenha respeito por ele.

- Mas esse idiota que está com você é.

- Não fale assim do Red. Ele é muito legal.

- Onde vocês se conheceram?

- Numa boate.

- Quando?

- Isso importa?

- Quando, Pamela?

Suspirei.

- Anteontem. Ou ontem. Na madrugada de anteontem pra ontem. Se bem que já era de manhã...

- Pamela! Você está se ouvindo?

- Estou. Eu não achei que faria mal se eu me divertisse com alguém enquanto estou solteira, já que ainda estou.

- Se divertir quer dizer namorar o primeiro babaca que aparecer numa boate?

- Não chame ele assim!

- Quando você vai acabar essa palhaçada?

- Quando eu quiser! Do quê você ta reclamando? Você não é meu namorado e ainda por cima é comprometido!

- Então se eu me separar da Taylor você larga esse otário?

- Ele não é otário. Mas sim, eu termino com ele.

- Se eu terminar com a Taylor agora você termina com ele agora?

- Não, Ed. Agora não é o momento. E por favor, não vá fazer nada de cabeça quente. Você vem mais tarde, não vem?

- Se eu for, vou acabar quebrando a cara desse babaca que você chama de namorado.

- Não vai não. E se você não vier, vou ficar muito brava. E magoada.

Depois de uns instantes em silêncio, ele se rendeu.

- Ok. Eu vou.

- Obrigada. Você vai ver que o Red é um cara legal. Podem até ser amigos.

- Vai pro inferno, Pamela.

- Eu te amo, Ed.

Ele riu.

- O que foi?

- Vou começar a te ofender mais vezes, se a cada vez você disser que me ama.

- Idiota. – sorri – Tchau.

- Tchau, doentinha.

- Não estou mais doentinha.

- Você é minha eterna doentinha. Tchau.

Com um sorriso idiota no rosto, desabei no sofá e sonhei acordada com nosso primeiro beijo.

***

- Red, você não acha que já pôs sal demais?

- Não, amor. Está bom, vai por mim.

- Eu sei que vai.

“Mas Ed não gosta de nada com muito sal”, pensei.

Red estava preparando Peixe ao molho de Alcaparras. Admito que nunca tinha comido nem me interessado por nada do tipo, mas quando provei o molho, desejei que a hora do jantar chegasse logo. Red cozinhava muito bem, mas jurou que nunca havia feito nenhum tipo de curso. Disse que tudo que sabia aprendeu com a mãe e a avó.

- No que está pensando, Pam?

- Nada. Só lembrei que faz tempo que eu não falo com a Rachel. – menti.

- Rachel... – ele fez uma expressão pensativa tentando lembrar-se de quem eu estava falando – É a secretária do seu pai?

- Era secretária do meu pai. Agora ela é diretora da empresa. Mas acima de tudo ela é minha amiga.

- Ah – ele entortou a boca – Desculpe.

- Não faz mal. Você vai ter tempo pra tentar entender essa loucura que é a minha vida.

- Vou me esforçar. – ele me beijou. – Por que você não liga pra Rachel?

- Você consegue se virar sozinho aí? Porque eu estou fazendo todo o trabalho aqui. – brinquei.

- Vou tentar sobreviver. – ele riu.

Eu me sentia extremamente culpada por causa do Red. Ele era muito legal e me tratou como uma princesa logo nos dois primeiros dias de namoro. No dia anterior, tínhamos feito uma brincadeira pra nos conhecermos melhor: em cada rodada, cada um contava um segredo, uma situação engraçada, uma lembrança boa ou ruim ou qualquer coisa que quisesse dividir com o outro. Contei a história dos meus pais e ele contou sobre como ficou triste quando a avó dele morreu. Contei sobre David e ele contou que já tinha tido 5 namoradas, mas que não tinha amado realmente nenhuma. Falei da Taylor e ele disse que Mike era seu melhor amigo desde o ensino médio. Quanto ao Ed, só mencionei que ele era namorado da Tay e meu melhor amigo. Red respondeu dizendo que achava que eu iria ser a primeira namorada que ele iria amar de verdade. Fiquei com tanto remorso que achei melhor parar de brincar.

Enxotei meus pensamentos culpados, fui até um canto isolado da sala e liguei pra Rachel.

- Rach? Oi! Que saudades!

- Oi, minha filha! Como vai?

- Tudo bem. Como estão as coisas por aí?

- Graças a Deus tudo bem. Estava pensando se você não quer passar seu aniversário aqui.

- Eu ficaria muito mais feliz se você e Simon viessem me visitar. Assim você poderia conhecer o Ed... – me puni mentalmente - ... e o Red.

- Red?

- Sim. É... meu novo namorado.

- Seu o quê?

- Longa e engraçada história, mas não posso contar agora.

- Você não acabou de terminar o noivado com o David?

- Sim, mas...

- E você não gosta do Ed?

- Quem te disse?

- Pam, eu te conheço há muito tempo. Eu tenho certeza que você é apaixonada por ele.

- Ok. Certo. Sou.

- Eu sabia! E por que você está namorando outro rapaz?

- Não faça eu me sentir mais culpada do que já estou. Te conto pessoalmente quando você vier pra cá comemorar meu aniversário comigo.

- Vou fazer de tudo pra ir. Estou com muitas saudades.

- Eu também, Rach. Preciso ir, Ed e Tay vem jantar conosco.

- Conosco? Com você e seu namorado novo?

- Sim. – ela riu quando eu respondi – Qual é a graça?

- Me responda você quando esse jantar acabar. Simon está mandando um beijo.

- Outro pra ele. E muitos beijinhos pra você.

- Tchau, filha.

Guardei meu celular e voltei pra cozinha.

- Pronto, Pam – Red havia acabado de colocar o peixe no forno – Agora é só esperar. O que acha da gente tomar um banho?

Fiquei extremamente vermelha.

- Estou brincando, sua boba. – ele me abraçou e beijou minha testa – Mas eu realmente preciso de um banho. Você se importa?

- Não, claro que não. Vou pegar uma toalha pra você.

Fomos até meu quarto e entreguei uma toalha a ele. Red entrou no banheiro e fechou a porta – mas não completamente. Pude ver por uma frestinha na porta seu abdome sarado e seus braços fortes quando ele tirou a camisa. Saí correndo do quarto antes que pudesse ver mais alguma coisa.

Red é extremamente bonito. Seu cabelo escuro bem curtinho e sua barba por fazer dão um ar de irresistível a ele. Pelo seu corpo, você diria que ele vai à academia todos os dias – o que não é verdade, ele me contou. E pra ficar ainda mais perfeito: seus olhos verdes são puxadinhos!

Fica a pergunta no ar: como eu consigo arranjar caras assim?

Ainda assim, eu não parava de pensar que ninguém se compara ao Ed.

***

- Nossa – Tay disse depois que deu a última garfada – Isso aqui estava muito bom!

- Obrigado – Red agradeceu – Até que a Pam me ajudou um pouquinho.

- Sim, lavar os pratos foi de grande ajuda. – brinquei.

Ed não tinha dado uma palavra desde que começou a comer. Ele se limitava a rir sem animação quando alguém fazia alguma brincadeira ou a concordar com algo balançando a cabeça.

- Tay – eu disse, recolhendo os pratos – Quer me ajudar com a sobremesa?

Nós duas nos dirigimos a cozinha e assim que entramos, Tay disse baixinho:

- Ok. Quero ficha completa agora. Nome completo?

- John Tunney Red.

- Idade?

- 26 no mês que vem.

- O que faz da vida?

- Faculdade de administração. Vai seguir os passos do pai e futuramente virar o presidente da empresa da família.

- Então ele é rico?

- É. Mas você sabe que eu não ligo pra isso, Tay.

- Eu sei. Mora com quem?

- Ele morava com a avó aqui, mas depois que ela faleceu, ele vendeu a casa e comprou uma menor. Mora sozinho.

- Como vocês se conheceram?

Suspirei. Contei toda a história a ela, desde a Lindsay me ligando até o pedido de namoro.

- Eu nem acredito que você ta namorando com um cara que conheceu numa boate cheia de loucos bêbados!

- Ele não estava bêbado. Não muito.

- E depois? Que você aceitou?

- Depois eu comecei a beber. Muito. Não sei exatamente por quê. Todas as lembranças que eu tenho depois que eu aceitei ou sou eu com um copo na mão ou sou eu beijando o Red. Não me lembro de ter ido pra casa dele.

- E você foi?

- Fui. Acordei lá.

- Oh meu Deus! E vocês...

- Não. Eu também pensei que sim. Mas Red disse que nunca faria isso comigo, já que eu estava bêbada.

- Você acha que ele pode estar mentindo?

- Acho que não. Nesse tempo que eu levei conhecendo ele melhor, pude ver que ele é uma boa pessoa. Ele é um cara realmente legal. E depois, se tivesse acontecido alguma coisa, eu acho que no mínimo saberia, ou sentiria algo diferente em mim. Sei lá.

- O David já está sabendo?

- Acho que não. Pedi a Lindsay pra não contar nada a ele, porque eu queria que ele soubesse por mim.

- Acha que ela vai cumprir com a promessa?

- Não sei. Espero que sim. Se o que ela disse sobre querer paz comigo é verdade...

- Pois é. E... – ela baixou mais o tom de voz – E você vai terminar com ele?

- Sinceramente, Tay, não vejo motivos pra isso pelo menos por agora. Ele é muito legal e me trata bem.

- E é um gato. – ela completou – Você viu aquele sorriso? Ele poderia fazer propaganda de pasta de dentes!

- Eu sei. – ri entreguei o pote do sorvete a ela e peguei tirei os brownies do micro-ondas, antes de voltarmos pra sala.

Graças a Deus a noite foi muito tranquila, tirando a parte de que o Ed parecia estar mudo. Depois da sobremesa, ele pediu à Taylor que os dois fossem logo embora.

- Desculpem o Ed – ela disse quando Ed se afastou – Ele está meio cansado da viagem.

- Tudo bem. – Red sorriu – Vamos ter outras oportunidades de conversar.

- É. Boa noite, gente. Red, foi um prazer te conhecer. – Tay se despediu.

Pedi ao Red que ficasse mais um pouco. Ele se sentou no sofá e eu o abracei forte, a ponto de ouvir seu coração bater.

- O que foi, amor? Aconteceu alguma coisa?

- Não. Eu apenas gosto de te abraçar.

Ele sorriu e trouxe meu corpo pra mais perto do dele.

- Red...

- O quê?

- Por que você namorou outras garotas sem gostar delas?

- Eu gostava delas, Pam. Só não as amava. Eu quis dar uma chance a elas, já que elas gostavam de mim. Achei que com o tempo poderia desenvolver algum sentimento. Mas não via futuro com nenhuma. Por que está perguntando isso?

- Não sei. – menti.

Red beijou minha testa e acariciou meu rosto.

- Se você quer saber, pela primeira vez eu vejo um futuro com uma namorada minha. Pam... eu sei que você pode achar que está sendo tudo muito rápido... e na verdade está mesmo. Mas assim que eu te vi, eu senti algo que nunca tinha sentido antes. Sinto que você é a mulher certa pra mim.

Fiquei calada. Eu não queria mentir. Red não merecia que eu mentisse. Então simplesmente fiz do silêncio a minha resposta.

***

Quando Red foi embora, tomei um banho e quando me vesti, apertei meu colar. Eu gostava de me certificar de que ele estava ali. Olhei o desenho do Ed no fundo do meu guarda-roupas. Ao lado dele, uma caixa de sapatos que eu tinha usado pra guardar todas as fotos, cartas e outras lembranças do meu namoro com o David. A única foto que restava era a que ele tinha me dado no meu aniversário do ano anterior. Um dia antes de eu abandoná-lo. Não conseguia guardar essa.

De repente, a campainha tocou. Pensei que pudesse ser o Red, ou o Ed. Me surpreendi quando vi a Taylor.

- Tay? O que aconteceu?

Ela me abraçou forte e respirou fundo.

- Estou solteira, Pam.