Sofia levantava e corria sem rumo, estava se segurando para não chorar, mas dessa vez não foi possivel. Todo mundo tinha ouvido aquilo, ela pensava que podia confiar nele, mas estava enganada, e como estava. Aquele Gui que ela amava tinha morrido, e agora nasceu esse Gui que ela odeia. Odeia tanto... Só agora ela pôde perceber que o seu amor havia virado ódio. Um ódio profundo. E o pior e tudo, Mile tinha escutado! Com que cara ela ia olhar para ele agora?

O sinal bateu mas ela resolveu não ir para aula, e ficar na sala abandonada do quinto andar. Lá era o lugar que ela amava ficar. Quando ela ficava lá, não precisava chorar ou gritar para disfarçar sua raiva, pois não sentia raiva ou tristeza, e sim conforto. Sem ninguém por perto finalmente...

Ela sentou-se perto da janela para poder sentir melhor o vento batendo em seu rosto. Era tão gostoso, tão tranqüilo... Queria nunca mais sair de lá. Ficar ali pra sempre, sem ter que encarar os olhares que provavelmente iriam se voltar para ela.

Sofia então pegou seu Ipod e colocou a música que sempre a acalmava. Não resistiu, e começou a cantar junto com a música.

Inspiração dos meus sonhos, não quero acordar.

Quero ficar só contigo, não vou poder voar.

Porque parar pra refletir se meu reflexo é você

Aprendendo em uma só vida, compartilhando prazer

Porque parece que na hora eu não vou agüentar

Se eu sempre tive forças e nunca parei de lutar

Como em um filme no final vai dar tudo certo

Quem foi que disse que pra ta junto precisa ta perto

Pensa em mim, que eu to pensando em você e me diz

O que eu quero te dizer, vem pra cá

Para eu ver que juntos estamos e te falar

Mais uma vez que te amo...

O tempo que passamos juntos vai ficar pra sempre

Intimidades, brincadeiras, só a gente entende.

Pra quem falar que namorar é perder tempo eu digo

A muito tempo eu não cresci o que cresci contigo

Juntos no balanço da rede, sob o céu estrelado

Sempre acontece, o tempo para quando estou do seu lado

A noite chega eu fecho os olhos e é você quem vejo

Como queria estar contigo paro e faço um desejo

Pensa em mim, que eu to pensando em você e me diz

O que eu quero te dizer, vem pra cá

Para eu ver que juntos estamos e te falar

Mais uma vez que te amo...

A porta se abre, fazendo barulho. Sofia olha para trás e vê Mile, parado, olhando para ela, parecia estar bravo. Ele andou até ela em passos rápidos e barulhentos, parecia que queria mesmo demonstrar a raiva que estava sentindo naquele momento.

“- Estava te procurando!”

“- Desculpa...”

“- Tudo bem, vamos voltar para a sala? O professor de ciências ficou entalado no vaso pedindo socorro, depois dessa, duvido que alguém ainda se lembre do acontecido na lanchonete.”

“- Entalado? Morri.” - Agora ao invés de chorar, Sofia ria.

Ela se levantou, mas assim que pôs os pés no chão sentiu uma certa fraqueza. Seus joelhos estavam fracos, aliás, seu corpo inteiro estava fraco agora. O sorriso que ela estampava no rosto ia sumindo aos poucos, sua vista ia escurecendo, e ela já não conseguia mais se agüentar em pé, acabou caindo. A última coisa que ela pôde ver, era Mile correndo e segurando ela para não bater com a cabeça no chão.