The Big Four Guardians-The Flower Of The Blizzard escrita por BellatrixOrion


Capítulo 6
Capítulo V - Uma Dobra No Tempo




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Capitulo V - Uma dobra no tempo

“Não se incomodem com o tempo, pois o tempo está além de nós, além do nosso controle, além da nossa voz.”

O silencio continuava a pairar.

Não se ouvia os sons dos pássaros.

Ou o barulho das folhas a chacoalhar.

As águas não caiam mais.

O tempo havia parado de caminhar.

Mas, estranhamente, o mesmo não parecia se aplicar ao que acontecia dentro de uma certa torre. As luzes estavam acesas, uma bonita mulher de longos cabelos negros e cacheados perambulava de um lado para o outro enquanto fazia uma linda menina ninar.

Mesmo ali preso, sem poder se mover a tantos metros de distância do chão, Jack ainda mantinha a sua consciência, não sabia dizer se era por estar tão próximo da torre, mas agradecia por poder ao menos conseguir ficar acordado, estava de costas para a janela, mas podia ouvir o salta da bota de Gothel soar contra o assoalho de madeira.

O toc toc, então, parou por um longo momento, enfim tinha feito a pequena menina adormecer.

A colocou confortavelmente sobre um delicado berço de madeira e a cobriu com uma gentileza que jamais pareceria cabível a aquela mulher. Demorou-se ali, diante daquela que um dia deveria ter sido uma princesa, acariciou os ainda pequenos fios loiros que saiam de sua cabeça e as longas unhas pintadas de vermelho pareciam fazer o mesmo na nuca da menina, de uma maneira muito relaxante e confortável.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios finos e pintados de carmim.

Foi então que Jack ouviu os passos se tornarem mais altos e nítidos outra vez, sabia que a mulher estava se aproximando, mas não poderia deixar de sentir um calafrio percorrer sua espinha, vira o que ela acabara de fazer, não era nenhum truque fajuto de mágica ou qualquer coisa do gênero, ela havia parado o tempo, ele estava dobrado ao seu favor, o perigo emanava da presença daquela mulher.

Tranquilamente, ela se postou de pé no batente da janela, pela beira dos olhos o albino pode notar que ela trajava novamente sua capa negra e carregava uma bolsa de peles na lateral de seu corpo. Num movimento rápido e sem nenhuma hesitação, ela saltou do batente, seus pés pousavam sobre o ar tranquilamente, quase como se estivesse descendo uma longa escada.

Porém, esse movimento a fez passar muito próximo de Jack, que consequentemente o fez sentir enfim o controle voltar aos poucos para o seu pequeno corpo. Ainda era lento, mas conseguiu se virar na direção da torre e tocar o batente da janela com as pontas dos dedos.

Instantaneamente, ele sentiu o tempo voltar a correr, permitindo-o entrar novamente na torre.

Olhou ao redor e percebeu que tudo parecia da mesma forma como estava antes da mulher proferir aquelas palavras de magia profunda, enfim poderia respirar aliviado. Em seguida, levantou-se e dirigiu-se na direção que ele acreditava que Rapunzel deveria estar.

Quando colocou seus olhos profundamente azuis sobre a pequena e delicada figura adormecida em seu berço, o garoto sentiu seu coração palpitar num misto estranho de tranquilidade e expectativa, não sabia dizer o motivo, mas podia jurar que havia algo os ligando, como um pequeno e fino fio dourado, entrelaçado em seus corações.

Jack poderia não saber os motivos para Gothel estar fazendo tudo isso, muito menos quem era ela e de onde vinha tanto poder, mas garantiria que nada acontecesse a aquela criança. Mesmo sendo ainda tão novo, já era capaz de compreender a responsabilidade que estava recaindo sobre seus ombros: O tempo estava parado, ele era invisível aos olhos da maioria das pessoas, estava preso em uma torre enfeitiçada e guardada por uma bruxa poderosa, sem contar que ainda precisaria proteger a pequena Rapunzel de todo esse mal.

“Com grandes poderes vem grandes responsabilidades.” Era o que sua mente infantil lhe dizia e, definitivamente, não haveria controvérsias.

Ele protegeria a menina como se sua vida dependesse disso.

E talvez, só talvez, ela realmente dependa.

...|..*..|...

— Por que eu não posso ir lá fora, mamãe? – Indagou uma jovem menina, com no máximo cinco anos, a mulher que penteava tão amorosamente seus já tão longos cabelos dourados.

— O mundo lá fora é perigoso de mais, cheio de pessoas malvadas e egoístas... Quero você aqui, comigo, para que eu possa protegê-la. Entende Rapunzel? – Respondeu prontamente, amaciando sua voz de uma maneira quase maternal.

—Sim, mamãe – Suspirou – Eu entendo.

Mas as paredes da torre não conseguiam esconder tudo, todos os anos no aniversário dela bonitas lanternas surgiam no céu, lanternas douradas e brilhantes, que assemelhavam-se a milhares de estrelas que emergiam da terra em direção ao infinito.

Nem mesmo Gothel sabia dizer o que eram, mesmo com seu feitiço poderoso, ainda haviam lugares nos reinos que sentiam o tempo passar.

Falhas em sua magia.

E ela sabia bem o motivo, pois já não possuía a mesma força de outrora, a flor agora estava dentro da criança e não ao alcance de suas mãos. Uma magia de tempo jamais seria capaz de alcançar cada canto do império, mesmo que tenha sido ela a invocar tal magia, mas a feiticeira não poderia permitir que aquelas luzes instigassem a menina a sair da torre antes do momento certo. Havia virado sua maior prioridade encontra-las e destruí-las custe o que custar, mas não estava conseguindo sucesso na maioria das suas buscas.

Por isso, nesse dia em especifico, Gothel saiu da torre e foi à busca dos seus problemas inconvenientes. E claro, Rapunzel sempre sentia-se triste quando via sua mãe ir embora , justamente no dia de seu aniversário. Porém, naquele em especial, ela pode vislumbrar algo muito mais interessante que as luzes no céu.

 – Menininho que voa! – Chamou ela alegremente, balançando sua pequena mãozinha a fim de chamar a atenção do novo visitante.

 Jack, por sua vez, assustou-se ao ouvir a voz de Rapunzel o chamando. Ele planava do lado de fora da torre tentando em vão descobrir para onde a mulher estava indo, mas todas as vezes que afastava-se de mais sentia o peso do feitiço irradiar pelos seus ombros, sempre o obrigando a voltar para a torre. O tempo, mesmo que não o imobilizasse mais, ainda não parecia passar adequadamente para si. A princesa estava completando o seu quinto aniversário, mas para ele não parecia ter se passado nem si quer um ano. Pelas suas contas estava agora com nove. Mas, havia aprendido a ler e a escrever enquanto bisbilhotava os diversos livros que tinham dentro da torre, porém, em todo esse tempo que estava lá, nunca havia sido visto por nenhuma das duas, sempre tomara o cuidado de não chegar muito perto e correr o risco da feiticeira sentir sua presença, mas ali e agora, não conseguia explicar a alegria que brotou em seu coração ao perceber que os grandes e brilhantes olhos verde, que tanto lembravam sua mãe Lucía, o encaravam com entusiasmo.

“-Ela pode me ver!” – Pensava – “Ela realmente pode me ver!”

—Sim?

 –Quem é você? – Inclinou levemente sua cabeça com o ar inquisitório.

  –M-meu nome é Jack, Jack Frost. – Gaguejou levemente ao olhar nos olhos de sua admiradora, que parecia ainda mais fascinada que ele próprio.

   –Você gostaria de ser meu amigo? – Perguntou sem medo. Abrindo o sorriso mais fofo que Jack já tinha visto.

—Adoraria – Sorriu

—Então está decidido! Seremos amigos para sempre! Certo? – Perguntou enquanto estendia o dedo mindinho para selar a promessa, havia ouvido de uma história que Mamãe Gothel certa vez havia lhe contado, segundo esta, toda promessa selada com o dedo mindinho jamais deveria ser desfeita, pois estaria sendo amarrada com um longo e poderoso fio dourado que a protegeria para todo o sempre, Jack também estava presente no dia em que a feiticeira havia contado essa história, lembra-se de ter se sentindo tão maravilhado quanto a pequena em sua ingenuidade.

—Certo. – Ele respondeu, aproximando-se mais perto dela a fim de realizar o juramento – "Está é uma promessa de dedo mindinho...

— Se alguém estiver mentindo...

—Que caiam mil agulhas...

—E corte o dedinho! "– Finalizaram juntos.

Aquele era apenas o começo, de um inicio muito mais antigo do que eles poderiam imaginar. Além das eras e das vidas.

A amizade começaria a desabrochar, mas nada garantia a eles que sempre seria assim. Os caminhos são sinuosos e incógnitos, caberia a apenas eles se permitirem serem guiados pelos seus destinos ou se lançarem para além do desconhecido.  

Mas, afinal, quais destinos?

...|..*..|...

Treze anos depois.

—Um, dois, três, quatro, cinco... Dezessete, dezoito, dezenove e vinte! Pronto ou não ai vou eu!

A figura loira movimentava-se sorrateiramente por todos os cômodos do lugar, procurou minuciosamente embaixo das camas, de armários e até mesmo atrás das grossas cortinas que estavam penduradas por vários lugares dentro da torre, mas sempre acabava se deparando com o mais absoluto nada.

“Onde será que eles se esconderam?” perguntava-se mentalmente.

— Há! – Disse quando abriu a janela num rompente – É... Acho que aqueles dois não estão escondidos aqui também... Onde mais eles poderiam estar? – Tagarelou propositalmente para não deixa-los perceber que já os tinha visto sobre o telhado da torre, subiu sobre o parapeito, ainda ocultando ao máximo sua presença, agarrou os beirais do telhado e, num único impulso, ergueu o seu pequeno corpo surpreendendo o garoto albino e o camaleão que ainda estavam se segurando para não deixar as risadas escapar.

— Peguei vocês! – gritou em comemoração, não conseguindo evitar o sorriso vitorioso que desenhou-se por seus lábios aos se deparar com as caras espantadas dos companheiros de torre –  Precisam pensar em um lugar melhor na próxima vez – Disse simplesmente, soltando o beiral e voltando a aterrissar em segurança no batente da janela.

— Chata – Jack voltou a surgir no campo de visão da menina, mais especificamente, encarando-a de cabeça para baixo. O movimento foi tão repentino que a loira assustou-se, desequilibrando-se e caindo cômicamente para dentro da torre.

— Que susto! Por que fez isso?!

— Oras, deveria ficar mais atenta, não me culpe por isso – Sorriu divertido, ainda achando graça da cara raivosa da amiga.

— As vezes me pergunto se você realmente tem vinte e dois anos, Jack. De aparência talvez, mas a sua mentalidade continua igual a de um garotinho com dez... – Respondeu enquanto se levantava e via o sorrisinho murchar quase que imediatamente – Não fique irritadinho, o Pascal esta lidando com a derrota melhor que você.

— Ele é um camaleão! – Quase como se soubesse do que estavam falando, o pequeno réptil desceu do telhado, pousando suavemente sobre o beiral da janela. Encarou o menino flutuando ainda de cabeça para baixo e acertou-lhe um golpe certeiro com sua língua longa e ágil, o que contribuiu para Jack desequilibra-se e finamente cair para dentro da torre com os outros.

— Bem feito – Rapunzel concluiu vitoriosa, pondo-se a caminhar para a sala de estar,

— Certo, certo, engraçadinha – Deu-se por vencido, recompondo-se e se pondo a ir na direção dela ainda com o camaleão por sobre seu ombro – O que quer fazer agora então?

—Não sei... – Colocou a mão no queixo numa típica pose pensante – Ah! Quer ver uma pintura que terminei recentemente?

—Você conseguiu um lugar que ainda não estivesse ocupado aqui dentro? – Questionou com ar de incredulidade enquanto olhava aos arredores. Cada mísero centímetro daquele lugar estava coberto de obras de artes pintadas por Rapunzel. Havia todos os tipos de desenhos, grandes e pequenos, coloridos e monocromáticos, uma verdadeira mistura desordenada, mas harmoniosa, que trazia vida para aquela torre solitária.

—Por incrível que pareça, sim! – Respondeu feliz – Quer ver?

— Por que não? – Pegando em sua mão, o conduziu até a área da lareira. Lá, mais uma das dezenas de cortinas grossas e cumpridas que cobriam vários lugares da torre encontrava-se fechada, justamente sobre a lareira. Com um movimento preciso, Rapunzel afastou cada um dos lados para enfim mostrar seu mais novo desenho ao amigo.

Era ela ali, pintada encima de uma árvore com Jack ao seu lado. No céu estavam as luzes flutuantes que apareciam todos os anos no seu aniversário e, aos arredores, a floresta que sempre os cercava.

— Está... Muito bonita – Ele concluiu, sentindo seu coração aquecer-se por um momento – Você realmente possui um dom maravilhoso, Rapunzel.

— Obrigada – Retrucou sem jeito – Fico feliz que gostou...

— Mas, por que decidiu pintar isso?

— Hoje... Eu finalmente vou falar com ela! Eu quero que ela veja o quanto isso é importante para mim... – A garota não pode evitar se perder enquanto olhava profundamente para a sua própria pintura, realmente desejando estar naquele lugar, vivendo aquele momento – O quanto desejo vê-las – Concluiu.

— Mas... Você tem certeza? Você sabe o que ela acha de você sair daqui... – Mesmo que quisesse muito ver Rapunzel feliz, andando e saltitando pela floresta em busca das luzes flutuantes, ele sabia o quão forte o feitiço ainda estava. Nenhuma das suas tentativas de seguir Gothel haviam se mostrado efetiva até então. Ele mesmo não envelheceu de maneira natural, muito menos as coisas que circundavam a grande edificação de pedra.

A única exceção, era Rapunzel.

E ela não fazia ideia disso.

—Absoluta! Se eu não fizer hoje... Posso não ter outra oportunidade tão cedo.

Suspirou – Certo. Então lhe desejo sorte. Ficarei na janela torcendo por você, tudo bem?

— Obrigada, Jack – Abriu mais um dos seus largos e brilhantes sorrisos – Realmente, você é um amigo maravilhoso.

—Claro, sou o único! Ainda tem duvidas disso?

— Bem, não se esqueça que também tenho o pascal... – O provocou de volta, mas ao invés de se irritar, como geralmente o faz, aproximou-se dela e a abraçou, de imediato, Rapunzel correspondeu o delicado gesto, compreendendo as intenções do albino. Ele a estava dando forças, como sempre fez desde que se conheceram. Ela não saberia dizer como teria sido sua vida se Jack não estivesse nela, como ela teria conseguido passar pelos longos dias de solidão quando sua mãe ia embora sem um dia certo para retornar. Seria eternamente grata aos céus por tê-lo enviado para si, como um anjo protetor, para salva-la de si mesma e de sua rotina sufocante.

— Rapunzel! – Ao ouvir seu nome ser chamado, imediatamente soltou-se de Jack e se virou na direção da grande Janela.

— É agora...! – Mesmo que não quisesse, a ansiedade tomou cada misera parte do seu esguio corpo, até suas mãos já se encontravam frias e levemente suadas. Ela definitivamente não esperava que sua mãe fosse chegar tão cedo.

— Se acalme – Jack a virou de volta para si, afim de que pudesse encara-la diretamente nos olhos – É só sua mãe, não um dragão. Você pode falar com ela como sempre conversaram.

— Eu sei, eu sei... Posso fazer isso – Mais parecia que estava tentando convencer a si mesma do que realmente o garoto que estava a sua frente – Agora, para fora! – Pegou Jack pelos ombros e o empurrou até o beiral da janela – Você não vai me fazer perder minha postura!

— A culpa não é minha se você fica sem jeito olhando para o meu maravilhoso rosto – Retrucou convencido, mas não fazendo nada para impedi-la de continuar o empurrando.

— Já pensou que eu ache engraçado porque é justamente o contrário?

— HÁ! Você é hilária! – Rebateu sarcástico.

—Vai logo, Jack!

— Rapunzel, já estou velha de tanto esperar! – Gritou Gothel novamente.

— Já estou indo, mamãe! – Ela respondeu dando um último olhar repreensivo para o amigo, que dando-se por vencido, saiu da torre e se pôs a esperar do lado de fora.

Enquanto isso, Rapunzel pegou uma parte do próprio cabelo e jogou sobre o gancho que ficava no exterior da estrutura, criando uma longa corda por onde puxou a feiticeira até alcançar o parapeito onde a menina a esperava.

— Bem-vinda de volta, mamãe. – A saudou.

— Oh Rapunzel, obrigada, querida! – Acariciou amorosamente seus cabelos loiros, ajudando-a também a soltar a parte dos seus fios que estava presa no gancho – Viu? não demorei tanto desta vez. Consegui vender mais algumas das pinturas no mercado do Reino do Sul, por isso, acho que não precisaremos nos preocupar com mantimentos por algum tempo.

Jack sabia o que isso significava. Afinal, além dele e da própria Gothel, Rapunzel não fazia ideia do feitiço que foi imposto sobre o já antigo Império das Estações. Para a menina, é como se Jack tivesse crescido junto com ela, jamais passou por sua cabeça que o tempo fora da torre havia sido parado, que a vida nos reinos estava congelada.

Jack pensava todos os dias como estariam Lucía, Pedro e até a própria Senhora Spokes, o feitiço fora capaz de alcançar o Reino do Norte? Eles teriam envelhecido como ele mesmo envelheceu? Ou ficaram completamente congelados, presos nessa dobra temporal?

Perguntas e mais perguntas que ele não teria a resposta tão cedo, ou ao menos, era isso que ele imaginava.

Enfim, se Gothel disse que não precisaria voltar para o Reino do Sul, que era justamente de onde as luzes provinham, isso quer dizer que ela conseguiu descobrir a origem delas? Que conseguiu parar o que quer que as estivesse lançando no céu?

Antes que pudesse concluir o raciocínio, a feiticeira voltou a falar, obrigando-o a voltar a prestar atenção.

— Rapunzel, a mamãe está sentindo um grande cansaço. Poderia cantar para mim, querida? – Disse enquanto se dirigia ainda mais para dentro da torre, depositou sua tão conhecida bolsa de couro sobre a mesinha, junto com sua cesta de palha, e sentou-se ao lado, em sua grande e confortável poltrona. Da própria bolsa, tirou uma escova de madeira bonita, talhada por todo o seu corpo, com pequenos detalhes em dourado na forma de flores.

— Sim, mamãe, já farei isso, mas antes eu gostaria de...

— Primeiro cante para mim, Rapunzel – A interrompeu – Conversaremos depois.

— Sim, mamãe... – Sem mais questionar, rapidamente ela foi atrás do seu pequeno banco de madeira, o mesmo que sempre usou desde pequena, o posicionou ao lado da poltrona da mulher e se pôs a cantar, como, também, sempre fez.

—“Brilha linda Flor, teu poder venceu, trás de volta já o que uma vez foi meu...”

Lentamente, Gothel escovava os longos cabelos de Rapunzel e passava suas unhas pontudas e vermelhas pelo comprimento dele, um carinho próprio da feiticeira para com a jovem menina, enquanto absorvia a vida e jovialidade que o poder da flor mágica tinha a lhe oferecer.

 Do lado fora, Jack ainda observava a cena, como tinha prometido a amiga. Mesmo depois de tanto tempo, continuava a lhe ser fascinante ver o brilho dourado e resplandecente que emanava de Rapunzel todas as vezes que ela cantava. Mesmo ali, na janela da torre, ele conseguia sentir todo seu corpo ser revigorado pela doce canção.

Algo tão poderoso que estava além de toda e qualquer compreensão que ele almejasse alcançar.

—“Cura o que se feriu. Salva o que se perdeu. E traz de volta já o que uma vez foi meu... Uma vez foi meu.” – Finalizou, e no mesmo instante, o brilhou cessou.

— Obrigada, filha, sinto-me muito melhor – Sorriu doce – Agora pode falar, o que queria me dizer?

— Então, mamãe – Ela começou – Sei que a senhora é sempre muito ocupada e suas viagens são bem longas, mas amanhã é um dia muito especial para mim.... E co-como você não disse nada... É... Eu – Rapunzel estava realmente nervosa. Buscou ansiosamente os olhos azuis do amigo que a observava da janela, Pascal agora também estava com ele, e ambos a encaravam com olhos positivos e incentivadores, graças a isso, tomou coragem para concluir o que queria dizer a sua mãe – Amanhã é meu aniversario.

— Acha mesmo que eu me esqueceria do seu aniversário, tolinha? – Riu achando graça do nervosismo da menina – Sou sua mãe, não me esqueceria mesmo se eu o quisesse.

— Desculpe – Riu sem jeito, enquanto coçava a nuca e desviava o olhar – Bem, eu vou fazer 19 anos e o que eu queria... Quero dizer, o que eu gostaria de ganhar esse ano... Na verdade o que quero a vários anos...

— Por favor, Rapunzel, pare de enrolar. Você sabe que detesto quando fica enrolando e...

— Eu quero ver as luzes flutuantes! – Agora, foi a vez da menina a interromper. Ela disse tudo rápido de mais, quase pareceu uma única grande palavra, mas, Gothel a entendeu.

E não gostou nada do que ouviu.

— O que? – A atmosfera agora parecia outra, toda aura de mãe amorosa e compreensiva havia esvaído. Os olhos negros estavam sombrios. Até mesmo Jack pode sentir o frio gélido traspassar sua espinha, prontificando-se para agir caso a situação exigisse.

— Olha – Ainda Sem perceber a mudança drástica de humor da mulher, Rapunzel foi até a lareira e puxou as grossas cortinas para mostrar seu desenho – Eu queria que você me levasse para ver as luzes flutuantes.

—Você quis dizer as estrelas? – Perguntou se virando e nem dando importância para o desenho, si quer notou a presença de Jack no mesmo. Mas Rapunzel não estava disposta a desistir hoje, de forma alguma.

—Ai que está! Eu mapiei as estelas, cada uma, e elas são sempre as mesmas, mas essas aparecem todos os anos no meu aniversário, só no meu aniversário, mamãe... – Gothel voltou a encara-la – Eu fico pensando se elas aparecem... Por mim. Eu preciso vê-las – Ressaltou – Não da janela que é pouco, mas sim pessoalmente! Eu preciso saber o que elas são, por favor... – Esse foi seu último argumento.

—Você quer ir lá fora... – Não era uma pergunta – Ora Rapunzel! – Riu incrédula – Você é tão frágil quanto as flores, filha. Sabe por que estamos nesta torre?

— Eu sei, mas...

—Para mantê-la sã e salva – Enfatizou – Não posso arriscar que algo aconteça com você. No dia certo, sairemos daqui juntas. Enquanto isso, continuaremos a viver nossas vidas como sempre o fizemos. Então, sem mais discussões sobre isso.

— Mas... Mas, por que você não quer me levar? Ficarei ao seu lado! Você pode me proteger mamãe, depois que virmos às estrelas voltamos para a torre e tudo ficará...

—Chega, Rapunzel! Você não vai sair desta torre, NUNCA! – Finalizou, elevando sua voz num tom assustador e autoritário que fez a própria menina se calar. Um bolo começou a se formar em sua garganta, quase como se estivesse a sufocar, uma grande decepção aflorou dentro de si e a vontade de chorar era maior que tudo.

Ambas ficaram em silêncio, um silêncio desconfortável e incomodo, até que Rapunzel encontrou forças para voltar a falar.

— Se é assim... Eu tenho uma outra ideia pro meu presente...

— E o que você quer? – Sua mãe já estava com a paciência no limite.

— Tinta nova... Aquela feita das conchinhas que você me trouxe da outra vez.

Agora, as feições de Gothel finalmente se suavizaram, tornando o seu rosto novamente amável, como estava antes da discussão – É uma viagem muito longa, quase três dias para ir e voltar de lá, tem certeza disso?

— Apenas achei... – Inspirou profundamente, buscando controlar a cascata que estava ameaçando deixar seus olhos – Que seria uma ideia melhor que as estrelas...

Igualmente, a feiticeira suspirou, dando-se por vencida – Ficará bem sozinha?

— Desde que eu não saia... Ficarei bem – Sorriu, almejando depositar o máximo de confiança possível naquela encenação.

— Eu te amo muito minha flor, trarei seu presente e ficará mais feliz. – Disse enquanto a abraçava – Eu lhe prometo.

— Obrigada... Mamãe. E eu te amo mais...

— Eu te amo muito, muito mais.

A mulher, portanto, arrumou suas coisas para a viagem de ultima hora, trocou suas roupas, pegou de volta a capa negra, calçou botas de couro mais reforçadas e, com a ajuda de Rapunzel, desceu da torre, caminhando tranquilamente na direção da gruta que levava para a saída daquele lugar.

Porém, antes de atravessar a passagem, acenou um longo adeus para a filha, até finalmente desaparecer por entre os cipós.

De imediato, Jack adentrou a torre novamente e foi ao encontro de Rapunzel.

— Eu sinto muito... Achei que ela poderia deixar dessa vez... – Tentou consola-la, mesmo que soubesse que as chances eram quase nulas, ele não podia contar a ela o motivo de estar presa ali, não ainda. Não sem um plano para executar.

— É melhor eu aceitar logo... Nunca terei o meu sonho realizado. Nunca vou conseguir ver as estrelas... Nunca vou poder ver o mundo fora dessa maldita torre! Eu... Só queria sair daqui... Só isso, Jack– Desolada, abraçou o amigo com força, deixando enfim que as lágrimas escapassem e trilhassem o caminho por seu rosto pálido.

— Eu queria poder fazer mais por você... – O Albino sentia-se desolado, odiava todas as vezes que ela chorava, pois nunca sabia o que fazer. Dessa forma apenas retribuiu o abraço, deixando que as lágrimas dela molhassem sua camisa azul.

Ficaram assim por um longo tempo, Pascal os observava com olhinhos tristes de cima de um dos móveis, sem realmente poder fazer algo pela dona. Aos poucos o choro, finalmente, foi se transformando em fungados espaçados, até que desapareceram por completo.

— Melhor?

— Sim... Obrigada, Jack. Não sei o que faria sem você... – Ela assustou-se ao sentir a língua gelada de Pascal alcançar seu rosto, numa clara demonstração de ciúmes – Você também, Pascal. Você também!

Os dois jovens começaram a rir e Rapunzel permitiu que aquele momento levasse a tristeza para longe, mesmo que por só alguns momentos.

Entretanto, a menina parou subitamente ao ver um brilho curioso saindo de dentro da cesta que Gothel havia trazido mais cedo naquele mesmo dia. Desvencilhou-se de Jack e foi até ela, causando confusão no companheiro de torre. De qualquer forma, quando Rapunzel levantou a tampa que protegia o interior do objeto de palha, surpreendeu-se ao se deparar com uma linda coroa, cravejada do cristal mais puro e brilhante que já pode ter a chance de ver em toda a sua vida. Suas astes eram douradas e ornamentadas, com detalhes tão minuciosos que ela poderia ficar observando o objeto por horas e mesmo assim não encontraria todos os detalhes existentes ali.

Sentiu-se hipnotizada. Como se uma áurea a puxasse na direção da coroa e vice versa.

— Onde ela conseguiu isso? – Murmurou para si mesma.

— Isso o que? – Perguntou Jack, aproximando-se para ver melhor o que a menina tanto encarava.

— Essa coroa! – Mostrou a ele – Pergunto-me onde minha mãe a conseguiu... - Virando-se na direção do espelho, a menina cuidadosamente posicionou o objeto de ouro por sobre a própria cabeça e no mesmo instante seus olhos iluminaram, o ar faltou em seus pulmões e a surpresa desenhava-se deliberadamente por sua face. 

A visão de si mesma com aquela coroa parecia, ao mesmo tempo, tão certa e tão errada.

Atrás da garota, Jack também a observava atentamente, sentindo um leve onda de nostalgia tomar conta de seu próprio peito.

— Eu... também – Ele respondeu, sem deixar de encarar a cena a frente, questionando-se quanto mais o tempo passava sobre o sentimento estranho que não abandonava seu subconciênte – Eu também, Rapunzel.

 

...|..*..|...


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Notas finais do capítulo

( Capítulo editado e atualizado 30/12/2019)

Ass. Princess