Capitulo dezessete

Havia sangue em todos os lugares. Penas brancas e lascas de madeira cobriam o chão. Um cocheiro que transportava uma carroça cheia de gansos para o Reino do Inverno fora atacada para Grande Alcateia. A única coisa que permaneceu inteira foi o velho e desgastado chapéu verde que o homem usava.

Os lobos estavam espalhados sob as sombras das árvores, mascando os ossos de suas vitimas.

O som de galhos se quebrando rompeu pela mata.

Maquiavel levantou a cabeça e olhou para a floresta. Alguém se aproximava. Ele farejo o ar. Quem quer que fosse, seu cheiro deixou o lobo ansioso.

–Temos companhia – Rosnou ele.

Todos os lobos se levantaram prontos para atacar novamente caso fosse necessário. Mas eles não eram páreo para aquela pessoa.

Uma figura sombria e encapuzada movia-se por entre as árvores em direção aos lobos. Parou diante deles sem medo algum e esperou um momento até revelar o seu rosto.

–Olá, Maquiavel.

–Quem é você? – rosnou o lobo raivoso.

A mulher diante dele era metade do seu tamanho, mas por alguma razão lhe eriçava os pelos de seu dorso.

–Você não me conhece pessoalmente, mas me serve desde muito tempo. Já ouviu falar de mim. Todos já ouviram.

–É a Feiticeira Vermelha – sussurrou um dos lobos.

Maquiavel movimentou-se agitado. Ele estava intimidado com aquela presença e não gostava de se sentir assim.

–Muita ousadia sua aproximar-se de minha alcateia – disse – Eu deveria ordenar a um de meus lobos que arrancasse a sua garganta.

–Pois eu o desafio – disse a Feiticeira.

Não havia qualquer sinal de medo no corpo da mulher. Deu um passo a frete, e os lobos recuaram covardemente, inclusive Maquiavel.

–O que você quer de nós? – inquiriu ele.

–Um acordo.

–Nós não fazemos acordos – rosnou a fera.

–Vocês faram quando souberam o que tenho a oferecer – disse ela.

Isso deixou o líder intrigado.

–Que tipo de acordo?

–Uma troca – esclareceu – Há um grupo viajando através dos reinos, dois garotos e uma garota. Eu quero que vocês os encontrem e os tragam a mim. Ilesos.

–Você quer criancinhas? – Maquiavel falou irônico.

–Se me recordo, a menos de dois dias essas criancinhas puseram sua alcateia para correr.

O sorriso do lobo se desfez.

–Se os trouxermos para você, o que ganharemos em troca?

–Quando vocês os trouxerem, eu lhes darei aquilo que mais desejam neste mundo – declarou ela.

Maquiavel caiu na gargalhada.

–Lobos não querem nada neste mundo – falou.

A Feiticeira Vermelha o encarou como se estivesse estudando sua alma.

–É mesmo? Então, por que sua alcateia vive nessa cruzada através das terras, aterrorizando tudo que encontram pelo caminho? O que estão tentando provar? De quem querem se vingar?

O lobo ficou em silencio. Ele não podia negar aquilo.

–Eu vou lhe oferecer a única coisa que pode vingar a morte de seu pai – disse – Vou lhe dar a Rainha do Reino do Inverno. Aquela que cravou uma espada nas costas de seu pai, para que pudesse proteger a vida de seu filhinho.

Todos os lobos, inclusive Maquiavel, grunhiram duvidosos, mas a ideia era tentadora.

–E como você fria isso? – perguntou o lobo.

A Feiticeira olhou para ele tão austeramente que o coração da fera disparou.

–Não me questione. Terei a jovem rainha em minha posse no final da semana. Tragam-me os jovens e eu entregarei Serafim a vocês. Temos um acordo?... Ou não?

Maquiavel olhou para os outros membros da alcateia, que estavam completamente assustados. Eles assentiram com a cabeça; não queriam contrariar a poderosa feiticeira.

–Sim, temos um acordo – disse ele – Mas devo avisa-la que, se não cumprir sua parte do trato, quebrarei seu pescoço como se ele fosse um graveto.

A Feiticeira caminhou até o lobo e ficou a poucos centímetros da sua cara, olhando-o intensamente nos olhos.

–Eu devo avisa-lo – disse ela – que, se você não cumprir a sua parte, transformá-lo-ei em tapete, assim como Serafim fez com seu pai. E, se me ameaçar novamente, eu mesma arrancarei sua pele. Pelo por pelo. Dente por dente. Até não sobrar absolutamente nada.

Maquiavel congelou. A Feiticeira Vermelha sabia o que tinha nas mãos.

–Até breve – disse ela colocando o capuz – e outra coisa, o quanto mais rápido me traze-los, também darei o Fúria da Noite a vocês – Desapareceu por entre as árvores.

Toda a alcateia permaneceu como uma estatua, temendo mexer-se.

–O que estão esperando?! – Bradou Maquiavel, com o orgulho ferido – Temos crianças para encontrar!

Dispararam no horizonte, uivando em uníssono. O barulho era ensurdecedor.

Assemelhava-se ao som de almas, que gritam do fundo das chamas eternas.

Existem apenas duas tragédias no mundo.

Uma é não conseguir o que quer

A Outra é conseguir.

(Oscar Wild)