Prologo

“Era uma vez...”

"Todos já ouvimos, ao menos uma vez na vida, essas três palavras tão nostálgicas.

Durante grande parte de nossa infância, nos tele transportamos para os lugares grandiosos e impossíveis que nos era aberto por meio desta tão inusitada porta.

Sim, uma porta.

Ela se abre e nos traga para dentro de um mundo antigo e ao mesmo tempo novo. Mundo o qual é fascinante! E também questionador.

Ratos podem se transformar em homens, empregadas viram princesas, dragões habitam os céus e sereias vivem no mar.

Mas, o que poucos sabem, é que essas são palavras mágicas.

Elas são um chamado imediato para quem ás escuta.

Um chamado para aqueles que estão prontos para ouvi-las.

Os Contos de fadas não se tratam apenas de histórias bobas para dormir ou divertir uma criança no auge da sua criatividade e imaginação. Eles podem ser a solução para muitos problemas, uma lição de vida disfarçada com um fundo de verdade.

Ouçam.

Vocês conseguem ouvir?

Este antigo novo mundo os espera.

Ele clama por vocês."

(Adaptado de Terra de histórias 1: O feitiço do desejo: Chris Colfer)

...|..*..|...

—Dizem que grandes pessoas estão destinadas a realizar grandes coisas... – Ainda era noite quando dois homens vestidos de linho fino chegaram a colina Murilk, a mais alta e bela de todo Império de Klerium. Eles conversavam calma e serenamente sobre assuntos que poderiam mudar o destino do universo. – Mas pequenas pessoas estão premeditadas a coisas ainda maiores.

—Sei disso– respondeu-lhe o mais velho também admirando a paisagem – E também estou ciente de sua preocupação para com os mortais – Sua voz retumbante podia ser facilmente comparada aos poderosos relâmpagos e trovões que iluminam as tempestivas noites escuras.

—Se o Senhor as sabe, também tem o conhecimento do que tenho em mente – continuou o jovem de forma séria.

—Sim, e como o sei –respondeu-lhe o outro – Mas você também já conhece a minha resposta.

O moço sentiu seu coração dar uma fisgada - Mas, se o Senhor...

—Escute - O mais velho o interrompeu - Você já foi uma vez. Não posso permitir que volte para eles. Não ainda. E você sabe o porquê disso.

—Sim... Eu sei.

Os minutos que se seguiram foram de completo silencio. O único som presente era o do vento, soprando sobre seus rostos e ricocheteando seus mantos e cabelos. Ambos encaravam o horizonte, atentos aos primeiros raios de sol que estavam prestes a surgir. Nada diziam.

Apenas existiam.

—Diga-me - Pronunciou-se novamente o mais velho - Por que você quer tanto isso?

— Por que me perguntas se já sabes a resposta?

—Por que me perguntas se também já sabes a minha? - Retrucou o outro sorrindo.

—Certo... Você venceu - Suspirou derrotado - É por causa deles.

—Hum... Entendo.

—O caso é que... Dói no meu coração saber que eles estão se destruindo de novo! - o mais novo prosseguiu - Eles chacinam, defraudam e assolam tudo que está ao alcance de suas mãos. Nada é o suficiente! Nada está bom! Sempre é preciso de mais e mais! Eu não suporto pensar que tudo o que eu fiz foi inútil. Eu... Quero salvá-los. Mesmo que eles tenham se esquecido de nós. Mesmo que ... Tudo o que eu fiz antes não tenha valido de nada... – ele finalizou num sussurro quase inaudível.

— Venha comigo – O mais velho se pronunciou depois de uma pausa demorada – Quero mostrar-te algo.

Caminharam pela decida do vale mais uma vez em silêncio. O mais velho ia à frente sendo seguido pelo outro, o qual estava curioso para saber o que seu superior queria lhe mostrar. Ele ponderava sobre mil e uma possibilidades quando foi tirado de seus apotegmas pela intensa voz.

 - Veja – Apontou o homem para dentro de um pequeno lago – O que os terrenos estão fazendo.

O jovem inclinou-se na direção do lago e o observou. A principio, nada aconteceu, mas surpreendentemente as águas começaram a se agitar e, a partir das ondas do riacho, uma cena principiou a abrolhar em seu interior. No primeiro momento, não se podia ver com clareza, porém, não demorou muito para que ele conseguisse identificar um casebre humilde, construído com tabuas de madeira e palha no meio da floresta. Em seu interior um ancião se assentava numa poltrona avelhantada perto da pequena lareira que existia dentro do cômodo. O velho homem encarava as chamas pensativo, fitando-as com um fervor estonteante e carinhoso, como se, de alguma forma, ele estivesse se recordando de uma memória muito feliz. Poucos segundos depois, sons de passos se pronunciaram sobre o assoalho desgastado, o rangido das madeiras velhas se intensificava e preenchia a casa silenciosa.

E então, escorado ao batente da porta, um garotinho de cabelos castanhos apareceu abraçado a um cachorro de pelúcia. O pequeno trajava um pijama verde velho e com furos. Seus pés miúdos estavam descalços, com os dedos comprimidos pelo frio enquanto os bracinhos se agarravam firmemente a seu fiel companheiro.  

—Que história o senhor irá me contar hoje, vovô? – Perguntou o pequeno curioso.

—Não sei ainda, deixe-me ver... – Fingiu estar pensando. Olhou de esgoela para o neto que tinha os olhinhos castanhos arregalados e uma expressão de ansiedade no rosto – Que tal aquela que fala sobre como o mundo começou?

—É a minha favorita! – exclamou feliz correndo até o ancião e se sentando em seu colo.

—“A muito tempo atrás – Começou o senhor— Nada existia. Não havia céu. Não havia terra. Não havia vida... Não havia nada.

Tudo que existia era um homem, e este homem era conhecedor do amor.

—Que haja luz! – Retumbou sua voz por sobre o grande vazio.

Então, de repente, ele se tornou criador.

Um lampejo de claridade infinita surge no nada, criando o céu.

E de um doce canto, surgiu a terra.

Cascatas de águas despencavam por todos os lugares desenhando lentamente o mar e as fontes das águas. No segundo seguinte, como uma bela dança, as árvores e as flores começaram a brotar de dentro do solo.

Houve então uma grande divisão, onde os guardiões Sol e Lua foram separados e receberam suas tarefas. Sol seria responsável por iluminar e aquecer todo o mundo durante o dia e Lua teria que aclarar a noite e afastar a sombra da face da terra.

Depois ele criou os animais, dês do que nada no mais profundo das águas até aquele que voa pelo céu. Desde as criaturas gigantes até as pequenas. Permitindo que muitos adquirissem o dom da fala e pudessem se comunicar facilmente entre si.

E, por fim, ele nos criou. Pessoas. Terrenos. Como eu e você, cada um de uma forma única e especial.

Porém, as pessoas, deixaram de acreditar nele. Elas esqueceram. E agora, estão sendo obrigadas a fraquejar aos domínios daquele que eles mesmos permitiram governar no lugar do verdadeiro rei.

Uma mulher má e cruel...

—E agora, vovô? – Perguntou o pequeno sonolento, mesmo sabendo qual seria a resposta do mais velho – O que o nosso criador vai fazer para nos livrar dessa mulher malvada? – Questionou enquanto abria a boquinha e bocejava alto.

—Ele vai nos salvar – Finalizou o homem ao perceber que o netinho já dormia profundamente em seus braços - Como ele sempre fez.

Aos poucos as imagens começaram a se dissolver, e novamente o reflexo de ambos os homens se fez presente sobre a superfície do lago. O mais jovem permanecia atônito com o que havia acabado de ouvir. Era reconfortante para seu coração saber que ainda existiam pessoas que conheciam a verdade. E apenas esse motivo o incentivava a querer salvar, mais uma vez, todos que estavam sofrendo nas mãos do mal.

Ele estava disposto a ajudá-los... Custe o que custar.

—Tem certeza de que é isso que você quer? - O outro questionou depois de compreender o que seu filho estava planejando.

—Sim - Eles agora encaravam o horizonte - Eu tenho.

—Faça o que achar ser o certo - Colocou sua imponente mão sobre os ombros do jovem - Eu sei que vai funcionar.

—Obrigado. Não vou te decepcionar, pai.

Ambos sorriram.

E enquanto as folhas das árvores caiam e o vento soprava, as forças do universo se juntavam mais uma vez.

Estava na hora dos novos guardiões serem levantados para lutar.

...|..*..|...