Je Ne Comprends Pas escrita por Sierra


Capítulo 1
Capítulo 1




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15/07

Ao olhar no laptop, ele percebeu que seu trabalho tinha chegado ao fim. E lá estava ele, em frente ao computador, ouvindo o colega com quem, havia 4 meses, dividia o quarto. Um grande quarto, no apartamento duplex da família Winner.  O quarto era bem mobiliado, bem arejado, bem decorado.  Do lado direito do jovem ficava a porta, que era fixa no meio, abrindo nas duas laterais, se não estivesse, obviamente, fechada. Ao lado da porta tinha uma bancada de vidro, com um espelho e luzes. Deveria originalmente ter sido um quarto feminino.

Era um espaço tão grande que cabia duas camas de casal normais, e o jovem já tinha pensado que dava para colocar ali uma king size e ainda ter muito espaço.  Na soleira das camas havia um descanso, ou apoio para pés, ele não tinha certeza do que eram aquelas coisinhas, de fato. Ao lado da cama mais próxima à porta, a sua, existia uma mesinha redonda onde ficavam seus pertences. Seu laptop, sua cadeira, carteira, o colega de quarto na verdade não mexia em nada que era dele.

Do lado da cama mais perto da janela, que aos olhos do japonês não era janela, mas sim uma porta de vidro para a varanda, havia um sofá que cabiam 2 pessoas. E um frigobar.

A TV ficava, obviamente, na frente das camas, e abaixo da TV prateleiras personalizadas para livros. Elas tinham formas de balões de fala, era interessante. E, por último, de quina para a porta gigante de vidro que dava na sacada do quarto, havia uma grande porta, que era a entrada do banheiro.

Banheiro esse que chamava muita atenção, pois tinha um closet gigante o suficiente para ele e o colega de quarto, o seu à esquerda e o do colega à direita. E logo depois um banheiro com duas cubas, e um Box que cabia uma banheira redonda, o chuveiro ficava em um Box separado. Afinal, nem sempre quem estava em uma banheira estava ali para tomar um banho.

É talvez o apartamento fosse mais luxuoso do que devia, de fato. E claro que a família Winner teria condições de casas bem maiores, com um quarto para cada pessoa. Contudo, aquele apartamento em si já era enorme e os quartos seriam, no mínimo, gigantes. E afinal, se não queriam chamar a atenção, não poderiam estar morando em uma mansão de milionário excêntrico no meio do deserto.

No apartamento na frente ao que residia, morava Chang, seu amigo, e a sua, agora esposa, Sally. Olhou para o colega de quarto e sorriu. Sempre pensou que dividir o quarto com aquele jovem americano baderneiro e zuadento iria o incomodar, mas acabou por descobrir que Duo era bem mais calmo do que parecia ser.  Heero baixou a tampa do laptop, depois de salvar seus arquivos, e foi sentar no sofá.

Duo olhou para o japonês sentado no sofá ao lado de sua cama e continuou a falar com ele. Era uma coisa que faziam muito esses últimos meses: Duo chegava, sentava em sua cama e conversava com Heero sobre as coisas que tinha visto, gostado, achado interessante, ou de qualquer assunto que Heero, às vezes, não entendia. Contudo aquilo se mostrou ser bem agradável, pois mesmo quando Heero estava trabalhando, não era algo que precisasse de sua total atenção, e o americano era, como já tinha percebido, uma pessoa mais agradável do que imaginava...

“Então, foi isso que aconteceu, eu fiquei com vontade sorrir, as pessoas que estão aí fora não sabem, de fato, brigar” Falou ele, olhando para o colega sentado no sofá, enquanto passava a escova no próprio cabelo.

“Calma, você falou muito rápido...” Na verdade, Heero tinha se perdido porque tinha devaneado um segundo ou dois... “O cara chegou na loja onde você estava e, simplesmente, atacou o outro com a taça de champanhe que quem estava segurando no meio da loja? Isso tá meio confuso.” Heero se encostou no sofá ficando confortável e cruzando os braços.

“Não, presta atenção” Falou o americano, desembaraçando um nó particularmente difícil “ Não era dessas lojas de gente como nós, era uma loja chic, pra gente como o Quatre, aquelas que você entra e tem uma garçonete servindo champanhe para a galera.”

“Duo, essa parte eu entendi.” Heero falou, olhando agora para a televisão que o americano ligara enquanto falava.

“Então, Quatre e eu estávamos lá na inauguração, quando entrou um tal de... ah não sei o nome não, uma dessa gente pomposa que o Quatre conhece, e ai ele pegou uma das taças de champanhe, virou, e, de repente, foi em direção a um outro lá e quebrou a taça na cabeça dele, dizendo que ele tinha roubado a namorada dele.” Falou, finalmente conseguindo terminar de pentear a cachoeira cobre que caia da sua cabeça.

Heero torceu a boca pro lado e suspirou. “E você disse que essa gente rica era chic e civilizada... não me pareceu uma inauguração muito glamorosa.” Olhava fixo para a tv, em um programa chamado Man x Wild. Heero não entendia essas coisas, não sabia pra que todo esse movimento e certa corte ao redor de certo tipo ou classe de pessoa, mas sabia que era assim que se dividia a sociedade e simplesmente aceitava. “Em uma coisa você está certo, eles realmente não sabem brigar.”

“De jeito nenhum.” Duo agora recobrava a cena na cabeça e ria. Realmente não conhecia muita gente elegante fora Quatre e Milliardo Peacecraft. Talvez o conhecido Treize Kusherinada quando foi vivo, mas não saberia dizer ao certo. E bem, não importava. Amarrou o cabelo em uma trança novamente, pois assim seria mais difícil que embaraçasse novamente enquanto dormia, e se deitou em sua cama, olhando para a TV, puxando as cobertas.

Heero, notando que o colega já iria dormir, levantou do sofá, pegando o controle da TV, fechou as cortinas e se dirigiu para sua cama. Olhou de relance para o jovem de cabelos longos e pensou mais uma vez como ele era, de fato, uma pessoa agradável. E esse pensamento estava cada vez mais recorrente em sua cabeça.

Na verdade Heero sabia que nutria algum tipo de atração sexual pelo outro, pois já se pegara várias vezes o admirando e o desejando. Gostava do jeito que ele se vestia, como ele se movimentava. Era tudo de forma muito sexy, muito atraente. Só que descobrira, a dois dias atrás, que essa atração não era só sexual, mas pela personalidade do jovem americano.

Afinal, a dois dias atrás, o americano entrou no quarto por volta das três da manhã, um pouco alto, e, por razões que Heero ainda não entendia, ele teve o americano em seus braços. Uma coisa que ele não sabia porque não tinha rejeitado. Talvez porque soubesse que, havia um tempo, nutria esse desejo, até porque fora tudo tão rápido e tão cheio de lascívia, o desejo repreendido e reprimido de Heero pelo colega. E o que quer que Duo estivesse sentindo naquele momento que decidira beijar o amigo, puxar seus lábios com os dentes,  tentar arrancar sua alma com a língua. O que iniciara uma dança rítmica de corpos nus durante a noite.

Mas no dia seguinte o americano acordou com um enorme sorriso e um bom humor na cama de Heero, todo nu como se nada daquilo fosse anormal. Talvez nem tivesse sido, para o jovem de longos cabelos cor de cobre, afinal ele estava acostumado a uma vida social que, talvez, tivesse interações diferentes da vida do então conhecido como soldado perfeito. Mas para Heero tinha sido tudo muito inovador.

Naquela manhã ele soube que o desejo não se restringia mais só ao corpo do outro jovem, mas aquele sorriso, sua forma de agir, suas ações e pensamentos tão rápidos e, às vezes, arredios e difíceis para o perfeito soldado processar. Naquele dia, Heero entendeu o que talvez fosse o conceito de uma das milhões de histórias que Duo lhe contara sentado na cama ao seu lado, enquanto trabalhava e não prestava total atenção. Algo como fuck buddies. Na verdade, aos ouvidos de Heero, era uma expressão chula, meio ridícula, mas deu com os ombros. E agora, dois dias depois, olhando para o amigo dormir, entendia que talvez estivesse um pouco... como é que o outro dizia? Encantado...

Fora dormir, cheio do “encantamento” sobre o outro rapaz...

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18/07

Esses três últimos dias estavam sendo calmos, mas na noite que se passara aconteceu aquilo novamente. Dessa vez Duo estava totalmente sóbrio e consciente de seus atos. Heero tinha acabado de fechar o capítulo do livro que estava correntemente lendo, enquanto o americano brincava com algum joguinho no computador, sentado no sofá. Quando Heero sentiu um ímpeto enorme de estar com ele novamente, mas, obviamente, se controlou. Não seria soldado perfeito se não soubesse se controlar, ou então, seria perfeito como?

Mas viu o megalomaníaco Deus da morte se cansar do joguinho e se levantar, indo em direção ao banheiro. Ah, já eram 22 horas, ele devia estar indo tomar banho, como era parte do ritual diário. Alguns minutos depois sai de toalha no corpo. O que não era usual, uma vez que o closet era anexado ao banheiro e, normalmente, eles já saiam vestidos. Jogou a toalha de lado, em cima de sua cama... E Heero o viu nu à sua frente. Será que ele tinha batido com a cabeça no banheiro?

“Heero!” falou de forma extremamente viva “eu machuquei minhas costas e minha parte traseira, porque estava tomando banho pulando... como é que ta?” Vira e mostra. Duo não tinha vergonha? Nenhum tipo de pudor? Na cabeça de Heero, aquilo era muito sem sentido. Na cabeça de Duo, ele estava simplesmente pedindo para um colega dar uma olhada, não tinha nada no seu corpo que o outro também não tivesse.

“Está levemente vermelho na região mais baixa, mas só” Falou corando um pouco pela situação constrangedora.

“Ufa..” falou sentando aliviado na própria cama, molhando-a um pouco.

Heero logo sentiu uma chateação o pegar e gritar em seu cérebro. Levantou, pegou a toalha de Maxwell e começou a enxugar os cabelos do outro.

“Olha Maxwell, eu não sou sua mãe, mas se você dormir assim vai ficar, no mínimo, resfriado... às vezes parece que você não se importa” Falou, sem saber porque fazia aquilo. Depois se deu conta que a amizade deles realmente se desenvolveu a um ponto onde não deveria se importar se outro estava nu, e sim, se ele estava bem e saudável. Duo era sua ponte e conexão com o mundo. Era através dele que conseguia manter uma  conversa e ouvir sobre como era o comportamento ou coisas do resto mundo. E só através dele tinha o conforto de poder ser ele mesmo.

Duo sorriu internamente enquanto seu amigo japonês secava suas longas madeixas. Aquela atitude era tão intima, tão doce, tão cheia de carinho. Será que o amigo percebia o quanto de carinho tinha que ter para se importar de secar o cabelo de um colega qualquer? Duo virou-se de repente e o beijou cheio de desejo...

E assim novamente aconteceu como naquela primeira noite.

E naquela manhã do dia 18, o jovem de cabelos curtos acordou meio atordoado, indo tomar um banho e descer para fazer o café. Era o dia dele preparar a refeição dos membros da casa. Quando chegou a cozinha encontrou o amigo Trowa, alguém com que, com certeza, se dava muito bem, e tinha um ritmo muito parecido.

Logo os dois tinham preparado tudo, e, sentados, começaram a tomar seus cafés. Heero tomava um café com leite, enquanto Trowa, um café preto, forte com biscoitos e geléia. A conversa não era tão animada, como os quase monólogos de Duo. Se entendiam muito bem, mas conversavam apenas de coisas não triviais. Eram mais sérios. Discutiam, no momento, sobre as reações partidárias ou não dos movimentos pacíficos que estavam acontecendo por vários lugares de países neolatinos.

E assim, o namorado assumido do piloto do Heavy Arms entrou de muito bom humor, desejando um bom dia para ambos, e tomando lugar na mesa ao lado de Trowa. Quando Quatre percebeu sobre o que era a conversa, olhou para ambos em reprovação.

“Essa hora da manhã e vocês conversando coisas que meu cérebro não processa tão cedo” O jovem, anteriormente conhecido como retalhador, passou a mão pelos cabelos de seu amado piloto do Sandrock e sorriu no canto da boca. Quatre retribuiu o sorriso. Não se beijavam ou, como dizia o amigo piloto do Deathsscythe, bem conhecido como Duo Maxwell, não davam amassos em publico. Quatre e Trowa eram educados demais para isso.

Mas na verdade Quatre não se importava sobre o que conversavam. Talvez por ser muito educado, comia sempre calado, ouvindo as pessoas, mas não falando enquanto isso. E os rapazes deram continuidade ao seu assunto.

Logo mais o jovem que mais gostava de dormir na casa adentrou a cozinha, no momento em que todos estavam perto já de finalizar seu café da manhã. E cheio de energia, pulando cozinha adentro, com um sorriso enorme, sentou do lado do colega de quarto. O piloto do Wing segurou a respiração por meio segundo, o que pareceu uma eternidade para ele. Como proceder depois da noite que se passara?

Em poucos segundos obteve sua resposta. Aparentemente essa noite nunca existira pois ao seu lado estava Duo Maxwell, o colega falador, que cortava sua conversa com Trowa para perguntar se alguém tinha visto nas noticias hoje cedo que estavam pensando em aceitar um projeto de lei que institucionalizaria uma tal de cura homossexual, que aquilo era impensado, escandaloso e desrespeitoso. Como sempre lá estava ele, discutindo coisas bobas sobre o mundo lá fora. Mas pensando bem, nem era tão bobo assim...

No intimo, o japonês se frustrara um pouco. Pensou, ou devaneou, que receberia um beijo de bom dia na bochecha ou algo assim... Será que seu encantamento estava evoluindo para paixão? A única coisa que podia fazer era prosseguir com as tarefas diárias.

_____

Já eram agora 16 horas, e já fazia um tempinho que trabalhava em um projeto que a senhora Une tinha enviado para que fossem feitas as mudanças necessárias. Talvez tivesse passado mais tempo do que havia percebido, pois logo Duo chegou com uma bandeja e colocou na mesa redonda. Um suco de laranja, um sanduíche, e umas panquecas. Heero olhou para aquilo e sorriu. Seu colega de quarto era, de fato, muito doce e atencioso. Fora assim que começara a notar o quanto gostava da presença do outro, pois desde 4 meses atrás, sempre que Heero ficava muito tempo no computador, o outro sempre tinha a gentileza de trazer algo para que ele comesse e colocava ali, silenciosamente, sem atrapalhá-lo. Na primeira vez o piloto do Wing se assustara com aquele ato de bondade, depois passou a apreciar com muito afeto.

Quando deixou o computador de lado por alguns instantes para poder comer o que o outro havia trazido para ele, notou que o amigo estava todo arrumado, e por um impulso que não era normal de si, perguntou, enquanto levava um garfo com panqueca à boca:

“Vai sair?”

“Ah vou sim... vou dar uma volta por aí... preciso de ar, de vida, não sei como você consegue passar o dia aqui. Te vejo daqui a pouco” Falou, terminando de ajeitar a calça jeans e sua blusa de botão preta. Pegou a carteira, e saiu do quarto.

Heero olhava para o quarto, para as camas, lembrando de tudo que já havia se passado. Para aquele lanche, que chegava a ele carinhosamente já tinha 4 meses, as conversas bobas, os programas de TV, ou as discussões sobre livros, ou algo que realmente fosse diferente, e se perguntava o que passava na cabeça do americano, que vivia como se nada daquilo fosse realmente fatos importantes ou algo do gênero. ____

Mais tarde, naquele mesmo dia, por volta das 21 horas, todos já haviam jantado e se recolhido a seus quartos. Duo estava em sua cama, agora dobrando umas roupas, enquanto conversava com Heero, que lia um livro deitado em sua cama.

“Você devia ter visto, Heero! Foi memorável, a praia estava sem ninguém, o sol estava se pondo, lindo, por acaso, aquele lusco fusco... e então do nada eu notei o casal na água, em movimentos muito divertidos de se assistir ao vivo e em lugar publico. Teria estragado meu passeio e meu pôr do sol, se não fosse, no mínimo, inusitado. E a chegada do guarda, de repente pessoas que surgiram do nada tirando fotos” Duo dobrava as roupas e ria.

“Por que essas coisas só acontecem com você?” Perguntou, sem dar muita bola para a história. Continuava com os olhos no livro, sabia que agora, quando olhava para o americano, a tentação o iria envolver e, provavelmente, vê-lo ali, tão inocente a dobrar suas vestimentas, seria uma tentação a mais para o rapaz de cabelos curtos.

Duo continuou sua aventura, enquanto o piloto do Wing lhe dava atenção particionada com sua leitura. E foi assim que se passaram mais 3 meses de convivência. Com Duo e Heero vivendo em paz e tranquilidade naquela casa, com pequenos gestos despretensiosos de carinho e noites de sexo sempre que o piloto do Deathscythe decidia que tinha vontade. E nos dias seguintes às tórridas noites, era como se nada nunca tivesse acontecendo para abalar a relação de amizade dos dois.

O problema é que Heero já estava envolvido, e notara a umas semanas que essa sua paixão já era amor, e um pouco de obsessão, quando o colega contara de seu encontro com alguém. Aquilo o estava matando, minando, possuindo. Porque a relação deles era daquele jeito? O que se passava na cabeça do jovem de cabelos longos, e será que ele não sabia que estava deixando Heero a beira da loucura, do prazer, do sofrimento, tudo ao mesmo tempo?


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Notas finais do capítulo

Agradecimento especial a Nii Kurotsuki que corrigiu tudo pra mim. Porque realmente estava cheio de erros.



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