Arthur Pendragon não era um garoto comum. Ele era filho do rei; o sangue mais nobre corria por suas veias. Herdeiro de uma tão poderosa dinastia que nem mesmo ele era capaz de entender a grandiosidade por trás dela.

Entretanto, apesar de seu destino majestoso, assim como qualquer garoto normal do reino, Arthur também enfrentava dilemas quando o assunto abordado era “mulheres”.

Uther, seu pai, dizia-lhe para aproveitar a vida com cautela. Em outras palavras, Arthur estava livre para fazer o que bem entendesse, desde que isso não comprometesse o futuro do reino. Quando a hora certa chegasse, Uther o ajudaria a escolher uma rainha apropriada.

O assunto casamento ocasionalmente aparecia em conversas informais. Era natural, uma vez que a maioria dos amigos de Arthur já estava noivo ou até mesmo casado. No entanto, o casamento do príncipe era um tema delicado.

– Só espero que você não me enforque em um compromisso com uma baranga encalhada – Arthur anunciou, seu tom uma mistura de revolta e amargura.

Uther riu, sem desviar os olhos dos papéis que estava lendo.

– Se essa baranga servir de alguma forma aos interesses de Camelot, é com ela com quem você se casará – o rei disse. – Afinal, não é como se você tivesse planos relacionados a casamentos, não é?

Arthur bufou e desviou o olhar. O sol brilhava intensamente pela janela, tanto que ele tinha que apertar um pouco os olhos para poder enxergar. A verdade era que ele sim tinha planos. Eles apenas não estavam muito claros.

– Eu não sei – o loiro disse entediado. – Só por curiosidade, o senhor não acha que Morgana seria uma boa rainha?

Pela primeira vez, Uther parou de examinar seus volumosos papéis e olhou fixamente para o filho. Seu olhar era indecifrável, e, se não fosse pelo pequeno movimento que o polegar direito do rei fazia, Arthur poderia jurar que o homem se petrificara.

– Arthur, você pensa em Morgana neste sentido? – Assim como sua expressão, a voz de Uther era indecifrável.

– Eu – Arthur engasgou. O que ele estava fazendo? O que dera nele? – Não, é claro que não.

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O príncipe não mentira. Ou pelo menos ele pensou que não havia mentido. Credo! Cruzes! Morgana era tão loucamente irritante que Arthur não suportava nem mesmo estar no mesmo ambiente que ela. Imagine casar-se!

Todavia, no dia em que ele estava andando sem rumo pela ala do castelo em que ficava o cômodo da moça, algo mudou.

Arthur estava prestes a bater na porta. Ele jurava que estava. Entretanto, quando o loiro vislumbrou a silhueta de Morgana atrás de um biombo, congelou.

Ela estava se trocando. Arthur era capaz de ver cada curva de seu corpo nu. O coração dele estava a mil por hora. Sua boca seca. Suas calças pareciam menores.

Tudo que Arthur desejava era que a transparência do biombo revelasse mais do que uma sombra. No entanto, não era como se ele pudesse reclamar da visão privilegiada e, o príncipe até se atrevia a dizer, divina que a fina tela do biombo lhe providenciava.

Pensamentos devassos cruzavam a mente do rapaz enquanto assistia à garota entrar nas mais finas peças de roupas. Morgana sempre demorava tanto para se trocar? Ela aparentava brincar com os tecidos, quase como se estivesse o provocando; o que seria um absurdo, considerando o fato de que se Morgana realmente soubesse que ele estava lá, já teria feito um escândalo, no mínimo.

Um suspiro escapou Arthur quando o futuro rei se deu conta de que ela já estava quase pronta. Ele deveria sair do castelo, ou talvez até mandar um servo preparar um banho frio, visto que Arthur definitivamente duvidava de que uma simples caminhada o livraria de seu ardente estado.

– Você não é tão silencioso quanto pensa – a voz arrancou-o de seus pensamentos.

A boca dele se abriu automaticamente e Arthur se perguntou se ele havia imaginado o que ouviu.

– Sim, Arthur, eu sei que você está aí – Morgana disse, caminhando casualmente até sua escrivaninha em um belo vestido azul.

– Ahn, huh – ele tentou, sem rastro dos milhares de pensamentos que tomaram conta da mente dele mais cedo. – Boa noite, Morgana.

Arthur não hesitou em se afastar no passo mais rápido que suas pernas lhe permitiam. Ele não sabia se deveria se amaldiçoar por parecer tão tolo na frente de Morgana, a rainha da razão, ou por não ter tomado uma atitude enquanto pôde.

Foi então que o grandioso Arthur Pendragon percebeu que sim. Ele pensava em Morgana naquele sentido.