Destino? escrita por Lasanha4ever


Capítulo 4
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391949/chapter/4

27/12/2009 – Recreio, Rio de Janeiro.

  - Você precisa fazer isso, Joana, é o melhor colégio daqui! – minha avó fala pela milionésima vez.

  - Mas vó, é só para garotos! Eu gostaria de poder entrar, mas não posso. Eu não tenho pau.

  - E daí? Se eu conseguir te colocar ali dentro, você me garante que vai voltar a ser estudiosa e vai se formar em três anos?

  Minha avó está preocupada porque eu repeti o 9º ano. Repeti porque tive que cuidar da minha mãe, que, uma semana depois da morte do papai, entrou em depressão. A família da minha mãe (pai e mãe) já tinha morrido, e ela era filha única, então quem me ajudou financeiramente foi a vovó, mas eu tinha que fazer todo o resto porque não queria um estranho com a mamãe. Tive que cuidar dela, garantir que ela não se mate (coisa que eu falhei dois meses atrás), fazer a comida, parecer feliz, ser forte, dar os remédios . Dois meses atrás, ela morreu (enquanto eu dormia ao seu lado, ela levantou da cama e foi até a cozinha, onde cortou os pulsos com uma faca), e eu vim morar no Recreio, com a vovó.

  Sim, eu quero entrar no internato. Eles têm os primeiros lugares em questão de notas altas do RJ, e é um colégio enorme, com árvores, plantas e até mesmo um pequeno lago – eu gosto de fotografias, então ponto a mais para o colégio por seu ambiente. E, além disso, tem como você trabalhar lá (como ajudante e tal) e a biblioteca é enorme. Além de tudo isso, o colégio tem intercambio, então todo mês chegam alunos do mundo inteiro, assim como partem alunos para o mundo inteiro. Fiquei apaixonada pelo lugar, mesmo depois de saber que era só para garotos.

  - E então, se eu conseguir te colocar ali dentro, você me garante que vai ficar longe dos problemas, vai voltar a ser estudiosa e vai se formar em três anos? – ela está mais séria agora.

  - Sim, vovó. Mas eu não sou garoto!

  Ela bufa e pega o telefone e sua agenda de contatos.

  Minha avó é uma pessoa com muitos contatos e ela consegue tudo o que quer, sempre. E, além disso, ela é meio que rica.

  Vou para o meu quarto e volto a ler meus livros pelo computador – porque é de graça, embora mil vezes pior que um livro normal.

  Uma semana de ligações e subornos, minha vó entra no meu quarto com um sorriso no rosto.

  - Consegui colocar você no colégio! Tem um antigo amigo meu que trabalha lá dentro, e conseguiu colocar você na última vaga livre. Mas você está lá como garoto, então se acostume com esse nome: João Ribeiro. Liguei para uma conhecida do seu avô que cuidada dos disfarces dele – meu avô era um “agente secreto” da policia, ele se disfarçava e entrava em favelas para prender gangues e acabar com a venda de drogas e armas – e, sinto lhe informar, mas você terá que tingir e cortar seu lindo cabelinho.

  Dou de ombros. Meu cabelo ruivo nunca foi amado por mim.

  - Muito obrigada, vó! – agradeço sem parar enquanto a abraço.

  Durante o mês seguinte, eles cortam meu cabelo até que ele fique estilo Thor – minha avó não teve coragem de cortar mais curto – e eles tingiram meu cabelo de preto. Minha pele não precisou de maquiagem, pois devido à adolescência e ao chocolate, adquiri uma quantidade enorme de espinhas, o que tirou toda a graciosidade de uma menina do meu rosto.  Eu sou baixinha, um metro e sessenta e dois, então nessa parte, não puderam fazer nada, eu seria um garoto baixinho de dezessete anos e foda-se. Minha voz foi trabalhada por uma fonoaudióloga para eu conseguir deixa-la mais grossa, o que não ajudou muito, mas foi o suficiente para enganar o carteiro, e o cara do supermercado. Meus peitos – que já não eram grandes – foram amassados com uma faixa até ficarem praticamente impossíveis de ver. Por sorte, minha avó me deixou ficar com o alargador de 8mm da orelha esquerda.

  Em relação às minhas roupas, tive que dar adeus aos shorts, calças coladas, as regatas, blusas sem manga e as com detalhes femininos – ou seja, só me restaram cinco blusas T-Shirt básicas (uma tem uma caveira, outra tem uma frase do Seu Madruga sobre vingança, e as outras três são lisas), um casaco de moletom cinza e meus All-Stars (um preto básico, um preto de cano longo, um cinza desgastado e um azul marinho meio rasgado).

  Minha avó me entrega três T-Shirt brancas com o símbolo do colégio na parte superior direita, um atestado médico informando que eu não posso tirar a blusa nem nadar – pois tenho um problema de pele e não posso arriscar ficar exposto muito tempo à radiação solar, o que é praticamente verdade, minha pele é muito sensível e eu tenho propensão ao câncer de pele. Além disso, ela compra para mim dois pijamas (um de calça comprida cinza e blusa branca e outro de bermuda cinza e blusa preta), além de dez cuecas box brancas e absorventes internos – não são meus preferidos, mas nessas condições, eu vou ter que usá-los.

  Tenho uma mala grande com as roupas e uma pequena com os itens de higiene, maquiagem, remédios, pasta com os documentos e coisas de garota. Minha vó acabou de sair no seu fusquinha verde musgo e me deixou na frente do internato com uma marca de batom vermelho em minha bochecha. Após limpar o batom da minha cara, eu caminho até a secretaria do colégio.

  Não posso deixar ninguém saber que sou uma mulher, então não vou poder baixar a guarda nem um minuto, pois, de acordo com essa senhora de óculos mal-humorada, eu vou morar em um apartamento com mais quatro garotos.

  Depois de mostrar a identidade, eu recebi um folheto com o horário das aulas, um com os trabalhos que eu posso fazer para conseguir dinheiro, e outro folheto com as regras.

  - Diego, ajude o João aqui a chegar ao dormitório dele. Apartamento 34.

  Um garoto alto – mais ou menos um metro e oitenta – com um sorriso com aparelho, olhos castanho, cabelo cacheado e pele morena se vira.

  - Certo. – ele olha para mim. – Você é o João, certo? Vem, vou te apresentar ao pessoal.

  - Obrigado.

  Enquanto caminhávamos, ele apontou onde era cada coisa, e acenava para alguns amigos dele.

  - Deixe-me te informar quem está no apartamento 34 para você não se assustar, novato. Tem o Felipe ou Souza, tanto faz, que é gay, o Nicholas ou mais conhecido como Potter, porque ele é a cara do Harry Potter, que também é gay, e o Gustavo, mais conhecido como Hates, você vai entender porque quando o conhecer. Ele é o mais velho daqui, tem dezenove anos. Mas ainda tá no segundo ano, porque, de acordo com o que falam, ele repetiu dois anos antes de vir para cá. Os outros dois são gente boa, você só precisa ter cuidado para não andar pelado perto deles. Ambos estão no primeiro ano, que nem você. – ele começa a falar enquanto entramos em um lugar enorme, com três andares, cheio de garotos, malas e cheiro de cigarro. Subimos as escadas e continuamos a andar em um corredor cheio de garotos, e só então eu percebi o quão alto um garoto pode falar sobre putaria.

  - E você? – pergunto, tentando ignorar os homens indecentes e suados.

  - Ah, eu estou no terceiro ano já, e não sou gay, ou irritadinho que nem o Hates. Se precisar de alguma ajuda, eu moro no apartamento 84. Pronto, chegamos.

  Ele abre a porta para mim e eu me deparo com um quarto azul, quatro camas e duas portas, uma à direta, outra à esquerda. Uma deve dar para o banheiro, e a outra eu não sei. De um lado do quarto, tem dois garotos fofos, ambos com a mesma altura mais ou menos, com três malas cada, sorrindo de um jeito fofo. E do outro lado do quarto, na cama perto da janela, tá o tal garotos Hates.  

  - Gente, esse aqui é o João, tentem não assustá-lo. As aulas começaram amanhã, então mais tarde vocês receberão os livros, ok? Até.

  E então, o Diego sai do quarto, deixando-me sozinha com dois gays e o tal Hates que me olha com desinteresse. Volta sua atenção para o celular, dando as coisas para a gente. 

  - Oi, eu sou o Felipe e esse é o Nicholas. – ele é muito fofo! O Felipe tem olhos azuis escuros, cabelo loiro, pele clara e um sorriso lindo, e é gordinho e fofo. O Nicholas é o contrário, tem a pele um pouco mais amarelada, cabelo preto, olhos verdes, sorriso meigo, óculos de aro redondo que nem o Harry Potter mesmo, e é magrinho.

  - Eu sou o João, mas pode me chamar de Ribeiro.

  Fico conversando com eles enquanto arrumamos minhas coisas. Eu tenho a cama do lado da cama do Hates. A arrumação é assim: uma cama, uma cabeceira, outra cama. Dois metros de distancia, uma cama, uma cabeceira, outra cama. O Nicholas e o Felipe ficaram com as camas perto da porta, e eu vou ter que ficar com a cama ao lado do garoto irritadinho.

  Minha intuição feminina me diz que o Felipe e o Nicholas vão acabar namorando. Eles são muito fofos juntos!

  Jogo as malas no chão ao lado da cama e me deito.

  Aqui é quente, e não tem ar condicionado. Só um ventilador no meio do quarto, exatamente em cima do ponto entre a minha cama e a cama do Felipe – os dois metros que eu comentei acima – fazendo com que o ventilador não tenha função nenhuma além de gastar energia à toa.

  Olho os horários. São aulas de quarenta e cinco minutos. E eu me matriculei nas aulas de manhã, então minhas aulas começam as 7:15 e terminam 12:00. Segunda feira eu tenho biologia, língua portuguesa, língua portuguesa, geografia, história e biologia. Terça feira eu tenho física, física, química, literatura, literatura. Quarta eu tenho matemática, inglês, filosofia, educação física, matemática e química. Quinta eu tenho geografia, química, língua portuguesa, história, matemática e biologia. Sexta eu tenho matemática, física, inglês, sociologia, matemática e matemática.

  Que. Grande. Merda.

  As regras eu já sei. Não ter relações com ninguém do colégio, vestir o uniforme, não beber, não fumar, não ficar fora do dormitório a partir de dez horas, de segunda a quinta, e a partir das onze, nos finais de semana.

  Trabalhos... Ajudante na lanchonete, ajudante do jardineiro, organizador na biblioteca, auxiliador dos alunos do intercâmbio... Biblioteca. Definitivamente.

  - Vocês sabem onde fica a biblioteca? – pergunto ao pessoal.

  - Você também quer trabalhar lá? – o Nicholas pergunta, com os olhinhos brilhando.

  - É, eu amo livros, então não tem jeito melhor de arrumar uma grana do que ficando lá.

  - Ai que bom, vou ter com quem conversar! – ele pula da cama com um sorriso no rosto. Eu olho confusa para o Felipe que está rindo baixinho.

  - Ano passado ele ficou sozinho na biblioteca, quase surtou.

  - E você, Felipe, vai trabalhar em algum lugar?

  - Nem morto, eu tenho que me concentrar em minhas notas, senão meus pais me matam.

  O Felipe continua conversando com o Nicholas e eu aproveito para espionar o que tem atrás da outra porta. É uma mesa enorme de madeira no meio do quarto, com quatro cadeiras em volta, e algumas prateleiras na parede. Uma janela grande e um ventilador.

  - Aí e o quarto de estudos, não que os alunos estudem aí, mas enfim. Eu estudo, então agradeceria se você não agisse que nem um brutamonte e bagunçasse tudo aí. – o Nicholas fala, apoiado na parede.

  - Ah, sem problemas. Eu também gosto das minhas coisas arrumadas.

  Ele sorri aliviado.

  - Então, vamos à biblioteca logo? – pergunto.

  - Claro. Lipe, você vem com a gente?

  - Não, eu tenho que arrumar minhas coisas ainda, e esconder as comidas.

  Comida! Merda, eu me esqueci de trazer comida!

  Eles notam meu olhar apavorado.

  - Fica tranquilo, nós temos comida de sobra, como você é novato, não te informaram que a comida da lanchonete é incomestível, né?

  - Não avisaram...

  - Tudo bem, cara, quando o final de semana chegar, você pode trazer mais.

  Sorrio e então, vou com eles até a biblioteca. Os garotos são fofos. Eles andam um do lado do outro, e parecem namorados... Acho que vou me dar bem aqui. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

então, o que acharam? tá ficando legal? ^-^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destino?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.