Flashback on

Eu ainda era muito pequena. Ainda acreditava que o mundo era um lugar cheio de fantasias. Não acreditava que as pessoas podiam ser más. E nesse dia, tudo isso acabou. Era como se a tristeza que me dominava tivesse feito tudo mudar, e fez.

Era tarde pra mim ainda estar acordada. Principalmente porque minha mãe já havia me colocado pra dormir a um bom tempo. Mas, algo dentro da minha cabeça não me deixava descansar e sonhar com outros mundos. Eu precisava perguntar a ela. O dia todo essa pergunta vinha na ponta da língua, mas, voltava. Não tinha coragem para faze-la. Acho que eu tinha medo da resposta. Mas se eu não levanta-se agora, nunca poderia realmente viver em total paz e felicidade. Era agora, eu falei pra mim mesma. Levantei, pegando meu ursinho branco de pelúcia e indo pra onde estava minha mãe.

Como eu imaginava, ela não estava dormindo. Ela assistia a algum filme ou seriado de monstros. Eu evitei olhar pra tela da tv enquanto descia as escadas, aquelas coisas horrorosas sedentas de sangue me davam muito medo. Estou falando dos palhaços, e não de vampiros e lobisomem, ou qualquer outra coisa. Não tenho medo deles, e sim daqueles palhaços zumbis prontos pra te matar.

Eu descia as escadas lentamente agarrada ao meu ursinho. Só quando cheguei nos últimos degraus ela me viu e desligou a tv. Logicamente pra me dar uma bronca:

–Annita, o que você ta fazendo acordada tão tarde?! Volta já lá pra cima!

–Mãe, quero perguntar uma coisa pra você.- Disse com a voz embragada e rouca. Acho que ela percebeu que era algo sério, porque fez um gesto pra mim sentar com ela.

–Que foi Annie? Teve algum sonho ruim? - Perguntou enquanto passava a mão em meus cabelos.

–Não. É que as minhas amigas da escola falaram pra mim que......... _ Nesse ponto eu já estava chorando- ......... Que eu não sou sua filha e do papai! Isso é verdade? - Minha mãe me abraçou e começou a cantarolar uma musica que eu não conhecia enquanto inclinava o corpo pra lá e pra cá.

–Mãe? - Com o conforto do abraço da minha mãe eu ja tinha me acalmado e parado de chorar.

–Querida... - Ela disse me soltando- ... Eu e seu pai queriamos ter essa conversa com você quando fosso bem mais velha. - Pela cautela que ela disse essas palavras eu já havia entendido tudo. Eu realmente não era filha deles. Meus amigos estavam certos, as palavras que eles falaram, essas malditas eram verdade. Você não é filha deles. Não pode ser, você não se parece em NADA com eles. ISSO, era tudo verdade! O choro me atacou novamente. Como era possível? Essas pessoas que cuidaram de mim a vida toda, não meus pais de verdade? Então quem eram? E porque não moro com eles? Onde eles estão?

–Me conta.- Falei em meio aos soluços- Quem são meus pais de verdade? Me conta!- Eu já berrava e soluçava tão alto que meu pai desceu as escadas correndo sem entender o que acontecia.

–O que ouve? Ela esta bem?- Meu pai parecia bem preocupado, mas minha mãe só fez um gesto com a cabeça pra ele se sentar ao meu lado.

–Querido, ela quer saber.- Meu pai soltou um suspiro.

–Annita, olha, amanhã conversamos isso, esta bem? Já esta tarde. -meu pai falou por fim. Mas eu precisava saber agora! E agora eu ia saber, ah ia!

–Não! Eu quero saber agora quem são meus pais! - Encarei os dois com olhar indignado.- Agora!

–Esta bem. - Minha mãe disse apenas, e foi pra cozinha trazendo pra mim um copo de suco que ela havia feito no jantar.

– Querida, a alguns anos eu e seu pai, fomos em nossa primeira viagem como profissionais, como arqueólogos. E não era qualquer lugar, era Machu Picchu! Uma das setes maravilhas do mundo, um dos lugares mais misteriosos que existem! - Olhei pra ela como se tivesse falado grego. Macho Pichu? Macho é um homem que não é marica. E Pichu, é um pokemon que evolui pra Pikachu! Que raio de lugar é esse? - Eu e seu pai estavamos sozinhos esperando pra ver o nascer do sol na montanha onde eles viviam. La é um lugar maravilhoso, cheio de construçoes de seculos atras, templos.... Ah que saudades... - Quando vi que minha mãe estava envolvida em pensamentos, e tinha esquecido de mim, estalei os dedos pra ela acordar.- Bom, estavamos admirando tudo quando ouvimos um choro de bebê. E era você! Você estava dentro de uma das casinhas chorando, sozinha. É claro que não podiamos te deixar ali. E como ninguem da cidade havia ouvido falar de uma linda menininha que havia sido deixada na montanha, adotamos ela.- Minha mãe olhou pra mim com tanto carinho que foi impossivel não sorrir.- Princesa, lamento mas não sabemos quem são seus pais.- Otimo! Agora eu tenho pais fantasmas! Porque eles me abandonaram? Eu tenho algum tipo de problema? E se for assim eu sou desse lugar estranho?

–Anni? - Foi a vez de meu pai falar- Sabe esse colar de coraçao que você usa?- Ele apontou pro meu colar. Ele era de ouro, e o pingente era um delicado coração, onde estava escrito algumas palavras em outra lingua que NINGUÉM entendia.- Você usava ele quando te encontramos.- Ele sorriu pra mim, um sorriso triste- Se agente soube-se que lingua é essa, talvez agente descubra...

–Não!- Eu o cortei. Não queria saber sobre o passado. E sobre as pessoas que me abandonaram. Chega! Agora so vou viver o presente e esquecer isso!- Não quero! Eu estou bem vivendo com vocês. Não preciso saber de nada. Sério!- Sorri. Um sorriso com sinceridade. E eles me abraçaram. Meu mundo não é mais o mesmo. Dentro de mim eu sinto que cresci, amadureci. E não quero mais saber deste assunto. Ele esta encerrado a partir de agora! Vou viver a partir de agora mais livre, feliz e mais aliviada por tirar esse peso de mim...

Flashback off

–Annita?- Era a minha irmãzinha, me chacoalhando pra mim "acordar". Olhei pra ela e sorri amarelo.- No que você estava pensando?

–Numa coisa que você não sabe, porque não existia! - Adoro fazer isso com ela. Porque ela fica irritada por ser a mais nova e eu só me divirto. Minha irmã não sabe que sou adotada, porque quando eu soube falei que esse assunto estava no túmulo. E se depender de mim ainda vai ficar.- Vai dormir, peste!

–Não posso! Lembra aquela vez que viajamos de avião pela primeira vez?-Ela falou dormindo, Coisas bem comprometedoras caso alguem que a conhece-se a visse.

–Lembro, So. Impossivel não lembrar! E eu posso dormir e vou. Avião é feito pra isso né?- Ah, esqueci de contar. Eu e minha irmã estamos num avião indo pro Japão, morar com nossos tios. Foi muito dificil, e ainda é superar a morte de nossos pais. Foi um dia muito triste e deprimente. Estavamos na casa da sra. Martines enquanto nossos pais foram pra algum sitio arqueologico no fim do mundo. Ligaram pra ela e deram a noticia. ela veio ate nós e nos abraçou dizendo: "Sinto muito, crianças. Mas, recebi a noticia de que seus pais cairam em um barranco e foram soterrados. Infelizmente eles não sobreviveram". Foi horrivel pra mim, imagine pra minha irmã? Estamos tentando esquecer tudo.

Peguei na bolsa uma foto nossa, mais recente: Eu, estava com meus cabelos loiros mel em uma trança, usando uma camisa de manga comprida vinho escrita i love my friends , um shorts jeans azuis escuros com tiras do lado,ALL STAR, meus olhos verdes-lima tampados por um óculos de sol. Minha irmã com seu cabelo negro curto, ela usava um vestido azul bebê com uma fita na cintura amarrada em um laço, ela mostrava a língua e estava com seus olhos verdes escuros bem fechados. Minha mãe deixava seu cabelo cacheado cair pelos ombros também negro, Ela usava uma calça jeans, sapatilhas, uma bluda de frio da GAP sorria e abraçava nos duas. Meu pai usava uma blusa verde escura, uma calça jeans clara, tênis branco, seu cabelo loiro claro estava espetado e ele fazia pose de mano. Nesse dia estavamos na nossa casa nova, era meio que nossa primeira foto lá, e era especial pra mim.

Quando vi, eu estava chorando silenciosamente e minha irmã lia pelo sétima vez Crepusculo. e eu adormeci. Assim, olhando aquela tão especial foto.