O garoto de cabelos brancos estava sentado, brincando com um pequeno quebra-cabeça. Daqueles que vem em caixas de cereais, e ele nunca se interessava pelos cereais, daria a alguém. Mas não era de uma caixa de cereais. Era de uma barra de chocolates que ele havia visto escrito “contém brinde” na embalagem e ele pensou em várias alternativas do que continha dentro.

Acabou por achar que seria algo plano e pequeno. Poderia ser uma figurinha ou um quebra-cabeça. Adivinhou. Era um quebra-cabeça. Estava esperando a pessoa certa para entregar o chocolate. Sim, este alguém tinha cabelos loiros, olhos de um azul imensurável e bonito, daqueles que você se perde só em olhar. E aqueles cabelos? Eram tão perfeitos, tão certinhos e faziam um contraste perfeito num estilo Chanel, daqueles que se vê em revistas para mulheres. Dava inveja, bastante inveja. Queria os cabelos retinhos, mas tinha uma coisa parecida com miojo descolorido.

Então, o loiro apareceu não dando a mínima para o garoto de cabelos brancos sentado no chão a desvendar seu quebra-cabeça. Mas este deu a importância que não deveria e se virou para ver o que o outro estaria fazendo. Fitava o céu, irritado. Parecia que acordou e não achou sua barra de chocolate.

Ele riu docemente ao pensar naquilo. Mello percebeu.

- O que foi? – Perguntou o loiro, irritado. Virando os olhos para o garoto que ria docemente, este parou ao perceber o olhar assassino que o loiro lhe lançava.

- Não posso rir mais? – Perguntou, levantando uma sobrancelha, adquirindo uma expressão desafiadora.

O loiro não respondeu e se virou para olhar o céu novamente, porque o albino não podia parar de ser irônico pelo menos uma vez na vida? Aquele sorriso infantil o matava. Queria tanto chamá-lo de “seu pequeno”, soaria tão gentil, mas iria contra seus princípios. Não importa, iria contra seus princípios por Near. Porque não percebia que só era daquele jeito com Near por não saber como demonstrar aquilo que sentia? É, exatamente isso. Admitiu por um impulso e então sua mão encontrou a sua testa tão facilmente, num ato de indignação com o que acabara de pensar.

Near percebeu e levantou uma sobrancelha.

- O que foi? – Perguntou, arregalando os olhos, caminhando temeroso até o loiro. Estava com a barra no bolso da calça.

O loiro se virou, com o mesmo olhar assassino de antes, para o outro e se deparou com o garoto o observando de uma maneira diferente, como se ele fosse a coisa mais interessante naquele local.

- Não tenho nada. – Falou, fingindo não deixar seus olhos fitando o pequeno à sua frente mais do que deveria. Virou seu rosto novamente para o céu.

O garoto de cabelos brancos esticou o braço, colocou um dedo  da outra mão em sua própria boca, temeroso esperando a reação do outro, que se virou. Havia uma forma retangular, embalada em marrom com um nome estampado na frente. Havia uma pequena frase reluzente “contém brinde”. Era uma barra de chocolate.

- Pra quê isso? – Perguntou, comprimindo as sobrancelhas. Na certa era alguma piada, só podia ser.

- Não tem ninguém aqui além de nós dois, para quem mais seria? – Perguntou.

O loiro se assustou.

- Tinha jurado que ouvi você dizer que era pra mim. – Levantou as sobrancelhas, exaltado.

- É pra você. – O garoto de cabelos brancos corou levemente.

O loiro pegou gentilmente a embalagem das mãos geladas do outro, que estremeceu com o contato. Lutou contra si mesmo, mas conseguiu sussurrar:

- Obrigado, Near. – Sorriu.

O garotinho sorriu travessamente e se aproximou do loiro, que o olhou assustado, mas não fez nada quando Near colava seus corpos calmamente. E então seus olhos se encontraram.

- O-O que é isso? – Perguntou o loiro.

- Mello, sabia que quando uma pessoa gosta da outra ela dá um chocolate pra ela? – Perguntou e sentiu seu rosto arder violentamente.

- Ah. – Falou normalmente, mas sua expressão mudou. - Espera... O quê? – Perguntou exaltado.

- Eu te amo. – Enlaçou o loiro pela cintura, mesmo este sendo maior. Ficou na ponta dos pés e depositou um beijo em Mello. Este, por apenas uma fração de segundos estava confuso, mas conseguiu corresponder o outro, se inclinando para o outro não precisar se equilibrar. Suas línguas faziam uma sincronização perfeita, mesmo sendo principiantes naquilo tudo. Era perfeito porque os dois estavam com as únicas pessoas que tornariam aquele momento perfeito. Separaram-se para obterem ar.

- Eu também te amo, pequeno. – Sorriu, depositando um beijo na testa do outro. Não estava irritado, não estava assustado. Apenas aliviado.