O.K, antes de contar exatamente o que aconteceu, vou deixar bem claro: eu não fiquei com ciúmes de ninguém!

Fui para a quadra de vôlei com a Silena, minha irmã Zoe e o Harry. Nós jogamos com alguns sátiros por uns minutinhos. Foi o suficiente para eu perceber o quanto eu era ruim nisso. Resolvi que não valia a pena gastar meu tempo tentando jogar. Avisei a Silena que ia dar uma volta e deixei o pessoal jogando.

Saí da quadra de vôlei e fui andando até o lago. Me sentei na beirada, com as pernas cruzadas, e comecei a brincar com a água, mexendo com a mão de um lado para o outro. Pouco depois me levantei e, após pensar um pouco, resolvi ir na direção dos chalés.

Não tive que andar muito para chegar na área dos chalés. Comecei a caminhar por lá, passando pelas portas de cada chalé e dando uma espiada para ver o que os campistas estavam fazendo. Nada diferente do normal: jovens conversando e se olhando em espelhos no chalé de Afrodite, filhos de Ares brigando e rindo uns com os outros, algumas crianças cuidando de plantas no chalé de Deméter, etc.

Mas minha surpresa foi quando passei pelo chalé 8, de Ártemis.

Olhei pela janela, esperando ver uma e outra Caçadora, ou ninguém, mas o que eu vi realmente me pegou de surpresa. Sentada em um dos beliches, estava Mônica. Ela estava de costas, mas reconheci por causa do cabelo vermelho e azul, que não é exatamente um tipo de cabelo comum. Mas o que me surpreendeu foi a pessoa sentada a seu lado, que eu reconheceria a quilômetros: Luke. Ele estava abraçando ela por trás, e ela estava apoiando sua cabeça no ombro dele. Quando vi essa cena, sinceramente, senti um pouco de raiva. Não sei se dele, dela, dos dois, ou de mim mesma. Porque eu sentiria raiva de mim mesma? Provavelmente porque percebi que ver os dois juntos se abraçando me incomodava. Senti vontade de entrar naquele chalé e afastar os dois, arrastar o Luke para fora daquele lugar, e gritar com ele. Se eu fizesse isso, com certeza ele pensaria que eu endoidei. Pelo simples fato de sermos simplesmente amigos, e ele simplesmente não me dever nada, não ter nenhuma obrigação em relação a mim. Tudo muito ‘simples’. Então, como não sou doida, apenas resmunguei e saí andando.

 Parei perto da Arena de Combate, onde encontrei a Zoe e o Harry lutando, com a Silena assistindo. Não prestei muita atenção, mas acho que minha irmã estava ganhando. Fiquei de pé, parada, perto deles. Silena se virou e analisou minha expressão. A Silena é inteligente, herança de Atena, mas tem também sensibilidade para perceber como uma pessoa se sente só de ver sua expressão. Pelo menos, ela percebeu como eu estava me sentindo, e veio conversar:

“Oi Bianca! Onde estava?”

“Ah, dei uma volta na área dos chalés...” respondi, com uma voz meio mal-humorada, que denunciou que havia um problema.

“Me fala o que te chateou!” ela foi logo pedindo.

“Não é nada...” tentei desviar o assunto.

Fomos andando na direção do bosque, nos afastando das pessoas.

“Não tente me enrolar, Bia. Não funciona. Pode confirmar com o Luke”

Quando ela mencionou o nome dele, cruzei os braços, tentando disfarçar a chateação.  Mas ela percebeu rapidinho a fonte do problema.

“O que? Tem a ver com o Luke?” ela pareceu se entusiasmar, o que não melhorou  meu humor “Me conta o que aconteceu!” ela pediu de novo.

“É, tem a ver com ele, sim” admiti, me sentindo ridícula “Mas deixa isso para lá, vai!”

“Não! Você vai me contar agora!” ela exigiu “Pode começar”

Por algum motivo, comecei mesmo a contar tudo:

“Eu estava andando na área dos chalés. Passei na frente do chalé 8 e dei uma olhada pela janela. E sabe o que eu vi?” comecei a falar bem alto, quase um grito “Eu vi o Luke e a Mônica juntos, se abraçando!” completei, a raiva transparecendo na minha voz e no meu corpo, as mãos fechadas em punhos, como se eu quisesse socar alguém. O que não era mentira.

“Hum...” Silena fez uma cara de compreensão “Já entendi o que está acontecendo aqui...”

Fiquei parada olhando para ela, esperando a conclusão.

“Você está com ciúmes do Luke!” ela gritou, apontando para mim “Ciúmes!” ela enfatizou, me irritando ainda mais, se é que eu poderia ficar mais irritada.

“Não, não, não! Eu não estou com ciúmes de ninguém!” falei, alto como ela.

“Não tente negar, senhorita Di Angelo!” ela retrucou, com as mãos na cintura “Eu percebo uma garota apaixonada quando vejo uma!”

Eu abri a boca para negar de novo, mas ela continuou:

“Você está apaixonada pelo Luke!” ela gritou, e nessa hora agradeci aos deuses por estarmos bem longe das outras pessoas.

“Não estou, não!” gritei, batendo o pé.

Ela começou a rir da minha raiva, e isso só me estressou mais.

“Bianca, porque você nega? No fundo, sabe que estou certa! Você está apaixonada pelo meu irmão” de repente, ela fez uma careta “Você está apaixonada pelo meu irmão, oh meus deuses!” e recomeçou a rir.

“Para de rir! Não é engraçado!”

Ela parou de rir, mas continuou com um sorriso besta no rosto.

“Bianca, eu aposto que você queria estar no lugar da Mônica, sendo abraçada pelo Luke!”

Eu ia negar, mas comecei a pensar sobre isso. Lembrei da cena que observei do lado de fora do chalé. Quando vi os dois abraçados, me senti desconfortável... porque queria que ele abraçasse a mim, não a ela!

“Ah meus deuses! Silena, você tem razão!” segurei um braço dela com as duas mãos, apertando o pulso dela.

Comecei a me lembrar de quando andei com o Luke pelos campos de morango, o quanto foi bom, e eu não queria sair daquele lugar, queria ficar lá com ele...

Larguei o pulso da Silena, que ficou aliviada. Fiquei parada, pensando, por uns poucos minutos. Si ficou olhando para mim, esperando para ver se eu faria alguma coisa.

Pensei no Luke, como ele era fofo, divertido, compreensivo, lerdinho...

“Eu estou apaixonada pelo Luke” murmurei, me virando para Silena. Ela sorriu para mim, parecendo feliz por eu ter aceitado isso.

“Deuses, estou parecendo uma maluca” lamentei, pensando em como eu havia gritado poucos minutos atrás.

Silena segurou meus ombros e me consolou:

“Fica calma, Bia! Não é o fim do mundo. Você vai continuar vivendo sua vida normalmente. E eu posso te dar uma ajudinha, se precisar...” ela deu um sorriso travesso e piscou para mim. Nos abraçamos e ela foi embora, provavelmente voltou para a Arena.

Eu comecei a andar e entrei bosque adentro. Na hora nem percebi onde estava indo, senão teria ido em outra direção. Afinal, todos os campistas sabem que tem monstros no bosque. Mas eu nem pensei nisso naquele momento.

Estava andando entre as árvores e outras plantas, vi uma ou outra ninfa, até entrar em uma parte mais interna no bosque. Estava mais escuro, porque as árvores tampavam um pouco a luz. Ouvi um barulho estranho e olhei para trás. Acabei tropeçando em uma maldita pedra e me esborrachei no chão. Olhei para minhas mãos, estavam machucadas e sujas. Ralei meu joelho esquerdo, que começou a sangrar. Meu tornozelo esquerdo começou a doer muito, instintivamente levei as mãos até ele.

Ouvi um barulho, dessa vez próximo. Passos de alguma criatura. Eu estava sentada, machucada, nem conseguia me levantar. Continuei ouvindo o som. Estava baixo, mas eu percebi. Pelo numero de sons em um curto espaço de tempo, não poderia ser uma criatura bípede, nem mesmo quadrúpede. Comecei a suspeitar do que estava ali, e não gostei nada.

Me virei para trás, meu coração querendo fugir de dentro de mim, e confirmei minha suspeita. Para a minha extrema infelicidade.

O que eu vi foi uma aranha. Uma aranha ENORME. Uma Acromântula, com presas grandes e afiadas.

Só tive forças para gritar.