The Psychotic Case. escrita por Sazy M


Capítulo 1
Capitulo 1




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Hoje vivo a mercê do meu destino. Não que eu tenha sido preso, internado em uma clínica psiquiatra ou tão pouco tenha sido morto. Hoje me encontro no subúrbio de New Orleans, o ar velho e pútrido me faz sentir falto de minha vida pacata, enquanto isso, minha mãe acha que eu estou no Texas estudando medicina, por causa da minha deficiência e também porque ela sempre via os potes de vidro com córneas dentro.

Mas, nem sempre foi assim, eu tive um começo de adolescência digna e que todos os meninos gostariam de ter. Meninas ao meu redor, boas notas, e todos os meninos babavam em cima de mim. Se não fosse aquele maldito acidente... Ok, ainda trago traços de fraqueza em meu ser, mas, nada que não possa ser encoberto com uma bela máscara de sorrisos. Bom, vamos ao que interessa.

Em algum dia em 2527...

Um dia de sol, comum e pacato. Eu estava no pátio de minha escola, escutando musica, andando, enquanto todo mundo andava atrás de mim. Eu usava fones, mas, para não parecer convencido demais. Eu escutava os comentários idiotas e sem autoestima que todos faziam: “Como ele é lindo e cheiroso” dizia uma menina de voz irritante. “Queria ter todo esse charme, olha pra isso, quantas pessoas o seguem... Porque nasci inútil?” Dizia um garoto que usava óculos e tinha espinhas.

Meu sorriso sarcástico saía sem nem eu perceber, era como o ato de respirar. Espontâneo. Sem importância. Mas, claro que eu me importava com toda aquela atenção que eu recebia, aquilo se tornara algo dentro de mim, era como se aquilo fosse me acompanhar pro resto da vida.

– Nossa, seu material é muito incrível. –A garota ruiva disse. Nós já estávamos na sala de aula e eu estava colocando meu material em cima da mesa. Os matérias eram diferentes, pois, alguns faziam mais coisa que outros. Mas, se o seu fazia o que era obrigatório no protocolo, você podia estudar.

– Que nada! Ele só tem tecnologia avançada 53 wa (uma tecnologia futurística, super-rápida e eficaz), sensor inteligente, que responde a sua voz, algo não muito avançado, e outros brinquedinhos... –Eu disse. Ela continuou babando em cima do meu material, mas, logo em seguida o professor começou a explicar matéria.

Era aula de genética aplicada, clonagem e manipulações de células. A minha favorita. Digamos que eu tinha certo talento com células, e sempre fazia manipulações em casa, já que eu tinha meu próprio laboratório.

Voltando para casa, como todos os dias eu fazia, passei para pegar pão para minha mãe. A dona da mercearia já me conhecia. Ela disse que dois amigos meus Melissa e Drew haviam passado ali mais cedo, para avisar que estariam no parque central me esperando. Eles provavelmente iriam me passar uma videoconferência assim que eu saísse dali.

Cheguei em casa e percebi que não havia ninguém, exceto alguns robôs trabalhando. Deixei o que havia comprado em cima da mesa e subi para meu quarto.

– Ligar Konnor. Como vai ficar o tempo de hoje? –Disse eu jogando minha mochila em cima de minha cama.

– Instável senhor, mas, com probabilidade de alta temperatura daqui exatamente duas horas e meia. –Disse meu companheiro. Ele era um robô que eu mesmo havia confeccionado. Eu me sentia muito sozinho então, eu passei boa parte do meu tempo fazendo ele. Ele tinha uma tecnologia de ponta, respondia a minha voz e tinha várias utilidades como leitura de código genética, analise de comportamento entre outras coisas. Ele era meu xodó.

– Então, acha que está bom? –Perguntei com um sorriso. Eu havia vestido uma camiseta roxa com alguns desenhos que eu não sei explicar o que eram de cor azul. Uma bermuda jeans preta e um tênis.

– Está ótimo senhor, uma bela camisa. –Disse ele com uma voz de zombaria.

– Ok então, Descansar Konnor. –Peguei meu celular e desci para ir ao encontro de meus amigos.

Eu estava dentro do carro, quando finalmente eles me mandaram a videoconferência:

– Ei, não vai vir mais? –Disse Melissa.

– É cara, parece que vai chover! Não to a fim de molhar meu novo par de sônicos. –Drew riu. Ele era super idiota, mas, continuava sendo meu amigo.

– Ei sem preocupações ok? Konnor disse que não vai chover, e que daqui a umas duas horas vai aumentar a temperatura. –Eu os acalmei.

– Droga, e eu vim de calça. –Assim que Melissa disse isso eu e Drew, caímos na risada.

– Você e esse seu robô ai né?! Deve ser muito legal construir um desse...

– Ei pessoal, cheguei, desligando... –Disse eu descendo do carro e dando instruções para que o motorista voltasse ao anoitecer.

Nós sempre fazíamos esse tipo de encontro depois da escola. Jogávamos alguns jogos, trocávamos informações sobre novas tecnologias, comíamos. Nós éramos verdadeiros amigos. Como eu disse anteriormente, eles eram os únicos que não ficavam comigo por causa d meu dinheiro, inteligência ou por causa do Konnor. Eles eram verdadeiros comigo, e isso me satisfazia muito.

– Ei pessoal, preciso ir pra casa. Konnor acabou de dizer que primos meus chegaram lá em casa, tenho que vê-los. –Disse eu me levantando do chão.

– Ele te chama pelo celular? Sua mãe não pode fazer isso não? –Disse Drew brincando e se levantando em seguida.

– É claro que ela pode, e às vezes ela pede para que ele me avise. Ele é como um irmão mais velho. Bem, até mais pessoal. –Disse eu saindo dali.

Eu andei até a esquina do parque, onde meu carro estava esperando por mim. Eu veria meus primos novamente, mal posso acreditar. Eu sei que falando assim, pareço que sou sentimental, mas, a realidade é que meus primos me ensinaram tudo que sei, desde tecnologia, à engenharia e outras coisas. Eles sempre falavam comigo por videoconferência, e sempre que podiam me visitavam.

– E veja só como cresceu o pequeno Joshua! –Fui recebido pelo meu primo Ethan.

– Não comece com essa baboseira toda! –Disse eu indo para o abraço. Embora eu não seja de reparar em sensações, senti que meu primo estava sendo um pouco frio comigo. Mas, mesmo assim decidi ignorar.

– Bem, Adrian, Leonard e Ethan, todos aqui! Estou super feliz, agora posso mostrar a vocês meu robô Konnor. –Disse eu com um sorriso no rosto.

– Nós tivemos oportunidade de conhecê-lo assim que chegamos Joshua. Nós gritamos pelo seu nome e aquela voz eletrônica nos informou que você estava com amigos no parque. Surpreendente como você conseguiu instalá-lo por toda a casa. –Disse Adrian.

– Tive ajuda de vocês... Tudo que me ensinaram e um pouco de pesquisa me ajudou a criá-lo.

– Nos mostre mais sobre ele Joshua. –Pediu para mim meu primo Leonard.

Então, eu os levei até meu quarto e mostrei cada parte de minha criação. Desde as planilhas que utilizei no processo de criação até as ferramentas que usei para construí-lo. Cinco anos de minha vida foram construindo ele e confesso que não me arrependi.

Depois de mostrar Konnor para eles, nós descemos par tomar café e colocar o papo em dia. Enquanto minha mãe conversava com eles, eu dei uma escapada e subi para meu quarto.

Eu percebi que enquanto eu falava de como foi trabalhoso criar um super-robô, das técnicas que usei e tudo mais, meus primos estavam com um olhar de cobiça, sem contar em como Ethan passava a mão sobre a ‘CPU’ de Konnor. Eles não eram assim, pelo menos eu nunca tinha notado isso. Isso fez com que eu desejasse a ida deles o mais rápido possível, mas, só iria acontecer na tarde do outro dia.

– Ligar Konnor.

– Em que posso servi-lo senhor.

– Fique de olho nos meus primos ok? Não quero que nada de desagradável aconteça a você.

– Sim senhor.

– Descansar Konnor.

Eu fui dormir com aquilo na cabeça, tanto que só consegui pegar no sono depois das quatro da manhã. O que será que estava acontecendo? Será que eles queriam roubar Konnor? Será que era só coisa da minha cabeça? Não importa, eles iriam embora logo.

Eu passei o dia em meu quarto, esperando até que finalmente chagasse a hora deles irem embora.

Depois de tanto eu me esquivar pelos cômodos minha mãe me chama para que fossemos levar meus primos até a cidade visinha onde eles moravam. Nunca senti tanta indisposição, raiva ou repulsa de ninguém, como eu estava sentindo agora, nesse momento. Eles provocaram uma face que nem mesmo eu sabia que existia. Por um momento eu senti vontade de matá-los.

– Por que ficou em seu quarto o dia todo Joshua? –Minha mãe me pergunta.

– Estava fazendo minhas lições de casa e projetando melhorias pro Konnor. –Disse eu entrando no carro e sentando no banco do lado do motorista.

– É mesmo? Pode nos contar? –Vi Ethan puxando o celular como se fosse anotar algo.

– Desculpa, mas são informações confidenciais. –Disse eu fechando a cara.

– Ok, todos prontos? –Agradeci por minha mãe mudar o foco da conversa. Talvez ela tivesse notado o ar pesado ou o mal olhado que lancei aos meus ‘parentes’.

Não demoraria muito para chegarmos até a casa deles, mas, mesmo assim, esse pouco tempo seria encarado por mim como uma eternidade. O tom de voz que eles usavam quando minha mãe estava perto era totalmente diferente, até mesmo as risadas pareciam mais falsas a meu ver. Claro, somente eu estava notando isso, talvez pela minha implicância particular ou por simplesmente estar farto de tanto fingimento.

Olhando para fora do carro, finalmente notei o quanto as pessoas são diferentes, observáveis. Era como se ali eu estivesse vendo a alma de cada um: Alguns eram pacíficos, outros só com um olhar dava para notar a agressividade escondida por um sorriso ou palavras doces. Eu me surpreendi pelo fato de que, eu mesmo estava notando cada pedacinho da sociedade. Sim, eu que costumava olhar somente para meu próprio umbigo.

– Bom meninos, foi boa a nossa viajem, mas, chegamos. –Disse minha mãe estacionando o carro na frente da casa daqueles... Bastardos.

– Ah tia, fique e tome um café conosco, vai ser legal. –Disse Leonard. E mais uma vez, sua voz havia alterado o tom, só para parecer mais agradável.

– Tudo bem, acho que posso ficar um pouco e conversar com sua mãe; Vamos Joshua. –Eu temi que ela me chamasse para entrar. Eu preferiria ficar no carro e esperar, mas, tinha que parecer normal e agradável, então, eu entrei.

– Joshua, como cresceu! Veja só, já é um rapazinho! –Disse minha tia Sophia. Ela estava como antes, aquele coque alto no cabelo, o vestido florido e o chinelo de dedo velho. Seus olhos verdes brilharam ao me ver e isso fez com que eu sentisse um pouco de verdade no ar banhado pela calúnia.

– Como vai tia Sophia? –Perguntei indo ao abraço. Não estava a fim de socializar naquele dia. Vi-me obrigado a fazer tudo aquilo, mas, percebi que na arte de fingir, eu estava me saindo muito bem.

– Meninos, mostrem ao Joshua suas coisas e novidades lá em cima, eu e Tânia precisamos conversar a sós! –Disse Sophia. Eu não estava com sorte não é mesmo? Tudo que eu queria era que minha mãe fosse embora logo para que eu voltasse ao aconchego de minha casa sem aqueles idiotas.

Nós subimos as escadas até chegar ao quarto de Adrian, vi que se parecia um pouco com o meu. Tinha varias maquinas, quadros futurísticos assim como as lamparinas que ficavam sobre escrivaninhas de cor preta; A cama dele não era convencional: Tinha um formato de alguma coisa que eu não soube identificar de primeiro olhar, mas, isso pouco me importou.

– Veja Joshua, quero construir uma réplica de um robô para colocar bem ali. Fui até sua casa porque, na ultima semana, sua mãe ligou para nossa e disse que você havia feito um robô. –Adrian disse aquilo com um sorriso no rosto. Confesso que me senti usado, não sei ao certo o motivo, mas, eu jurei que eles haviam ido ate minha casa por saudades ou mesmo pelo chamado ‘dever com a família’, mas eu estava errado.

O ar se encheu de falsidade, se tornou algo desprezível estar ali. Confesso que minha personalidade estava se mostrando extremamente agressiva, mas, eu não me importava mais com tal comportamento, só desejava que aquilo tudo acabasse e que eu pudesse me ver livre do dever de olhar dentro dos olhos falsos de meus primos.

– Ei Joshua, não fique assim, não irei construir a réplica de Konnor, obviamente eu vou me superar. –Adrian continuou com essas palavras. Meus outros dois primos riram em seguida, fazendo meu sangue ferver.

– Querem saber?! Espero que tenham sucesso com sua sucata! –Desci as escadas correndo.

No final da escada, já no térreo eu parei para respirar e percebi que meus pensamentos estavam completamente turvos: Raiva, Desprezo, Nojo... Tudo entrelaçado em um desejo continuo de vingança.

– Vejo que o Joshua já esta ali, Bem Sophia, está na hora de irmos ok? Foi bom revela. –Disse minha mãe.

– Digo o mesmo a você e a você também Joshua! –Ela me abraçou. Eu estava tão frio que mal retribui o abraço. Queria logo sair daquele lugar.

Minha mãe se despediu dos meus primos com muitos beijos e abraços, até mesmo conselhos de nunca deixarem de estudar e continuar sendo os bons meninos que sempre foram. Sim, aquilo me causou nojo, simplesmente pelo fato de que minha mãe nunca reconhecia o que eu fazia, embora demonstrasse orgulho para os outros. No fundo, ela queria se aparecer com a minha glória.

Finalmente dentro do carro pude sentir o ar limpo, sem vestígios de desprezo. Senti um tremendo alivio por estar voltando para minha casa e poder finalmente me sentir livre dos malditos dos meus primos.

– Ei Joshua, como é o robô de seus primos? Sophia disse que ele é bem tecnológico...

– É normal mãe, ele nem possui nanotecnologia e ainda é só um projeto –Disse eu.

– Mas, só por causa disso não significa que ele seja ruim. Ethan me disse que ele fará leitura labial quando estiver pronto... Konnor faz isso? –Disse minha mãe.

– Claro que faz mãe, não só leitura labial, mas, genética também e outras quinhentas coisas que mesmo se eu passasse vinte anos te explicando você não entenderia. –Sim eu havia perdido o controle. Estava cansado de tanto papo sobre meus primos...

– Ei não fale comigo assim ok? Não se esqueça de que foram seus primos que lhe ensinaram tudo que sabe e... –Minha mãe não estava olhando, não viu o caminhão no cruzamento, ou tão pouco que o farol estava fechado para nós.

Seria o Destino? Colocar-me em um acidente por causa de meus desejos sombrios? Seria uma lição de vida para meus primos? Será que isso faria com que eles vissem o quanto me desprezavam? Não sei, estava inconsciente para acordar.

Acordei no hospital, três dias depois do acidente. Minha mãe estava bem, por incrível que pareça ela só sofreu algumas queimaduras de leve nada demais. Já eu... Tinha tido um olho amputado, e 50% de meu rosto estava desfigurado. A substancia que o caminhão carregava era altamente inflamável, e tinha caído muito do meu lado do carro. Eles tiraram minha mãe primeiro, e só depois de quase trinta minutos, quando o carro tinha começado a pegar fogo uma segunda equipe de paramédicos chegaram. Sim, eu tinha outras queimaduras pelo corpo, mas, tinham sido amenizadas por cirurgias... Já meu rosto não tinha mais jeito.

– Por quê? Se eu tivesse ficado em casa... Se eles não existissem! Eu estaria bem agora! Meu olho estaria em meu rosto e eu não teria meu rosto desfigurado! –Dizia eu em minha mente. Estava revoltado, só conseguia pensar no quanto àquilo era injusto e no quanto eu tinha que fazer algo para sossegar meu subconsciente.

– Joshua, fique calmo, vai ficar tudo bem! –Ouvi o médico dizer para mim. Ele tinha uma planilha em mãos. Provavelmente o coração de um médico deve ser um pouco frio, mas, ainda assim nunca deixa de acreditar em uma melhora repentina do paciente. Infelizmente eu não partilhava esse caráter.

– Não vai ficar tudo bem... Olha isso! Não enxergo do olho esquerdo! –Eu apontei em direção ao meu olho. Estava desesperado e começando a ficar com o coração frio... Não tinha mais volta. Isso tudo era culpa deles, dos meus primos que me fizeram ir até aquela casa inútil só para me fazer passar nervoso... Odeio-os eternamente.

– Você está de alta... Só precisa tomar alguns remédios pra estimular a produção de colágeno pra cicatrizar algumas de suas queimaduras ok?! Espero que fique bem nos próximos dias. Sua mãe virá buscá-lo de tarde. –O médico saiu da sala me deixando a sós com minha mente.

Minha mãe chegou no hospital como se nada houvesse acontecido. Ela mal sorriu para mim, manteve seu rosto baixo sem nenhuma expressão. Eu pude ver uma cicatriz em seu braço direito. Talvez fosse minha mania de reparar em tudo, porque a cicatriz estava encoberta com uma camada fina de maquiagem.

– Sinto muito por você estar assim desse jeito... –Disse minha mãe com total desprezo. Ela não tirou o olhar da rua, talvez por medo de um segundo acidente acontecer ou por simplesmente estar me desprezando.

– Não sinta, aconteceu não se pode mais mudar o passado! –Disse eu respondendo com a mesma frieza que eu analisava que vinha de minha mãe.

Dali em diante ela não falou mais nada. Chegamos a nossa casa, ela estacionou o carro na garagem e nem se quer me ajudou a descer do carro. Eu saí do carro ainda meio tonto por causa dos remédios que estava tomando na veia no hospital. Ela pegou uma sacola de remédios e saiu sem nem me esperar.

A sorte era que uma empregada veio ao meu encontro. Ela me ajudou gentilmente. Seu toque quente fez meu corpo se arrepiar, já que este estava quase se acostumando ao ar gélido que o cercava. Ela me levou até meu quarto e explicou para mim que, eu deveria tomar aqueles remédios que estavam em cima de minha cama.

– Sua mãe os trouxe até aqui. Por favor, senhor não a culpe se ela estiver sendo fria demais, ela ainda esta se alto culpando pelo seu estado atual... Com sua licença. –Ela saiu sem nem ao menos escutar o que eu tinha a dizer. Isso foi bom afinal, eu não tinha nada a dizer.

– Ligar Konnor. –Disse eu me sentando a cama.

– Em que posso servir senhor?

– Nada... Só quero deixar claro que agora eu sou cego do olho esquerdo... E que preciso que anote alguns horários para me alertar... Tenho remédios para tomar. –Eu coloquei uma de minhas mãos na cabeça em sinal de inconformação. Não tinha mais nada a ser feito? Seria assim minha vida? Estupidamente debilitada?

– Sim senhor, o senhor pode escrevê-los em um papel e depositá-los na entrada de cd, meu sistema entenderá mesmo não sendo um! –Disse Konnor. Eu tinha o feito com capacidade de aprender com experiências, assim como um humano, ou seja, tudo que eu lhe ‘ensinasse’ ou pedisse para fazer ele gravaria e seria capaz de repetir inúmeras vezes.

E assim foi feito. Com o passar do dia eu fui tomando os remédios que, por sinal, me davam um tremendo sono. Eu não fiz nada além de dormir e pensar. Pensar em como seria minha vida já que eu desprezava meus primos e minha mãe me desprezava, ou sei lá o que ela sentia. Eu não fazia questão de entender os sentimentos dela, só não queria pagar o preço deles.

O dia se passou e finalmente acabou. Eu já tinha tomado meu café e estava me preparando para ir para escola... Eu iria a pé já que minha mãe havia saído sem nem me avisar.

– Ligar Konnor.

– Em que posso servir senhor?

– Pode imprimir os horários dos remédios? Vou para escola hoje...

– Estará pronto daqui a dois minutos senhor.

– Ok, vou tomar café e quando voltar pego.

Eu desci para tomar café. Torradas, geleia e uma bela xícara de café preto estavam me esperando na mesa de café. Não havia ninguém. Meu pai provavelmente já saíra para trabalhar e minha mãe... Bom essa eu já não sabia ao certo. Eu nunca tomava café a sós, era estranho não ter com quem conversar, mas, ultimamente eu estava acostumando com a ideia.

– Senhor, seu motorista foi chamado hoje para levá-lo a escola. –Disse a empregada.

– Não precisa –Coloquei um pedaço de torrada sem geleia na boca, mas, logo em seguida tomei um gole de café, já que a torrada estava muito seca- Irei andando.

– Mas, senhor...

– Eu perdi o olho não a perna... Posso andar até lá! –Disse eu engolindo tudo que estava na boca e virando todo o café que restava na xícara.

Talvez o que eu falei para ela tenha intrigado-a, mas, sinceramente eu não me importei com tal ação minha, simplesmente a fiz. Estava ansioso para chegar à escola e finalmente receber a atenção que eu estava precisando.

No caminho para a escola, eu percebi que todos me olhavam... Mesmo com um tampão no olho as pessoas me olhavam torto, talvez pela deformação de meu rosto ou algo do tipo. Senti frio vindo de todos os lados. Desprezo até mesmo repulsa. Quando não olhavam, cochichavam coisas do tipo: “Coitado, Pobrezinho, Credo olha o rosto dele”. As pessoas agora me rejeitavam, simplesmente por causa de minha deficiência, algo que não mudava meu caráter.

Chegando à escola, pude ver Drew e Melissa sentados checando algo em um super tablet. Eles me viram, entre olharam-se e em seguida sorriram forçadamente para mim.

– Ei, o que aconteceu com você?! Está vindo de uma festa de horrores? –Disse Drew levantando para me olhar nos olhos.

– Desculpem não ter lhes contado, mas, sofri um acidente ontem de carro, vê esse tampão? Esconde o olho que não tenho mais, e isso aqui –Passei a mão sobre o lado direito do meu rosto- É o resultado da explosão do caminhão que trombou no carro onde eu estava. –Disse eu com um tom bem sarcástico. Eu não lamentava mais, pelo menos não ali. Achava que tudo iria melhorar...

– Ah, sinto muito por você! –Disse Melissa- Drew, precisamos ir nossa primeira aula hoje é na sala de cima... Vejo você depois Joshua! –Ela puxou Drew pelo braço antes mesmo de ele poder dizer tchau. Eles não tinham ido embora, só se afastaram de mim e começaram a falar mais baixo.

Eu tinha o costume de ouvir musica baixa, para aguçar minha audição, e graças a esse costume pude ouvir o que Melissa disse: “Vê o estado dele? Ele parece um assassino de filme de terror... Não podemos mais ser vistos com esta aberração”. Em seguida escutei Drew dizer inúmeras vezes “Certamente, Sim” e nenhuma vez ele negou o plano de Melissa. Eles não queriam mais serem meus amigos só por causa de minha aparência. Isso soava em minha mente algo completamente repugnante da parte deles, isso fazia meu ódio crescer ainda mais, meu desejo de vingança crescia junto.

Na aula de conhecimentos nanotecnologicos, não sentaram comigo, eles se quer olharam para mim, e isso me intrigou. Sem contar nos olhares tortos que eu recebia de todos aqueles que um dia queriam ser igual a mim.

Finalmente o período escolar acabou e eu pude voltar para casa. Eu não falei com ninguém naquele dia, e assim foi pelo resto do semestre. Eu já estava farto daquilo. Não sentia mais amor, compaixão ou qualquer sentimento bom, só sentia ódio, indignação, sede de vingança.

Um dia eu estava procurando a minha atividade de ciências humanas, quando me deparei com minha leitura genética, a primeira que Konnor fez com precisão. Eu nunca havia parado para lê-la com atenção. Tinha varias informações como: Tipo sanguíneo, propriedades de meu DNA, mas, uma me intrigou mais: Patologias Psicopatas.

Eu tinha mais de 90% de chance de desenvolver patologias psicopatas e mal sabia disso. Agora eu entendia toda essa minha frieza e vontade de vingança, mas, a essa altura não adiantava mais nada, eu não iria procurar ajuda para me curar, iria procurar meios de fazer com que essa ‘estimativa’ virasse algo concreto.

– Ligar Konnor.

– Sim senhor.

– Pesquise métodos usados por psicopatas, pesquise todos e me organize uma lista dos mais ‘eficazes’. –Disse eu pegando a cadeira e puxando para frente da tela de meu computador.

– Sim, senhor!

Era ali que começava a minha jornada como o mais novo psicopata.


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